IMPOSTOS EM SÃO PAULO

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Carta do Carlos Brandão avaliando o BLOG


Querida Odila,
Ficou maravilha. Pode colocar. Eu também ando querendo fazer um dia um blog, mas não sei nem por onde começar. A Maristela, de Uberaba, está fazendo o meu novo site da Rosa dos Ventos.E serão novos tempos na Rosa dos Ventos, maior e mais aberta.Vai ser uma CASA DE ACOLHIDA.Saiu o CD de O JARDIM DE TODOS, uma das maravilhas do século XXI.Espero você na ROSA DOS VENTOS!
Um abraço com carinho Carlos

Oi Carlos, comprei o livro e o CD no dia do lançamento na CPFL...lindo mesmo...a turma da roça é genial...beijos Odila
Aguardo o seu site de volta...sinto falta.Vou até o Sul de Minas te visitar.Assinei o abaixo assinado sobre a mineradora que está explorando aí em Caldas...Inté

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Zumbi olhava Gaia.

Roberto Malvezzi (Gogó)
“Essa era a visão que Zumbi tinha de Gaia”. Foi o primeiro pensamento que me veio à cabeça quando olhei as serras ao redor, ao nascer do sol, quando dez mil pessoas chegaram ao topo da Serra da Barriga, na romaria da Terra e das Águas, em Alagoas. O sol nascente, iluminando a neblina sobre os vales, sobre um resto de Mata Atlântica, com Gaia respirando aparentemente em paz, me fez pensar – a todo momento repenso – na teoria de Lovelock, segundo a qual a Terra é viva, já tem oitenta anos de idade para quem irá viver cem, está velha, está doente. Em quarenta anos, quando a emissão de CO2 atingir 500 ppm, as algas marinhas vão morrer e Gaia será um planeta tórrido, com poucos sobreviventes onde hoje estão as regiões mais frias do planeta. Segundo o cientista, quatro bilhões de seres humanos irão morrer.
Zumbi, na verdade, do alto da Serra, espreitava seus inimigos. O ponto é estratégico, posição de quem vivia em combate. Mas ainda é possível imaginar a visão que ele tinha da região há apenas 300 anos atrás. Sua nação se estendia por mais de cem quilômetros, onde reencontravam a liberdade para serem novamente africanos. Hoje, o que resta da Mata Atlântica, ainda nos dá uma idéia do que Gaia já foi no litoral brasileiro.
Voltando as costas para o mirante, a outra visão é de um estado dominado pela monocultura da cana, sob o comando de meia dúzia de usineiros. Dizimaram a nação Zumbi para entregar seu território a poucos latifundiários e para que eles a transformassem no verde paquidérmico da cana monocultural. Como diz Vandana Shiva: “a monocultura é, sobretudo, mental”.
A romaria é um ato de penitência. Começou às 7 da noite com bandas e apresentações culturais. Animei as comunidades das nove às 10. Das 10 às doze foi a missa. Da meia noite até 6 da manhã a longa marcha, serra acima, até chegar ao reduto de Zumbi. Gente de todas as idades, mães carregando filhos nos braços, idosos caminhando entre crianças, onde as distâncias se multiplicam pelo cansaço e pela dificuldade de andar em encostas íngremes. Depois, a visão quase que paradisíaca de Gaia.
Pelo percurso jovens – a maioria – cantam, dançam, celebram. É cansativo, mas também é festa. É um mistério essa paixão popular pelas noites em claro, em celebração, em oração, em reflexão, em caminhada. As romarias da Terra e das Águas modificaram o conteúdo das romarias, inovaram, trouxeram-lhe um novo sentido, sem abandonar seu milenar significado.
Há quem diga que nosso povo pobre já não existe enquanto Igreja. Há quem diga que as comunidades eclesiais de base já não existem. Há quem diga que a Igreja comprometida com os pobres e com os desafios ambientais já não existe. Só pode dizer isso quem não viu o que eu vi. Tenho a certeza que, do seu território sagrado, também nos viu Zumbi. Quem não vê o povo, quem não vê a Serra da Barriga, quem não vê Zumbi, quem não vê Gaia é porque já não enxerga.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Diálogos Alagoanos Sobre a Transposição do R.S.Francisco


Diálogos Alagoanos
SOBRE A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO

18 de novembro 2007

De Thereza Siqueira, a FLOR de MANDACARÚ
Olá amigos

A 13a Conferência Nacional de Saúde (CNS) terminou hoje ás 3 da madrugada. A princípio queria falar sobre uma questão importante e polêmica, mas que muita gente não queria assumir o debate.
Sobre a transposição do Rio São Francisco.
Alagoas foi um dos estados que encaminhou uma proposta para a Nacional de que a 13a CNS deliberasse contraria a transposição e que fosse realizado um debate sobre o tema, pelo CNS. Como muitas propostas, esta apareceu no relatório, não como a defendemos em AL, mas com o seguinte texto: “que o governo suspenda o projeto de transposição do Rio São Francisco”. E essa foi polêmica, porque muitas delegações defendiam a transposição, com a justificativa de que este projeto beneficia a populações que sofre com a seca no nordeste. E sabemos que existe várias razões e argumento técnicos, políticos, econômicos, culturais e sociais que nos levam a ver a grande falácia que consiste este projeto de transposição Para quem interessar ver o site da www.fundaj.gov.br artigos de João Suassuna.
Tentamos fazer uma reunião com os estados da BA, SE, PE, MG mas no corre corre da 13a CNS não conseguimos. Os Povos Indígenas fecharam uma proposta contrario a transposição. Foi um trabalho de boca a boca e sensibilização para os outros delegados, principalmente do SUL e SUDESTE que defendiam a transposição.
A proposta terminou indo para a plenária final, para que fosse votada em supressão ou aprovação. Como tantas outras não teve debate. A plenária se mostrou dividida, e que visivelmente não tinha contraste. Mas, depois de duas votações, a mesa visivelmente conduzida pelo presidente do CNS, induziu pela supressão.
Pedimos recurso e não foi aceito pela plenária.
No entanto, nas primeiras horas de hoje, conseguimos aprovar a moção contra a Transposição do Rio São Francisco, feita por uma delegada da BA.
Outra proposta que passou sobre o rio São Francisco, que não foi polemica foi sobre a revitalização .Em resumo a Conferência deliberou sobre a revitalização do Rio São Francisco e repudiou o projeto de transposição .E para mim, vejo que precisamos retomar este debate com a relação deste projeto de transposição e suas consequências sobre as comunidades ribeirinhas.

Um abraço a todos Theresa Siqueira

Grande Theresa,
Valeu amiga,todo o esforço no debate por aqui e por tantos lugares e lá deu no que deu. Foi uma batalha de uma luta que se renova e toma novas caras.Os pescadores em Alagoas estarão gritando, e com eles, em outro lugar também gritaremos neste dia 22 de novembro.Por um lado... que bom que nas terras das Alagoas tivemos tão intenso debate, sobretudo com a sua garra como as andanças pelo sertão... viagens por vezes levando mais de 05 horas em estradas quase não existentes...Enfim, e na 13a deu nisso! Será hora de novo debate? Com outros jeitos...?
Suely Nascimento

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Percepção,Sensibilização e Educação Ambiental


ATIVIDADES DE CAMPO:
Percepção ,Sensibilização e Educação Ambiental
Visita com alunos de curso Técnico Ambiental
PETAR- Parque Estadual Turístico do Alto da Ribeira
Professora Ionara Urrutia Moura


A Região de Iporanga, no Alto Vale do Ribeira, é uma área onde se pode evidenciar as tensões provocadas pela preservação, a importância da gestão ambiental e a disputa pelo espaço para uso e preservação. Atividades agrícolas limítrofes ao maior corredor de área de Mata Atlântica preservada , atividade turística trazendo divisas e impactos sócio ambientais. Um conflito que atinge a população local e também o ambiente natural, que não escapa ás agressões do turismo e da depredação.
Paralelo a este cenário , tão evidente, o contato entre a área do Parque e o bairro vizinho, evidenciam o contraste entre o ambiente natural e antropizado.
Dentro do Parque, as caminhadas nas trilhas e cavernas , oferecem oportunidade de vivenciar situações de medo, insegurança, fragilidade e limitação , ao mesmo tempo que provocam euforia, admiração, contemplação e alegria . O grupo é levado a trabalhar a sensibilização, e a emotividade em dinâmicas especiais durante as trajetórias. Desta forma, estimulam-se a percepção e o prazer de vivenciar sentimentos de coleguismo, colaboração, e solidariedade . O contraste entre a mata exuberante e a escuridão das cavernas em sua grandiosidade, bem como minúcia de suas formações, modeladas tão lentamente pela água ,surpreendem os visitantes, imprimindo noção da grandiosidade da natureza e da fugacidade da vida humana frente ao tempo planetário.
O sentimento de admiração e alegria pelo convívio na natureza , o desenvolvimento da auto confiança e a superação de medos, são aspectos sempre presentes nos relatos que os alunos fazem após a atividade. Objetivos gerais
Sensibilizar e proporcionar momentos de alegria na vivência em ambiente preservado.
Desenvolver o "olhar sistêmico", questionador, olhar para entender as inter-relações que fazem parte do todo.
Objetivos específicos
Proporcionar contato com a natureza oferecer situações de convívio e trabalho em equipe.
Promover a oportunidade de percepção ambiental, através da observação crítica do individual e do coletivo, promovendo e desenvolvendo no aluno a capacidade de buscar no ambiente informações e índices de qualidade ambiental .
Desenvolver atividade de observação de espécimes e identificação dos grandes grupos vegetais ,sucessão ecológica no Bioma da Mata Atlântica.
Observar e relatar os impactos sócio-ambientais provocados pela exploração dos recursos naturais e pela exploração do turismo

domingo, 18 de novembro de 2007

Seminário de Educação SocioAmbiental da UNICAMP

26 de Novembro de 2007 -
das 08:00 às 18:00
CICLO BÁSICO –SALA PB 17 –
UNICAMP Campus Campinas


INFORMAÇÕES e INSCRIÇÕES: www.preac.unicamp.br/eaunicamp
PROMOÇÃO: PREAC – Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários
CESET – Centro Superior de Educação Tecnológica
APOIO: Departamento de Educação Ambiental - Ministério do Meio Ambiente-MMA
Coordenadoria Geral de Educação Ambiental - Ministério da Educação-MEC

Nestes últimos dois anos, diversas atividades e projetos ligados à área da “Educação SocioAmbiental” foram e estão sendo desenvolvidos em diversas Unidades da UNICAMP.
A idéia deste Seminário é colocar em contato estas diferentes ações e pesquisas realizadas nos âmbitos local, regional e nacional, facilitando a comunicação entre seus diversos atores: os docentes, técnicos, pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação e as comunidades envolvidas em cada projeto.
Na parte da manhã, para estimular a reflexão e o debate sobre esta área do conhecimento, convidamos dois expoentes nacionais, que militam tanto na Academia quanto nos movimentos sociais, participando e animando diversas redes ligadas à Educação SocioAmbiental: Profa.Dra. Michele Sato e Prof.MSc. Luiz Ferraro Junior.
Este evento será o início de uma série de atividades de integração da comunidade da UNICAMP envolvida com esta área de pesquisa e ação, com o objetivo de fortalecer nossos diversos projetos integrando-os e/ou trocando metodologias, experiências, materiais para, no futuro, constituir uma rede de educadores ambientais da UNICAMP.
O tema deste Seminário procurará abordar os princípios básicos desta Educação SocioAmbiental (os conceitos de Ambiente, Educação e Sociedade que fundamentam a área), promovendo a reflexão, o debate e a apresentação dos diversos projetos de pesquisa e de ação realizados no âmbito da UNICAMP

ORGANIZAÇÃO: COEDUCA – Coletivo Educador Ambiental de Campinas
Equipe MEC / CJ / CESET / PREAC / UNICAMP
Projeto Educação Ambiental-Coletivos Jovens Brasileiros - MEC/UNICAMP
Projeto Beija Flor e Projeto Busca Sorrisos (SAE/CESET)
No início do período da tarde, teremos as apresentações orais dos resumos - com o exclusivo objetivo de nos apresentarmos e conhecermos o universo dos temas, metodologias e parceiros envolvidos – que deverão ser de 5 a 10 minutos, dependendo da dimensão do trabalho apresentado. Os importantes e necessários aprofundamentos, para conhecermos cada um dos trabalhos, serão objeto de um próximo Seminário a ser realizado no início de 2008.
Solicitamos que todos os interessados em apresentar seus trabalhos (já encerrados ou em andamento) enviem um resumo de no máximo 01 página para o endereço eletrônico:
preac@reitoria.unicamp.br (colocando no assunto: "Seminário EA UNICAMP")
Nos intervalos da manhã e tarde, serão oferecidos alimentos produzidos de modo social e ecologicamente compatíveis. Tragam suas canecas.
Sentimo-nos felizes com sua presença e com a contribuição de suas idéias.

Prof.Dr. Mohamed Habib
Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

“Primeiro ator ou palhaço negro do Brasil”



TEATRALIDADE CIRCENSE É RESGATADA EM LIVRO DA PESQUISADORA ERMINIA SILVA
Resultado de cerca de 20 anos de pesquisa, o livro mostra como foram surgindo as constituições das diversas famílias, suas mobilidades entre os vários circos e o repertório teatral dos artistas mais importantes, como Benjamim de Oliveira
A leitura do livro Circo-Teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil, de Erminia Silva, revela, como num espetáculo circense, a cada página uma surpresa. A primeira é certamente a incrível epopéia das famílias de circenses européias desde os primórdios das formações de circo de cavalinhos da Europa, principalmente Inglaterra, até a grande aventura que as fazia rasgar o mar em busca de novas platéias.
Depois, chegando ao Brasil, começaram um itinerário notável de adaptação aos costumes e viagens intermináveis, criando um modo de vida e sobretudo de produção artística ímpares na história. No processo de adaptação, Erminia mostra como surgiram as pantomimas que povoam o imaginário brasileiro desde mestres da literatura como Machado de Assis, Arthur Azevedo e Mario de Andrade até hoje.
Erminia analisa como os homens e mulheres circenses transformaram o palco/picadeiro num lugar polissêmico e polifônico, no qual se aliavam destreza corporal, musicalidade, comicidade, dança e representação teatral. Parte da idéia de que os circenses, particularmente os brasileiros, há mais de dois séculos, devem ser vistos como um grupo que sempre articulou saberes e técnicas artísticos contemporâneos, seja durante o século XIX como no XX, tendo como referência definidora um processo permanente de (re)elaboração e (re)significação, bem como produziam um espetáculo para cada público, manipulando elementos de outras variáveis artísticas já disponíveis e gerando novas e múltiplas versões da teatralidade circense. Por isso o estranhamento da autora em torno de um pretenso “ressurgimento do circo como moda”, ou do “circo novo”, das academias de circo ou de grandes espetáculos como o Cirque de Soleil, em cima de um debate de “contemporaneidade”; visto como o “enunciador” de uma “nova” linguagem artística que “revolucionou” a técnica circense.
São poucos historiadores que se dedicam à história do circo, e pouquíssimos que, como Erminia, reconhecem no processo de produção circense, em especial a brasileira, não uma “arte menor”, mas um imenso arsenal de saberes e práticas que já produziam teatro em grande escala, com peças ricamente elaboradas, contando com grande número de artistas, músicos profissionais e sofisticado aparato cênico. Para quem julga, como de hábito, que o teatro brasileiro só viria a existir a partir da década de 1940 com as peças de Nelson Rodrigues, é uma imensa surpresa descobrir que, no início do século XX, por exemplo, o Circo de Emílio Fernandes, montou uma peça em que o Teatro São Pedro de Alcântara (atual João Caetano) era completamente inundado e que os atores representavam embaixo d’água e sobre pontes construídas especialmente para o espetáculo. Ou ainda que, durante as badaladíssimas apresentações de Sarah Bernard no Rio de Janeiro, no Teatro Lírico, palco da antológica atriz, não houve lotação plena em nenhum dia, enquanto o Circo instalado no São Pedro via todas as noites multidões concorrendo pelo ingresso para ver Rosita de La Plata. Nas palavras dos cartazes-propagandas usados para a divulgação: “Sempre enchentes! Sempre enchentes!”
A PESQUISA E OS CARTAZES-PROGRAMAS
Para levantar a grandeza e a importância desta história desconhecida do grande público, Erminia, pesquisadora incansável, consultou mais de 20 jornais e revistas, abrangendo um período em torno de 60 anos. Como a história do circo do Brasil não era tratada até então com a atenção que merece, foi através das propagandas veiculadas pelos próprios circos que foi possível obter informações cruciais na reconstituição desta história. Assim, das páginas amareladas dos jornais pesquisados foram surgindo as constituições das diversas famílias, suas mobilidades entre os vários circos, os percursos delas e dos artistas mais importantes e, o que é notável, o repertório teatral desses circenses, já que nas propagandas as pantomimas eram descritas com uma infinita riqueza de detalhes, ato a ato.
Toda essa gama de informação pode ser conferida nos dois apêndices incluídos no livro: o “Repertório teatral dos circenses”, relação composta pelas peças representadas nos circos entre 1834 e 1912, localizadas nas fontes pesquisadas pela autora, com detalhes de quem realizou o mise-en-scène, os atores, as músicas etc.; e a coleção de “Cartazes-programas”, em uma seleção da autora por sua importância e significado.
A análise desse material nos dá como que um sentimento de justiça para com a história dos inúmeros homens e mulheres que fizeram da produção circense a sua vida.
BENJAMIM DE OLIVEIRA
Como não poderia deixar de ser, a figura de Benjamim de Oliveira conduz a narrativa do livro todo. Benjamim, conhecido por um epíteto que certamente diminui seus méritos – o de “primeiro ator ou palhaço negro do Brasil”-, foi um grande ator, sim, mas também acrobata, palhaço, cantor, músico, compositor, dramaturgo, encenador e proprietário de circo.
Aos 12 anos, em 1882, fugiu da fazenda em que seus pais eram escravos, na cidade de Pará de Minas, antiga Patafufo, no interior de Minas Gerais, com um circo que passava e desde então iniciou seu aprendizado circense em vários circos, até ser reconhecido nacionalmente e colecionar inúmeros méritos. Acompanhando sua trajetória até a década de 1910, Erminia, ao mesmo tempo em que esmiúça e exemplifica a trajetória de vários outros artistas, evidencia que embora sejam notórios seu talento e qualidades individuais, ele é também resultado de um rigoroso processo de formação presente no dia-a-dia do circo. Os múltiplos talentos que as teorias artísticas contemporâneas buscam e propõem, já era realidade concreta e cotidiana na vida dos circos do século XIX e início do XX.
“Portanto, Benjamin de Oliveira não foi avis rara. Talvez tenha sido a ave que conseguiu vôos longos e graciosos, mas foi um tipo de artista semelhante a outros, de menos fama, mas com iguais talentos e qualidades. Isso não diminui em nada a sua figura, só reafirma o raciocínio geral da autora de que o circo no Brasil, muito além do espetáculo, muito além da imagem desqualificadora de ‘melodrama, acrobacia e palhaço’ que lhe tem sido atribuída, esconde um processo de formação artística para o qual devíamos olhar mais atentamente”. Restabelece, também, a importância dos compartilhamentos e trocas que Benjamim e a maioria dos circenses faziam com as várias expressões artísticas consideradas “brasileiras”, particularmente no teatro e na música, com parcerias como Baiano, Mário Pinheiro, Paulino Sacramento, Eduardo das Neves e Catulo da Paixão Cearense; com a Gravadora Columbia Record onde gravou seis discos, e no cinema com Labanca, Leal & Cia.
E temos assim a história de um circo que, se na sua natureza é nômade, internacional e poliglota, passa a ser brasileiro, repleto de acrobacias, teatro, música e ginga, muita ginga.
A AUTORA

Erminia Silva, quarta geração circense no Brasil, filha de Barry Charles Silva, é mestre e doutora pelo departamento de História da Universidade Estadual de Campinas. Sua pesquisa sobre o processo histórico do circo e circenses no Brasil, resultou na dissertação de mestrado (1996) - O Circo: Sua arte e seus saberes. O circo no Brasil do final do século XIX a meados do XXI; e na tese de doutorado (2003) - As múltiplas linguagens na teatralidade circense: Benjamim de Oliveira e o circo-teatro, no Brasil, no final do século XIX e início do XX, que agora se transforma neste livro.

É professora de história do circo no Cefac – Centro de Formação Profissional em Artes Circenses (SP) e desenvolve oficinas de história na Escola Nacional de Circo (RJ); uma das coordenadoras do site www.pindoramacircus.com.br. Atua como consultora junto a grupos de artistas e coletivos, como a Asfaci – Associação de Famílias e Artistas Circenses, Associação de Escolas de Circo e a Rede Circo do Mundo, Brasil – Circo Social.
COMENTÁRIO:Pessoa, bom dia!!
Estou lendo o livro da Mina e é um espetáculo (com perdão do trocadilho...). E estou apenas no primeiro capítulo. Uma leitura gostosa e bacana. O tema é muito instigante.Um super-beijo da Nayara.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

De OLHO no PLANETA


Obra registra 'saber medicinal' do Cerrado
Um livro em fase final de preparação, feito por uma rede de organizações não-governamentais e acompanhado pelos ministérios do Meio Ambiente e da Saúde, vai registrar, pela primeira vez, a “sabedoria medicinal” das comunidades do Cerrado. A obra terá mais de 300 páginas, mais de 500 ilustrações, e abordará as propriedades curativas que as populações rurais de Goiás, Minas Gerais, Tocantins e Maranhão detectam em nove plantas da região, como o barbatimão, o algodãozinho e a batata de purga.

Intitulado “Farmacopéia Popular do Cerrado”, o livro começou a ser escrito em 2004 e deve ser lançado em março de 2008. Além das três plantas já citadas, outras seis serão destacadas no livro: pacari, rufão, ipê-roxo, buriti, velame branco e pé-de-perdiz. A iniciativa é da Articulação Pacari, rede formada por cerca de 90 instituições, ONGs e associações comunitárias.
“A idéia é registrar conhecimentos medicinais tradicionais do Cerrado, até hoje transmitidos oralmente pelas benzedeiras e raizeiros para seus filhos”, afirma a coordenadora da Articulação Pacari, Jaqueline Evangelista. Ela avalia que a publicação também servirá para prevenir a biopirataria, na medida em que registrará o conhecimento das comunidades sobre o tema.

Os moradores da região preparam as plantas medicinais que constam no livro de pelo menos dez formas diferentes: fazem xaropes, pomadas, cremes, sabonetes, balas, pílulas, chás, óleos, tinturas e garrafadas (mistura com bebida alcoólica). “O uso varia de acordo com a comunidade”, diz a diretora da Articulação Pacari, Eleuza Ório. Ela frisa que a obra não dará receitas para esses preparados, apenas indicações do uso fitoterápico das plantas. Também dirá onde elas podem ser encontradas e apresentará dados botânicos específicos. Como exemplo de efeitos fitoterápicos, Eleuza cita as pomadas feitas do barbatimão, usadas como cicatrizantes, os chás de pé-de-perdiz, com efeito antibiótico, e as garrafadas de algodãozinho, comuns para "limpar" o sangue de impurezas.

As comunidades pesquisadas pela Articulação Pacari usam mais de 70 espécies de plantas medicinais, 40% delas nativas do Cerrado. Para o livro, foram selecionadas as que estão sendo ameaçadas pelo avanço das fronteiras agrícolas, as usadas em maior número de comunidades e as utilizadas para fazer diferentes tipos de remédios. “Foi feito um levantamento de 100 a 150 plantas por região, que foram depuradas com base em uma metodologia estabelecida pelos próprios raizeiros e pela Articulação, para enfim chegarmos a essas que constam no livro”, afirma Eleuza.

Orientação
Além de registrar o conhecimento da região sobre as plantas medicinais, o livro também visa orientar benzedeiras, raizeiros e as farmácias populares para que usem os produtos com eficiência e segurança. “Existem centenas de farmácias comunitárias, que receitam os derivados das plantas há décadas”, diz Jaqueline.

As plantas citadas no livro são objeto de estudos acadêmicos de etnofarmacologia e etnobotânica em universidades brasileiras, como o Laboratório de Produtos Naturais da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). No entanto, a Articulação Pacari salienta que os derivados dessas plantas ainda não são reconhecidos pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), porque não existe regulamentação federal específica para fitoterápicos e para remédios populares.

“Em junho de 2006, o presidente Lula assinou decreto para lançar as bases de uma política nacional para a medicina popular, então o reconhecimento em torno dos remédios ainda está sendo construído”, diz Jaqueline. Segundo ela, o livro poderá ser um instrumento de cobrança para que o governo reconheça as plantas medicinais e passe a regulamentar seu uso.

“Os raizeiros detêm o conhecimento para o manejo e a preservação das espécies de plantas medicinais, que muitas vezes estão ameaçadas de extinção”, diz a diretora do Departamento de Patrimônio Genético do Ministério do Meio Ambiente, Cristina Azevedo.

O governo federal, através de um termo de cooperação entre o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e o Ministério, acompanham a elaboração do livro. “Até agora, o trabalho tem sido muito bom, no sentido de preservar a memória do uso das plantas medicinais em comunidades rurais do Cerrado”, diz Cristina.

A diretora afirma que espécie alguma dessas plantas é desconhecida. “O fato da farmacopéia ser lançada não significa que esses remédios vão estar nas farmácias no dia seguinte, nem que os hospitais vão passar a adotar os fitoterápicos”, observa. O importante, avalia, é documentar as plantas que são usadas na região, para que sejam feitos planos de preservação ambiental e também para resgatar a cultura dos raizeiros e benzedeiras, ameaçada pelo avanço do agronegócio no Cerrado.

Após a publicação do livro, a Articulação Pacari planeja fazer um manual das boas práticas do uso das plantas medicinais. “A idéia é reunir métodos para preparar os remédios com controle de qualidade, com higiene e também para evitar que eles sejam feitos de qualquer jeito”, diz Jaqueline.

Fonte: Envolverde/Pnud

MIRAGEM NO CERRADO PIAUIENSE
Carta aos participantes da Romaria da Terra e da Água em URUÇUÍ-PI



Há 5 anos uma voz solitária, no sul do Piauí, se levantou contra a destruição do Cerrado e seu povo. Gritou em bom tom que o desenvolvimento prometido para a região era uma mentira, visava apenas beneficiar poucos (uma multinacional, alguns políticos e produtores de soja), e que a grande maioria estaria excluída. Naquele momento, o povo encantado com o “canto de sereia” da Bunge e do Governador não compreendeu. Mas agora é outro momento e o povo já está sabendo que foi enganado.

Isso aconteceu com a chegada da Bunge Alimentos à cidade de Uruçuí, Piauí. A promessa era grande: 10 mil empregos, a maior indústria de soja do Brasil. Tudo mentira. Estamos nos dando conta disso agora. E vejam, tudo com o aval do Governo do Estado. E podem esperar, se a Bunge ficar, depois que completar os 15 anos de isenção ela vai embora, deixando um deserto como herança para o povo da região.


O Cerrado do Piauí já está quase todo destruído (60% já foi liquidado), os rios e riachos estão secando e envenenados pelo uso abusivo de agrotóxicos nas lavouras de soja, os solos estão secando e sendo transformados em desertos. O calor é insuportável e as chuvas já faltam drasticamente. Como se a soja fosse pouco, agora estão chegando a mamona, a cana, o carvão e o eucalipto. E o Governador fazendo mais promessas: “É agora que o Piauí vai desenvolver”. Não acreditem, é mentira de novo. Se continuar assim, dentro de no máximo 5 anos a região desde Uruçuí a Bom Jesus do Gurguéia vai ser um grande deserto de rios secos, com o povo passando sede e fome.

Mas nem tudo está perdido. Podemos dar um basta nessa situação. Não podemos é esperar no Governo do Estado, pois o Governador WD é o principal representante desse modelo predador. E por quê? Porque os sojeiros e a Bunge são os financiadores de campanhas políticas, é quem dá o dinheiro para comprar os votos. O compromisso do Governador não é com o povo, mas com quem lhe garante dinheiro para subornar eleitores. O povo precisa ir para as ruas e dizer que não quer mais esse “desenvolvimento” que não respeita o meio ambiente, os direitos humanos e a cultura existente. Precisamos dizer agora, antes que seja tarde: “FORA Bunge”.

E por falar em direitos humanos, o que foi resolvido com relação à morte dos trabalhadores rurais envenenados por agrotóxicos em fazendas de soja? Até o momento nenhuma providência foi tomada. O Governador WD mandou a Secretaria de Saúde dar uma versão distorcida aos fatos e categoricamente afirmar que a morte dos trabalhadores não fora por agrotóxicos. Mandou também a Secretaria de Segurança promover um grande circo para desenterrar mortos e colher amostras que foram colocadas em “FORMOL” para que o resultado fosse negativo. Os trabalhadores, disse o Governador, não morreram envenenados por agrotóxicos, mas também até agora não disse do que foi. Convém lembrar que essas mortes aconteceram na campanha eleitoral em que o Governador era candidato à reeleição.

E o presente das isenções fiscais que foram oferecidas para a Bunge. Essa empresa não paga nenhum imposto no Piauí. 15 anos de isenção. Disse que ia criar 10 mil empregos. Não criou. Disse que ia montar uma indústria de óleos, margarina e ração. Também não montou, nem vai montar. Para que a isenção continue faz-se necessário que a Bunge cumpra com a sua parte no acordo. Não está cumprindo, mas o governador WD mantém a isenção. Qual será o motivo? Podemos imaginar que deve ter algum beneficio para manter uma isenção que dá prejuízo de quase 200 milhões de reais por ano ao Estado. Será que a Bunge financia campanhas de WD?

Vamos falar da política que está sendo executada pela Bunge e o Governador WD. É a política da intimidação. Calar o movimento ambientalista para que ninguém levante a voz no sentido de questionar a Bunge ou o Governador. Se você assim fizer corre sérios riscos, desde sua integridade moral à sua vida. Querem intimidar o povo usando um “bode expiatório”: “Povo, não se metam a besta, vejam a desmoralização que estamos promovendo ao ambientalista Judson Barros. É apenas um exemplo do que somos capazes de fazer e onde podemos chegar. Quem se meter nesse negócio vai ser execrado moral e publicamente”. É assim que a Bunge e o Governador atuam. A Bunge move uma ação contra o ambientalista Judson Barros na Comarca de Uruçuí pedindo uma indenização por danos morais que chega a 2 milhões de reais. Mas que danos morais? Questionar uma empresa que chega ao Piauí e, avalizada pelo Governador, não respeita as leis, é atingir a moral da Bunge? É claro que a empresa quer intimidar e calar o movimento.


E o Governador WD? Também cumpre sua parte na intimidação e tentativa de desmoralização do ambientalista. Utilizando-se do Estado e da prerrogativa de Governador mandou seus subordinados e bajuladores a montarem um Tribunal de Exceção na Secretária de Fazenda, onde o ambientalista é empregado através de Concurso Público. Na utilização desse expediente e através do Secretário Antonio Neto, WD determinou a criação de uma comissão, composta de “amigos seus” para promover uma execração do empregado, sem um motivo, sem legitimidade e sem fundamento legal. Tudo para atender a caprichos calhordas. Não pode fazer alguma coisa como homem e usa do Estado para promover terrorismo, demonstrando uma atitude de quem é fraco. Assim fez o Hitler perseguindo o povo judeu, assim fez o Stálin na União Soviética, assim fez o regime militar mandando matar aqueles que eram contrários aos interesses dos que ocupavam o poder. Assim fez o ditador Pinochet no Chile. O modo de operar é sistemático. Por um lado a Bunge ameaça cobrando indenizações astronômicas, por outro, o Governador ameaça de tomar o emprego. Cuidado Governador esse mundo dá muitas voltas. Nem o Senhor (WD) nem a Bunge vão consegui calar o movimento ambientalista.

A Romaria da Terra e da Água em Uruçuí representa um fato importante para que a sociedade conheça realmente o que se passa no Cerrado do Piauí. É uma boa ocasião para que o Brasil venha ver de perto essa realidade. O paraíso prometido pela Bunge e o Governador WD virou um inferno, literalmente, começando pelo calor e a falta de chuva.

Rede Ambiental do Piauí – REAPI

Fundação Águas do Piauí - FUNAGUAS