IMPOSTOS EM SÃO PAULO

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

"Auto de Natal"



UM RIO COMO UM PÁSSARO

Para Frei Cappio

Como um pássaro um rio

Como um pássaro um rio viaja.
Como um pássaro ele voa a sua viagem.
Como um pássaro ele voa e vê o mundo
como quem lembra a casa onde mora.
Mas o pássaro pousa quando cansa
e um rio só descansa quando morre.

Alguns sinais do tempo

Às vezes de um lado ou de outro das margens
que me são como as beiras de minhas asas
eu vejo luzes mais do que em outros dias,
e o estrondo com que os povos das cidades
por onde passo, clareiam a noite de suas festas.
Eles celebram o passar dos dias e os seus santos
e contam uma centena do que chamam “um ano”
como se fosse um longo, um incontável tempo.
Como dizer a eles que todo aquele tempo é: agora?

Pois muito antes da era em que chegaram às matas
que vestiam de verdes os caminhos de meu vôo,
os primeiros homens de outras peles, preces, cantos
e outros deuses e motivos de acender fogos e cantar,
já então eu era e deslizava as minhas águas claras
por terras cobertas de verde e vazias de nomes.
Aquilo foi quando os primeiros sinais da vida
deixavam o selo do andar de seres em minhas areias,
e não havia ainda a marca dos pés dos homens.

Foi então quando

Foi então quando as minhas águas ouviram vozes,
e aprendi sem pressa que um outro povo da vida
havia chegado. E foi então um outro tempo.
Vieram de longe os que se cobrem de peles
e edificam de madeira, barro e pedra o lugar
onde fazem o amor e acalentam os filhos.
Entre o tempo das chuvas e o dos ares secos,
quantas águas terei levado do sertão ao sal do mar
até quando chegaram a essas terras os homens
as mulheres e as crias de outros povos.
Os que a mim me deram com as suas falas,
tão diversas do cantar das aves e do vento,
este nome que soa como chuva na palha: Opará?
Convivemos muitas eras como quem navega
e quem acolhe quem aprendeu a navegar.
Eles flutuaram madeiras em minhas águas
e as entre as ilhas de meu leito viajavam sem medo.
Pescavam os meus peixes e os comiam, poucos,
à volta de fogos, falando de frutos e de deuses.
Vinham os seus filhos e mergulhavam em minha água
como quem abre a porta da frente e entra em casa.
Foram eras felizes e pensei que para sempre
eu poderia abrigar os homens como as aves.

Então chegaram outros

Não reconheci como seres da vida, como homens
os que vieram depois e chegaram aqui um dia.
Vinham vestidos de roupas e de estrondos
e calçavam aços com que feriam minhas areias
acostumadas aos pés nus de moças de pela escura
e aos corpos suaves, com que de vez em quando
um homem e uma mulher gemiam de prazer
e depois se lavavam em águas, como um rito.
Os homens de pele clara rasgaram caminhos
e aprenderam a queimar o verde de meus matos
e a lidar comigo como quem doma um inimigo.
O meu nome trocaram por este: São Francisco.
E custei a compreender porque me chamavam
com o nome de um homem de outras falas
que se viesse a mim me tomaria como um irmão.

Foram os tempos do fogo e do desatino.
Grandes barcos ruidosos cortavam o meu silêncio
e o que não cabia em suas casas de ferro e barro
eles atiravam na minha, pois um rio é um vôo e um lar.
E aprenderam com o tempo a reter as minhas águas.
E os sertões por onde viajo viraram grandes lagos,
enquanto as lagoas de minha terceira margem
onde os peixes geravam suas crias e a vida das águas
começaram a secar como um céu do mês de agosto.
Um rio não se doma, eu quis dizer aos novos homens,
mas eles não aprenderam com os povos que mataram
com artifícios de ferros, fogos e de fome,
a calar ante as minhas águas e ouvir a minha voz.

Tudo o que nasce deve morrer um dia.
Uma ave voa e um dia morre e é breve o seu vôo.
Voa um rio um tempo que nem mesmo os deuses contam
E eu imaginava navegar as minhas águas
e as águas dos rios que chegam comigo ao mar
por muitos dias e muitas eras de sol e chuva ainda.

Mas entre as pedras eu sinto que me findo aos poucos
entre cada janeiro de minhas águas cheias
e os julhos frios dos meu dias secos.
E os que me tratam com o furor de máquinas
como quem veio até mim em sua guerra
querem agora fazer de meu leito rios de finge.
Águas de mentira roubadas de meu vôo
e levadas do seco ao que é mais seco ainda.

Como dizer aos homens agora?

Como dizer aos que mentem a mim e aos outros,
que se há tantas mulheres tristes e meninas magras
aos dois lados de meu caminho noite adentro,
como esperar que de um rio cavado a esmo
haja no deserto farturas de vida, trigo e uvas?
Aprendi com o tempo e o passar dos homens
que quando há fome entre os povos que me cercam
não é porque a terra e as águas sejam avarentas.
Outros povos viveram aqui e a todos eu nutri
e assim também as terras virgens do sertão,
como um pai nutre um filho, e um irmão a outro irmão.
Se há fome, é porque alguns roubam o que é de todos:
minha vida, os meus peixes, minhas águas e meu vôo.

Um rio se ama e não se doma, como não se pára um vôo
a não ser com a arma que fere a ave e mata o vôo.
Vivo ainda, e entre os barros e os azuis de meus dias
espero que venha de novo o dia em que o verde
e o frescor da vida das árvores de mil nomes
repovoe de flores, de frutas e de bichos
os dois lados do caminho por onde eu vou ao mar.

Vivo de saber do amor daqueles a quem amo
e que imagino serem como o homem, Francisco,
que cantava o sol e o vento, a água e a fêmea,
e que com as mãos nuas beberia de minhas águas
e também a mim, um rio, me chamaria: irmão.

Noite de Natal em 2008
Carlos Rodrigues Brandão

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Resposta de André Trigueiro a Postagem do Blog Educambiental sobre a TRANSPOSIÇÃO do R.Paraíba do Sul



Odila:

A transposição da água do Paraíba do Sul para o Guandu foi feita
antes de o Brasil possuir leis ambientais ou de gestão dos recursos hídricos
mais rígidas. Não saberia dizer se essa obra,se feita nos dias hoje,sairia do mesmo jeito. Provavelmente não.

A transposição comprometeu a vazão ecológica do Paraíba a juzante, mas não foi o único impacto grave sofrida na bacia do Paraíba. Hoje há um comitê de bacia que realiza estudos, cobra pela captação da água e realiza investimentos importantes de recuperação dessa bacia.

Entre no site do CEIVAP (www.ceivap.org.br/) para obter mais
informações a respeito.

Um abraço e obrigado, André
André Trigueiro é Professor de Jornalismo Ambiental-PUC-RJ e Reporter da Globo News

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

ALIMENTANDO O DIÁLOGO E O ENTENDIMENTO



Dom Luiz Cappio e os Movimentos Sociais que o acompanham e assessoram – MPA,
MAB, MST, APOINME, CPT, CIMI, CPP, PJMP e FEAB
– apresentam a seguinte
contraproposta:

1- Manter a suspensão das obras iniciadas da transposição, com a retirada
imediata das tropas do Exército;

2- Adução de 9m3/s para as áreas de maior déficit hídrico dos Estados de
Pernambuco e da Paraíba, redimensionando o projeto atual de 28m3/s, através
de termo de ajustamento entre o empreendedor e o Ministério Público Federal
com interveniência dos Estados da Bacia, do Estado da Paraíba e do Comitê de
Bacia Hidrográfica do São Francisco;

3- Implementação das obras previstas no Atlas Nordeste de Abastecimento
Urbano de Água, da Agência Nacional de Águas, além das já referidas acima no item 2;

4- Apoio da União à introdução, ampliação e difusão de tecnologias
apropriadas de captação, armazenamento e manejo de água para o abastecimento
hídrico humano e produção agropecuária das comunidades camponesas do
Semi-Árido, sob controle da ASA –Articulação do Semi-Árido Brasileiro e dos
movimentos sociais;

5- Elaboração e implementação de um programa de revitalização da Bacia
Hidrográfica do São Francisco, que comporte ações amplas e diversificadas, a
curto, médio e longo prazo, e contemple a preservação dos Cerrados e das
Caatingas, tornados Biomas Nacionais, tendo como suporte orçamentário o
Fundo de Revitalização do Rio São Francisco, conforme a PEC a ser aprovada
imediatamente no Congresso Nacional;

6- Elaboração e implementação de Programas de Revitalização das Bacias
Hidrográficas dos Rios Jaquaribe no Ceará, Piranhas-Açu na Paraíba e Rio
Grande do Norte e Parnaíba no Piauí e Maranhão, e rios temporários do
Semi-árido;

7- Apoio técnico-político ao Comitê de Bacia Hidrográfica do São Francisco
para elaboração do Pacto de Gestão das Águas do São Francisco com inclusão
imediata do atendimento às demandas para abastecimento humano do estado da
Paraíba e do Pernambuco e consideração dos pleitos dos estados do Ceará e
Rio Grande do Norte para abastecimento humano e dessedentação de animais;

8- Coordenação pela União da elaboração e implementação de um Plano de
Desenvolvimento Socioambiental Sustentável para todo o Semi-Árido
Brasileiro, conforme o paradigma da Convivência com o Semi-árido.

Sobradinho, 18 de dezembro de 2007."

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

“SOMOS TODOS APRENDIZES”

“SOMOS TODOS APRENDIZES”
Lembranças da construção do Tratado de Educação Ambiental

Por Moema L. Viezzer
Coordenadora da equipe facilitadora do Tratado na Rio 92
Consultora de Educação Ambiental da Itaipu Binacional.

No contexto da Rio 92, a Educação Ambiental tornou-se tema em evidência graças a intervenções de educadoras e educadores ambientais do mundo inteiro e passou por diversas etapas. A intenção deste texto-testemunho é realizar um resgate inicial do que significou o processo que culminou com a aprovação do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, numa conversa informal com algumas das pessoas que viveram mais de perto este processo, integrando a comissão facilitadora do mesmo.
O primeiro momento a ser registrado é o da articulação das ONGs e Movimentos Sociais para o Fórum Global, paralelo à 2ª Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. No Brasil, o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais Rio 92 inseriu, paulatinamente, entre os diversos temas escolhidos, o da Educação Ambiental. Por outro lado, por ocasião do Seminário que discorreu sobre o Futuro da Democracia em Gottemburg-Suécia em 1991, o Conselho Internacional de Educação de Adultos/ICAE, decidiu participar da Rio 92 através de seu Programa de Educação Ambiental junto ao Programa de Educação Ambiental do Conselho de Educação de Adultos para a América Latina, ambos então sediados no Brasil, com o apoio institucional da ONG Rede Mulher de Educação.
Uma “Carta de Educação Ambiental” foi o ponto de partida. A idéia inicial era convocar educadoras e educadores do mundo inteiro a trazerem sua mensagem para a Rio 92, tendo na educação ambiental um eixo articulador, paralelamente ao que poderia ocorrer em relação ao tema na Conferencia Oficial.
(Trecho extraído do Artigo de Moema Viezzer que será estudado debatido no Colóquio)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

1º Colóquio sobre Educação Ambiental da UNICAMP

Tema: "Tratado de Educação Ambiental Para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global"

Local: Prédio Central da Faculdade de Educação, sala ELL 08 UNICAMP
Data: dia 18/12/2007
Horário: das 8:30h às 12h

Este Colóquio é o primeiro de uma série de encontros abertos na
UNICAMP que se propõem a discutir temas e textos fundamentais para uma
Educação Ambiental Crítica.
Neste encontro, discutiremos o "Tratado de Educação Ambiental" a
partir de leituras prévia que todos os interessados são convidados a
fazer. Sendo um encontro na forma de discussão coletiva, é importante
a leitura e a reflexão sobre o documentos como forma de cada um se
preparar para melhor aproveitar e contribuir com o Colóquio.

TEXTO INTRODUTÓRIO

Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global

O "Tratado", escrito a centenas de mãos em 1992, está atualmente num
processo de revisão. A Unicamp está promovendo um Colóquio (18 de
dezembro de 2007) e um Seminário (março de 2008) para aprofundar as
discussões sobre este documento.

Segue, em anexo, a íntegra do "Tratado" e um texto da Moema Viezzer
("Somos todos aprendizes"), escrito em 2004, para introdução ao
processo de revisão, iniciado no V Congresso Ibero-Americano de
Educação Ambiental, ocorrido em Joinville em 2005. O VI Congresso,
previsto inicialmente para este ano no Rio de Janeiro, foi adiado para
o ano que vem, e terá como tema a conclusão da revisão do Tratado.

Segue, também, um texto de Antonio Carlos Diegues ("Desenvolvimento
Sustentável ou Sociedades Sustentáveis?"), escrito ainda em 1992,
sobre as diferenças conceituais e políticas dos termos
"Desenvolvimento Sustentável" e "Sociedades Sustentáveis" que estão na
base do "Tratado", e um texto de Henrique Rattner sobre o mesmo
assunto.

É também valioso assistir ao vídeo do Tratado, filmado durante sua
elaboração em 1992, como mais uma fonte importante para compreendermos
as raízes deste documento que serve de base para inúmeras Políticas
Públicas, ações e valores presentes atualmente:

http://www.youtube.com/watch?=cMROurDoDWE

Prof.Dr.Sandro Tonso
CESET-UNICAMP
Membro da RUPEA
Rede Universitária de Programas de Educação Ambiental para Sociedades
Sustentáveis

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Série " GESTÃO HÍDRICA"

ESTUDO SOBRE O MAIOR RESERVATÓRIO DE ÁGUA DO PLANETA-
(click em cima da figura para ampliá-la)

Quando,em 1998, em contato com a ONG "AMBIENTE TOTAL" estudávamos na Fundação FEAC o complexo hídrico -Piracicaba,Campinas e Jundiaí (Consórcio - PCJ) ouvi falar pela primeira vez em Transposição de Rios. Esta palavra TRANSPOSIÇÃO eu já havia escutado e pouco entendido que só se fazia onde não havia água.No Egito, no Vale do Rio Nilo.A Conquista do território de GOLAN por Israel, com a Guerra dos SEIS dias,para cercar as águas submersas no deserto ao norte do Egito.Ainda no final da década de 1950, o Governador Carlos Lacerda(UDN)na Guanabara, exterminava os mendigos jogando-os no Rio Guandú, maior fonte de abastecimento de água da Cidade Maravilhosa - Rio de Janeiro - O Rio Guandú de uma beleza grande foi sucumbindo a devastação e se tornou insuficiente para o abastecimento de água. Foi daí então que o estudo da transposição do Rio Paraíba do Sul, que atravessa uma boa parte do Estado de S.Paulo foi feito e executado, indo parte dele se encontrar com o Rio Guandú. Mas a questão da gestão do saneamento básico,que vem diretamente ligada com a gestão hídrica, não foi pensada. O Rio Guandú virou o ESGOTO DA CIDADE MARAVILHOSA. Mais uma tranposição do Rio Paraíba do Sul foi feita para diluir aquilo que popularmente chamamos de MERDA. Ao longo do Vale do Paraíba está Aparecida do Norte, onde Nossa Senhora Aparecida-Padroeira do Brasil,segundo a lenda,surgiu na rede de pescadores negros que habitavam suas margens. Se a experiência nos traz conhecimento,vale perguntar: QUE APRENDISAGEM TIVEMOS COM NOSSA HISTÓRIA?As águas do Rio Paraíba do Sul trouxeram um grande desenvolvimento industrial, turístico e de violência.Minha história termina aqui. Sei que Dom Luiz Cappio, em greve de FOME há quase vinte dias não vai suportar.O Presidente da República, Lula,já avisou que não vai parar a Transposição do Rio S.Francisco.Hoje sabemos da incapacidade do ser humano aprender com a experiência própria.Dom Luiz provavelmente morra. E isso não é um suicídio.Só grandes misticos alcançam este estágio.Abaixo de nossos pés está o maior reservatório de ÁGUA DO PLANETA. O AQUÍFERO GUARANI.Vamos pensar como preservá-lo.E que o exemplo de Luíz Cappio nos traga novos conhecimentos e inteligencia.
Odila Fonseca é Cineasta


Sobradinho, 13 de dezembro de 2007
Estou em Sobradinho, BA em solidariedade à luta pela defesa do rio São Francisco e a Dom Cappio, que nesse momento é símbolo dessa luta.
Dom Luiz Cappio já está a dezessete dias em jejum e oração como forma de protesto contra a transposição do Rio São Francisco.

A Militarização da Transposição do Rio São Francisco.

A Transposição é uma questão controversa e de muita luta social. O Governo Lula, além de iniciar as obras sem uma ampla consulta à sociedade e sem considerar as alternativas, propostas no âmbito do próprio governo, fez a opção pela militarização da Transposição. Entregou para o Exército Brasileiro o início da construção das Obras do Eixo Norte e do Eixo Leste da Transposição de parte das águas do Rio São Francisco.

Ficou encarregado das obras o 2º Batalhão de Engenharia e Construção do Exército, de Teresina, que toca as obras de transposição de águas do Rio São Francisco para o eixo Norte do semi-árido. Os militares mantém sua na Fazenda Mão Rosa e os acessos à área da obra estão impedidos. Uma grande área já foi desmatada.

Hoje tropas do exército estão estacionadas na região das obras nos dois eixos, bem como na barragem de Sobradinho. As notícias são de que também soldados da infantaria se encontram na região. Com armamento pesado e até mesmo presença de tanques.

O exército faz operação social, como que querendo ganhar para si uma opinião favorável da população de Cabrobó.

Tratar uma questão social e ambiental numa perspectiva militar é um grande erro. Não se impõem políticas que pretendem promover a vida por meio da força. Já vivemos no Brasil, no período da ditadura militar a infame ideologia de “segurança nacional”. Essa ideologia buscava o tal inimigo interno e encarava toda e qualquer idéia do povo diferente das do diligentes, como um perigo para a segurança do país, mas ao mesmo tempo ampliava os interesses do capital internacional no país. Hoje, a Transposição serve aos interesses do agro hidro negócio e não ao consumo humano e às necessidades dos camponeses, povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas.

Na missa de ontem em Sobradinho o Pe e Teologo José Comblin comparou Dom Frei Cappio ao profeta Daniel.

Paz e Todo Bem!
Frei Rodrigo Péret, ofm
Secretario Nacional de Justiça, Paz e Ecologia dos Franciscanos

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

MST ocupa Syngenta em Paulínia e
exige condenação por morte de Keno

Produção está parada e ocupação é por tempo indeterminado



Cerca de 500 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Via Campesina ocuparam na manhã de hoje (10/12/07) a unidade industrial da Syngenta Brasil instalada no município de Paulínia/SP. Os manifestantes entraram junto com os trabalhadores da multinacional que, na seqüência, foram dispensados do trabalho. A produção está totalmente paralisada e são mantidos em operação os serviços essenciais, tais como caldeira e refrigeração. Não houve qualquer confronto ou resistência e a ocupação é por tempo indeterminado.

Conforme explica José Batista de Oliveira, da direção nacional do MST e integrante da Via Campesina, os manifestantes que estão na ocupação vieram de várias cidades do interior do estado de São Paulo. Segundo Oliveira, o objetivo principal da manifestação é o de manter a denúncia pública do assassinato de Valmir Mota de Oliveira, o Keno, de 34 anos, por milícia particular paga pela Syngenta Seeds na unidade fabril de Santa Tereza do Oeste/PR, no dia 21 de outubro último. A manifestação também visa pressionar o governo federal e a Justiça para que todos os responsáveis pelo assassinato de Keno sejam julgados e condenados rapidamente.

Atos como este de hoje na Syngenta em Paulina, explica Oliveira, estarão sendo realizados no decorrer da semana no Brasil e em outros países.

Até às 12 horas a Syngenta não se manifestara sobre a ocupação e a Polícia Militar estava presente, mas sem intervenção direta no movimento.

Maiores informações sobre esta ocupação e seus objetivos estão no site do MST: http://www.mst.org.br/mst/pagina.php?cd=4644

42,5% de conflitos pela água nos estados banhados pelo rio São Francisco


Comissão Pastoral da Terra - Secretaria Nacional
Assessoria de Comunicação

Estamos oferecendo hoje à sociedade brasileira os dados parciais dos
conflitos no campo, relativos aos meses de janeiro a setembro de 2007.
Acompanham esta nota, em anexo, as tabelas de Violência contra a Ocupação e a Posse; de Violência contra a Pessoa, um Relatório Síntese dos conflitos e uma tabela de Manifestações. Todos de janeiro a setembro de 2006 e 2007.
Segue também em anexo, a relação de todos os assassinatos ocorridos no campo até dezembro de 2007, somando um total de 25.
Os conflitos pela água, neste ano, apresentaram crescimento em relação a igual período de 2006. De 38 conflitos para 40 em 2007. O número de pessoas envolvidas, porém, mais que dobrou: de 12.632 para 25.919. Na região Sudeste houve o maior crescimento desses conflitos, de 6, em 2006, para 14, em 2007. Destes, 11 são em Minas Gerais. 17 dos 40 conflitos, 42,5%, foram registrados nos Estados banhados pelo rio São Francisco, objeto do projeto de Transposição do governo federal.
*Diminuição de conflitos não esconde a violência*
Mesmo que em termos absolutos tenha havido uma queda geral nos números dos conflitos, em termos relativos há crescimento da violência. Em 2006, para cada ocorrência de conflito houve 1,2 famílias expulsas, 16 despejadas e os assassinatos correspondiam a um para cada 47 conflitos. No mesmo período de 2007, (é bom ressaltar que são dados ainda parciais) para cada ocorrência de conflito se computam 5 famílias expulsas, 19 despejadas e um assassinato para 44 conflitos.
Mas é em relação ao número de famílias expulsas pelo poder privado que se verifica o maior crescimento da violência, não seguindo a tendência de queda verificada em outros indicadores. As famílias expulsas passaram de 1.657, em 2006, para 2.711, em 2007, mais de 100% a mais. Este aumento verificou-se em todas as regiões do País, sem exceção:

*FAMÍLIAS EXPULSAS*
*Região* *2006* *2007*
Centro-Oeste 0 318
Nordeste 459 491
Norte 714 757
Sudeste 95 435
Sul 49 710
Total 1.317 2.711
Isto mostra que o poder do latifúndio e do agronegócio está atento e atuante, disposto a agir por conta própria caso o poder público não atenda suas reivindicações de punir os trabalhadores que se levantam na defesa de seus direitos.
*Número de conflitos em queda*
No geral, porém, o ano de 2007 apresenta números inferiores aos de igual período de 2006. O total de conflitos no campo (conflitos por terra, por água, trabalhistas e etc.) de 1.414, em 2006, caiu para 837. O número de pessoas envolvidas passou de 652.284 para 561.926, e o número de assassinatos de 30 para 19.

Também em relação ao trabalho escravo o número de ocorrências caiu de 214, em 2006, para 177, em 2007, com, respectivamente, 5.767 e 5.127 trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão.

Os conflitos exclusivamente por terra passaram de 1.042, para 540. As ocupações despencaram de 329 para 247, e os acampamentos de 60 para 35. O número de famílias, nas ocupações, porém, cresceu, passou de 35.315 para 37.630. O número de famílias despejadas foi menor: 17.443, em 2006; 10.669, em 2007.
Por outro lado, o número de Manifestações cresceu passando de 579, com a participação de 359.998 pessoas, em 2006, para 671, com a participação de 465.394 pessoas, em 2007.

*O que explicam esses números*
* O aumento no número de famílias em ocupações, apesar de
estas terem sofrido uma diminuição expressiva, acaba evidenciando que o número de famílias sem terra continua muito elevado e que há necessidade de
um programa efetivo de reforma agrária.
*A queda acentuada no número de conflitos se dá não porque tenha sido adotada uma política mais eficaz de reforma agrária ou de combate à violência. O que se pode sentir é que a não execução da reforma agrária, com famílias acampadas há 4, 5, 6 ou mais anos, desestimula a ação dos trabalhadores e dos seus movimentos, daí a queda expressiva dos números de ocupações e acampamentos. Aliado a isso, o bolsa-família dando um mínimo de condições para as famílias terem o alimento de cada dia, acaba arrefecendo o ímpeto de quem, premido pela necessidade, tem que buscar a qualquer custo seus meios de sobrevivência.
*Número de assassinatos dobra no Centro-Oeste*
Analisando os números em detalhe, o que se vê é que o número de assassinatos que decresceu no país como um todo, teve um aumento de 100% no Centro-Oeste passando de 2, em 2006, para 4 em 2007; e de 50% na região Nordeste, passando de 4 para 6.
No Centro-Oeste, 3 dos 4 assassinatos são de indígenas, dois deles no Mato Grosso do Sul onde os Guarani-Kaiowá vivem a situação mais dramática de que se tem conhecimento, encurralados em pequenas áreas ou acampados na margem de estradas, não se garantindo espaço para quem era o dono de toda aquela região. O outro indígena foi assassinado no Mato Grosso.
No Nordeste, dos 6 assassinatos, 3 são também de indígenas, 1 na Bahia, 1 no Ceará, e 1 no Maranhão. Também ali se configura uma situação em que o avanço do agronegócio não respeita nada, muito menos comunidades tradicionais, taxadas de improdutivas e de serem empecilho para o progresso.
No Centro-Oeste, cresceu o número de pessoas submetidas ao trabalho escravo. De 1.078, em 2006, passaram para 1.157, em 2007, com destaque para Goiás que de 3 ocorrências, em 2006, passou para 8, em 2007, com envolvimento de pessoas passando de 113 para 441. O mesmo acontecendo em Mato Grosso do Sul onde se registraram 9 ocorrências, envolvendo 628 pessoas, em 2007, contra 3 ocorrências e 39 pessoas, em 2006. O trabalho escravo também cresceu expressivamente no Maranhão e no Piauí. Goiás também se destaca por ter aumentado o número geral de conflitos, de 28 para 31 e de famílias envolvidas de 16.870 para 25.904.
*Sudeste, onde conflitos e violência crescem*
O que mais chama a atenção, porém, na análise maisregionalizada dos números é a região Sudeste que se comportou de modo inverso ao restante do país. A região foi a única que apresentou crescimento no número de conflitos passando de 180, para 193 e no número de pessoas envolvidas, que saltou de 71.983 para 112.356. Em relação às famílias expulsas a região Sudeste seguiu a tendência geral do País, passaram de 95 para 435. O Sudeste também foi o único que apresentou crescimento no número de famílias despejadas passando de 980 para 1.477. Foi só nessa região, ainda, que houve crescimento no número de ocupações: 78, em 2006; 88, em 2007, e de acampamentos: 4, em 2006; 7, em 2007.

Na região mais rica e urbanizada do País é impressionante constatar que ocorreram 23,5% de todos os conflitos no campo, e onde estão 20% das pessoas envolvidas em conflitos. O grande progresso tecnológico aplicado ao campo e o avanço das monoculturas geram, além das riquezas propagandeadas, maior desigualdade, exclusão e, em conseqüência disso, novos e graves conflitos.

A bem da verdade pode-se imputar este destaque do Sudeste à presença mais próxima dos meios de comunicação que registram os fatos, na maior parte das vezes, para criticar a ação dos trabalhadores. Em outras regiões do País, boa parte dos conflitos nunca chegam ao conhecimento público. Como diz o professor Carlos Walter Porto Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense: "Não deixa de ser preocupante que a região mais rica do Brasil apresente crescimento da violência no campo em relação às demais regiões. Uma nova geografia da violência está se desenhando, conforme indicam estes dados parciais de 2007. Tudo indica que o avanço do cultivo da cana, diante da febre dos agrocombustíveis, esteja trazendo implicações no aumento do preço da terra, que rebate no programa de Reforma Agrária, e consigo carrega o aumento da violência ." **

ASSASSINARAM JOÃO CALAZANS


A Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais, com grande dor, vem denunciar o assassinato de João Calazans, 50 anos, presidente da Associação do Assentamento Chico Mendes, Presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Pingo D´Água, Conselheiro da Mata do Parque
Estadual Rio Doce, ex- Secretário Municipal de Meio Ambiente, e
ex-Coordenador do Pólo Regional Rio Doce da FETAEMG,
e, aos prantos, clamamos por justiça.
Hoje, dia 11 de dezembro de 2007, por volta das 21h00
assassinaram João Calazans com um tiro na nuca, do lado direito, no
quintal de sua casa, quando ele estava com a família, no Assentamento Chico
Mendes, do Município Pingo D´Água. Ele foi imediatamente para o Hospital de Ipatinga, mas já estava morto quando chegaram ao hospital.
Por ironia cruel João Calazans, importante liderança política e sindicalista dos trabalhadores rurais, teve o mesmo fim de Chico Mendes. Mais uma morte anunciada, João Calazans dedicou sua vida à luta em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, incomodou os latifundiários do Vale do Rio Doce e do Vale do Aço, denunciou a péssimas condições de trabalho e a super-exploração de trabalhadores rurais nas carvoarias da região, que sustentam as siderúrgicas, muitas e intensas foram as lutas travadas.
As terras do Assentamento Chico Mendes foram ocupadas em 1999, e mesmo após a criação do assentamento, as famílias convivem com conflitos
devido a morosidade do INCRA, quase 09 anos, sem finalizar o parcelamento da área.

Queremos justiça! Até o momento a polícia não encontrou pistas sobre
o assassino. De forma incansável clamaremos por justiça, exigimos dos
poderes públicos todos os esforços para encontrar os responsáveis, e
a punição desses.

No dia 10 dezembro, nessa semana, a CPT denunciou nacionalmente, o
crescimento dos conflitos e da violência no campo da região sudeste.

Informações:
Lucimere: (31) 9979-9501
CPT MG : (31) 3466-0202


*Maiores informações:* Cristiane Passos e Antonio Canuto - (62) 4008-6406 / 4008-6412
comunicação@cptnacional.org.br e www.cptnacional.org.br
* Os dados que ora divulgamos referem-se aos meses de janeiro a setembro de 2007. São dados parciais porque muitas informações só chegam ao conhecimento do setor de documentação da CPT no encerramento do ano.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Tres Rios,o Encontro em BALI e Resposta ao ministro Geddel por Dom Luiz Cappio



10/12/07
Por Dom Luiz F. Cappio


É verdade que sem boa causa não há mártir. E boas causas, há muitas hoje: as da justiça, da paz, da democracia, da soberania alimentar, da ecologia – causas do Reino de Deus. Por outro lado, proliferam causas obscuras, de que não faltam defensores.

Em nome da seca (fenômeno natural) e da sede no Nordeste (fenômeno social), vendese a idéia (marketing) da transposição como uma obra redentora. O que está por trás, o jogo de interesses, os mecanismos de mercado na gestão, isso se omite, para não quebrar o encanto, despertar resistências.

A causa a que me dedico com afinco há 33 anos é muito maior do que a compreensão do ministro. Não cabe no reducionismo maniqueísta de ser contra a transposição e a favor da revitalização do rio. É por outra relação com a natureza, com as pessoas e com o Criador, a prioridade da vida acima do lucro, as instituições de poder a serviço do bem comum.

No caso, o desenvolvimento do semiárido, apropriado às suas diversidades geo e socioambientais, voltado para o período chuvoso não para a seca, com prioridade no povo, não nas elites. Não espero que o ministro entenda isso. E quem muda de posição tão rapidamente merece desconfiança.

Que democracia é essa que poucos prevalecem contra a maioria, manipulando a sede; que se impõe ditatorialmente, à base de ilegalidades e audiências públicas pró-forma, sem considerar críticas e alternativas; que usa o Exército, contristando soldados a trabalhos extrafunções, intimidando movimentos sociais? Mas democracia substantiva é algo incompreensível para o ministro. Como também a legitimidade de um cidadão dispor de si em favor de muitos, em face de uma imposição autocrática.

E mais ainda, a tradição cristã do martírio em defesa da fé e da vida plena.

O maior impacto da transposição sobre o rio não é a porção de água dele a tirar. É a perpetuação do modelo que vê nele apenas “recursos hídricos” e negócios, num acúmulo de usos econômicos seguidos e irrestritos que o exaure e o exterminará. Antes de tudo, o rio é complexo interdependente de vidas; para o povo, é pai e mãe. Coisa que o ministro também não entende.


Por que falar apenas dos 26 m³/s, a vazão constante a ser transposta? E as vazões máximas de 127 m³/s e maiores quando transporem também do Rio Tocantins? Curioso: a vazão mínima equivale à da válvula difusora do Açude Orós, no Ceará, e a máxima é igual à evaporação do Açude Castanhão, no mesmo Estado, conforme o grande construtor de açudes do Dnocs, Manoel Bomfim Ribeiro. Segundo ele, não há mais onde construir açudes, precisamos agora usar suas águas em sistemas eficazes e democráticos.

O ministro diz que as 530 obras do Atlas Nordeste da Agência Nacional de Águas são complementares à transposição. Mas a transposição não era para a sede de 12 milhões? Como necessita daqueles complementos? As cidades com mais de 5 mil habitantes, não contempladas no Atlas, podem ser atendidas pelos sistemas de adutoras com água dos açudes. Um exemplo: o professor José Patrocínio, de Campina Grande, defende que uma gestão mais competente do sistema Coremas/ Mãe d’Água resolve o déficit hídrico daquela cidade. E conta que lá o desperdício é de 60%, 20% a mais que a média nacional! Aproveitar a “gota d’água disponível”, ensina a autoridade de um Aldo Rebouças, da USP.

Nosso projeto é muito maior. Queremos água para 44 milhões, não só para 12.

Para nove Estados, não apenas quatro. Para 1.356 municípios, não apenas 397. Tudo pela metade do preço. O Atlas e as iniciativas da ASA (sociedade civil) são muito mais abrangentes e têm finalidade no abastecimento humano. A transposição é econômica, neoliberal. Essa diferença, o ministro “ignora”.
Quanto aos destinos da transposição, Estudos de Impacto, não o ministro, esclarecem: 70% para irrigação, 26% uso industrial, 4% para população difusa. Por que não se assume e se discute se esse é o caminho do desenvolvimento do semiaacute;rido? A recomposição de mata ciliar na Barra é importante, mas insuficiente. E as áreas de recarga, e os cerrados e caatingas devastados? Fazer obras onde moro não esconde as intenções “marketeiras”... E as milionárias “cartas de intenção” assinadas com os prefeitos ribeirinhos, a quantas andam? Sujeitos políticos somos todos, indivíduos e instituições, por atuação consciente ou omissa. A Igreja sempre foi esse ator importante no Brasil, não incomodava quando do lado de poderosos convenientemente “cristãos”. Quanto a mim, só busco fidelidade à minha missão de bispo franciscano, ao lado do povo do rio e do semiárido brasileiro. Causa que vale o martírio se for preciso e da graça de Deus.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Quem é o suicida? Por Ruda Ricci



Prezados,

Fui um dos 300 técnicos que ajudou a elaborar a Agenda 21 do Brasil, a convite do Ministério do Meio Ambiente. Éramos técnicos de diversas tendências teóricas e ideológicas. Ninguém, absolutamente ninguém, apoiou esta loucura da transposição do São Francisco. Não existe um argumento técnico que possa embasar esta obra, um jorro de recursos públicos desviados de obras necessárias, sem resultado garantido, uma intervenção cirúrgica na natureza de um rio. Trata-se de uma obra eleitoreira, francamente anunciada e sabida no nordeste, com todos personagens e negociações fartamente citadas pela imprensa regional. Dizer que D. Cappio quer engessar o governo é mais uma ficção ou teoria conspiratória entre tantas que assolam este país.
Primeiro, porque este governo dificilmente será engessado, dado o poder de
“convencimento e apoio” que ele sempre consegue obter. Segundo, porque ninguém faz greve de fome para engessar um governo. No máximo, para engessar o próprio estômago. Terceiro, porque um governo precisa ser muito frágil e equivocado para se engessar com uma greve de fome de bispo. Para o governo,deveria ser mais um jejum. A não ser que esta greve tenha a força simbólicade um Gandhi.

Rudá Ricci
www.cultiva.org.br

rudaricci.blogspot.com

www.forumfbo.org.br

domingo, 9 de dezembro de 2007

Rio "HONORIS CAUSA" Araguaia e São Francisco e AS TRES FOMES DO BISPO D. LUIZ


Campinas, 9 de dezembro de 2007,

Faz algum tempo, mas não muito. Lembro-me bem! Eu estava lá na UNICAMP. E por mais estranho que pudesse parecer, naquela minha universidade laica e pouco sensível a lutas populares, D. Pedro Casaldáliga, o prelado de São Felix do Araguai (estive lá com ele mais de uma vez) ia receber solenemente o título de "Doutor Honoris Causa".
Depois dos gestos e dos discursos solenes, ele fez a fala dele. Como sempre, aquele homem magro e profundo, com acentos sertanejos e catalães, disse palavras de uma enorme simplicidade. Destoava em tudo dos padrões acadêmicos.
E, ao final, para supresa de quase todas e todos, proclamou em alto e bom som, que quem recebia o título não era ele. Era um rio. E dedicou o título e o diploma ao "Rio Araguaia". Seu rio amado.
Não sei se algum outro rio no planeta Terra é "Doutor Honoris Causa".
Depois nos demos as mãos (para horror de algumas autoridades acadêmicas) e numa grande ciranda dentro do salão nobre da UNICAMP, cantamos juntos o "caminhando e cantando e seguindo a canção".
E seguimos!

Hoje, na beira de um outro rio, um outro bispo jejua e padece três fomes ao mesmo tempo. A de seu corpo já de antes enfraquecido. A fome da imensa incompreensão de poderes públicos. Os mesmos (em que eu votei e vocês também, imagino) que em tempos de campanha prometeram inúmeras vezes que - finalmente - chegou o tempo em que... "o povo deste país seria ouvido".
E, talvez a pior das três fomes: a de nosso silêncio. A de nossa ausência.
Nós que volta e meia - e com muita justiça - nos irmanamos e nos unimos diante de uma notícia grave, ou de um momento de itensa mobilização, estamos vivendo e estamos presentes no gesto de Frei Luis Cáppio, de que maneiras? Com que gestos?
.Não devemos esquecer que apenas os pequenos gestos, quando multiplicados, movem o mundo. Os muito grandes, apenas o destroem.
O homem em nome de quem Frei Luis fez-se frade, disse algums poucas palavras durante apenas três anos, e depois deixou-se pendurar de uma cruz. O Império Romano ruiu. O que foi criado depois em nome daquele ex-carpinteiro alucinado, gerou gestos e gerou pessoas como D. Pedro, Irmã Dorotty e Frei Luis. Gandhi estremecia o Império Britânico apenas jejuando. Tanto que anos mais tarde, após um lauto almoço, o rei da Inglaterra descobriu que era a hora de a Índia ser livre. E foi. E o "Império" começou a ruir.
O gesto de Frei Luis poderá ser um fracasso dele e de todas e todos nós. E, então, será uma vitória dos tecnocratas do Governo, que certamente deixarão pelo meio dos sertões do Norte, abandonada, uma obra impiedosa e irresponsável, cuja verba poderia abrir cisternas, semear terras verdes, salvar vidas e criar escolas.
Mas o mesmo gesto voluntário poderá ser não necessariamente "uma vitória", mas um símbolo multiplicado. Uma fome que é também um canto sonoro (em seu silêncio) e fecundo.
Pois desde as beiras do Rio São Francisco ele deitaria raizes para sempre. E, boicotado pela midia e silenciado pelo poder, seria o gesto de um grito tornado um poema e uma canção de desafio e de coragem, entoado a muitíssimas vozes. E ele seria inesquecido.
O desejo de poder e fama de alguns homens um dia se apagaria, e, não duvidem, vai se apagar! Mas a fome voluntária de um homem, não!
Vivida em nós, entretecida entre nós, assumida de mil maneiras por nós e multiplicada em e entre os nosso outros pequeninos e infinitos gestos de solidariedade e coragem esta fome voluntária poderia ser o gesto de jejum que desmonta um projeto desvairado.
Estejamos juntos e ao lado deste homem sozinho sob o sol do Norte!
Afinal,um outro homem de fé fez de um rio um "doutor".Porque não fazermos de um outro rio: uma prece, uma canção, um caminhar. E uma história para não ser esquecida?

Carlos Rodrigues Brandão

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Carta de Carlos Brandão


CARTA DE 2007
Pirapora, 1 de dezembro de 2007 ,

A todas as pessoas amigas e queridas, de perto e de longe,
Não sei até quando escreverei ainda estas "cartas de fim de ano". E neste ano, como nos outros últimos cinco, eu me pergunto de novo: "será que esta vai ser a última". Afinal, em dois deles a vida jogou duro comigo, e eu, sobrevivente, escrevi. Durante muitos anos elas iam pelo correio. E algumas das deste ano viajarão por ele também. Em envelopes brancos e com selos do "tempo do Natal", como sempre deveria ser. Mas escrevo, movido talvez pela velha mania de acreditar que nem que seja porque um ano vai dar lugar a outro na vida de todas e todos nós, este deveria ser um tempo de nos dizermos uns aos outros mais do que apenas... "Feliz Natal e próspero (resquício da era em que, como agora, "tempo é dinheiro") Ano Novo!". Bem mais do que prestar contas a nós mesmos, no virar dos calendários e abrir uma nova agenda, este deveria ser um tempo de nos contarmos uns e umas às e aos outros. Pois se lemos nos jornais diários como interesse o que se passa na Favela do Alemão ou entre os curdos do Afeganistão, porque não narrarmos às pessoas que fazem parte dos diferentes círculos mais afetivos e interiores do que chamamos "a minha vida", o que anda acontecendo com ela? E devo confessar que na virada não só de 2008, mas de meus 68 anos, sou ainda daqueles tempos em que uma inesperada (ou uma muito esperada) carta vinda de longe e escrita a mão por um amigo querido - mas em silêncio há muitos meses - era aberta do envelope com rara e tremente emoção. Era lida e relida várias vezes, e valia bem mais do que os as extravagâncias eletrônicas com que nos saudamos entre muitas imagens e breves palavras hoje em dia. Assim, eu conto a vocês. E que seja como em algum lugar escreveu João Guimarães Rosa: "conto sim, para que por saber o senhor não fique não sabendo".
Chegamos (espero) até aqui, e esta já é uma primeira notícia. Algumas pessoas queridas e outras, conhecidas de perto ou e longe, partiram em viagem; voltaram ao lugar de onde vieram há muitos e muitos anos e talvez, melhor do que nós, podem afinal dizer: "estou em casa". Mas nós que ficamos... seguimos.
E de minha parte, no meio de tantas mudanças entre tantos tempos, tudo parece ser tão como antes, que talvez quase nada tenha mudado mesmo. A despeito de em todos os 31 de dezembro eu prometer a mim mesmo e a quem esteja por perto de mim que: "no ano que vem vou largar tudo e viver de natureza, leituras e escritos no Sul de Minas", continuo vivendo o mesmo que fazia nos últimos muitos anos... Inclusive viver (um pouco por mês) de natureza, de leituras e de escrever no Sul de Minas. Mas continuo viajando muito, dando muitas aulas e fazendo ainda pesquisas.Bom, 10 anos depois de me aposentar da UNICAMP, saí finalmente dela. Não estou mais no Doutorado em Ambiente e Sociedade, do NEPAM. Também terminou o meu contrato com o Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Continuo como professor colaborador e tenho ainda mestrando, mestrandas e doutoranda san-franciscanas lá. Estou agora como pesquisador-visitante da Universidade Estadual de Montes Claros, no Norte de Minas. Acabamos de aprovar um "Projeto Opará" (o nome indígena do rio São Francisco) e através dele, por pelo menos mais dois anos e alguns meses estarei dando continuidade a pesquisas de campo nas beiras do São Francisco. Aliás, vejam vocês! Eu que quando menino-carioca sonhava ir viver um dia em alguma ilha deserta, ou mesmo em um farol no meio do mar, resolvi concluir (mesmo) a minha vida de pesquisador (apenas de pesquisador) estudando a vida em comunidades tradicionais de ilhas do rio São Francisco e ilhas do mar, no litoral sul de São Paulo e norte do Paraná. "Beira vida, beira rio", era o nome anterior de um projeto que agora se transforma em "Beira ilha, beira rio". Antecipo esta aventura com a mesma euforia dos meus tempos de iniciante na vida e na universidade. Agora mesmo, entre fevereiro e março estarei coordenando uma "Oficina de Pesquisas sobre Comunidades Insulares e Ribeirinhas, nas beiras do São Francisco", em Pirapora. Desde meados deste ano estou trabalhando no Instituto Paulo Freire. Faz tempo sentia falta de estar de fato vinculado a algum movimento que me trouxesse aos dias da vida algo mais substantivo dos velhos e sempre presentes tempos da Educação Popular. Este inesperado e felizardo re-encontro com Moacir Gadotti e toda a equipe do IPF é uma das esperanças do "seguir em frente" para o ano que começa. Começo fazendo uma série de Cadernos Diálogos e seguirei trabalhando junto ao programa editorial do IPF.Tenho escrito bastante e, como sempre, em todos os lugares, principalmente em e entre viagens. Agora, no outono da vida, tenho tempo e desejos de escrever os meus livros mais sérios e profundos. Assim, depois de Céu de passarinho, de São Francisco meu destino, de Furundum! (quase todo musicado por Josino do Norte) e de O Jardim de Todos, acabo de escrever e enviar para a editora o: Abecedário dos bichos que existem e não existem. Como três dos livros anteriores citados aqui, ele é um livro de poemas para crianças de 5 a 100 anos. E, mais feliz do que os outros, pois foi todo ilustrado por crianças das beiras do São Francisco. Alguns livros de outras vocações e caminhos estão também por aí. Neste ano saiu o: O vôo da arara azul, um livro de educação ambiental que começa com um longo capítulo em que narro confidentemente a minha "biografia natural". Isto é, tudo aquilo que não caberia em um curriculum vitae. Saiu também pela Editora da EDUFU, a terceira edição, agora completa de verdade, de: Os deuses do povo - um estudo sobre a religião popular. Pela Editora Santuário deve sair em 2008 um outro livro sobre religião popular: Prece e romaria, festa e folia. Mas apenas depois de a mesma editora lançar nas ruas o: Minha casa, o mundo. Mais um desses livros que lembram o que poderíamos fazer para a vida na Terra não desaparecer tão depressa. E a mesma EDUFU deverá publicar uma coletânea de antigos e novos estudos sobre o mundo rural (acho que depois de Otávio Alves Velho eu sou o carioca-copacabanense como mais livros sobre mundos rurais longe do Rio). Ele se chamará: No Rancho Fundo – tempos e espaços nos mundos rurais do Brasil. E aqui e na Galícia, um livro de poesias com mais de 10 anos de idade deverá ser publicado: O caminho da estrela, longos e pungentes poemas em prosa. Aguardem!
Uma das grandes alegrias de 2007 foi o trabalho solidário que resultou no CD de O Jardim de Todos. Estou acostumado a trabalhar com equipes de todos os tipos e vocações, desde a tropa de escoteiros em um distante começo dos anos 50, até o Instituto Paulo Freire. Mas raras vezes vi uma equipe de gente tão próxima e tão dispersa (tinha artistas de vários cantos do País). Todo mundo reunido em criar poesia cantada entre toques e cantos, a partir dos escritos de meu livro. Foram meses de trabalho gratuito, generoso e solidário. O selo RARA ROSA agora tem mis um CD pra mostrar ao mundo que na terra de Ivette Sangalo e de Paulo Coelho, ainda há gente que lembra o outro Paulo, e sabe criar arte de verdade. Não importa que eles vendam "milhões" e nós estejamos por aí, espalhando de mão em mão o que criamos. De repente me lembrei aquele pedacinho do poema de Mário Quintana: "Eles passarão/eu... passarinho". Estamos agora trabalhando em um outro CD com vários poemas de Os Nomes, também quase todos musicados por Josino Medina, e com a presença de Dércio Marques e de outras pessoas, artes e vozes.Este é o ano em que D. Tomás Balduino e Jether Pereira Ramalho completam 85 anos. Trabalhamos juntos desde os anos 60. Vivemos aqui e ali grandes esperanças, muitas lutas e algumas tristezas; umas antigas, outras bem presentes. Lembrando esses dois "velhos queridos" convivo com a lembrança de tantas outras pessoas que, como eu, como nós, ainda crêem que vale a pena viver. Que vale a pena viver para sair de si e deixar-se fluir em meio à vida de outras pessoas. Que talvez não possamos mais sonhar e nem crer em alguma grande, súbita e radical revolução que de um mês para o outro transforme tudo e todos. Mas uma gente que olha à sua volta e reconhece um mundo ilusoriamente mais feliz, apenas porque mais ruidoso e mais ruidosamente mentiroso. Somos poucos, mas a rede de quem somos, espalhada por todo o mundo é bem maior, mais poderosa e mais digna de crença e esperança do que nós mesmos acreditamos. Lá no sul de Minas, em Poços de Caldas, conseguimos com muito esforço repetir uma segunda edição do curso de Redes Solidárias em Educação e Ação Social. Não muito longe dali, em Caldas – onde a ROSA DOS VENTOS completa no carnaval que vem 13 anos, e continua a sua pequena e fecunda trajetória de "casa de acolhida", aberta a quem chegue e venha – seguimos lutando contra as poderosas pedreiras e a INB. E lá também, a duras penas conseguimos fazer ser aprovada a Área de Proteção Ambiental da Pedra Branca. Pequenos passos. Pequenos gestos. Mas, em nome do que viver, se não for em nome deles?
No mais, a família aumenta. Além de Pedro, em Santos e de Iara,, nasceu em Paris Pablo, filho de Luciana e Juan. Eles estarão chegando aqui dia 7. E em Brasília nasceu Lara, a menina que saltou para a vida e aprendeu a viver mesmo quando tudo parecia tão contrário. Lilah, o pai de Lara, os avós e todas e todos nós vivemos esta outra felicidade como um outro sinal de vida e de esperança. Encerrei algumas últimas cartas a algumas pessoas com uma frase tirada de uma agenda. Ela dizia isto: "seja você mesmo a mudança que você deseja para o mundo". Ousada, mas dita por Gandhi, algo perfeitamente humano e possível. Mas imaginem que outro dia, fazendo compras no mercado de Campinas junto com André, encontrei esta outra frase, escrita a máquina e colada no vidro de uma banca de bugigangas: "neste mundo há duas espécies de pessoas. Uma, a das que não acreditam em milagres. Outra, a das que acham que todas as coisas são um milagre". Para quem imagine que ela seria o pensamento de um desses líderes espirituais de túnicas brancas, devo dizer que ela foi escrita um dia por Albert Einstein. Que tal começar um novo no imaginando qual das duas espécies de pessoa você é... ou sonha ser?
Estivemos juntos!
Estamos juntas!
Estejamos junt@s!

Um Natal feliz – sem esquecer as Folias de Santos Reis girando pelas ruas das nossas cidades e recantos de roças – e um ano de 2008 bonito, fecundo e em PAZ!
Carlos Rodrigues Brandão

Vejam vídeos sobre Literatura e Teatro em: http://www.sempreumpapo.com.br/capa/index.php

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

OPARÁ, O RIO MAR


Costuma-se traduzir o nome original indígena do Rio São Francisco – “Opará” – por “Rio-Mar” simplesmente.
Um bom dicionário jesuíta de Tupi, que tinha Dom José Rodrigues de Souza, bispo emérito de Juazeiro, grande lutador do povo de Sobradinho (a quem aqui rendemos homenagens, nessa memória de 30 anos da barragem e de suas lutas), dizia que “Opará” é rio “sem rumo definido, de limite incerto, errático”. Como em quase todos os topônimos brasileiros de origem indígena, é perfeito. Assim era o “Opará”, batizado São Francisco no dia do Santo em 1501, pelos navegadores Américo Vespúcio e André Gonçalves. Assim era antes das barragens, hidrelétricas e canais de irrigação e do interminável “ciclo do desenvolvimento” contra o povo. O ciclo natural de cheias e vazantes, altas e baixas, grandes e pequenas, fazia jus ao nome de um rio que tem declividade de apenas 7,4 cm por km (0,8 m/s), na maior parte de sua extensão de quase 3 mil Km (entre Pirapora-MG e Juazeiro-BA), devida à falha geológica conhecida por Depressão Sanfranciscana.
Talvez seja oportuno dizer, sobretudo aos companheiros e companheiras de outros países, que além de um milagre da natureza, o São Francisco, que corre ao contrário dos outros e é a maior bacia hidrográfica inteiramente brasileira (640 mil km2), terceira do país, é um dos símbolos informais da nacionalidade, tido como o “rio da unidade nacional”, porquanto serviu de caminho entre o Norte onde se iniciou o Brasil e o Sul onde o Brasil se centralizou.
Não obstante tanta importância geográfica, histórica, cultural e política, o “ciclo do desenvolvimento”, propagado como modernização e implantado como modernização compulsória e conservadora, iniciado na segunda quadra do século XX, viu nele, num primeiro momento, apenas hidreletricidade. Já são sete Usinas Hidrelétricas em sua calha, que desalojaram mais de 140 mil pessoas, produzem 10.356 megawats, comprometendo cerca de 80% de sua vazão; e mais quatro barragens se anunciam... Depois, ao final da terceira quadra, acrescentou-se a irrigação de frutas para exportação e, mais recentemente, no limiar do século XXI, para os novos “negociantes da ecologia”, irrigação de agrocombustíveis para exportação e perpetuação do modelo de civilização baseada nos carburantes. E suas águas, límpidas ou barrentas, contaminadas, como agora por cianobactérias como nunca se viu, passaram a ser consideradas, por aparato legal inclusive (a Lei no 9433/97 ), “recursos hídricos” para todos os usos, inclusive econômicos intensivos em água. A consolidar o “negócio da água”, o hidronegócio que se junta ao eletro e ao agronegócio, iniciaram-se as obras do Projeto de Transposição ou, no eufemismo oficial, Integração de Bacias do São Francisco com as do Nordeste Setentrional, para abastecer de água alegados 12 milhões de sedentos.
Além da poluição urbana, industrial, minerária e agrícola e das barragens, degradam os ecossistemas hidro-ambientais e culturais do São Francisco o desmatamento e o conseqüente assoreamento, as carvoarias e a irrigação, a serviço da expansão do agronegócio na Bacia, às margens da calha e dos afluentes e, sobretudo, nos Cerrados, bioma responsável por mais de 80% de suas águas. Resultado dessa série de múltiplos, sobrepostos e indisciplinados usos, o rio São Francisco, do qual dependem os 14 milhões de pessoas que são a população da Bacia, tornou-se um rio condenado, cuja revitalização, trabalho hercúleo de gerações, muito além do atual e pífio Programa de Revitalização do Governo Federal, dificilmente lhe devolverá a vitalidade e o vigor.
* * * Trecho retirado do artigo "De Sobradinho à transposição: para onde corre o São Francisco?" do Prof.Ruben Siqueira apresentado na Mesa Redonda, com esse mesmo título, no "I Encuentro Ciencias Sociales e Represas e II Encontro Ciências Sociais e Barragens, em Salvador – Bahia, Brasil, no dia 22 de novembro de 2007"

Voltaremos a ele

A PONTE INTERROMPIDA



Mais de mil pessoas acabam de fechar a ponte na BR 242

Mais de mil pessoas acabam de fechar a ponte do Rio São Francisco no município Ibotirama (BA), BR 242, que serve de acesso para Brasília. A ação acontece em protesto contra o projeto de transposição de águas do rio São Francisco e em solidariedade ao jejum do Dom frei Luiz Cappio. Além da paralisação está prevista uma caminhada pelas ruas dos municípios e uma celebração final.

Participam da manifestação os movimentos que fazem parte da Via Campesina (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Movimento dos Pequenos Agricultores, Movimento dos Atingidos por Barragens), Movimento dos Trabalhadores Rurais Acampados, Assentados e Quilombolas da Bahia (CETA), Centro de Assessoria de Assuruá (CAA), quilombolas, geraizeiros, representantes da reserva extrativista Serra do Ramalho e pessoas ligadas à igreja.

Ato público reúne mais de quatro mil pessoas em Sobradinho
Ontem, dia 04/12/2007 (terça-feira), a caminhada pela vida do povo e do Nordeste, reuniu mais de quatro mil pessoas desde a Capela de São Francisco, em Sobradinho (BA), até as margens do rio. O ato aconteceu no final da tarde de ontem (04/12) em defesa do rio São Francisco e em solidariedade ao bispo Luiz Flávio Cappio, que completa hoje (05/12) nove dias de jejum e oração permanentes (greve de fome).

No grupo estavam trabalhadores ligados a organizações sociais, movimentos populares e caravanas dos municípios de Remanso, Sobradinho, Campo Alegre de Lurdes, Juazeiro, Barra, Ipupiara, Morpará, Casa Nova, Curaçá, Bonfim, Irecê e Sento Sé (BA), Petrolina (PE), além de pessoas dos estados do Mato Grosso, São Paulo e Ceará.

Durante o caminho foram feitas duas paradas. A primeira aconteceu na entrada da avenida que dá acesso ao rio. “Nós estamos aqui em solidariedade para garantir a preservação da biodiversidade para garantir a vida das futuras gerações”, disse Derli Casali, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). A segunda parada aconteceu em frente a estação de transmissão de energia da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).

No final da caminhada houve uma celebração presidida por Dom Luiz Flávio Cappio, com a presença de mais de 20 padres. Bastante animado, ele cantou junto com a multidão e durante um sermão disse que “não podemos deixar que a força do capital roube esse direito de todo o povo brasileiro, não podemos permitir”. Ainda aproveitou para chamar as pessoas para as mobilizações, disse que “chegou o momento de nós defendermos e lutarmos pela vida dele”.

Saúde
Dom Luiz Flávio Cappio fez todo o percurso da caminhada dentro de um carro, em companhia do pároco local e mais duas pessoas. Ao voltar à capela uma enfermeira aferiu a pressão dele que registrava em média onze por oito, considerado normal. O batimento cardíaco estava equilibrado e ainda falou em tom de brincadeira: “eu estou ótimo”.
Ele continua com o hábito de acordar cedo, se retirar para a oração e ter alguns intervalos para descanso. Além disso, tenta atender a todos que o visitam.

Manifestações de apoio

Hoje (05/12) haverá vigília em algumas cidades de Goiás. Amanhã um grupo de pessoas iniciará um jejum solidário em Belo Horizonte. Está prevista ainda para hoje a chegada de Marina Santos, da direção Nacional do MST, o deputado Adão Preto e uma comissão de deputados da Assembléia Legislativa de Sergipe.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

´´Rede Ambiental – Conexão de Saberes´´

´´Rede Ambiental – Conexão de Saberes´´
Não deixem de acessar este trabalho. O Prof. José Leite, da Filosofia-UFMT_já se manifestou aqui no BLOG sobre o assassinato do seu orientando,um ambientalista-MT
(Veja e clique a sua esquerda em "SITES INTERESSANTES" "Rede Ambiental–Conexão de Saberes"
www.pantanaltec.com.br/redeambiental

domingo, 2 de dezembro de 2007

"APA - Santuário Ecológico da Pedra Branca"

Caldas, 23 de novembro de 2007
Prezado(a) Senhor(a),
O município de Caldas (MG), situado numa área classificada como pertencente ao bioma Mata Atlântica (IBGE 1992), tem uma extensão de 705 Km2 com grande biodiversidade e encantadoras paisagens naturais, onde se destacam cachoeiras de águas cristalinas e nascentes de águas radioativas e sulfurosas.

Este Santuário da Natureza vem sofrendo há alguns anos a ação de empresas mineradoras, que se instalaram no local e estão operando a partir de autorizações questionáveis.

As entidades organizadas da sociedade civil de Caldas e região vêm atuando frente tais acontecimentos, e, recentemente, obtiveram uma significativa vitória ao conseguir a criação da "APA - Santuário Ecológico da Pedra Branca", que está em vias de regulamentação.

Este ato tem mobilizado estas entidades e a população para pressionar as autoridades a fazerem uma vistoria nessas mineradoras e regularizar esta situação.

Por estes motivos, pedimos sua atenção e colaboração no abaixo-assinado eletrônico que se encontra no link abaixo.

Giancarlo Stefanuto
Associação Novo Encanto

Carlos Rodrigues Brandão
Rosa dos Ventos

Anderson Rocha Patrizi Balducci
Associação Oportunidade

Luis Antônio de Freitas Gomes
Associação Ambiental do Sul de Minas Gerais

sábado, 1 de dezembro de 2007

Dois Opostos: Vulnerabilidade e Conscientização


" Basicamente ficaram rodando na minha cabeça dois opostos: A Vulnerabilidade a que, todos estamos expostos, e Conscientização.A Vulnerabilidade que nos coloca em perigo e a conscientização como segurança.Com a consciência poderemos fazer o que quisermos.Então parti para o trabalho pensando em consciência,uma consciência abrangente,de todos, homens,mulheres e gente de qualquer etnia,dai os perfis para representar essas pessoas.Olhos estão abertos:ATENÇÂO. Existem linhas vermelhas - sangue - que percorrem todos os desenhos e unem as pessoas.A palavra "consciencia" encerra o trabalho e chama atenção do público que o verá nas ruas...
Vania Mignone é artista plástica de reconhecimento internacional
Nosso Blog toma emprestado este trabalho que a Prefeitura de Campinas, através do Espaço FLUXUS, vem fazendo, e se solidariza neste movimento mundial de luta contra a AIDS.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Carta do Carlos Brandão avaliando o BLOG


Querida Odila,
Ficou maravilha. Pode colocar. Eu também ando querendo fazer um dia um blog, mas não sei nem por onde começar. A Maristela, de Uberaba, está fazendo o meu novo site da Rosa dos Ventos.E serão novos tempos na Rosa dos Ventos, maior e mais aberta.Vai ser uma CASA DE ACOLHIDA.Saiu o CD de O JARDIM DE TODOS, uma das maravilhas do século XXI.Espero você na ROSA DOS VENTOS!
Um abraço com carinho Carlos

Oi Carlos, comprei o livro e o CD no dia do lançamento na CPFL...lindo mesmo...a turma da roça é genial...beijos Odila
Aguardo o seu site de volta...sinto falta.Vou até o Sul de Minas te visitar.Assinei o abaixo assinado sobre a mineradora que está explorando aí em Caldas...Inté

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Zumbi olhava Gaia.

Roberto Malvezzi (Gogó)
“Essa era a visão que Zumbi tinha de Gaia”. Foi o primeiro pensamento que me veio à cabeça quando olhei as serras ao redor, ao nascer do sol, quando dez mil pessoas chegaram ao topo da Serra da Barriga, na romaria da Terra e das Águas, em Alagoas. O sol nascente, iluminando a neblina sobre os vales, sobre um resto de Mata Atlântica, com Gaia respirando aparentemente em paz, me fez pensar – a todo momento repenso – na teoria de Lovelock, segundo a qual a Terra é viva, já tem oitenta anos de idade para quem irá viver cem, está velha, está doente. Em quarenta anos, quando a emissão de CO2 atingir 500 ppm, as algas marinhas vão morrer e Gaia será um planeta tórrido, com poucos sobreviventes onde hoje estão as regiões mais frias do planeta. Segundo o cientista, quatro bilhões de seres humanos irão morrer.
Zumbi, na verdade, do alto da Serra, espreitava seus inimigos. O ponto é estratégico, posição de quem vivia em combate. Mas ainda é possível imaginar a visão que ele tinha da região há apenas 300 anos atrás. Sua nação se estendia por mais de cem quilômetros, onde reencontravam a liberdade para serem novamente africanos. Hoje, o que resta da Mata Atlântica, ainda nos dá uma idéia do que Gaia já foi no litoral brasileiro.
Voltando as costas para o mirante, a outra visão é de um estado dominado pela monocultura da cana, sob o comando de meia dúzia de usineiros. Dizimaram a nação Zumbi para entregar seu território a poucos latifundiários e para que eles a transformassem no verde paquidérmico da cana monocultural. Como diz Vandana Shiva: “a monocultura é, sobretudo, mental”.
A romaria é um ato de penitência. Começou às 7 da noite com bandas e apresentações culturais. Animei as comunidades das nove às 10. Das 10 às doze foi a missa. Da meia noite até 6 da manhã a longa marcha, serra acima, até chegar ao reduto de Zumbi. Gente de todas as idades, mães carregando filhos nos braços, idosos caminhando entre crianças, onde as distâncias se multiplicam pelo cansaço e pela dificuldade de andar em encostas íngremes. Depois, a visão quase que paradisíaca de Gaia.
Pelo percurso jovens – a maioria – cantam, dançam, celebram. É cansativo, mas também é festa. É um mistério essa paixão popular pelas noites em claro, em celebração, em oração, em reflexão, em caminhada. As romarias da Terra e das Águas modificaram o conteúdo das romarias, inovaram, trouxeram-lhe um novo sentido, sem abandonar seu milenar significado.
Há quem diga que nosso povo pobre já não existe enquanto Igreja. Há quem diga que as comunidades eclesiais de base já não existem. Há quem diga que a Igreja comprometida com os pobres e com os desafios ambientais já não existe. Só pode dizer isso quem não viu o que eu vi. Tenho a certeza que, do seu território sagrado, também nos viu Zumbi. Quem não vê o povo, quem não vê a Serra da Barriga, quem não vê Zumbi, quem não vê Gaia é porque já não enxerga.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Diálogos Alagoanos Sobre a Transposição do R.S.Francisco


Diálogos Alagoanos
SOBRE A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO

18 de novembro 2007

De Thereza Siqueira, a FLOR de MANDACARÚ
Olá amigos

A 13a Conferência Nacional de Saúde (CNS) terminou hoje ás 3 da madrugada. A princípio queria falar sobre uma questão importante e polêmica, mas que muita gente não queria assumir o debate.
Sobre a transposição do Rio São Francisco.
Alagoas foi um dos estados que encaminhou uma proposta para a Nacional de que a 13a CNS deliberasse contraria a transposição e que fosse realizado um debate sobre o tema, pelo CNS. Como muitas propostas, esta apareceu no relatório, não como a defendemos em AL, mas com o seguinte texto: “que o governo suspenda o projeto de transposição do Rio São Francisco”. E essa foi polêmica, porque muitas delegações defendiam a transposição, com a justificativa de que este projeto beneficia a populações que sofre com a seca no nordeste. E sabemos que existe várias razões e argumento técnicos, políticos, econômicos, culturais e sociais que nos levam a ver a grande falácia que consiste este projeto de transposição Para quem interessar ver o site da www.fundaj.gov.br artigos de João Suassuna.
Tentamos fazer uma reunião com os estados da BA, SE, PE, MG mas no corre corre da 13a CNS não conseguimos. Os Povos Indígenas fecharam uma proposta contrario a transposição. Foi um trabalho de boca a boca e sensibilização para os outros delegados, principalmente do SUL e SUDESTE que defendiam a transposição.
A proposta terminou indo para a plenária final, para que fosse votada em supressão ou aprovação. Como tantas outras não teve debate. A plenária se mostrou dividida, e que visivelmente não tinha contraste. Mas, depois de duas votações, a mesa visivelmente conduzida pelo presidente do CNS, induziu pela supressão.
Pedimos recurso e não foi aceito pela plenária.
No entanto, nas primeiras horas de hoje, conseguimos aprovar a moção contra a Transposição do Rio São Francisco, feita por uma delegada da BA.
Outra proposta que passou sobre o rio São Francisco, que não foi polemica foi sobre a revitalização .Em resumo a Conferência deliberou sobre a revitalização do Rio São Francisco e repudiou o projeto de transposição .E para mim, vejo que precisamos retomar este debate com a relação deste projeto de transposição e suas consequências sobre as comunidades ribeirinhas.

Um abraço a todos Theresa Siqueira

Grande Theresa,
Valeu amiga,todo o esforço no debate por aqui e por tantos lugares e lá deu no que deu. Foi uma batalha de uma luta que se renova e toma novas caras.Os pescadores em Alagoas estarão gritando, e com eles, em outro lugar também gritaremos neste dia 22 de novembro.Por um lado... que bom que nas terras das Alagoas tivemos tão intenso debate, sobretudo com a sua garra como as andanças pelo sertão... viagens por vezes levando mais de 05 horas em estradas quase não existentes...Enfim, e na 13a deu nisso! Será hora de novo debate? Com outros jeitos...?
Suely Nascimento

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Percepção,Sensibilização e Educação Ambiental


ATIVIDADES DE CAMPO:
Percepção ,Sensibilização e Educação Ambiental
Visita com alunos de curso Técnico Ambiental
PETAR- Parque Estadual Turístico do Alto da Ribeira
Professora Ionara Urrutia Moura


A Região de Iporanga, no Alto Vale do Ribeira, é uma área onde se pode evidenciar as tensões provocadas pela preservação, a importância da gestão ambiental e a disputa pelo espaço para uso e preservação. Atividades agrícolas limítrofes ao maior corredor de área de Mata Atlântica preservada , atividade turística trazendo divisas e impactos sócio ambientais. Um conflito que atinge a população local e também o ambiente natural, que não escapa ás agressões do turismo e da depredação.
Paralelo a este cenário , tão evidente, o contato entre a área do Parque e o bairro vizinho, evidenciam o contraste entre o ambiente natural e antropizado.
Dentro do Parque, as caminhadas nas trilhas e cavernas , oferecem oportunidade de vivenciar situações de medo, insegurança, fragilidade e limitação , ao mesmo tempo que provocam euforia, admiração, contemplação e alegria . O grupo é levado a trabalhar a sensibilização, e a emotividade em dinâmicas especiais durante as trajetórias. Desta forma, estimulam-se a percepção e o prazer de vivenciar sentimentos de coleguismo, colaboração, e solidariedade . O contraste entre a mata exuberante e a escuridão das cavernas em sua grandiosidade, bem como minúcia de suas formações, modeladas tão lentamente pela água ,surpreendem os visitantes, imprimindo noção da grandiosidade da natureza e da fugacidade da vida humana frente ao tempo planetário.
O sentimento de admiração e alegria pelo convívio na natureza , o desenvolvimento da auto confiança e a superação de medos, são aspectos sempre presentes nos relatos que os alunos fazem após a atividade. Objetivos gerais
Sensibilizar e proporcionar momentos de alegria na vivência em ambiente preservado.
Desenvolver o "olhar sistêmico", questionador, olhar para entender as inter-relações que fazem parte do todo.
Objetivos específicos
Proporcionar contato com a natureza oferecer situações de convívio e trabalho em equipe.
Promover a oportunidade de percepção ambiental, através da observação crítica do individual e do coletivo, promovendo e desenvolvendo no aluno a capacidade de buscar no ambiente informações e índices de qualidade ambiental .
Desenvolver atividade de observação de espécimes e identificação dos grandes grupos vegetais ,sucessão ecológica no Bioma da Mata Atlântica.
Observar e relatar os impactos sócio-ambientais provocados pela exploração dos recursos naturais e pela exploração do turismo

domingo, 18 de novembro de 2007

Seminário de Educação SocioAmbiental da UNICAMP

26 de Novembro de 2007 -
das 08:00 às 18:00
CICLO BÁSICO –SALA PB 17 –
UNICAMP Campus Campinas


INFORMAÇÕES e INSCRIÇÕES: www.preac.unicamp.br/eaunicamp
PROMOÇÃO: PREAC – Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários
CESET – Centro Superior de Educação Tecnológica
APOIO: Departamento de Educação Ambiental - Ministério do Meio Ambiente-MMA
Coordenadoria Geral de Educação Ambiental - Ministério da Educação-MEC

Nestes últimos dois anos, diversas atividades e projetos ligados à área da “Educação SocioAmbiental” foram e estão sendo desenvolvidos em diversas Unidades da UNICAMP.
A idéia deste Seminário é colocar em contato estas diferentes ações e pesquisas realizadas nos âmbitos local, regional e nacional, facilitando a comunicação entre seus diversos atores: os docentes, técnicos, pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação e as comunidades envolvidas em cada projeto.
Na parte da manhã, para estimular a reflexão e o debate sobre esta área do conhecimento, convidamos dois expoentes nacionais, que militam tanto na Academia quanto nos movimentos sociais, participando e animando diversas redes ligadas à Educação SocioAmbiental: Profa.Dra. Michele Sato e Prof.MSc. Luiz Ferraro Junior.
Este evento será o início de uma série de atividades de integração da comunidade da UNICAMP envolvida com esta área de pesquisa e ação, com o objetivo de fortalecer nossos diversos projetos integrando-os e/ou trocando metodologias, experiências, materiais para, no futuro, constituir uma rede de educadores ambientais da UNICAMP.
O tema deste Seminário procurará abordar os princípios básicos desta Educação SocioAmbiental (os conceitos de Ambiente, Educação e Sociedade que fundamentam a área), promovendo a reflexão, o debate e a apresentação dos diversos projetos de pesquisa e de ação realizados no âmbito da UNICAMP

ORGANIZAÇÃO: COEDUCA – Coletivo Educador Ambiental de Campinas
Equipe MEC / CJ / CESET / PREAC / UNICAMP
Projeto Educação Ambiental-Coletivos Jovens Brasileiros - MEC/UNICAMP
Projeto Beija Flor e Projeto Busca Sorrisos (SAE/CESET)
No início do período da tarde, teremos as apresentações orais dos resumos - com o exclusivo objetivo de nos apresentarmos e conhecermos o universo dos temas, metodologias e parceiros envolvidos – que deverão ser de 5 a 10 minutos, dependendo da dimensão do trabalho apresentado. Os importantes e necessários aprofundamentos, para conhecermos cada um dos trabalhos, serão objeto de um próximo Seminário a ser realizado no início de 2008.
Solicitamos que todos os interessados em apresentar seus trabalhos (já encerrados ou em andamento) enviem um resumo de no máximo 01 página para o endereço eletrônico:
preac@reitoria.unicamp.br (colocando no assunto: "Seminário EA UNICAMP")
Nos intervalos da manhã e tarde, serão oferecidos alimentos produzidos de modo social e ecologicamente compatíveis. Tragam suas canecas.
Sentimo-nos felizes com sua presença e com a contribuição de suas idéias.

Prof.Dr. Mohamed Habib
Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

“Primeiro ator ou palhaço negro do Brasil”



TEATRALIDADE CIRCENSE É RESGATADA EM LIVRO DA PESQUISADORA ERMINIA SILVA
Resultado de cerca de 20 anos de pesquisa, o livro mostra como foram surgindo as constituições das diversas famílias, suas mobilidades entre os vários circos e o repertório teatral dos artistas mais importantes, como Benjamim de Oliveira
A leitura do livro Circo-Teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil, de Erminia Silva, revela, como num espetáculo circense, a cada página uma surpresa. A primeira é certamente a incrível epopéia das famílias de circenses européias desde os primórdios das formações de circo de cavalinhos da Europa, principalmente Inglaterra, até a grande aventura que as fazia rasgar o mar em busca de novas platéias.
Depois, chegando ao Brasil, começaram um itinerário notável de adaptação aos costumes e viagens intermináveis, criando um modo de vida e sobretudo de produção artística ímpares na história. No processo de adaptação, Erminia mostra como surgiram as pantomimas que povoam o imaginário brasileiro desde mestres da literatura como Machado de Assis, Arthur Azevedo e Mario de Andrade até hoje.
Erminia analisa como os homens e mulheres circenses transformaram o palco/picadeiro num lugar polissêmico e polifônico, no qual se aliavam destreza corporal, musicalidade, comicidade, dança e representação teatral. Parte da idéia de que os circenses, particularmente os brasileiros, há mais de dois séculos, devem ser vistos como um grupo que sempre articulou saberes e técnicas artísticos contemporâneos, seja durante o século XIX como no XX, tendo como referência definidora um processo permanente de (re)elaboração e (re)significação, bem como produziam um espetáculo para cada público, manipulando elementos de outras variáveis artísticas já disponíveis e gerando novas e múltiplas versões da teatralidade circense. Por isso o estranhamento da autora em torno de um pretenso “ressurgimento do circo como moda”, ou do “circo novo”, das academias de circo ou de grandes espetáculos como o Cirque de Soleil, em cima de um debate de “contemporaneidade”; visto como o “enunciador” de uma “nova” linguagem artística que “revolucionou” a técnica circense.
São poucos historiadores que se dedicam à história do circo, e pouquíssimos que, como Erminia, reconhecem no processo de produção circense, em especial a brasileira, não uma “arte menor”, mas um imenso arsenal de saberes e práticas que já produziam teatro em grande escala, com peças ricamente elaboradas, contando com grande número de artistas, músicos profissionais e sofisticado aparato cênico. Para quem julga, como de hábito, que o teatro brasileiro só viria a existir a partir da década de 1940 com as peças de Nelson Rodrigues, é uma imensa surpresa descobrir que, no início do século XX, por exemplo, o Circo de Emílio Fernandes, montou uma peça em que o Teatro São Pedro de Alcântara (atual João Caetano) era completamente inundado e que os atores representavam embaixo d’água e sobre pontes construídas especialmente para o espetáculo. Ou ainda que, durante as badaladíssimas apresentações de Sarah Bernard no Rio de Janeiro, no Teatro Lírico, palco da antológica atriz, não houve lotação plena em nenhum dia, enquanto o Circo instalado no São Pedro via todas as noites multidões concorrendo pelo ingresso para ver Rosita de La Plata. Nas palavras dos cartazes-propagandas usados para a divulgação: “Sempre enchentes! Sempre enchentes!”
A PESQUISA E OS CARTAZES-PROGRAMAS
Para levantar a grandeza e a importância desta história desconhecida do grande público, Erminia, pesquisadora incansável, consultou mais de 20 jornais e revistas, abrangendo um período em torno de 60 anos. Como a história do circo do Brasil não era tratada até então com a atenção que merece, foi através das propagandas veiculadas pelos próprios circos que foi possível obter informações cruciais na reconstituição desta história. Assim, das páginas amareladas dos jornais pesquisados foram surgindo as constituições das diversas famílias, suas mobilidades entre os vários circos, os percursos delas e dos artistas mais importantes e, o que é notável, o repertório teatral desses circenses, já que nas propagandas as pantomimas eram descritas com uma infinita riqueza de detalhes, ato a ato.
Toda essa gama de informação pode ser conferida nos dois apêndices incluídos no livro: o “Repertório teatral dos circenses”, relação composta pelas peças representadas nos circos entre 1834 e 1912, localizadas nas fontes pesquisadas pela autora, com detalhes de quem realizou o mise-en-scène, os atores, as músicas etc.; e a coleção de “Cartazes-programas”, em uma seleção da autora por sua importância e significado.
A análise desse material nos dá como que um sentimento de justiça para com a história dos inúmeros homens e mulheres que fizeram da produção circense a sua vida.
BENJAMIM DE OLIVEIRA
Como não poderia deixar de ser, a figura de Benjamim de Oliveira conduz a narrativa do livro todo. Benjamim, conhecido por um epíteto que certamente diminui seus méritos – o de “primeiro ator ou palhaço negro do Brasil”-, foi um grande ator, sim, mas também acrobata, palhaço, cantor, músico, compositor, dramaturgo, encenador e proprietário de circo.
Aos 12 anos, em 1882, fugiu da fazenda em que seus pais eram escravos, na cidade de Pará de Minas, antiga Patafufo, no interior de Minas Gerais, com um circo que passava e desde então iniciou seu aprendizado circense em vários circos, até ser reconhecido nacionalmente e colecionar inúmeros méritos. Acompanhando sua trajetória até a década de 1910, Erminia, ao mesmo tempo em que esmiúça e exemplifica a trajetória de vários outros artistas, evidencia que embora sejam notórios seu talento e qualidades individuais, ele é também resultado de um rigoroso processo de formação presente no dia-a-dia do circo. Os múltiplos talentos que as teorias artísticas contemporâneas buscam e propõem, já era realidade concreta e cotidiana na vida dos circos do século XIX e início do XX.
“Portanto, Benjamin de Oliveira não foi avis rara. Talvez tenha sido a ave que conseguiu vôos longos e graciosos, mas foi um tipo de artista semelhante a outros, de menos fama, mas com iguais talentos e qualidades. Isso não diminui em nada a sua figura, só reafirma o raciocínio geral da autora de que o circo no Brasil, muito além do espetáculo, muito além da imagem desqualificadora de ‘melodrama, acrobacia e palhaço’ que lhe tem sido atribuída, esconde um processo de formação artística para o qual devíamos olhar mais atentamente”. Restabelece, também, a importância dos compartilhamentos e trocas que Benjamim e a maioria dos circenses faziam com as várias expressões artísticas consideradas “brasileiras”, particularmente no teatro e na música, com parcerias como Baiano, Mário Pinheiro, Paulino Sacramento, Eduardo das Neves e Catulo da Paixão Cearense; com a Gravadora Columbia Record onde gravou seis discos, e no cinema com Labanca, Leal & Cia.
E temos assim a história de um circo que, se na sua natureza é nômade, internacional e poliglota, passa a ser brasileiro, repleto de acrobacias, teatro, música e ginga, muita ginga.
A AUTORA

Erminia Silva, quarta geração circense no Brasil, filha de Barry Charles Silva, é mestre e doutora pelo departamento de História da Universidade Estadual de Campinas. Sua pesquisa sobre o processo histórico do circo e circenses no Brasil, resultou na dissertação de mestrado (1996) - O Circo: Sua arte e seus saberes. O circo no Brasil do final do século XIX a meados do XXI; e na tese de doutorado (2003) - As múltiplas linguagens na teatralidade circense: Benjamim de Oliveira e o circo-teatro, no Brasil, no final do século XIX e início do XX, que agora se transforma neste livro.

É professora de história do circo no Cefac – Centro de Formação Profissional em Artes Circenses (SP) e desenvolve oficinas de história na Escola Nacional de Circo (RJ); uma das coordenadoras do site www.pindoramacircus.com.br. Atua como consultora junto a grupos de artistas e coletivos, como a Asfaci – Associação de Famílias e Artistas Circenses, Associação de Escolas de Circo e a Rede Circo do Mundo, Brasil – Circo Social.
COMENTÁRIO:Pessoa, bom dia!!
Estou lendo o livro da Mina e é um espetáculo (com perdão do trocadilho...). E estou apenas no primeiro capítulo. Uma leitura gostosa e bacana. O tema é muito instigante.Um super-beijo da Nayara.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

De OLHO no PLANETA


Obra registra 'saber medicinal' do Cerrado
Um livro em fase final de preparação, feito por uma rede de organizações não-governamentais e acompanhado pelos ministérios do Meio Ambiente e da Saúde, vai registrar, pela primeira vez, a “sabedoria medicinal” das comunidades do Cerrado. A obra terá mais de 300 páginas, mais de 500 ilustrações, e abordará as propriedades curativas que as populações rurais de Goiás, Minas Gerais, Tocantins e Maranhão detectam em nove plantas da região, como o barbatimão, o algodãozinho e a batata de purga.

Intitulado “Farmacopéia Popular do Cerrado”, o livro começou a ser escrito em 2004 e deve ser lançado em março de 2008. Além das três plantas já citadas, outras seis serão destacadas no livro: pacari, rufão, ipê-roxo, buriti, velame branco e pé-de-perdiz. A iniciativa é da Articulação Pacari, rede formada por cerca de 90 instituições, ONGs e associações comunitárias.
“A idéia é registrar conhecimentos medicinais tradicionais do Cerrado, até hoje transmitidos oralmente pelas benzedeiras e raizeiros para seus filhos”, afirma a coordenadora da Articulação Pacari, Jaqueline Evangelista. Ela avalia que a publicação também servirá para prevenir a biopirataria, na medida em que registrará o conhecimento das comunidades sobre o tema.

Os moradores da região preparam as plantas medicinais que constam no livro de pelo menos dez formas diferentes: fazem xaropes, pomadas, cremes, sabonetes, balas, pílulas, chás, óleos, tinturas e garrafadas (mistura com bebida alcoólica). “O uso varia de acordo com a comunidade”, diz a diretora da Articulação Pacari, Eleuza Ório. Ela frisa que a obra não dará receitas para esses preparados, apenas indicações do uso fitoterápico das plantas. Também dirá onde elas podem ser encontradas e apresentará dados botânicos específicos. Como exemplo de efeitos fitoterápicos, Eleuza cita as pomadas feitas do barbatimão, usadas como cicatrizantes, os chás de pé-de-perdiz, com efeito antibiótico, e as garrafadas de algodãozinho, comuns para "limpar" o sangue de impurezas.

As comunidades pesquisadas pela Articulação Pacari usam mais de 70 espécies de plantas medicinais, 40% delas nativas do Cerrado. Para o livro, foram selecionadas as que estão sendo ameaçadas pelo avanço das fronteiras agrícolas, as usadas em maior número de comunidades e as utilizadas para fazer diferentes tipos de remédios. “Foi feito um levantamento de 100 a 150 plantas por região, que foram depuradas com base em uma metodologia estabelecida pelos próprios raizeiros e pela Articulação, para enfim chegarmos a essas que constam no livro”, afirma Eleuza.

Orientação
Além de registrar o conhecimento da região sobre as plantas medicinais, o livro também visa orientar benzedeiras, raizeiros e as farmácias populares para que usem os produtos com eficiência e segurança. “Existem centenas de farmácias comunitárias, que receitam os derivados das plantas há décadas”, diz Jaqueline.

As plantas citadas no livro são objeto de estudos acadêmicos de etnofarmacologia e etnobotânica em universidades brasileiras, como o Laboratório de Produtos Naturais da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). No entanto, a Articulação Pacari salienta que os derivados dessas plantas ainda não são reconhecidos pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), porque não existe regulamentação federal específica para fitoterápicos e para remédios populares.

“Em junho de 2006, o presidente Lula assinou decreto para lançar as bases de uma política nacional para a medicina popular, então o reconhecimento em torno dos remédios ainda está sendo construído”, diz Jaqueline. Segundo ela, o livro poderá ser um instrumento de cobrança para que o governo reconheça as plantas medicinais e passe a regulamentar seu uso.

“Os raizeiros detêm o conhecimento para o manejo e a preservação das espécies de plantas medicinais, que muitas vezes estão ameaçadas de extinção”, diz a diretora do Departamento de Patrimônio Genético do Ministério do Meio Ambiente, Cristina Azevedo.

O governo federal, através de um termo de cooperação entre o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e o Ministério, acompanham a elaboração do livro. “Até agora, o trabalho tem sido muito bom, no sentido de preservar a memória do uso das plantas medicinais em comunidades rurais do Cerrado”, diz Cristina.

A diretora afirma que espécie alguma dessas plantas é desconhecida. “O fato da farmacopéia ser lançada não significa que esses remédios vão estar nas farmácias no dia seguinte, nem que os hospitais vão passar a adotar os fitoterápicos”, observa. O importante, avalia, é documentar as plantas que são usadas na região, para que sejam feitos planos de preservação ambiental e também para resgatar a cultura dos raizeiros e benzedeiras, ameaçada pelo avanço do agronegócio no Cerrado.

Após a publicação do livro, a Articulação Pacari planeja fazer um manual das boas práticas do uso das plantas medicinais. “A idéia é reunir métodos para preparar os remédios com controle de qualidade, com higiene e também para evitar que eles sejam feitos de qualquer jeito”, diz Jaqueline.

Fonte: Envolverde/Pnud

MIRAGEM NO CERRADO PIAUIENSE
Carta aos participantes da Romaria da Terra e da Água em URUÇUÍ-PI



Há 5 anos uma voz solitária, no sul do Piauí, se levantou contra a destruição do Cerrado e seu povo. Gritou em bom tom que o desenvolvimento prometido para a região era uma mentira, visava apenas beneficiar poucos (uma multinacional, alguns políticos e produtores de soja), e que a grande maioria estaria excluída. Naquele momento, o povo encantado com o “canto de sereia” da Bunge e do Governador não compreendeu. Mas agora é outro momento e o povo já está sabendo que foi enganado.

Isso aconteceu com a chegada da Bunge Alimentos à cidade de Uruçuí, Piauí. A promessa era grande: 10 mil empregos, a maior indústria de soja do Brasil. Tudo mentira. Estamos nos dando conta disso agora. E vejam, tudo com o aval do Governo do Estado. E podem esperar, se a Bunge ficar, depois que completar os 15 anos de isenção ela vai embora, deixando um deserto como herança para o povo da região.


O Cerrado do Piauí já está quase todo destruído (60% já foi liquidado), os rios e riachos estão secando e envenenados pelo uso abusivo de agrotóxicos nas lavouras de soja, os solos estão secando e sendo transformados em desertos. O calor é insuportável e as chuvas já faltam drasticamente. Como se a soja fosse pouco, agora estão chegando a mamona, a cana, o carvão e o eucalipto. E o Governador fazendo mais promessas: “É agora que o Piauí vai desenvolver”. Não acreditem, é mentira de novo. Se continuar assim, dentro de no máximo 5 anos a região desde Uruçuí a Bom Jesus do Gurguéia vai ser um grande deserto de rios secos, com o povo passando sede e fome.

Mas nem tudo está perdido. Podemos dar um basta nessa situação. Não podemos é esperar no Governo do Estado, pois o Governador WD é o principal representante desse modelo predador. E por quê? Porque os sojeiros e a Bunge são os financiadores de campanhas políticas, é quem dá o dinheiro para comprar os votos. O compromisso do Governador não é com o povo, mas com quem lhe garante dinheiro para subornar eleitores. O povo precisa ir para as ruas e dizer que não quer mais esse “desenvolvimento” que não respeita o meio ambiente, os direitos humanos e a cultura existente. Precisamos dizer agora, antes que seja tarde: “FORA Bunge”.

E por falar em direitos humanos, o que foi resolvido com relação à morte dos trabalhadores rurais envenenados por agrotóxicos em fazendas de soja? Até o momento nenhuma providência foi tomada. O Governador WD mandou a Secretaria de Saúde dar uma versão distorcida aos fatos e categoricamente afirmar que a morte dos trabalhadores não fora por agrotóxicos. Mandou também a Secretaria de Segurança promover um grande circo para desenterrar mortos e colher amostras que foram colocadas em “FORMOL” para que o resultado fosse negativo. Os trabalhadores, disse o Governador, não morreram envenenados por agrotóxicos, mas também até agora não disse do que foi. Convém lembrar que essas mortes aconteceram na campanha eleitoral em que o Governador era candidato à reeleição.

E o presente das isenções fiscais que foram oferecidas para a Bunge. Essa empresa não paga nenhum imposto no Piauí. 15 anos de isenção. Disse que ia criar 10 mil empregos. Não criou. Disse que ia montar uma indústria de óleos, margarina e ração. Também não montou, nem vai montar. Para que a isenção continue faz-se necessário que a Bunge cumpra com a sua parte no acordo. Não está cumprindo, mas o governador WD mantém a isenção. Qual será o motivo? Podemos imaginar que deve ter algum beneficio para manter uma isenção que dá prejuízo de quase 200 milhões de reais por ano ao Estado. Será que a Bunge financia campanhas de WD?

Vamos falar da política que está sendo executada pela Bunge e o Governador WD. É a política da intimidação. Calar o movimento ambientalista para que ninguém levante a voz no sentido de questionar a Bunge ou o Governador. Se você assim fizer corre sérios riscos, desde sua integridade moral à sua vida. Querem intimidar o povo usando um “bode expiatório”: “Povo, não se metam a besta, vejam a desmoralização que estamos promovendo ao ambientalista Judson Barros. É apenas um exemplo do que somos capazes de fazer e onde podemos chegar. Quem se meter nesse negócio vai ser execrado moral e publicamente”. É assim que a Bunge e o Governador atuam. A Bunge move uma ação contra o ambientalista Judson Barros na Comarca de Uruçuí pedindo uma indenização por danos morais que chega a 2 milhões de reais. Mas que danos morais? Questionar uma empresa que chega ao Piauí e, avalizada pelo Governador, não respeita as leis, é atingir a moral da Bunge? É claro que a empresa quer intimidar e calar o movimento.


E o Governador WD? Também cumpre sua parte na intimidação e tentativa de desmoralização do ambientalista. Utilizando-se do Estado e da prerrogativa de Governador mandou seus subordinados e bajuladores a montarem um Tribunal de Exceção na Secretária de Fazenda, onde o ambientalista é empregado através de Concurso Público. Na utilização desse expediente e através do Secretário Antonio Neto, WD determinou a criação de uma comissão, composta de “amigos seus” para promover uma execração do empregado, sem um motivo, sem legitimidade e sem fundamento legal. Tudo para atender a caprichos calhordas. Não pode fazer alguma coisa como homem e usa do Estado para promover terrorismo, demonstrando uma atitude de quem é fraco. Assim fez o Hitler perseguindo o povo judeu, assim fez o Stálin na União Soviética, assim fez o regime militar mandando matar aqueles que eram contrários aos interesses dos que ocupavam o poder. Assim fez o ditador Pinochet no Chile. O modo de operar é sistemático. Por um lado a Bunge ameaça cobrando indenizações astronômicas, por outro, o Governador ameaça de tomar o emprego. Cuidado Governador esse mundo dá muitas voltas. Nem o Senhor (WD) nem a Bunge vão consegui calar o movimento ambientalista.

A Romaria da Terra e da Água em Uruçuí representa um fato importante para que a sociedade conheça realmente o que se passa no Cerrado do Piauí. É uma boa ocasião para que o Brasil venha ver de perto essa realidade. O paraíso prometido pela Bunge e o Governador WD virou um inferno, literalmente, começando pelo calor e a falta de chuva.

Rede Ambiental do Piauí – REAPI

Fundação Águas do Piauí - FUNAGUAS