IMPOSTOS EM SÃO PAULO

terça-feira, 30 de setembro de 2014

O QUE ESTÁ EM JOGO NO BRASIL?

Boaventura de Souza Santos não pergunta. Ele diz afirmando:"O que está em jogo no Brasil" Mas eu pergunto: " O que está em jogo no Brasil?" Seria só uma questão de troca de PODER ou de protagonistas?


Adital

Escrevo esta crônica de Cuiabá, capital do Estado do Mato Grosso e que é também a capital do que no Brasil se designa por agronegócio (agricultura industrial de monocultura: soja, algodão, milho cana do açúcar), a capital do consumo de agrotóxicos que envenenam a cadeia alimentar e da violência contra líderes camponeses e indígenas que defendem as suas terras da invasão e do desmatamento ilegais. Reúno-me com líderes de movimentos sociais, um deles (indígena Xavante) chegado à reunião clandestinamente por estar sob ameaça de morte. Deste lugar e desta reunião torna-se particularmente claro o que está em jogo nas próximas eleições no Brasil.
As classes populares – o vasto grupo social de pobres, excluídos e discriminados que viu o seu nível de vida melhorado nos últimos doze anos com as políticas de redistribuição social iniciadas pelo Presidente Lula e continuadas pela Presidente Dilma – estão perplexas mas têm os pés bem assentes no chão e não me parece que sejam facilmente iludidas. Sabem que as forças conservadoras que se opõem à Presidente Dilma estão apostadas em recuperar o poder político que perderam há doze anos. Conscientes de que a época Lula transformou ideologicamente o país, não o poderão fazer pelos meios e com os protagonistas habituais. Para pôr fim a essa época é necessário recorrer a alguém que a evoque, Marina Silva, o desvio contra-natura para chegar ao poder. A pouco e pouco as classes populares vão conhecendo o programa de Marina Silva e identificando, tanto o que nele é transparente, quanto o que nele é mistificatório.
É transparente o regresso ao neoliberalismo que permita os lucros extraordinários decorrentes das grandes privatizações (da Petrobras ao pré-sal) e da eliminação da regulação macroeconómica e social do Estado. Para isso se propõe a total independência do Banco Central e a eliminação das diplomacias paralelas (leia-se, total alinhamento com as políticas neoliberais dos EUA e da UE). É mistificatório o recurso a conceitos como o de "democracia de alta intensidade” e de "democratizar a democracia” – conceitos muito identificados com o meu trabalho mas de que é feito um uso totalmente oportunístico – como se fosse uma novidade política quando, de fato, do que se trata é, no seu melhor, a continuação do que tem vindo a ser feito em alguns estados de que é exemplo mais notável o do Rio Grande do Sul.
Acresce a tudo isto que o que há de verdadeiramente novo na candidatura de Marina Silva significa um retrocesso não só político como civilizacional. Trata-se da certificação da maioridade política do evangelismo conservador. O grupo parlamentar evangélico é já hoje poderoso no Congresso e o seu poder está totalmente alinhado, não só com o poder econômico mais predador (a bancada ruralista), a que a teologia da prosperidade confere desígnio divino, como com as ideologias mais reacionárias do criacionismo e da homofobia. Marina, se eleita, levará tais espantalhos ideológicos para o Palácio do Planalto para que de lá façam a pregação do fim da política, da ilusão da diferença entre esquerda e direita, da união entre ricos e pobres. Tirando o verniz religioso, trata-se do regresso democrático à ideologia da ditadura, no ano em que o Brasil celebra o mais longo e mais brilhante período de normalidade democrática da sua história (1985-2015).
Em face disto, por que estão perplexas as classes populares? Porque a Presidente Dilma nada faz ou diz para lhes mostrar que está menos refém do agronegócio que Marina Silva. Nada faz ou diz para mostrar que é urgente iniciar a transição para um modelo de desenvolvimento menos centrado na exploração voraz dos recursos naturais que destrói o meio ambiente, expulsa camponeses e indígenas das suas terras e assassina os que lhe oferecem resistência. Bastaria um pequeno-grande gesto para que, por exemplo, os povos indígenas e afrodescendentes se sentissem protegidos pela sua Presidente: mandar publicar as portarias de identificação, de declaração e de homologação de terras ancestrais, portarias que estão prontas, livres de qualquer impedimento jurídico e apenas engavetadas por decisão política.
O que as classes populares e os seus aliados parecem não saber é que não basta querer que a Presidente Dilma ganhe as eleições. É necessário vir para a rua lutar por isso. Ao contrário, os adversários dela sabem isso muito bem.
*Artigo publicado na Carta Maior.

Boaventura de Sousa Santos

Sociólogo e diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

EMBRAPA AVANÇA RUMO À SEDA SINTÉTICA DE ARANHA

SEDA SINTÉTICA DE ARANHA

Seda de aranha sintética aproxima-se do uso prático
No início deste ano, pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, anunciaram o desenvolvimento de uma biofábrica capaz de produzir seda de aranha de forma artificial. Agora a equipe anunciou avanços na produtividade do processo.
"Da última vez, de 100 microlitros, que é a décima parte de um mililitro, conseguimos fazer um fio muito grande, foram mais de 10 metros, rendeu bastante", contou Valquíria Lacerda, pesquisadora do grupo. As fibras da seda natural de aranha têm diâmetros variando de 2 a 4 nanômetros, enquanto a seda sintética produzida na Embrapa tem em torno de 40 nanômetros, o que os pesquisadores acreditam ser uma vantagem. A fibra sintética é "de 10 a 20 vezes mais espessa do que encontramos na natureza, o que pode ajudar a ser mais forte", disse Valquíria, destacando que os próximos passos envolvem testes de extensão e resistência. Além, é claro, da otimização da biofábrica, com vistas à produção em grandes quantidades - a biofábrica utiliza bactérias Escherichia coli geneticamente modificadas para sintetizar a seda, mas o grupo também está pesquisando o uso da soja como biorreator. - "Ainda não existe um organismo ideal para produzir em grande quantidade. Tem pesquisadores que já colocaram em células de mamíferos, de insetos, em bactérias, o mundo inteiro ainda procura uma biofábrica ideal para fazer extração reduzindo o custo desse material", disse Valquíria.

De nanopartículas a material estrutural 

Segundo o professor Elíbio Rech, coordenador da equipe, a tecnologia da produção artificial dos fios de teias de aranha já está dominada. O próximo passo é definir um meio econômico, rápido e seguro para a sua produção em larga escala.  A fabricação de teias de aranha em laboratório já é uma realidade.Segundo ele, não faltarão usos para a seda de aranha sintética.No início deste ano, pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em "É um material novo que tem duas características, flexibilidade e resistência, e também é biodegradável. Ele tem uma característica física que permite um melhor desempenho para tudo," avalia Rech. A seda sintética pode ser usada na produção de tecidos, em fios para sutura de cirurgias e também na forma de nanopartículas para o endereçamento preciso de medicamentos no corpo humano. Quando o processo alcançar escala industrial e o material estiver disponível em quantidades maiores, os benefícios também poderão ser auferidos no campo dos materiais estruturais, incluindo compósitos plásticos para peças de aviões, carros e navios. "Qualquer material que dure mais vai reduzir o custo de manutenção. Ao conseguir fazer com que um material trabalhe mais e seja mais leve, você também reduz o gasto de combustível, reduz emissão de gás carbônico na atmosfera, então tem todo um ganho direto e indireto do uso de um material como este," disse Rech. 

Falta de iniciativa privada

Nesta etapa, os pesquisadores esperam envolver a iniciativa privada, para que a pesquisa possa passar do nível do laboratório para o nível fabril. "Esse é um produto em potencial muito importante, agora o setor privado tem que fazer a outra parte, escalonar e transformar isso em um produto comercial. Ainda precisamos reduzir um pouco o custo de produção, nós saberíamos como fazer, com outro laboratório e equipamentos, mas faltam pessoas para colaborar com a gente," resumiu Rech.
Seda de aranha sintética aproxima-se do uso prático

Os pesquisadores da Embrapa também estão tentando usar a soja como biofábrica paraproduzir a seda de aranha. [Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil]

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

SÃO PAULO JÁ CONTAMINA O AQUÍFERO GUARANI



AQUÍFERO GUARANI QUE ABASTE A CIDADE DE S.PEDRO-SP

Estudos revelam: além de descuidar das represas, Estado permite exploração predatória e contaminação das reservas hídricas do subsolo
Por Júlio Ottoboni, no Envolverde/IPS
São Paulo e parte dos Estados do Sul e Sudeste do país podem entrar tanto num ciclo de desertificação como de extermínio de suas reservas hídricas existentes no subsolo. A influência das queimadas e do desmatamento amazônico no ciclo das chuvas nas porções mais ao sul do país alarma tanto os cientistas tanto quanto os níveis de contaminação das águas potáveis existentes. Com o volume de águas de superfície em diminuição considerável, as reservas subterrâneas estão em boa parte comprometidas. Seja por contaminação por esgoto, pesticidas ou mesmo pela falta de potabilidade. Há estudos sobre o uso a exaustão desses recursos em regiões onde o aquífero tem uma distribuição demasiadamente irregular. Desde 1998, pesquisadores da USP e outras entidades alertam para a exploração demasiada e sem critérios das águas subterrâneas, principalmente na agricultura. No trecho paulista, o Aquífero Guarani é explorado por mais de mil poços e isso ocorre numa faixa no sentido sudoeste-nordeste. Já a área de recarga ocupa cerca de 17.000 Km², onde se encontram a maior parte dos poços e grande parte dos problemas de contaminação. Há treze anos um grupo de cientistas do Centro de Pesquisas de Água Subterrânea (Cepas) do Instituto de Geociências da USP pesquisa a presença de nitrato nas águas subterrâneas. Os estudos mostram uma crescente contaminação por esgoto urbano em diversas cidades paulistas. Esse elemento químico surge em processos de decomposição bacteriológica de matéria orgânica presente nos dejetos.
- “Em locais onde não há saneamento, a contaminação ocorre pelas fossas sépticas e negras, já nas áreas com redes de esgoto o problema são os vazamentos. As redes são antigas e não passam por manutenção periódica. A presença do nitrato em áreas urbanas com rede de esgoto não era esperada de forma tão intensa”, afirma o professor da USP Ricardo Hirata.


O nitrato é cancerígeno e pode desenvolver diversas doenças, principalmente síndromes em crianças. São Paulo tem uma grande dependência da água subterrânea. Segundo a pesquisa da USP, cerca de 75% das cidades paulistas têm o abastecimento público total ou parcial feito por águas de aquíferos.
“No Estado de São Paulo, quase 60% dos poços tubulares são ilegais, ou seja, não têm controle por parte do estado, com possibilidades de terem problemas de qualidade de suas águas. Isso significa que a população pode estar ingerindo água degradada por nitrato ou outros contaminantes e não saber”, alerta o professor da USP. Além do problema da recarga, dificultado pela falta de chuvas, descontaminar a água com nitrato é algo caro e algumas situações inviável. Para agravar o quadro, há uma redução drástica da água de subsolo em diversas regiões. A supressão das matas ciliares que recobrem as bacias tem forte impacto sobre a qualidade da água, encarecendo em cerca de 100 vezes o seu tratamento.
O alerta para as péssimas condições das águas, tanto de superfície como de subsolo, foi feito também pelo pesquisador José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia (IIE). Segundo ele, em áreas com floresta contígua a cursos d’água que estão protegida, com algumas gotas de cloro por litro se tem água para consumo humano.“Já em locais com vegetação degradada é preciso usar coagulantes, corretores de pH, flúor, oxidantes, desinfetantes, algicidas e substâncias para remover o gosto e o odor. Todo o serviço de filtragem prestado pela floresta precisa ser substituído por um sistema artificial e o custo passa de R$ 2 a R$ 3 a cada mil metros cúbicos para R$ 200 a R$ 300. Essa conta precisa ser relacionada com os custos do desmatamento”, afirmou.
Quando a cobertura vegetal na bacia hidrográfica é adequada existe uma quantidade maior de água, por processos naturais, essa retorna para a atmosfera e favorece a precipitação. O escoamento da água das chuvas é mais lento, favorecendo a recarga e minimiza a erosão. Os A vegetação funciona como um filtro natural e ajuda a infiltrar a água no solo.
“Em solos desnudos, o processo de drenagem da água da chuva ocorre de forma muito mais rápida e há uma perda considerável da superfície do solo, que tem como destino os corpos d’água. Essa matéria orgânica em suspensão altera completamente as características químicas da água, tanto a de superfície como a subterrânea”, explicou Tundisi.