IMPOSTOS EM SÃO PAULO

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

CTNBio- Carta de Declaração



Foto mulheres contra as sementes "terminator"

CTNBio necessita debater a biossegurança e não somente pleitos da biotecnologia. No dia 16 de agosto de 2007, os membros da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), que aqui subscrevem, decidiram retirar-se da reunião plenária em protesto à forma sumária de votação e aprovação dos Planos de Monitoramento e de Coexistência entre o milho convencional e o transgênico. Ressalte-se que tais planos não tinham sido objeto de análise em maio de 2007, quando da liberação do milho transgênico Liberty Link, da Bayer, por parte da Comissão. Somente foram incluídos, em ultima hora, na pauta da plenária de 19 de julho de 2007 e, ainda assim, Planos muito genéricos e permissivos para fazer frente a uma medida judicial que impedia sua liberação. As medidas de biossegurança, que deveriam ter sido elaboradas antes de maio, são fundamentais e necessárias para evitar maiores riscos dos organismos geneticamente modificados (OGMs). Entretanto, a adoção de tais medidas tem sido relegada a um segundo plano, com a pauta das plenárias voltada, predominantemente, para as liberações planejada e comercial.Nesta segunda plenária, a presidência da CTNBio e a maior parte dos seus membros, técnicos e cientistas da área de biotecnologia, tiveram, mais uma vez, a preocupação prioritária em atender as demandas específicas à biotecnologia, conduzindo o tema de forma rápida e superficial. Assim, não foi permitida a inclusão de nenhuma das propostas apresentadas em dois documentos extensos, que faziam parte de "pedido de vistas" de membros da Comissão. Os Planos aprovados, tanto de Monitoramento quanto de Coexistência, desconsideraram o Princípio da Precaução e, portanto, podem comprometer as variedades de milho, historicamente cultivadas no País, com riscos ambientais e sociais, sobretudo, com possibilidade de prejuízos aos pequenos agricultores. A falta de debate, ilustrada pela não incorporação de nenhuma das muitas propostas apresentadas, reflete uma visão corporativista que não oportuniza o diálogo necessário. Constantemente, nas reuniões plenárias, despreza-se a controvérsia e os múltiplos aspectos de incerteza sobre possíveis riscos à saúde e/ou ao meio ambiente derivados dos OGMsO acontecimento de votações, como as que ocorreram hoje, é incompatível com uma Comissão formada por doutores, considerados especialistas em biossegurança ou em áreas afins. Tais decisões, submetidas às demandas do mercado, comprometem ainda mais a confiabilidade das decisões da CTNBio. Infelizmente, desde a criação desta Comissão, existe uma assimetria em sua representatividade. A biossegurança torna-se, assim, tema secundário do foco de atenções da Comissão. Este processo se aprofundou, quando da aprovação da medida provisória que derrubou o quorum de 2/3 dos seus membros para as liberações comerciais e outras medidas que acabaram desconstituindo os avanços da Lei de biossegurança no Brasil.A biossegurança não pode confundir-se com a bandeira explícita de "adotar os transgênicos" no País. Não podemos compartilhar votações que não atendam ao princípio da precaução e aos interesses da sociedade brasileira.
Brasília, 16 de agosto de 2007

Assinam os membros da CTNBio: Dr. Paulo Brack , Dra. Carmem Marinho, Dra. Magda Zanoni; Dr. Lucas de Souza Lehfeld, Dr. Paulo Kageyama, Dr. Rodrigo Raubach e Dr. Carlos Gustavo Tornquist.

sábado, 18 de agosto de 2007

Consulta Pública- Participe, divulgue....

Anvisa propõe critérios para reciclagem de plásticos PET16/8/2007
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) colocou em discussão, com a sociedade, os critérios para a reciclagem de embalagens e equipamentos plásticos de Poli Etileno Tereftalato (PET). A proposta da Anvisa, aberta a contribuições até o próximo dia 9 de outubro, trata do aproveitamento seguro desses produtos para a fabricação de novas embalagens de alimentos.O texto da Consulta Pública 74 sugere regras para que esse os plásticos PET sejam reciclados de forma que se assegure a saúde da população. Segundo o gerente de Ações de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Anvisa, Lucas Dantas, novas tecnologias de reciclagem de PET garantem a limpeza e descontaminação do produto descartado após o consumo, independentemente do sistema de coleta. Segurança - No processo de fabricação de uma nova embalagem a partir de produtos PET, os materiais passam por várias etapas. Ao receber o plástico descartado, a indústria seleciona, lava, separa, seca, transforma por meio de extrusão (“passagem forçada de um metal ou plástico através de um orifício”, ou seja, uma das etapas do processamento) e cristaliza o material plástico para dar origem à matéria-prima conhecida como resina PET. “Este produto serve como base para a produção de embalagens que serão utilizadas para alimentos”, explica Dantas.De acordo com a legislação sanitária, as embalagens e os equipamentos em contato direto com alimentos devem atender a normas específicas de boas práticas de fabricação. Essas regras contribuem para evitar que a qualidade dos produtos seja prejudicada e que haja risco à saúde humana.Mercosul - A Consulta Pública 74 foi discutida e harmonizada, no último mês de junho, na Comissão de Alimentos do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Após a conclusão do processo de consulta, a Anvisa submeterá o texto à referida comissão, que possivelmente será publicado como “Resolução Mercosul”. Em seguida, o Brasil e demais países do bloco (Argentina, Paraguai e Uruguai, além da Venezuela, em processo de adesão) – que também estão em processo de consulta pública sobre a adequada reciclagem de produtos PET – terão um prazo de 180 dias para incorporar os regulamentos ao ordenamento jurídico de cada nação.As normas sanitárias para alimentos devem ser iguais entre os países membros do bloco com o objetivo de permitir o livre trânsito desses produtos. Por isso, os requisitos técnicos são os mesmos no Mercosul. As exigências para a conformidade da segurança e aprovação das embalagens pela autoridade nacional sanitária competente valem tanto para a produção nacional quanto para importação, incluindo registro obrigatório e rotulagem específica das embalagens.Plástico - O PET é o material utilizado, principalmente, na fabricação de garrafas plásticas para refrigerantes, sucos entre outros alimentos. A adequada reciclagem dessas embalagens, seguindo as exigências do regulamento técnico proposto pela Anvisa, irá favorecer o meio ambiente. De acordo com o site www.ambientebrasil.com.br, as garrafas PET demoram cerca de 100 anos para se decompor.Participação - Críticas e sugestões relativas à Consulta Pública 74 podem ser encaminhadas para o endereço da Anvisa: Gerência-Geral de Alimentos, SEPN 511, Bloco A, 2º andar, Ed. Bittar II, Asa Norte, Brasília-DF, CEP 70.750.541; para o fax (61) 3448-6274; ou para o e-mail: gacta@anvisa.gov.br. Fonte: Anvisa

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Alternativas ao AQUECIMENTO global

Alternativas ao aquecimento global

“Reservemos o pessimismo para tempos melhores”, gosta de provocar o escritor uruguaio Eduardo Galeano, espalhando palavras que viu, certa vez, pintadas num muro em Bogotá. A frase contraria certa postura intelectual, ao sugerir que espírito crítico não pode ser sinônimo de desesperança – e que esta última converte-se, com freqüência, no último refúgio dos conservadores.
É o que mostra, aliás, o debate sobre aquecimento global. Quando se tornou impossível negar o fenômeno, os meios de comunicação tradicionais passaram a espetacularizá-lo. Multiplicam-se, nos jornais e TVs, as matérias dedicadas ao tema, quase sempre em tom de sensacionalismo e com ênfase na suposta inevitabilidade da tragédia. Dramatizar o assunto é, neste caso, um meio de evitar duas perguntas cruciais. Quais os nexos entre a mudança climática e uma sociedade que se tornou incapaz de refletir sobre si mesma, porque foi dominada pela lógica dos mercados? Há alternativas a ambos os fenômenos?
Conhecido tanto pela profundidade de seus artigos quanto pelo olhar incomum que eles projetam sobre questões relevantes e polêmicas, Le Monde Diplomatique escolheu exatamente este tema para lançar, no Brasil, uma série de livros temáticos. Serão publicados a cada três meses, pelo Instituto Paulo Freire – a quem cabe produzir, no país, a edição internet do jornal e seu Caderno Brasil.
A edição que você tem em mãos reúne sete artigos. Parte deles compõe o acervo de quase dois mil textos traduzidos, desde 1999, da edição francesa do jornal – e reunidos numa biblioteca virtual que pode ser acessada em www.diplo.org.br/temas. Outros foram produzidos no Brasil. Em seu conjunto, os artigos constróem, servindo-se de dados rigorosos e análises não-convencionais, um ponto de vista oposto à visão fatalista que hoje predomina sobre o assunto. Ele se apóia em duas bases essenciais: a) Embora represente uma ameaça terrível, o aquecimento da atmosfera pode ser perfeitamente revertido; b) Para alcançar esta vitória, os seres humanos serão obrigados a superar as relações alienadas que mantêm consigo mesmos e com o ambiente.
Tecnologicamente, a era petróleo acabou. Como superar o sistema que a sustenta?
A série de textos é aberta por “A possível revolução energética”, de Antonio Martins. Trabalhando a partir dos dados de um vasto relatório do Greenpeace sobre energias alternativas (sobre o qual a mídia guardou silêncio), o autor demonstra que, do ponto de vista tecnológico, já é perfeitamente possível substituir o petróleo. Fontes como o sol, os ventos e a biomassa, combinadas com mudanças em nossos padrões de consumo, permitiriam reduzir as emissões de gás carbônico à metade do volume atual, até 2050. Não haveria nenhum dano ao bem-estar. Ao contrário: seria possível estender a eletricidade a dois bilhões de pessoas, hoje privadas até mesmo do acesso à lâmpada elétrica. Tais soluções são portadoras de uma lógica pós-capitalista: elas significam que a energia deve ser vista com um direito – que precisa ser assegurado a todo ser humano – e não uma mercadoria, que cada um produz e consome segundo seu poder de compra.
O texto seguinte, “Bem-vindos ao fim da era petróleo”, de Nicolas Sarkis, é o retrato de uma insensatez. Nos últimos anos, o aquecimento global deixou de ser uma abstração teórica para se materializar nas imagens que registram o derretimento de imensas massas de gelo. Neste mesmo período, o consumo de combustíveis fósseis intensificou-se como nunca. A demanda mundial, que crescia ao ritmo de 1,54% ao ano, na década de 1990, aumentou 3,7% em 2004. O autor demonstra que esta é a causa essencial da persistente alta nas cotações do óleo. E vai além: como nossas sociedades continuam incapazes de articular uma substituição programada desta fonte de energia, elevações devastadoras dos preços e crises de abastecimento podem tornar-se comuns, nos próximos anos.
Por que insistimos em aprofundar nossa dependência? Em “Os danos do movimento perpétuo”, Philippe Mühlstein explora a relação entre o consumo cego de combustíveis e os interesses econômicos hoje hegemônicos. Ele mostra que a eficiência energética do transporte pessoal por trem ou metrô é onze vezes maior que por automóvel – e, no entanto, nossos modelos urbanísticos não param de privilegiar, além do asfalto, as cidades que exigem longos deslocamentos. Além disso, ao estimular a deslocalização de empresas para regiões de mão-de-obra barata, o modelo atual de globalização multiplicou o transporte de cargas. O autor relata casos em que a insanidade torna-se funcional. Empresas alemãs enviam ao sul da Itália, para lavagem e corte, batatas que, em seguida, serão industrializadas e vendidas em seu país de origem.
Uma das marcas do paradigma energético atual é a desigualdade. “As primeiras vítimas”, de Agnés Sinai descreve esta característica. A autora revela que um consumidor médio nos Estados Unidos emite, em seu trabalho e consumo, cinco toneladas de gases do efeito estufa ao ano – 50 vezes mais que um cidadão de Burkina Faso. No entanto, mostra o texto, as primeiras vítimas de uma eventual catástrofe ambiental serão os que menos contribuíram para provocá-la. Gente como os esquimós, ou os habitantes da Aliança dos Pequenos Estados-Ilhas (Aosis, na sigla em inglês). Embora evidentemente favorável ao Protocolo de Kyoto, o artigo expõe algumas de suas graves contradições, como os créditos de carbono. O mecanismo premia os países do Sul que já poluem, enquanto deixa órfãos os que hoje quase não emitem CO2.
Para o cientificismo: o planeta era mero recurso a ser consumido incessantemente
Em 1945, o poeta Paul Valéry cunhou uma frase que serve como emblema para os tempos que vivemos. “Começou o tempo do mundo que termina”, disse ele. O aquecimento obriga a enxergar o planeta como algo mais que um recurso, a ser incessantemente consumido. Mas esta nova mirada exige também outras relações entre os próprios seres humanos. É urgente ultrapassar o modelo da competição, segundo o qual “a vida de cada indivíduo ou coletividade é reduzida a uma sucessão de batalhas, às vezes ganhas, mas que terminam numa guerra perdida de antemão”.
Uma possível forma de fazê-lo é apresentada por Serge Latouche, em “As vantagens do decrescimento”. Ainda pouco debatido no Brasil, este conceito questiona o culto ao aumento incessante do Produto Interno Bruto (PIB). Enfeitiçadas por este índice, argumenta o autor, as sociedades – e junto com elas, a esquerda tradicional – fecham os olhos ao que está por trás dele. Passam a perseguir um “desenvolvimento” que significa, não raro, envenenamento da natureza, ampliação das desigualdades, aumento das jornadas de trabalho, consumo banal. Latouche esclarece que não propõe, como alternativa, a redução do PIB – mas uma “descolonização do imaginário”, que substitua valores como egoísmo, consumo ilimitado, obsessão pelo trabalho e eficiência produtivista por altruísmo, ampliação da vida social, direito ao lazer e apreciação das belas obras.
As sinergias perversas que a desigualdade social estabelece com a devastação da natureza – e a necessidade de rompê-las – são o tema do artigo de Ladislau Dowbor. Em “Inovação social e sustentabilidade”, ele examina e compara, com argúcia, quatro recentes relatórios internacionais sobre a situação das sociedades e do planeta. Um deles, produzido pela Universidade das Nações Unidas, constata, por exemplo, que 1% das famílias do planeta já acumula 40% da riqueza global, enquanto que a metade dos habitantes da Terra é obrigada a dividir 1%. A partir de dados como este, Ladislau provoca: “o modelo de consumo do planeta é o dos ricos. Por que razão não teriam todos os chineses e indianos direito a ter também, cada um, seu automóvel?” Esta lógica, diz ele, conduz a que “achemos normal mobilizar um carro de duas toneladas para levar nosso corpo de 70 quilos para postar no correio uma carta de 20 gramas...” Ladislau vê, como única alternativa, “pensar de maneira inovadora sobre os processos decisóros que regem o planeta e nosso quotidiano”. E conclui: “os desfios principais do planeta não consistem em inventar um chip mais veloz ou uma arma mais eficiente, mas em nos dotarmos de formas de organização social que permitam ao cidadão ter impacto sobre o que realmente importa”.
Devaneios? Susan George mostra que não. Em “Outra globalização é possível”, ela demonstra, por meio de um exemplo histórico quase esquecido, que não estamos condenados à ditadura dos mercados. Em 1942, ainda durante a II Guerra Mundial, o economista britânico John Maynard Keynes formulou, em detalhes, um projeto para reorganizar o comércio e as finanças internacionais, em bases muito distintas às que hoje prevalecem. Seu plano garantia, entre outros pontos, padrões mundiais de respeito aos direitos trabalhistas (penalizando com barreiras alfandegárias os produtos dos países que resistissem às normas); direito das sociedades a proteger suas indústrias nascentes; sustentação dos preços dos produtos primários; criação de mecanismos financeiros capazes de evitar a desigualdade no comércio entre as nações. Keynes acreditava nas virtudes do capital, mas o capitalismo real terminou por ignorar suas idéias. Há 65 anos, ele vislumbrou alguns dos riscos a que estavam submetidas as sociedades que entregam seu destino aos mercados. Diante do espectro da catástrofe climática, saberemos inventar lógicas sociais que superem a pequenez do cálculo econômico e estabeleçam o direito humano à construção consciente do futuro coletivo?
Escrito por Eduardo Stotz - Sociólogo e Prof.Pesquisador da ENSP

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Educação Ambiental e Qualificação de Agricultores Familiares


EDUCAÇÃO AMBIENTAL E QUALIFICAÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES PARA PROCESSOS DE TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA EM UM ASSENTAMENTO RURAL

AUTORES: MARINA REITER BRAUN E KELSEN FERREIRA FREITAS
AS034 – Tópicos em Sociedades e Ambiente
Prof. Dr. Sandro Tonso Prof. Dr. João Luiz de Moraes Höeffel

Janeiro – 2007

INTRODUÇÃO

Agricultura orgânica é um sistema agrícola que visa promover e realçar a saúde do meio ambiente, preservar a biodiversidade, os ciclos e as atividades biológicas do solo. Nesse sentido, a agricultura orgânica enfatiza o uso de práticas de manejo em oposição ao uso de elementos estranhos ao meio rural, excluindo o uso de fertilizantes sintéticos de alta solubilidade, agrotóxicos, reguladores de crescimento e aditivos para a alimentação animal, compostos sinteticamente. Sempre que possível baseia-se no uso de estercos animais, rotação de culturas, adubação verde, compostagem e controle biológico de pragas e doenças. A rotação de culturas é utilizada como forma de preservar a fertilidade do solo e o equilíbrio de nutrientes. Contribui também para o controle de pragas, pois o cultivo das mesmas culturas nas mesmas áreas poderia resultar no aparecimento de doenças e infestações. As monoculturas são evitadas. A diversidade é fator que traz estabilidade ao agrossistema, pois implica no aumento de espécies e na interação entre os diversos organismos. A prática de policultura promove maior biodiversidade no sistema agrícola, e dessa forma, faz com que herbívoros exibam taxas de colonização mais baixas, menor potencial reprodutivo, tempos de permanência mais curtos. Além disso, aumentam as barreiras ao encontro do hospedeiro e taxa de mortalidade por inimigos naturais são mais elevadas (Altieri et al. 2003).
Este sistema de produção busca a melhoria da qualidade de vida da população rural e urbana, com a oferta de alimentos biologicamente sadios, acessíveis à população, isentos de agentes prejudiciais ao organismo humano, visando a conservação do ambiente e o uso sustentável dos recursos naturais, como base para o fortalecimento da agricultura familiar.
Atualmente os produtos orgânicos conquistaram uma melhor aceitação no mercado, incentivando a conversão de produtores convencionais para agricultura orgânica. Porém, muitos produtores orgânicos ainda não utilizam práticas agroecológicas que visam a sustentabilidade do sistema, como, por exemplo, a diversificação temporal e espacial de culturas.
Segundo Stoll (1989), em sistemas agrícolas nos quais não são utilizados inseticidas sintéticos, há uma série de medidas diretas e indiretas para proteger os cultivos. Neste sentido já existem há muito tempo a “proteção integrada de cultivos” que dificultam a existência de pragas e seu crescimento populacional no cultivo. A proteção dos cultivos é um processo complexo. Entender a relação entre a fauna e a flora e os métodos de trabalho do produtor no cultivo são de importância fundamental. Por esse motivo, a proteção de cultivos não pode nunca consistir em uma única medida, sendo que requer, de acordo com cada cultivo, ano e região, medidas adequadas conforme o caso.
O conhecimento destas relações é um instrumento importante para a tomada de decisões na área de proteção de cultivos. O objetivo da proteção de cultivos não é assegurar a produção máxima. A proteção natural de cultivos é uma entre muitas medidas, e não pretende substituir as medidas preventivas existentes, e sim complementa-las. A curto prazo seu efeito não é tão eficiente como o de inseticidas sintéticos. Porém, a longo prazo, o método de proteção natural de cultivos apresenta as seguintes vantagens:
· Reduz o risco de resistência;
· Diminui a mortalidade dos inimigos naturais das pragas;
· Reduz o risco de aparição de pragas secundárias;
· É menos nocivo para o homem;
· Causa menos danos no meio ambiente, como contaminação do solo e da água com agroquímicos;
· Não causa dependência da compra de produtos agroquímicos;
· Diminui os custos financeiros.

A compreensão do modo pelo qual os agricultores estão efetivamente manejando seus sistemas agrícolas e de como isso influencia os resultados em termos de produtividade pode ser de grande interesse (Edwards, 1993). Assim, com objetivo de disseminação do conhecimento, a divulgação dessas informações se torna de suma importância.
A agricultura segue hoje um padrão de produção cuja hegemonia consolidou-se no período após a segunda Guerra mundial. Esse padrão é caracterizado pelo uso intensivo de insumos industriais e pela ênfase na alta resposta a esse uso e na quantidade produzida. Durante mais de três décadas praticamente não houve espaço para o questionamento desse padrão técnico moderno. As graves conseqüências que tal padrão apresenta, especialmente sobre o meio ambiente e sobre a saúde humana, fizeram surgir pressões por mudanças.
Essas pressões partiram de movimentos da sociedade civil, como cruzadas pela comida pura e saudável, e contracultura, o ambientalismo. Ao mesmo tempo, as crises monetárias e do petróleo fizeram com que também atores econômicos passassem a questionar a forma de produzir na agricultura, que é caracterizada pela preocupação com a integração dos objetivos econômicos e ambientais, com ênfase nos sistemas agrícolas sustentáveis e na qualidade dos alimentos. Nesse cenário, vários caminhos aparecem como possibilidades para o estabelecimento de sistemas agrícolas.
No Brasil, a agricultura alternativa deveria contribuir para a defesa do meio ambiente e da biodiversidade, para contrapor às desigualdades sociais, além de iserir em objetivos de crescimento endógeno e sustentabilidade.
Todavia, o aprofundamento teórico do termo sustentabilidade pode direcionar as ações de pesquisadores, extensionistas, legisladores e executores de políticas públicas. Tanto Flora (2001) quanto Röling (2000) definem sustentabilidade rural como uma “qualidade emergente de interações entre comunidades”, é o resultado de decisões coletivas que surge do diálogo entre aqueles que utilizam e gerenciam os recursos naturais, onde é possível moldar o futuro mantendo a integridade dos sistemas ecológicos dos quais dependem a vida e a produção. A formulação de sustentabilidade colocada desta maneira implica que construir sua definição já é parte da solução dos problemas hoje enfrentados, e alcançar concordância entre os atores sociais a respeito de sustentabilidade é grande passo em direção a ela (Röling et al, 2000).
Dentre as estratégias para agir em busca de sustentabilidade, na qual devemos compreender o agroecossistema de maneira multidimensional e entender a relação entre a agricultura, o ambiente e o homem, surge a agroecologia. A agroecologia define, classifica e estuda sistemas agrícolas sob uma perspectiva ecológica e socioeconômica, com o objetivo de fornecer as bases científicas de apoio ao processo de produção sustentável e à transição do atual modelo agrícola industrial para estilos de agriculturas sustentáveis (Caporal et al, 2002a; 2002b).
Como bem coloca Caporal et al (2007), em agroecologia o conceito de transição ecológica tem importância vital, e se dá num processo gradual e multilinear de mudança através do tempo. A tomada de decisão que leva à transição agroecológica não depende apenas de uma racionalidade simples que somente envolve questões econômico-produtivas, mas sim implica numa mudança nas atitudes e valores dos atores sociais em relação ao gerenciamento e manejo da operação agrícola. Desta maneira, projetos e ações que dêem suporte à prática de desenvolvimento participativo se fazem necessários para que os obstáculos ao desenvolvimento local sejam transpostos (Petersen et al, 1999).
Como exemplo de ação neste sentido inclui-se a Rede Regional de Agroecologia Mantiqueira-Mogiana. Com parceria do Laboratório de Entomologia Aplicada (LEA-IB, sob a coordenação do Prof. Mohamed Habib), a Rede Regional realiza programas de intercâmbio de experiências em fundamentos agroecológicos através da articulação entre agricultores e instituições de pesquisa e de extensão rural, como a EMBRAPA e a UNICAMP, no sentido de promover o estudo e a disponibilização de tecnologias apropriadas que atendam a pequenos agricultores, em especial aqueles de âmbito familiar (Mangabeira et al, 2004).
Em outros projetos, os técnicos que prestam assistência aos agricultores, a suas organizações e a comunidades rurais têm profissões diversas – economistas, assistentes sociais, administradores, agrônomos, veterinários, biólogos – e quase em sua totalidade, foram preparados para trabalhar individualmente e para perceber e atacar os problemas como se fossem isolados (Schimidt & Lovato 2006).
Apesar da “conversão” do sistema rural ser fácil mente absorvido e colocado em prática pela maioria dos produtores, uma certa dependência em relação aos conselhos dos técnicos e a falta de uma visão mais sistêmica da unidade produtiva geram uma certa acomodação do agricultor em relação à evolução dos seus sistemas de produção em direção da agroecologia. O que se constata é que a maioria dos agricultores orgânicos associados aos projetos de conversão, apesar de terem participado de capacitações, palestras, reuniões ou cursos, não aprendem os princípios que norteiam a produção agroecológica.
Nesse caso o papel do técnico também precisa ser considerado, pois a tendência a uma ação paternalista geradora de dependência é agravada pela diminuição do tempo disponibilizado para atender diretamente e com qualidade os agricultores. Com esse quadro, vemos que o ideal para se formar um coletivo, que consiga manter a conversão e não dependa diretamente dos técnicos que auxiliaram na conversão, seja o de realizar um trabalho baseado em uma visão mais ampla de desenvolvimento rural considerando fundamental a análise das possibilidades dos atores sociais que ainda permanecem intimamente ligados à produção da terra, seja na agricultura ou na criação animal, seja na atividade florestal ou no manejo dos recursos naturais (Silva, 2006). Tais atividades geralmente estão associadas a um profundo conhecimento do sistema agrícola, e as formas de organização social que não podem ser omitidas da pesquisa agroecológica (Altieri & Nicholls, 2006)
Segundo Silva (2006), é necessário aprofundar a reflexão sobre propostas de transição para a agroecologia que constituam, para além de uma mudança técnico econômica. E que os resultados desta proposta de conversão dependerão, sobretudo, da receptividade e da disposição para a construção conjunta de ações por parte dos atores sociais envolvidos. Deve-se então levar em conta que tal construção conjunta será permanente, além disso, a busca da sustentabilidade através da agroecologia já se mostrou factível e pode ser um instrumento de viabilização da agricultura familiar no processo de desenvolvimento de uma comunidade.

OBJETIVO

Incorporar conceitos da agroecologia, princípios e perspectivas como a confiança no protagonismo popular e a construção a partir das pessoas – e pelas pessoas- e do conhecimento por elas já acumulado. Assim, as pessoas envolvidas são o conteúdo principal nos processos de formação, de organização e de produção.
Como conseqüência espera-se a valorização dos processos e das relações; o respeito à individualidade e a valorização da subjetividade humana. Além de permitir a interação entre o s atores para que a conversão do sistema rural seja bem sucedida, e que haja manutenção da mesma pelos atores envolvidos.


Material e Métodos

Tem sido recorrente o uso de metodologias participativas nas práticas de extensão rural e investigação científica realizada pela Rede Regional. Esta característica gera grande coerência quando integrada à ação agroecológica, em especial aquela que se refere à transição agroecológica. Segundo Gliessman (2000), o enfoque agroecológico para ). As metodologias propostas neste projeto buscam fazer com que o grupo acadêmico universitário realize a leitura da realidade conjuntamente com agentes internos à comunidade., deve partir do conhecimento local que, aliado ao conhecimento científico abrirá espaço para a construção e expansão de novos saberes socioambientais, alimentando assim, permanentemente, o processo de transição agroecológica.
O atual projeto se pautará também em metodologias participativas, para que seja estabelecida uma relação entre teoria e prática que implique num processo centrado na reflexão-ação para a transformação de uma realidade (Deponti et al, 2002). As metodologias propostas neste projeto buscam fazer com que o grupo acadêmico universitário realize a leitura da realidade conjuntamente com agentes internos à comunidade. Quando isso ocorre, estes agentes passam a participar dos processos decisórios de forma que se comprometam com o planejamento, com a implementação e fundamentalmente com os resultados do projeto, apropriando-se assim efetivamente do seu próprio desenvolvimento (Petersen et al, 1999).
O projeto tem como objetivo trabalhar com o Assentamento Rural de Sorocaba localizado, em parte, na Floresta Nacional de Ipanema–SP. O assentamento compreende é formado atualmente por 700 famílias, que ocupam a área desde Maio de 1992. No momento apenas 6% dos produtores trabalham com agricultura orgânica, resultante de trabalhos de conscientização anteriores. Apesar disso, cerca de 60% dos produtores não utilizam agrotóxicos e inseticidas em seus cultivos, devido principalmente ao alto custo associado. A ação deste projeto de extensão comunitária envolverá inicialmente todos os agricultores e suas respectivas unidades de produção.

Apresentação do projeto aos produtores rurais
A partir do encontro com os agricultores, sabendo-se a realidade e o sistema rural de produção de cada produtor, pretende-se:
· Identificar os produtores que já trabalham com o sistema de produção orgânico, mas, não agroecológico e também os produtores que desenvolvem o sistema de produção tradicional;
· Desenvolver reuniões entre os agricultores orgânicos e não orgânicos, sensibilizando-os da importância do desenvolvimento de práticas agrícolas sustentáveis e egroecológicas;
· planejamento, implementação e desenvolvimento do projeto junto aos agricultores.

Registro do processo de transição
O processo de transição agroecológica deve ser um processo permanente de reflexão e ação (Gliessman, 2000; Caporal et al, 2002b), e gera uma demanda que implica em aperfeiçoamento constante das metodologias utilizadas para apoiar o processo de transição. Os processos cíclicos envolvidos no uso de instrumentos de avaliação de sustentabilidade evidenciam a importância de se realizar registros da metodologia para que a nova, a ser empregada, traga avanços no processo de construção de saberes necessários às transformações buscadas (López-Ridaura et al, 2000).
Cadernos e diários, fotografias e registro em vídeo são algumas das ferramentas propostas para contribuir na etapa de apresentação, integração e validação das informações obtidas.

Resultados Esperados e Abrangência da Ação Extensionista

As atividades de extensão universitária têm seu valor agregado à promoção de uma ação social coletiva e de caráter participativo e envolvente, que traga o enriquecimento das atividades acadêmicas e o desenvolvimento local da comunidade – objeto e sujeito da ação de projetos de extensão.
Através dos resultados buscados, os agricultores estarão - a partir das discussões acumuladas, material didático produzido e registro do caminho percorrido - melhor instrumentalizados para o manejo dos cultivos e da operação agrícola. Por tratar-se de um assentamento rural, com mais de 700 propriedades familiares, o sucesso obtido poderá servir como plano piloto para atrair e gerar o interesse de mais agricultores, estancando gradualmente as formas produtivas que degradam e espoliam a natureza e a sociedade.
CRONOGRAMA

I – Conhecimento do local
II – Encontro com os agricultores (sensibilização e discussões)
III – Processo de transição agroecológica permanete
IV – Registro do processo de transição
V – Levantamento bibliográfico
VI – Análise dos resultados obtidos


REFERÊNCIAS

Altieri, M.A.; Silva, E.N. & Nicholls. O papel da biodiversidade no manejo de pragas. Holos. Ribeirão Preto, C.I. 2003
Altieri, M.A.; Silva, E.N. & Nicholls. 2006. In: Lovato, P. M. & W. Schimidt. (orgs). Agroecologia e sustentabilidade no meio rural. Argos. Chapecó.
Caporal, F.R.& Costabeber, J.A. 2002a. Agroecologia: Enfoque científico e estratégico. In: Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v.3(2): 13-16.
Caporal, F.R.& Costabeber, J.A. 2002b. Análise Multidimensional da Sustentabilidade: Uma proposta metodológica a partir da Agroecologia. In: Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v.3(3): 70-85.
Caporal, F.R. & Costabeber, J.A. 2007. Extensão Rural e Agroecologia. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA.
Deponti, C.M.; Córdula, E. & Azambuja, J.L.B. 2002. Estratégia para construção de indicadores para avaliação da sustentabilidade e monitoramento de sistemas. In: Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável. Porto Alegre. v.3(4): 44-52.
Edwards, R. J. A. 1993. Monitoramento de sistemas agrícolas como forma de experimentação com agricultures. Agricultores na pesquisa 5. Rio de Janeiro, AS-PTA.
Flora, C. 2001. Interactions Between Agroecosystems and Rural Communities, Editora CRC, Nova York, EUA.
Gliessman, S.R.. 2000. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. Editora da Universidade, UFRGS. Porto alegre.
Mangabeira, J. A. de C.; Corrales, F. M.; Rossi, A. de S. & Romeiro, A. R. 2004. Rede de Agroecologia Mantiqueira-Mogiana: um sistema de informações integradas na gestão rural sustentável. Circular Técnica da Embrapa nº 7, Campinas, SP. Petersen, P. & Romano, J. O., org. 1999. Abordagens Participativas para o Desenvolvimento Local. Rio de Janeiro, RJ. AS-PTA / Actionaid-Brasil.
Röling, N. G. & Wagemakers, M. A. E. ed. 2000. Facilitating Sustainable Agriculture: participatory learning and adaptive management in times of environmental uncertainty, Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom.
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Silva, J. B. 2006. Conquistas, perigos e dilemas de uma proposta de implantação de Agroecologia: o caso de Colombo (PR). In: Lovato, P. M. & W. Schimidt. (orgs). Agroecologia e
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Stoll, G. Proteccion natural de cultivos em las zonas tropicales. Weikersheim, Editorial científica Josef Margraf, 1989

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Notícias

Um ano de moratória da soja! Um ano depois da moratória da soja, governo, indústria e ONGs se reúnem para fazer um balanço da iniciativa para reduzir o desmatamento na Amazônia. Segundo o Greenpeace passos importantes foram dados e, ainda que o saldo seja positivo, há muito trabalho a ser feito. Confira o especial sobre a moratória.

Mentiras e manipulação no vazamento nuclear do JapãoUma equipe do Greenpeace visitou Kashiwasaki-Kariwa, a maior usina nuclear do mundo. Além de um vazamento nuclear mil vezes maior do que o anunciado, encontraram mentiras e muitas pessoas que não faziam idéia dos riscos que estavam correndo. O Japão, em pleno verão, passa por racionamento de energia por depender apenas de fonte nuclear. Saiba mais.

http://www.greenpeace.org.br