Mocambos Notícias - Diretamente do 11º Fórum Social Mundial
em Dacar - Senegal
O Brasil negro que a TV insiste em mostrar e nós nos
esforçamos para acreditar!
Enviado pela nossa correspondente Marcia Adão Aproveitando o gancho dessa matéria, quero comentar o
“comentário” de um dos jornalistas da folha que está aqui em Dakar:
“estou
fazendo o quê aqui? Era para eu estar no Egito!”. Um branco, com cara de
asco
ao olhar para os africanos ao seu redor. Para mim foi impossível
argumentar
qualquer coisa com aquela criatura cheirando a leite, pois não poderia
deixar
me contaminar com suas visões de pequeno burguês, num momento tão mágico
como foi
a marcha.Tenho lido alguns registros de colegas jornalistas que, assim
como eu,
estão aqui cobrindo o evento. Nada contra a alvura que o Brasil insiste
em
mostrar para o mundo, mas se somos o segundo país em população afro,
cadê os
negros jornalistas? Aonde está nossa representatividade.Partir para minha febre africana e vivenciei entre mulheres,
crianças e homens negros um momento, mesmo que fosse por algumas horas,
de
harmonia entre irmãos de cor e de história. Uma espiritualidade sem
medida ou
palavras. Ainda não consegui colocar no papel toda mágica existente numa
jornada entre povos de várias etnias na busca de um mundo melhor. Foi a
melhor
marcha que já participei em minha vida.Hoje na sala de imprensa evitei outros comentários parecidos.
Tive medo que tudo viesse a baixo. Todos correndo atrás do Lula e a
população
local indignada com o andamento que este fórum está tomando. Os povos de
África
estão esperando por mais ação e menos discurso. Faz-se necessário uma
compreensão
das necessidades dessa gente. Um olhar mais humanizado. Somente estando
aqui
para perceber o que realmente está acontecendo. Vivenciando seu
dia-a-dia, nas
dificuldades locais, como necessidades básicas de um transporte público
de
qualidade e humano, de uma saúde pública, porém eficiente, projeto de
moradia
popular. Coisas que, nós, brasileiros, temos e não sabemos como manter
por pura
ignorância - ou comodismo - de participação política. As escolas locais
são
públicas e boas, no entanto, há necessidade de comer para sobreviver –
digo
sobreviver e não viver – é maior que qualquer coisa imaginável.Enquanto a classe C brasileira faz filas para comprar TV’s de
LCD ou LED em uma mega promoção para ver BBB11 o Fórum Social Mundial
era para
ser uma gota de esperança nas discussões humanitárias ao redor do mundo.
Segundo Abdoulaye Kane, economista e
jornalista senegalês, Senegal hoje vive a “Febre Europeia”. Todos querem
um
pedacinho de Dakar. Todos – os chamados primeiro mundo- tem!Pensando bem, isso parece ser real. Não há um só banco
nacional. As indústrias são todas estrangeiras. A capital vive uma
grande
explosão da construção civil. O centro é um verdadeiro canteiro de
obras. A
maior rede de TV do país é do governo que governa com rédeas curtas ao
comando colonialista. Quem é rico e quem é pobre em Dakar?Pergunta pra lá de cretina. Mesmo com uma boa formação, os que
escolhem ficar no país, têm que se contentar com uma vida modesta, porém
sobreviveu, ou partir para Europa ou
América e tentar uma nova vida. Os que vêm de fora prestar serviços nas
grandes
corporações aqui presentes, Itália, Espanha,
Alemanha, França e outros, vivem uma vida de luxo que é totalmente
inacreditável para realidade local.Quando quiseres fazer turismo. Deixe de ser preconceituoso e
invista em Dakar. Venha ver o que os países ricos fazem com África.
Depois me
diga o que você realmente pensa sobre as cotas. Sobre divisão de renda.
Sobre
humanidade. Hoje eu estou aprendendo muito com o povo senegalês. Amanhã
quero
aprender com você!Boa noite,
Pois “un outre monde est possible”
PS. Hoje eu paguei 38,00 reais (nossa moeda) em um prato simples de arroz com molho de cebola apimentado. Servido em um prato de plástico com uma colher que outra pessoa havia usado. Voltei a pé do centro até universidade pois já não tinha mais dinheiro para pegar um taxi e o ônibus não posso usar sozinha. Uma mulher senegalesa nunca anda sozinha nesse país. Eu tenho cara de senegalesa, todos dizem isso para mim o tempo todo. Amanhã tem mais bastidores. Material pautado só quando voltar, pois a internet aonde estou e muito lenta e só dá para passar um e-mail por noite kkkk por isso esse e-mail é coletivo kkkk beijos cheio de saudades de vcs.
PS2. Tem filminhos e muitas fotos
Ps3. domingo, único dia que pude ver a única TV da casa ligada passava um filme americano com legenda em árabe kkkkk vcs nem queiram saber que loucura foi a experiência.
Ps4. Hoje, antes das orações da família, consegui ouvir uma rádio de Guine Bissau, para quem não sabe Bissau é uma colônia portuguesa. Sendo assim a transmissão estava em português. O rádio é o maior veículo de comunicação de todo o país. Eles possuem algumas rádios livres, outras comerciais e muito poucas governamentais.
Ps5. mais um dia de comida apimentada kkkk vou me mudar para Bahia assim que chegar!
Na TV, negro vive no país das maravilhas Trama das nove da Globo ignora questão racial com personagem mulherengo e bem-sucedido de Lázaro Ramos
MAURICIO STYCER _ ESPECIAL PARA A FOLHA
André Gurgel, um dos protagonistas de "Insensato Coração", é um designer famoso. Bem-sucedido, é a principal estrela de um escritório de design e sofre assédio para prestar seus serviços para uma concorrente.Premiado e paparicado, é objeto da curiosidade da imprensa, aparece em capas de revistas e cultiva a fama de mulherengo. Em um único capítulo da novela, sem fazer esforço, apenas exalando seu charme, André Gurgel foi capaz de conquistar três mulheres.
Já levou uma mulher para a cama de seu apartamento, por insistência dela, e a dispensou depois do sexo sem deixar que ela dissesse qual era seu nome. Até agora, todas que cruzaram seu caminho, fossem clientes, repórteres, colegas de academia ou paqueras da balada, quiseram transar com ele.
Para conquistar a única mulher que resiste um pouco a ele, Carol (Camila Pitanga), contratou os serviços de um iate e a levou para passear em alto-mar. Ao final do encontro, por conta de um acidente, foi a uma delegacia onde a irmã de Carol estava detida. Exigiu que um policial avisasse o delegado da sua presença e, isso feito, conseguiu que a garota fosse liberada. Em pelo menos dois capítulos, André foi visto nu tomando banho. A primeira vez, depois do passeio de iate e da carteirada na delegacia. Enquanto Carol se banhava para dormir, em casa, André tomava uma chuveirada antes de ir para a balada conquistar mais uma mulher. Na segunda vez, o banho ocorreu depois de dispensar uma moça e antes de sair com outra, que o aguardava. Não bastassem todas as suas qualidades e talentos, ele ainda é negro. Vivido por Lázaro Ramos, o personagem não sofre qualquer preconceito ou discriminação por conta disso. Passados 15 capítulos, não houve uma única cena, um único personagem que mencionasse a questão racial na trama. André Gurgel, em resumo, é um fenômeno. Mais do que viver num país em que não há racismo, transita pelas mais altas esferas como se fosse invisível. Como em "A Roupa Nova do Rei", não há ninguém ao redor do personagem com coragem de dizer que ele é negro. Gilberto Braga e Ricardo Linhares usaram esse mesmo artifício com o casal gay de "Paraíso Tropical" (2007). Como observou o colega Alcides Nogueira, "podia ser tanto um casal de gays quanto um casal de símios, porque não era nada". Ao tratarem como natural o que não é natural, os autores podem até ter a intenção de transmitir uma mensagem de cunho educativo: "Assim é que deveria ser, assim é que os negros deveriam ser vistos, assim é que os gays deveriam ser tratados". Como na fábula de Hans Christian Andersen, porém, correm o risco de ser confrontados por alguma criança capaz de enxergar que "Insensato Coração" se passa no país das maravilhas. Toda vez que morre um ancião na África, morre com ele toda uma história de uma nação.
PS. Hoje eu paguei 38,00 reais (nossa moeda) em um prato simples de arroz com molho de cebola apimentado. Servido em um prato de plástico com uma colher que outra pessoa havia usado. Voltei a pé do centro até universidade pois já não tinha mais dinheiro para pegar um taxi e o ônibus não posso usar sozinha. Uma mulher senegalesa nunca anda sozinha nesse país. Eu tenho cara de senegalesa, todos dizem isso para mim o tempo todo. Amanhã tem mais bastidores. Material pautado só quando voltar, pois a internet aonde estou e muito lenta e só dá para passar um e-mail por noite kkkk por isso esse e-mail é coletivo kkkk beijos cheio de saudades de vcs.
PS2. Tem filminhos e muitas fotos
Ps3. domingo, único dia que pude ver a única TV da casa ligada passava um filme americano com legenda em árabe kkkkk vcs nem queiram saber que loucura foi a experiência.
Ps4. Hoje, antes das orações da família, consegui ouvir uma rádio de Guine Bissau, para quem não sabe Bissau é uma colônia portuguesa. Sendo assim a transmissão estava em português. O rádio é o maior veículo de comunicação de todo o país. Eles possuem algumas rádios livres, outras comerciais e muito poucas governamentais.
Ps5. mais um dia de comida apimentada kkkk vou me mudar para Bahia assim que chegar!
Na TV, negro vive no país das maravilhas Trama das nove da Globo ignora questão racial com personagem mulherengo e bem-sucedido de Lázaro Ramos
André Gurgel, um dos protagonistas de "Insensato Coração", é um designer famoso. Bem-sucedido, é a principal estrela de um escritório de design e sofre assédio para prestar seus serviços para uma concorrente.Premiado e paparicado, é objeto da curiosidade da imprensa, aparece em capas de revistas e cultiva a fama de mulherengo. Em um único capítulo da novela, sem fazer esforço, apenas exalando seu charme, André Gurgel foi capaz de conquistar três mulheres.
Já levou uma mulher para a cama de seu apartamento, por insistência dela, e a dispensou depois do sexo sem deixar que ela dissesse qual era seu nome. Até agora, todas que cruzaram seu caminho, fossem clientes, repórteres, colegas de academia ou paqueras da balada, quiseram transar com ele.
Para conquistar a única mulher que resiste um pouco a ele, Carol (Camila Pitanga), contratou os serviços de um iate e a levou para passear em alto-mar. Ao final do encontro, por conta de um acidente, foi a uma delegacia onde a irmã de Carol estava detida. Exigiu que um policial avisasse o delegado da sua presença e, isso feito, conseguiu que a garota fosse liberada. Em pelo menos dois capítulos, André foi visto nu tomando banho. A primeira vez, depois do passeio de iate e da carteirada na delegacia. Enquanto Carol se banhava para dormir, em casa, André tomava uma chuveirada antes de ir para a balada conquistar mais uma mulher. Na segunda vez, o banho ocorreu depois de dispensar uma moça e antes de sair com outra, que o aguardava. Não bastassem todas as suas qualidades e talentos, ele ainda é negro. Vivido por Lázaro Ramos, o personagem não sofre qualquer preconceito ou discriminação por conta disso. Passados 15 capítulos, não houve uma única cena, um único personagem que mencionasse a questão racial na trama. André Gurgel, em resumo, é um fenômeno. Mais do que viver num país em que não há racismo, transita pelas mais altas esferas como se fosse invisível. Como em "A Roupa Nova do Rei", não há ninguém ao redor do personagem com coragem de dizer que ele é negro. Gilberto Braga e Ricardo Linhares usaram esse mesmo artifício com o casal gay de "Paraíso Tropical" (2007). Como observou o colega Alcides Nogueira, "podia ser tanto um casal de gays quanto um casal de símios, porque não era nada". Ao tratarem como natural o que não é natural, os autores podem até ter a intenção de transmitir uma mensagem de cunho educativo: "Assim é que deveria ser, assim é que os negros deveriam ser vistos, assim é que os gays deveriam ser tratados". Como na fábula de Hans Christian Andersen, porém, correm o risco de ser confrontados por alguma criança capaz de enxergar que "Insensato Coração" se passa no país das maravilhas. Toda vez que morre um ancião na África, morre com ele toda uma história de uma nação.
Márcia Adão
mtb 29732
(19) 91732822
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