IMPOSTOS EM SÃO PAULO

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

BELO MONTE_A VOLTA TRIUNFANTE DA DITADURA MILITAR?

O Governo Lula possui méritos inegáveis na questão social. Mas na questão ambiental é de uma inconsciência e de um atraso palmar. Ao analisar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) temos a impressão de sermos devolvidos ao século XIX. É a mesma mentalidade que vê a natureza como mera reserva de recursos, base para alavancar projetos faraônicos, levados avante a ferro e fogo, dentro de um modelo de crescimento ultrapassado que favorece as grandes empresas à custa da depredação da natureza e da criação de muita pobreza. Este modelo está sendo questionado no mundo inteiro por desestabilizar o planeta Terra como um todo e mesmo assim é assumido pelo PAC sem qualquer escrúpulo. A discussão com as populações afetadas e com a sociedade foi pífia. Impera a lógica autoritária; primeiro decide-se depois se convoca a audiência pública. Pois é exatamente isto que está ocorrendo com o projeto da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu no Estado do Pará. Tudo está sendo levado aos trambolhões, atropelando processos, ocultando o importante parecer 114/09 de dezembro de 2009, emitido pelo IBAMA (órgão que cuida das questões ambientais) contrário à construção da usina, a opinião da maioria dos ambientalistas nacionais e internacionais que dizem ser este projeto um grave equívoco com consequências ambientais imprevisíveis. O Ministério Público Federal que encaminhou processos de embargo, eventualmente levando a questão a foros internacionais, sofreu coação da Advocacia Geral da União (AGU), com o apoio público do Presidente, de processar os procuradores e promotores destas ações por abuso de poder. Esse projeto vem da ditadura militar dos anos 70. Sob pressão dos indígenas apoiados pelo cantor Sting em parceria com o cacique Raoni foi engavetado em 1989. Agora, com a licença prévia concedida no dia 1º de fevereiro, o projeto da ditadura pôde voltar triunfalmente, apresentado pelo Governo como a maior obra do PAC. Neste projeto tudo é megalômano: inundação de 51.600 ha de floresta, com um espelho d'água de 516 km2, desvio do rio com a construção de dois canais de 500m de largura e 30 km de comprimento, deixando 100 km de leito seco, submergindo a parte mais bela do Xingu, a Volta Grande e um terço de Altamira, com um custo entre 17 e 30 bilhões de reais, desalojando cerca de 20 mil pessoas e atraindo para as obras cerca de 80 mil trabalhadores para produzir 11.233 MW de energia no tempo das cheias (4 meses) e somente 4 mil MW no resto do ano, para por fim, transportá-la até 5 mil km de distância. Esse gigantismo, típico de mentes tecnocráticas, beira a insensatez, pois, dada a crise ambiental global, todos recomendam obras menores, valorizando matrizes energéticas alternativas, baseadas na água, no vento, no sol e na biomassa. E tudo isso nós temos em abundância. Considerando as opiniões dos especialistas podemos dizer: a usina hidrelétrica de Monte Belo é tecnicamente desaconselhável, exageradamente cara, ecologicamente desastrosa, socialmente perversa, perturbadora da floresta amazônica e uma grave agressão ao sistema-Terra. Este projeto se caracteriza pelo desrespeito: às dezenas de etnias indígenas que lá vivem há milhares de anos e que sequer foram ouvidas; desrespeito à floresta amazônica cuja vocação não é produzir energia elétrica mas bens e serviços naturais de grande valor econômico; desrespeito aos técnicos do IBAMA e a outras autoridades científicas contrárias a esse empreendimento; desrespeito à consciência ecológica que devido às ameaças que pesam sobre o sistema da vida, pedem extremo cuidado com as florestas; desrespeito ao Bem Comum da Terra e da Humanidade, a nova centralidade das políticas mundiais. Se houvesse um Tribunal Mundial de Crimes contra a Terra, como está sendo projetado por um grupo altamente qualificado que estuda a reinvenção da ONU sob a coordenação de Miguel d'Escoto, ex-Presidente da Assembléia (2008-2009) seguramente os promotores da hidrelétrica Monte Santo estariam na mira deste tribunal. Ainda há tempo de frear a construção desta monstruosidade, porque há alternativas melhores. Não queremos que se realizem as palavras do bispo Dom Erwin Kräutler, defensor dos indígenas e contra Belo Monte: "Lula entrará na história como o grande depredador da Amazônia e o coveiro dos povos indígenas e ribeirinhos do Xingu".
Leonardo Boff é representante e co-redator da Carta da Terra.
PS Queiram escrever para esses e-mails oficiais seja da Presidência da República, seja do Ministério do Meio Ambiente, seja do IBAMA e demais autoridades para reforçar a campanha da suspenção do projeto da construção da Unsina Hedrelétrica de de Belo Monte no Xingu, por amor aos povos indígenas, à Amazônia e à Mãe Terra.
Emails: gabinete@planalto.gov.br
gabinete@mme.gov.br
carlos.minc@mma.gov.br
roberto-messias.franco@ibama.gov.br  
 deborah@pgr.mpf.gov.br
jose.coimbra@mme.gov.br
 secex@mme.gov.br
ouvidoria.geral@mme.gov.br
vitor.kaniak@ibama.gov.br
izabella.teixeira@mma.gov.br ,
rbja@fase.org.br 
Ao Sr. Presidente da Republica Luiz Inácio Lula da Silva
Ao Sr. Ministro de Energia Edison Lobão
Ao Sr Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc
Ao Sr. Presidente do IBAMA Roberto Messias Franco
A Subprocuradora geral da Republica sra Débora Duprat
Ao Secretário-Executivo do MME Márcio Pereira Zimmermann
Ao Chefe de Gabinete do MME José Antonio Corrêa Coimbra
A Secretaria Executiva do MMA Izabella Mônica Vieira Teixeira
Ao Secretario de energia Elétrica do MME Josias Matos de Araujo
Ao Chefe de Gabinete do IBAMA Sr Vitor Carlos Kaniak
ESSE ARTIGO CONVOCATÓRIA é um retomada necessaria de luta e foi repassada ao Blog por Leonardo Boff e VITOR BUAIZ que após um periodo sem aparecer frente a lutas sociais , ambientais e políticas, RETOMA com FORÇA e POR CAUSA mais que justa , CORROBORANDO assim com o teor da menssagem de Boff.
JUNTOS SOMOS FORTES, a Luta companheiros!
Referencias sobre estudos e pareceres de impactos sociais e ambientais:
http://www.riosvivos.org.br/canal.php?c=34&mat=1455009
Especialistas questionam estudos e viabilidade de Belo Monte
Texto completo dos pareceres dos especialistas para baixar:  http://tinyurl.com/ykjplsu
Resumo Executivo dos pareceres para baixar: http://tinyurl.com/yhsxfjw
 http://www.youtube.com/watch?v=ZmOozYXozb8
Cenas gravadas na Aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto/Jarina, entre os dias 28 de outubro e 4 de novembro de 2009. Nesse período, os ministros do Meio Ambiente e Minas e Energia foram convidados a ir ao Xingu para discutir os impactos da obra de construção da usina de Belo Monte na região.


O que é a CARTA DA TERRA?
copie e cole no seu navegador o endereço:
http://www.earthcharterinaction.org/invent/images/uploads/ECTG%20%28Portuguese%29.pdf
COMENTÁRIOS       parabens pelo blog...
Na musica country VIRGINIA DE MAURO a LULLY de BETO CARRERO vem fazendo o maior sucesso com seu CD MUNDO ENCANTADO em homenagem ao Parque Temático em PENHA/SC. Asssistam no YOUTUBE sessão TRAPINHASTUBE, musicas como: CAVALEIRO DA VITÓRIA, MEU PADRINHO BETO CARRERO, ENTRE OUTRAS...VIRGINIA DE MAURO a LULLY é o sonho eterno de BETO CARRERO e a mão de DEUS.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A SOCIEDADE MUNDIAL DA CEGUEIRA


Leonardo Boff * O poeta Affonso Romano de Sant'Ana e o prêmio Nobel de literatura, o português José Saramago, fizeram da cegueira tema para críticas severas à sociedade atual, assentada sobre uma visão reducionista da realidade. Mostraram que há muitos presumidos videntes que são cegos e poucos cegos que são videntes. Hoje propala-se pomposamente que vivemos sob a sociedade do conhecimento, uma espécie de nova era das luzes. Efetivamente assim é. Conhecemos cada vez mais sobre cada vez menos. O conhecimento especializado colonizou todas as áreas do saber. O saber de um ano é maior que todo saber acumulado dos últimos 40 mil anos. Se por um lado isso traz inegáveis benefícios, por outro, nos faz ignorantes sobre tantas dimensões, colocando-nos escamas sobre os olhos e assim impedindo-nos de ver a totalidade.O que está em jogo hoje é a totalidade do destino humano e o futuro da biosfera. Objetivamente estamos pavimentando uma estrada que nos poderá conduzir ao abismo. Por que este fato brutal não está sendo visto pela maioria dos especialistas nem dos chefes de Estado nem da grande mídia que pretende projetar os cenários possíveis do futuro? Simplesmente porque, majoritariamente, se encontram enclausurados em seus saberes específicos nos quais são muito competentes mas que, por isso mesmo, se fazem cegos para os gritantes problemas globais. Quais dos grandes centros de análise mundial dos anos 60 previram a mudança climática dos anos 90? Que analistas econômicos com prêmio Nobel, anteviram a crise econômico-financeira que devastou os países centrais em 2008? Todos eram eminentes especialistas no seu campo limitado, mas idiotizados nas questões fundamentais. Geralmente é assim: só vemos o que entendemos. Como os especialistas entendem apenas a mínima parte que estudam, acabam vendo apenas esta mínima parte, ficando cegos para o todo. Mudar este tipo de saber cartesiano desmontaria hábitos científicos consagrados e toda uma visão de mundo.É ilusória a independência dos territórios da física, da química, da biologia, da mecânica quântica e de outros. Todos os territórios e seus saberes são interdependentes, uma função do todo. Desta percepção nasceu a ciência do sistema Terra. Dela se derivou a teoria Gaia que não é tema da New Age; mas, resultado de minuciosa observação científica. Ela oferece a base para políticas globais de controle do aquecimento da Terra que, para sobreviver, tende a reduzir a biosfera e até o número dos organismos vivos, não excluídos os seres humanos.Emblemática foi a COP-15 sobre as mudanças climáticas em Copenhague. Como a maioria na nossa cultura é refém do vezo da atomização dos saberes, o que predominou nos discursos dos chefes de Estado eram interesses parciais: taxas de carbono, níveis de aquecimento, cotas de investimento e outros dados parciais. A questão central era outra: que destino queremos para a totalidade que é a nossa Casa Comum? Que podemos fazer coletivamente para garantir as condições necessárias para Gaia continuar habitável por nós e por outros seres vivos?Esses são problemas globais que transcendem nosso paradigma de conhecimento especializado. A vida não cabe numa fórmula, nem o cuidado numa equação de cálculo. Para captar esse todo precisa-se de uma leitura sistêmica junto com a razão cordial e compassiva, pois é esta razão que nos move à ação.Temos que desenvolver urgentemente a capacidade de somar, de interagir, de religar, de repensar, de refazer o que foi desfeito e de inovar. Esse desafio se dirige a todos os especialistas para que se convençam de que a parte sem o todo não é parte. Da articulação de todos estes cacos de saber, redesenharemos o painel global da realidade a ser compreendida, amada e cuidada. Essa totalidade é o conteúdo principal da consciência planetária, esta sim, a era da luz maior que nos liberta da cegueira que nos aflige.
[Autor de A nova era: a consciência planetária, Record (2007)]
* Teólogo, filósofo e escritor
A Agentes da Cidadania pede passagem:
http://www.agentesdacidadania.org.br/
MEMÓRIA DO BLOG: "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA" POSTADO EM 8 DE DEZEMBRO DE 2008
 conta a história de uma inédita epidemia de cegueira, inexplicável, que se abate sobre uma cidade não identificada. Tal "cegueira branca" - assim chamada, pois as pessoas infectadas passam a ver apenas uma superfície leitosa - manifesta-se primeiramente em um homem no trânsito e, lentamente, espalha-se pelo país. Aos poucos, todos acabam cegos e reduzidos a meros seres lutando por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. À medida que os afetados pela epidemia são colocados em quarentena e os serviços do Estado começam a falhar, a trama segue a mulher de um médico, a única pessoa que não é afetada pela doença.O foco do filme, no entanto, não é desvendar a causa da doença ou sua cura, mas mostrar o desmoronar completo da sociedade que, perde tudo aquilo que considera civilizado. Ao mesmo tempo em que vemos o colapso da civilização, um grupo de internos tenta reencontrar a humanidade perdida. O brilho branco da cegueira ilumina as percepções das personagens principais, e a história torna-se não só um registro da sobrevivência física das multidões cegas, mas, também, dos seus mundos emocionais e da dignidade que tentam manter. Mais do que olhar, importa reparar no outro. Só dessa forma o homem se humaniza novamente.
A CAMINHO DO SUL VISITE:quilombosdoribeira.org.br,

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

SOBRE DIÁLOGOS DO DESENVOLVIMENTO,O URÂNIO E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL

Consolida se no Brasil ,uma elite de políticos. Estratégicamente vai  se colocando as peças no tabuleiro do jogo político .As RELAÇÕES  Internacionais no Brasil passam, a meu ver , por vários BRASIS - como disse certa vez BETINHO que antecipou durante a ditadura militar o MOVIMENTO INSTITUINTE contra a FOME. "Somos varios BRASIS" dizia êle. Hoje,a região CENTRO OESTE - mais especificamente MATO GROSSO,através de seu governador,conhecido pela mídia internacional como O ESTUPRADOR DA AMAZONIA e que submete  diretamente  às NAÇÕES UNIDAS  (PNUD) o seu projeto do  INDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO,(IDH), o agronegócio. Ao colocar a FLORESTA AMAZONICA 90% abaixo para o plantio da SOJA,consolidou o caminho aberto pelo então Ministro de Ciencia e Tecnologia Sergio Rezende e posteriormente Dilma Rousseff. Nos vemos hoje diante de uma sociedade capitalista que avançou muito,sem dúvida nenhuma, com uma forte presença estatal para negociar essas relaçoes internacionais com empresas estrangeiras. É só ver o que acontece em Minas Gerais,na SERRA DO ESPINHAÇO transformada em reserva do Sr Eyke Batista em parceria com a multinacional inglesa. ( VER EM:http://educomambiental.blogspot.com/2010/02/anglo-ferrous-mmx-mineradoras-devastam.html) Além,das questões dos TRANSGÊNICOS, vem aí a questão NUCLEAR BRASILEIRA,suas relações com o IRÃ e a implantação de usinas nucleares na BAHIA onde já há uma enorme extração de URÂNIO.Coloco abaixo um trecho de uma reflexão de pessoas que tem se envolvido há anos ( sete ou mais) neste tema da chamada "ENERGIA LIMPA"
Postado por Odila Fonseca
2001- a herança - mal_dita ou bem_dita
1-"Recentemente o Greenpeace denunciou um vazamento que levou a empresa a receber uma multa de R$1 milhão de reais do Ibama. Em 2000, primeiro ano de operação da mina, a INB tentou esconder que 5 milhões de litros de licor de urânio foram liberados no meio ambiente. As autoridades foram informadas sobre o caso seis meses depois, também por denúncia, dessa vez,do Ministério Público."    
2-No verão de 2004, chuvas excessivas atingiram a área da mina e a bacia de retenção da mina transbordou sete vezes, liberando efluentes líquidos com concentração de urânio-238, tório-232 e rádio-226 no leito do Riacho das Vacas. Em função da avaliação dos impactos desse acidente e das condições de operação da mina da INB, os fiscais da CNEN elaboraram parecer técnico solicitando a paralisação das atividades de mineração em Caetité e a não-renovação da licença de operação."
DIÁLOGOS SOCIOAMBIENTAIS 17 de fevereiro 2010
...."E aproveito para fazer algumas considerações sobre a matéria de "A Tarde". Ao contrário do que afirma o jornal, nâo é a primeira vez que o Governador baiano fala em trazer a usina para a Bahia, numa disputa que vem rolando entre os estados nordestinos, desde que o setor nuclear intensificou seu agressivo lobby em vários países da América Latina, com forte influência nos setores legislativos e da política energética, tentando impor a ampliação do uso da tecnologia nuclear, sob o falso argumento de que a energia atômica é uma fonte "limpa", segura e ajuda a combater o aquecimento global. Há muito se noticia o interesse baiano e, na véspera do Ano Novo/2010, a Uol Noticias revelava que o governador informara ter pedido ao governo federal para ser contemplado com a usina. Disse até que a Bahia teria mais chance de vencer a concorrência porque já tem a reserva de urânio em exploraçâo em Caetité, que, como sabemos, vem contaminando a água consumida por seres humanos e animais, além de impactar de forma irreversível o meio ambiente. Também em dezembro passado, a Eletrobrás Nuclear S.A (Eletronuclear), responsável pela operação e construção de usinas nucleares, anunciou que até este mês de fevereiro, levaria ao Ministério das Minas e Energia a indicaçâo das microrregiões que poderão abrigar as usinas planejadas para o Nordeste. Agora fala que o parecer técnico deverá chegar ao MME até o meio do ano. Falam também que o presidente Lula vai receber o estudo de viabilidade da localização em dois meses, batendo o martelo sobre a questão. Entre um e outro balão-de-ensaio o que se sabe é que o assunto vem sendo tocado nos gabinetes, não indo para o debate popular. Assim, pode ser até que o governador já saiba que a Bahia, por uma escolha política, sediará uma das usinas. Isto explicaria sua declaração de guerra pré-carnavalesca de que vai brigar pra trazer a usina para a Bahia? Só nâo procuraram saber o que o povo pensa. E para refrescar a memória, lembramos que a sociedade civil da Bahia, através de organizações e movimentos sociais e populares, que vem questionando os rumos da política energética do país e repelindo a ameaça de nuclearização da região, entregou, em 2007, manifesto ao entâo eleito governador, Jaques Wagner, defendendo o emprego de fontes limpas e renováveis de energia contra o uso da fonte nuclear. A resposta ao documento foi a promessa vâ de dialogar...Desde entâo, à medida que os desacertos técnicos e operacionais da INB, em Caetité, foram ficando mais evidentes, outros documentos já foram entregues ao governador, reivindicando o urgente controle social das instalações atômicas do país, reafirmando nosso repúdio ao Programa Nuclear Brasileiro, que tenta impor a conclusão de Angra 3, a construção de usinas nas margens do Rio São Francisco, acordos nucleares com países sul-americanos e a instalação de usina na Bahia. De nossa parte, temos feito um esforço para discutir esta questão, desde 2005 e sempre reafirmando a posição dos movimentos socioambientalistas desde então. Em Caetité e Lagoa Real, a repercussâo desta matéria foi a pior possível. Ela só evidenciou, mais uma vez, a grande distância entre o projeto desenvolvimentista do governo e a omissâo do estado perante as demandas por segurança em saúde e alimentação das comunidades, obrigadas a beber água condenada pelo próprio Estado, porque os governantes só lhes dâo uma opção: morrer (de sede) ou morrer (por contaminação).Ao que parece, nosso pós-carnaval, portanto, não será muito divertido...Zoraide"

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

ERA UMA VEZ "BELO MONTE" DE TÃO BELO DESPERTOU A SEDE INSASIÁVEL DOS MONSTROS

Era uma vez um "Belo Monte". Tão belo que despertou a sede insaciável dos  monstros que vieram para ficar e somente deixarão a terra que há anos ocupam, quando se apropriarem de vez, de todos os rios, todos os minérios, toda a biodiversidade do pulmão do mundo que, já em estado grave, clama pela resistência ativa de seus habitantes naturais: os povos da floresta. A vila de Belo Monte fica localizada nas proximidades do rio Xingu, Estado do Pará, no coração da selva amazônica, próxima à cidade de Altamira. É ali, onde a bacia do Xingu tem a mesma biodiversidade em peixes que toda a Europa, que o governo brasileiro - tomando o nome da vila - pretende construir uma das maiores hidrelétricas do mundo. Este é um projeto do tempo da ditadura militar, data dos anos 70. Originalmente, previa a construção de cinco usinas na região. Desde então, os povos indígenas, os ribeirinhos, a população da região, ambientalistas e a Igreja local vêm lutando contra este projeto. Em 1989, os índios realizaram o "Primeiro Encontro das Nações Indígenas do Xingu", que alcançou repercussão  nacional e internacional. Pouco depois deste encontro, o Banco Mundial negou o suporte financeiro e o projeto foi arquivado. Mas não foi abandonado. Agora, por iniciativa do governo Lula, ele volta com toda a força, como parte dos projetos do PAC. Para acalmar a resistência ao projeto, o governo reduziu a proposta de cinco para uma única usina.O governo afirma que ela gerará 11.233 megawatts. No entanto, é sabido que essa potência só será produzida durante apenas quatro meses, nos demais o máximo que se conseguirá é 4.000 MW, ou seja, um terço do anunciado. O volume de terra a ser retirado para formar os canais será tão grande quanto aquele escavado para a construção do canal do Panamá! Milhares de pessoas dos municípios de Altamira, Vitória do Xingu e Brasil Novo serão retiradas de suas terras compulsoriamente, tornando-se mais pobres. Um terço da cidade de Altamira ficará submerso. Os estudiosos afirmam que a construção de uma usina é apenas uma etapa: o projeto seria financeiramente deficitário se se limitasse a uma única usina. Aprovada e iniciada a primeira, o projeto das outras quatro virá necessariamente. Profundos impactos serão causados na fauna e na flora; haverá comprometimento da navegabilidade, da pesca, da agricultura; animais serão extintos e os modos de vida locais se perderão em definitivo; grandes áreas de bosques serão inundadas. Cem quilômetros do rio Xingu, um afluente do Amazonas - com largas cachoeiras e fortes corredeiras, arquipélagos, florestas, canais naturais rochosos - se tornarão secos ou serão reduzidos a um filete de água! E, isto, logo após a Conferência de Copenhague sobre a gravidade da questão ambiental no mundo atual. Para fazer aprovar este projeto, o governo vem passando por cima de uma série de exigências: seriam necessárias 27 audiências públicas, foram feitas apenas 4 e, mesmo assim, os principais interessados, os indígenas, ou não tiveram acesso ou tiveram seu acesso dificultado. O Ministério Público do Pará denunciou este fato. Para fazer o IBAMA conceder a licença ambiental, houve pressão sobre seus funcionários: dois deles deixaram o órgão no final do ano passado em função disso. O Ministério das Minas e Energia (Edson Lobão) e o Ministério do Meio Ambiente (Carlos Minc) pressionaram para que a licença ambiental fosse concedida e o fosse o quanto antes. E assim foi. Não satisfeito com este procedimento autoritário, a Advocacia Geral da União (AGU), logo em seguida à concessão da licença, lançou uma nota - apoiada pelo Presidente da República - ameaçando processar os membros do Ministério Público que venham a colocar em questão a licença concedida ou o próprio projeto. Os meios de comunicação observaram que esta posição da AGU é inédita. Na verdade, é um retorno às práticas da ditadura: foi assim que os militares construíram suas grandes obras, seus grandes projetos (inundação das Cataratas de Sete Quedas, a construção das barragens de Tucuruí e tantas outras, a Transamazônica, a usina nuclear de Angra dos Reis, o "Brasil Potência", o "Brasil, ame-o ou deixe-o"...). Foi passando por cima da sociedade, dos povos indígenas - que não deveriam ser um empecilho ao "progresso" -, das populações ribeirinhas, dos atingidos pelas barragens, do respeito ao meio ambiente.O Brasil deixou de ser ditadura há 25 anos e, num regime democrático, a sociedade tem o direito de se manifestar, de protestar quando percebe que projetos governamentais vão trazer prejuízo para a população. Finda a ditadura, graças à mobilização do conjunto da sociedade civil, dos movimentos sociais, das entidades de defesa dos direitos humanos, das Igrejas, construiu-se uma Constituição que restabeleceu as liberdades democráticas, ampliou os instrumentos de participação social e de defesa da sociedade contra os abusos do poder. Um destes instrumentos de defesa criados pela Constituição foi o Ministério Público. Esta instituição deve ter absoluta liberdade de ação: opor ameaças ao seu trabalho é reeditar comportamentos diante dos quais não nos calaremos. Não passem por cima da Constituição Cidadã: ditadura, nunca mais! O objetivo principal da energia que será gerada em Belo Monte é atender às necessidades das grandes empresas já instaladas ou que vão se instalar na região ou em suas proximidades; o que importa são os resultados financeiros para as empreiteiras privadas, para as estatais (seja Odebrecht, Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Chesf, Furnas, Eletronorte, Eletrosul) e para os Bancos. Falou-se, inicialmente, de um custo de 6,7 bilhões; agora já se fala em 30 bilhões. Segundo o pesquisador Oswaldo Sevá, trata-se de "um projeto absurdo, [que] foi imaginado por gente que só pensa em dinheiro". Um conjunto de pesquisadores insiste que há muitas alternativas para gerar energia elétrica no Brasil sem destruir o meio ambiente, sem prejudicar os habitantes (em particular, os povos indígenas), de forma limpa e mais inteligente. Entre outras coisas, eles mostram que é pouco sensato construir uma usina na Amazônia e depois ter de construir enormes redes de transmissão para levar esta energia para outras regiões. Após ter revisado toda a produção e distribuição de energia já existente no Brasil, o que economizaria uma energia muito maior do que Belo Monte pode produzir, o governo brasileiro deveria concentrar-se no investimento das energias alternativas que são hidrelétricas, sim, mas pequenas - nunca grandes - energia eólica - que eles demonstram que pode produzir dez vezes mais energia que Itaipu - e energia solar (que as autoridades brasileiras poderiam desenvolver, se tivessem interesse). A ABONG se solidariza com os atingidos e as atingidas pelo projeto da Hidrelétrica de Belo Monte, e por todos os projetos de hidrelétricas em execução ou planejadas na Amazônia (quase 400), denuncia a depredação ambiental que será causada se este projeto for levado adiante e repudia veementemente a decisão do governo Lula, que vem manchar de vergonha quem acreditou que a esperança prometida de dias melhores estaria voltada para quem, de fato, precisa de vida digna.
São Paulo, 05 de fevereiro de 2010* Associação Brasileira de Organizações não Governamentais
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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

ANGLO FERROUS / MMX - MINERADORAS DEVASTAMA SERRA DO ESPINHAÇO- MG SEM LICENÇA AMBIENTAL II

Desde 2007 este BLOG vem mostrando a devastação socioambiental do Sr Eyke Batista juntamente com a cumplicidade de Governos Estaduais ( MG e RJ ) e Federal para a construção do Minérioduto Minas-Rio numa devastação sem precedentes na SERRA DO ESPINHAÇO
MEMÓRIA DO BLOG:
09 Abr 2008
DO POR QUE A BOLIVIA VIROU DUAS E A SERRA DO ESPINHAÇO-MG VAI SE ACABAR. A OCUPAÇÃO DA AMÉRICA LATINA NO SÉCULO XXI E COMO GARANTIR A EDUCAÇÃO AMBIENTAL? ...Para pilotar a MMX no lugar de Landim foi indicado Joaquim Martino, ...
14 Jan 2010
Muitos podem achar uma bobagem, ou não dar importância, mas o que fizermos com a água eo ecossistema aqui em Minas, no coração da Serra do Espinhaço, pode ter certeza que afetará sua vida aí, onde estiver, seja em BH, SP, ...
31 Mai 2009
a serra do espinhaço ( mg). a transformação desenfreada pelo capitalismo selvagem destrói sem piedade. assista aos vídeos feitos em conceição do mato dentro (mg) seguem os links. conceição i:http://www.youtube.com/watch?v=klxqjbsvqdo ...

17 DE FEVEREIRO DE 2010 - RELATOS VIVOS
CHEGUEI DE CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO, ONDE ESTIVE NO FIM DE SEMANA.O OBJETIVO DA VIAGEM FOI FAZER UM LEVANTAMENTO DAS FAMÍLIAS ATINGIDAS DIRETAMENTE E INDIRETAMENTE PELO EMPREENDIMENTO MINAS-RIO DA ANGLO -FERROUS-MMX. ESTIVEMOS PELA MANHÃ NA REGIÃO DA AGUA SANTA-MUMBUCA E FIZEMOS ALGUNS LEVANTAMENTOS DE CASA EM CASA.A DESOLAÇÃO E ABANDONO É TAMANHO, QUE NOSSO LEVANTAMENTO MAIS PARECIA UMA VISITA DE IRMÃOS DE CARIDADE, TAL A NECESSIDADE DAS FAMÍLIAS FALAREM DE SUAS MAZELAS. ALGUMAS JÁ ESTÃO SENDO RETIRADAS DO LOCAL DE FORMA ISOLADA,SEM A OBSERVAÇÃO DE SE FAZER O REASSENTAMENTO COLETIVO EM LOCAL PRÓPRIO,CONFORME UMA DAS CONDICIONANTES DEFINIDAS PELA LI-LICENÇA DE INSTALAÇÃO E OBSERVADAS TODAS AS CONDIÇÕES A QUE TÊM DIREITO.NA CASA DE DONA MARIA RODRIGUES, O SEU MARIDO , SENHOR JOSÉ ROSA ESTAVA PASSANDO MAL QUANDO CHEGAMOSE NÃO TÍNHAMOS COMO SOCORRÊ-LO POR QUE ESTAVAMOS EM UMA CAMIONETE DE DOIS LUGARES E NA CARROCERIA SERIA IMPOSSÍVEL LEVÁ-LO DEVIDO A POEIRA E SOLAVANCOS DO CARRO.HAVIA UMA CAMIONETE CABINE DUPLA DE UMA EMPRESA ARG ENGENHARIA, QUE PRESTA SERVIÇO A ANGLO FERROUS,UMA MITSHUBISHI PRATA,CABINE DUPLA, PEDIMOS SOCORRO E EM VÃO, ELES NÃO QUIZERAM LEVÁ-LO.FOMOS PARA A EMPRESA ANGLO FERROUS BRASIL E LÁ FICAMOS RETIDAS NA ENTRADA,SEM PODERMOS SUBIR PARA O ESCRITÓRIO DE 12:30 ÀS 14:00 HS, NINGUEM PODIA FAZER NADA, HAVIA UM AMBULÂNCIA NO LOCAL MAS SOMENTE OS FUNCIONÁRIOS PODERIAM SER ATENDIDOS.FALAMOS COM OS VIGILANTES DA VIC-EMPRESA DE SEGURANÇA,CHEFE: R5AFAEL SOARES MÁRCIO DUARTE,E NADA.JÁ CHORANDO E EM COMPLETO DESESPERO, UMA VEZ QUEO SENHOR TINHA TIDO UM AVC ANTERIORMENTE,QUANDO DA CHEGADA DA EMPRESA NO LOCAL, E O CASO ERA DE EXTREMA URGÊNCIA,FOMOS DESTRATADAS POR UM BOMBEIRO , REGINALDO, QUE TRABALHA NA EMPRESA QUE É RESPONSÁVEL PELA ÁREA DE SAÚDE FALAMOS AINDA, COM A RESPONSÁVEL PELA GERÊNCIA-EMPRESA CRA QUE FICARAM DE RESOLVER E NADA.JÁ QUASE 14:30 CONSEGUIMOS LIGAR DO SAPO PARA O JÚNIOR E PATRÍCIA EM CMD QUE CONSEGUIRAM QUE A AMBULÂNCIA DA SECRETARIA DE SAÚDE FOSSE ENCAMINHADA AO LOCAL.NO ENTANTO , UM MORADOR DO LUGAR JÁ HAVIA TRAZIDO O SEU JOSÉ ROSA.CONVERSANDO COM O FILHO DO MESMO HOJE, ELE VEIO PARA BH E TEVE OUTRO AVC.NO DIA SEGUINTE, ESTIVEMOS NA COMUNIDADE DA ÁGUA QUENTE, ONDE CONTINUARÍAMOS O LEVANTAMENTO, MAS HAVIA NO LOCAL UMA REUNIÃO COM UMA EMPRESA DE ADVOGADOS DE BH. OS ADVOGADOS FORAM LEVADOS POR DUAS PESSOAS DE CMD. CERCA DE 60 FAMÍLIAS ESTAVAM PRESENTES E OS ADVOGADOS QUANDO QUESTIONADOS SOBRE QUAL TIPO DE AÇÃO IRIAM PROPOR AOS MORADORES, DISSERAM QUE SÓ FALARIAM APÓS A ASSINATURA DOS MORADORES DAS PROCURAÇÕES...A COMUNIDADE ESTÁ VIRANDO COMIDA DE TUBARÃO!!! CONSEGUIMOS APÓS A SAÍDA DOS ADVOGADOS, FORMAR UM COMISSÃO DOS MORADORES QUE FOI CRIADA POR UMA CONDICIONANTE DA LICENÇA DE INSTALAÇÃO DADA EM DEZEMBRO.ESSA COMISSÃO VAI ACOMPANHAR AS VISTORIAS DA EQUIPE DO IBAMA, DO IGAM,DA POLÍCIA AMBIENTAL E DA SEMAD.NOS QUESTIONÁRIOS FEITOS, 100% DAS FAMÍLIAS ESTÃO COM PROBLEMAS DE ÁGUA, MUITAS SEM AGUA PARA BEBER, PARA FAZER COMIDA, TODAS SEM LAVAR ROUPAS E OS ANIMAIS NÃO QUEREM BEBER DA ÁGUA.ALGUMAS CRIANÇAS DESAVISADAS NADARAM NOS CÓRREGOS DO PEREIRA E PASSA SETE E ESTÃO COM ERUPÇÕES NA PELE.ENQUANTO ISSO EIKE BATISTA DÁ ENTREVISTA NOS ESTADOS UNIDOS DIZENDO QUE QUER SER O HOMEM MAIS RICO DO PLANETA, ÀS CUSTAS DA CALAMIDADE SÓCIO-AMBIENTAL DE CONCEIÇÃO E DE TANTAS OUTRAS COMUNIDADES.PANDORA NÃO É SÓ NA AMAZÔNIA, PANDORA É AQUI , NAS MINAS DAS GERAIS.
IRMÃOS DAS MINAS UNI-VOS!!!DORINHA ALVARENGA

Não deixe de assistir aos documetários que se seguem em:
VOZES DO ESPINHAÇO:ANGLO FERROUS / MMX - MINERADORAS 
 http://educomambiental.blogspot.com/2010/02/anglo-ferrous-mmx-mineradoras-devastam.html

VOZES DO ESPINHAÇO:ANGLO FERROUS / MMX - MINERADORAS DEVASTAM A SERRA DO ESPINHAÇO- MG SEM LICENÇA AMBIENTAL

Conceição: Guarde nos Olhos III - Mumbuca
A comunidade de Conceição do Mato Dentro, na Serra do Espinhaço em Minas Gerais, se mobiliza em defesa do ecossistema. Na região está sendo construído o minério-duto "minas Rio", com mais de quinhentos quilômetros de extensão. Esse é mais um "Outro Olhar". De acordo com a população, a licença ambiental ainda não foi concluída e as obras já estão transformando todo o ecossistema local.A produção é de Rodrigo Valle.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

BELO MONTE:A PEDAGOGIA DA PALHAÇADA OU DA CORRUPÇÃO?

Por Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais

Começar o ano e retomar o trabalho nem sempre é muito fácil. Especialmente no que se refere a tarefas que exigem alguma inspiração, como nosso esforço para denunciar a grande mentira da "energia barata e renovável necessária para a solução dos problemas do país" que justificaria a absurda construção da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu (com consequências desastrosas para o continente e também para o mundo).Mas há uma hora em que, inevitavelmente, até mesmo os mais despreocupados tem que voltar a se mexer: segundo uma nota da Folha de São Paulo de 19 de janeiro, o ministro do Meio Ambiente Carlos Minc disse, enquanto prometia o licenciamento ambiental da hidrelétrica de Belo Monte para fevereiro, que todo o processo de licenciamento foi "pedagógico" para os órgãos ambientais do país. E que "o projeto inicialmente apresentado tinha sérios problemas em relação à navegação, aos peixes, que teriam mais de cem espécies ameaçadas, e a áreas de baixa circulação que iriam piorar a qualidade da água". Mas disse que os principais problemas teriam sido solucionados durante o processo. Isso me deixou um bocado revoltado.
Como ele pode dizer que o licenciamento foi pedagógico? Se nem teve coragem de aparecer na audiência pública de Altamira, onde, segundo os ribeirinhos, as comunidades indígenas e o Ministério Público não houve qualquer condição de diálogo e consulta de fato dos afetados pelo projeto. E a população da cidade como um todo, que se esgoelou em gritos de protesto contra a barragem, diante de técnicos, políticos e burocratas defendidos por forte esquema de segurança?
Só se for a pedagogia da tropa de choque e da intimidação. Sobre os outros pontos, que "teriam sido solucionados ao longo do processo", trata-se de mentira pura e simples (aqui teríamos a pedagogia da enganação). Não o foram e não é preciso ir muito longe para provar isso. Basta recorrer às conclusões emitidas pela equipe de Licenciamento Ambiental do IBAMA, sobre a análise técnica do Estudo de Impacto Ambiental de Belo Monte, em documento divulgado no dia 23 de novembro de 2009, do qual extraio a seguir alguns trechos, e que pode ser acessado no original clicando-se aqui .
"Ressalta-se que, tendo em vista o prazo estipulado pela Presidência, esta equipe não concluiu sua análise a contento. Algumas questões não puderam ser analisadas na profundidade apropriada, dentre elas as questões indígenas e as contribuições das audiências públicas". "O estudo sobre o hidrograma de consenso não apresenta informações que concluam acerca da manutenção da biodiversidade, a navegabilidade e as condições de vida das populações do trecho de vazão reduzida (que ocuparia grande parte da Volta Grande do Xingu, que teria a maior parte de seu fluxo de água desviado por canais colossais, comparáveis ao canal do Panamá ligando o Atlântico ao Pacífico, conduzindo-o às turbinas da hidrelétrica). "A incerteza sobre o nível de estresse causado pela alternância de vazões não permite inferir a manutenção das espécies, principalmente as de importância sócio-econômica, a médio e longo prazos (...) Os impactos decorrentes do afluxo populacional não foram dimensionados a contento. Conseqüentemente, as medidas apresentadas, referentes à preparação da região para receber esse afluxo, não são suficientes e não definem claramente o papel dos agentes responsáveis por sua implementação. Há um grau de incerteza elevado acerca do prognóstico da qualidade da água, principalmente no reservatório dos canais".
Foi com uma certa satisfação que vi contemplada entre as recomendações dos analistas ambientais do IBAMA a minha crítica principal, relativa aos desmatamentos, que serão conseqüência muito mais da abertura de estradas e do decorrente estímulo à imigração de imensos contingentes populacionais para a região do que da obra em si: "apresentar modelagem da projeção do desmatamento considerando os cenários de implementação e não-implementação do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte". Ou seja, recomenda que sejam feitas simulações matemáticas computadorizadas (amplamente disponíveis na atualidade) de como seria o futuro com ou sem a barragem.
Mas cadê a tal modelagem? Dizem que os empreendedores responderam às 15 outras recomendações, além desta sobre os desmatamentos, feitas pelos consultores da Diretoria de Licenciamento Ambiental do IBAMA. Mas não temos acesso a estes documentos com as respostas! Nem mesmo o documento acima reproduzido está disponível no site do órgão como parte do processo de licenciamento ambiental de Belo Monte. Destaque-se que a legislação brasileira determina publicidade do EIA/RIMA. Este é mais um dos aspectos do processo de licenciamento que foram atropelados, nesta gana pela aprovação goela abaixo. Mas os jornalões, ao invés de divulgarem as notas de cautela do IBAMA sobre Belo Monte, preferem reproduzir a bobageira de que "os principais problemas foram solucionados", do ministro midiático escorregadio e mascarado, com o penteado do Bozo, sempre fantasiado de coletes, ao modo de um triste clown. É a pedagogia da palhaçada.Mas talvez, pior do que este seja o ministro-sinistro. No dia 22 de janeiro, a mesma Folha de São Paulo divulgou trechos do relatório da Operação Castelo de Areia da Polícia Federal, segundo a qual a empreiteira Camargo Corrêa pagou uma propina quase R$ 3 milhões para políticos do PT e do PMDB por conta da obra da eclusa da hidrelétrica de Tucuruí, também no Pará. O relatório cita, como beneficiários, integrantes do grupo político de José Sarney, que controla o Ministério de Minas e Energia. Um manuscrito chega a registrar o pagamento de propina no valor de R$ 500 mil a um tal "Lobinho", que, segundo a polícia, é Edison Lobão Filho, o filho do ministro Lobão, que, aliás, recentemente queixava-se de ter que "mendigar" a licença ambiental de Belo Monte. Mendigou porque seu grupo é dependente da roubalheira. Como é possível que, apesar de estar metido em tanta corrupção, Edison Lobão ainda seja cogitado para vice da chapa de Dilma Rousseff? Talvez o seja justamente por isso. Já esta é a pedagogia da corrupção.
A palhaçada e a corrupção: uma bela dupla para começar o ano, que promete não ser nada fácil. Minc e Lobão. Que fonte lamentável de inspiração! De um lado o show midiático, de outro, os negócios escusos. Negócios que nada mais são do que as tais "tenebrosas transações", da música de Chico Buarque, que rolavam enquanto "a nossa pátria mãe tão distraída" dormia, "sem perceber que era subtraída". E aqui, as muralhas faraônicas que barrariam o Xingu (uma obra comparável à construção de toda a nova capital), pior do que estranhas, como as construções de Brasília, seriam "sinistras catedrais" ao deus do desenvolvimento. Erguidas pelos filhos que erram "cegos pelo continente", e que imigrariam aos montes para a esta região. Onde, depois de concluídas as obras, seriam novamente abandonados, causando imensos desmatamentos que acabariam por destruir não apenas o Xingu, mas o que resta de toda a Amazônia Oriental. O que em última análise afetaria todo o planeta, daí o justificado engajamento de setores ambientalistas da comunidade internacional na luta contra Belo Monte.
"Vai passar!", cantava-se em referência a um período, "página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória das nossas novas gerações", que deveria estar encerrado. Não passou. Citando agora o professor Oswaldo Sevá, da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, a luta contra Belo Monte é a luta política contra a ditadura militar que ainda não acabou (ver artigo especial do Correio, "Belo Monte, Belo Montro"). É possível que quando for publicado, esse texto já esteja desatualizado, pois, acabo de saber, o Estado de São Paulo já está prevendo a vergonhosa liberação da Licença Ambiental para esta semana. Se for o caso, eu posso imaginar que cada pedra desse velho rio nesse dia vai se arrepiar.
PS: De fato, na tarde de segunda, 1º de fevereiro, o IBAMA liberou a construção da barragem. No Xingu, onde eu estava naquela tarde, nem os banhistas, que se divertiam em mergulhos arriscados, nem os ribeirinhos ou pescadores pareciam estar cientes ou preocupados com isso. Por outro lado, disseram-me que quando a decisão foi transmitida de Brasília, todas as pessoas no supermercado aglomeraram-se em frente à televisão entre incrédulas e assustadas. Eles podem ter vencido uma batalha, mas não a guerra. A luta continua. Na verdade está apenas começando. Eu nunca duvidei que a máfia dos barrageiros venceria em tudo o que dependesse de papel, caneta e reuniões em Brasília. Eles dominam a máquina e ela está lá para isso. Mas barrar efetivamente o rio é outra história. É só quando começarem os esforços diretos neste sentido que aqueles que vivem no rio, e do rio, efetivamente do Xingu, vão entrar na luta contra esta obra que põe em risco mais do que a nossa floresta ou as populações tradicionais, mas a economia e a própria democracia do país. Uma roubalheira planejada há décadas e que serão nossos filhos, netos e bisnetos, todos os contribuintes brasileiros do futuro que irão pagar.
Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, é professor da Universidade Federal do Pará.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

AMAZONIA EQUATORIANA: COMO EM CHERNOBYL ,LIXO TÓXICO

Caros amigos,
A Chevron, gigante do petróleo poderá perder um processo histórico por despejar lixo tóxico na Amazônia -- vamos ajudar o povo da floresta a vencer nos tribunais da opinião pública e da lei. Ajude a pressionar o novo CEO da Chevron a reparar os danos ambientais causados e acabar com o lobby sujo: Uma longa batalha judicial entre a Chevron e o corajoso povo indígena da Amazônia Equatoriana está quase chegando ao fim. Os indígenas vem tentando conseguir uma resposta da multinacional em relação aos bilhões de galões de substâncias tóxicas despejadas na floresta. Se a Chevron for obrigada a pagar bilhões em danos, o caso irá sinalizar o fim da impunidade para empresas poluidoras do mundo todo. Com uma perda iminente, a Chevron lançou uma agressiva campanha de lobby para abafar o processo . O novo CEO da Chevron, John Watson, sabe que a marca da empresa está ameaçada – então vamos fazer a nossa parte! Assine a petição pedindo para o Watson e a Chevron limparem a sujeira que deixaram no Equador. A petição será entregue a eles, aos acionistas a à mídia americana – clique no link abaixo para agir agora:
http://www.avaaz.org/po/chevron_toxic_legacy/?vl
Nos últimos anos, processos civis como este têm ajudado a mudar as políticas de algumas das maiores corporações do mundo. No entanto, a maior parte das multinacionais de petróleo gasta milhões de dólares todo ano em lobby e relações públicas para mudar leis ambientais e negar suas responsabilidades ambientais e de direitos humanos – e a Chevron é uma das piores. De 1964 a 1990, a Texaco, pertencente à Chevron, despejou bilhões de galões de lixo tóxico na Amazônia Equatoriana e depois foi embora. Encarando uma derrota nos tribunais, a Chevron tem feito uso de seu poderoso lobby e departamento de relações públicas para intimidar seus críticos a ficarem em silêncio e se esquivar da culpa pelo enorme desastre ambiental e humano causado pela empresa. A Chevron disse várias vezes que se recusa a pagar pela limpeza da região, mesmo obrigados pelo tribunal, dizendo que lutarão até o fim. A sua última estratégia: pressionar o governo dos Estados Unidos a obrigar o governo equatoriano a abandonar o caso. Nós não podemos permitir que a Chevron esculache a justiça – vamos gerar um apoio em massa aos povos da floresta , ajudando-os a ganhar esta batalha. Clique aqui para assinar a petição e ajudar a entregar pessoalmente esta mensagem ensurdecedora ao novo chefe executivo da Chevron:
http://www.avaaz.org/po/chevron_toxic_legacy/?vl
Cidadãos do Equador e ao redor do mundo estão se unindo contra uma das empresas mais sujas do mundo. Se ganharmos, isso será mais um passo para um futuro de responsabilidade corporativa, de direitos humanos e ambientais. Vamos juntar nossas vozes e divulgar essa campanha!
Com esperança e determinação,
Luisa, Paula, Benjamin, Pascal, Paul, Alice, Ricken, Graziela e toda a equipe Avaaz
P.S. Essa campanha faz parte de uma iniciativa maior liderada pela Amazon Watch, Rainforest Network e outros aliados de direito ambiental e de direitos humanos ao redor do mundo. Saiba mais: http://www.texacotoxico.org/

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

ENTRE A ACADEMIA E A RUA:Victor Vincent Valla (1937-2009)

Desde a experiência inicial em Angicos, nos primeiros meses de 1963 (Lyra, 1997), a educação popular formulada por Paulo Freire consistiu num método de educação de adultos como parte de um programa mais amplo de mobilização popular. Este método de construção de uma nova consciência social implicava solidariamente educadores e educandos num processo educativo e político, de tal modo que o homem do povo pudesse assumir-se enquanto sujeito da transformação de sua vida e, portanto, da sociedade que, em parte, a determinava. Mas, no Brasil, depois do golpe militar e do exílio do autor, em virtude da repressão dos movimentos de educação popular, substituídos pela ditadura com o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), a "[...] educação popular mudou de um trabalho político junto ao povo, através da alfabetização, para um trabalho político com o povo, sem a alfabetização" (Brandão, 2006, p.90).
Essa mudança se deu na segunda metade dos anos 1970, nas cidades e no campo, com a emergência das primeiras manifestações de oposição popular à ditadura militar. As próprias instituições acadêmicas abriram-se para se pensarem essas manifestações e abrigaram intelectuais e pesquisadores de oposição. É nesse contexto que Victor Vincent Valla, então um recém doutor em História Social, ingressou na Universidade Federal Fluminense. Isso aconteceu em 1975. Dois anos depois, transformava a educação popular denominada "não-formal e extra-escolar" em objeto de pesquisa no Instituto Estudos Avançados em Educação da Fundação Getúlio Vargas (IESAE-FGV), "dentro de uma perspectiva histórica" e reconhecendo que lidava com as formas de educação para ou com as "camadas populares", conforme suas próprias palavras (Valla, 1986, p.11). Estabelece-se nesse momento o elo vital entre a academia e a rua, que iria caracterizar a trajetória desse professor e pesquisador de origem americana, aportado em terras brasileiras imediatamente após o golpe de 1964. Isso porque, em 1977, ao lado de seu trabalho como pesquisador do IESAE, Valla atuava como professor de ensino supletivo numa favela em Santa Teresa e colaborador da reconstrução da Federação de Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro - FAFERJ.
Para ele, a educação popular numa perspectiva de transformação social, como o método de Paulo Freire, era uma contraproposta inserida "num campo previamente delimitado pela expansão e consolidação do capitalismo" (Valla, 1986, p.18). Em outros termos, Valla acentuava a importância tanto das determinações estruturais, como das tentativas de superá-las. A influência do marxismo, recebida de seus próprios alunos de língua inglesa no Instituto Tecnológico da Aeronáutica, em São José dos Campos, onde trabalhou entre 1967 e 1973, e a formação como historiador nos cursos de mestrado e doutorado em História Social da USP (Especial Victor Valla, 2006), na qual se destaca a leitura de Edward Carr (O que é História?), o conduziram ao permanente exame das práticas sociais nos contextos sociais em certo momento histórico. É notável, em tais análises, a perspectiva de cientistas sociais como José Álvaro Moisés e Lucio Kowarick, preocupados em entender o papel das políticas públicas na dinâmica do desenvolvimento capitalista e na reprodução da força de trabalho em países periféricos como o Brasil.
A primeira sistematização desse estudo em Educação e favela já contém o leitmotiv de sua pesquisa. É interessante neste sentido assinalar que Valla parafraseou o urbanista inglês John Turner, quando de sua visita a conjuntos habitacionais e a favelas cariocas, em 1968. Naquela ocasião, disse: "Mostraram-me soluções que são problemas e problemas que são soluções" (Silva, Tângari, 2003). Para Valla, favela era uma solução de um problema. A pobreza, sim, era (e continua a ser) o problema.
A abordagem da pobreza se deu por meio da Educação e Saúde, um campo interdisciplinar no qual se manteve até o final da vida, na qualidade de professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP). A opção de Valla nos processos de intervenção social foi a de entender a educação como "finalidade" e a saúde como "meio", uma diferença importante identificada por Antonio Ivo de Carvalho e que Estrella Bohadana classificava em duas vertentes: uma caracterizada pelos projetos autônomos, orientados para a mobilização e organização das comunidades, apoiados pelas comunidades eclesiais de base; e a segunda, por privilegiar a extensão da assistência médica, sobretudo sob a influência do Partido Comunista Brasileiro, dava maior peso ao papel do Estado. A escolha de uma ou outra forma de intervenção trazia "implícita a problemática da manutenção ou da mudança social" (Stotz, 2005, p.15-6).
A vinculação à primeira vertente era anterior ao ingresso de Valla na ENSP, em 1984. Contudo, na interlocução com os colegas da ENSP, ao se debater com a importância atribuída ao papel do estado no combate da doença, dado o tecnicismo e autoritarismo entranhados na cultura e práticas institucionais do setor saúde, viu-se na contingência de reelaborar a concepção anterior. Como não podia deixar de ser, por representar o resultado de uma aprendizagem na intervenção social, a abordagem da educação popular elaborada por Valla no setor da saúde acompanhou as possibilidades e limites desse processo do ponto de vista conjuntural e institucional.
Carvalho, Acioli e Stotz (2001) denominam esta abordagem de construção compartilhada de conhecimento em saúde, uma metodologia que tem uma "história" cujo sentido geral é, no seu entendimento, o de incorporar a experiência e o saber das classes populares em suas demandas junto ao Estado, de modo a favorecer-lhes maior poder e intervenção sobre as condições de suas vidas.
É importante destacar o caráter coletivo da construção desta abordagem, com a criação do Núcleo de Educação, Saúde e Cidadania (NESC) da ENSP (1986-2004), estruturado em torno do projeto de título homônimo e, sobretudo, do Centro de Estudos e Pesquisas da Leopoldina (CEPEL), entidade não governamental com atuação nas favelas da Penha (1988-2006) que teve como presidente Vitor Valla e uma grande equipe de pesquisadores oriundos dos cursos de pós-graduação nos quais Valla atuava como orientador acadêmico. Eram pesquisadores comprometidos, de diferentes formas, com os movimentos populares e a luta contra a opressão social (Valla, Stotz, 1993).
O projeto Educação, Saúde e Cidadania tinha um objetivo especificamente político, a saber: buscava oferecer subsídios tanto às organizações civis de caráter popular, para dar consistência técnica às suas reivindicações, como aos planejadores do setor saúde, de modo a promover a adequação dos serviços ao atendimento das necessidades da população e a "implementação de propostas oriundas do movimento social" (Carvalho, Acioli, Stotz, 2001, p.105).
O CEPEL materializou o elo da academia (NESC) com a rua por meio de um instrumento periódico, o boletim trimestral "Se liga no sinal". O boletim surgiu como uma decorrência do movimento "Se liga Leopoldina, o dengue está aí", defesa civil popular em resposta à negativa das autoridades sanitárias em admitirem e enfrentarem a epidemia de dengue na região, especialmente nas favelas da Leopoldina, no final de 1990. É interessante lembrar que o boletim apropriou-se da ideia do jornal como um "organizador coletivo", formulada por Lênin para dar ao Iskra ("A Centelha"), o primeiro periódico político marxista ilegal de toda a Rússia, a tarefa de unificar, entre 1900 e 1903, os círculos operários mediante a recepção de denúncias e sua análise pelo grupo redator. De fato, a pauta do boletim era discutida, pela equipe do CEPEL, com participantes de entidades populares, sobretudo das mulheres do grupo Sementinha, que faziam a distribuição do jornal nas favelas e captavam os sinais das dificuldades da vida e de sua lida pelas classes populares. De seu lado, elas também avaliavam a recepção do boletim, contribuindo para adequá-lo à experiência do mundo daquelas classes.
A metodologia da construção compartilhada do conhecimento de que a elaboração do boletim foi uma expressão amadurecida ao longo de vários anos supunha a possibilidade de reduzir a hierarquia dos saberes cientifico-técnico e popular ao mínimo, mas nunca teve a pretensão de superar a desigualdade vigente na sociedade, reverberada no interior, até mesmo, de uma organização como o CEPEL. Pode-se dizer que o agravamento da pobreza no contexto do desemprego e da violência generalizada nas favelas da região da Leopoldina, onde esta entidade atuava, ao longo dos anos 90, ao trazer à tona o fenômeno do crescimento do pentecostalismo, obrigou a criar novos procedimentos metodológicos. A necessidade advinha da tentativa de responder a pergunta: "por que os pobres vão à Igreja?" - com o que já se admitia a religiosidade como um caminho para resolver problemas sociais apontados, particularmente desorganizadores em situações de pobreza, com o sofrimento difuso daí decorrente (Lima, Valla, 2003).
Sem deixar de identificar os determinantes mais amplos dessa situação de pobreza e o impacto das políticas neoliberais no Brasil (Valla, 1995), ele pressupôs que, para entender em profundidade o significado do fenômeno, seria necessário dispor de uma observação participativa no fenômeno, com a invenção de novos métodos. A proposta e o funcionamento da Rede de Solidariedade da Leopoldina, sustentada do ponto de vista organizativo pelo CEPEL e pelo Núcleo de Estudos Locais em Saúde (ELOS) da ENSP, a partir de 2000, acabou por tomar forma no projeto "Vigilância civil da saúde: uma proposta de Ouvidoria Coletiva", experiência que inclusive recebeu o Prêmio Antonio Sérgio Arouca de gestão participativa (Guimarães et al., 2008; Lima, Stotz, 2009). Aliás, a Ouvidoria Coletiva foi a proposta de Valla para a Rede de Educação Popular e Saúde quando esta organização se dispôs, em março de 2003, a apoiar o novo Ministério da Saúde no primeiro governo de Luis Inácio (Lula) da Silva.
A separação entre a sociedade civil e as práticas populares - notável no esvaziamento das associações de moradores como consequência da nova conjuntura, também percebida por Valla e o grupo de pesquisadores nucleados em torno do novo projeto - foi interpretada nos termos de uma "crise de compreensão" entre profissionais dos serviços públicos de educação e saúde e as pessoas das classes populares. O ponto central dessa crise era a incapacidade de os profissionais relativizarem seu ponto de vista prévio ao admitirem que essas pessoas fossem capazes de construir um conhecimento e, pois, de entenderem e agirem sobre sua própria realidade, inclusive no tocante ao processo de adoecimento e cura.
A sistematização dessas reflexões e iniciativas deu origem ao livro "Para compreender a pobreza no Brasil", o primeiro de uma coleção denominada "A academia e a rua". A pobreza nunca foi vista exclusivamente como uma situação ou condição decorrente do desenvolvimento capitalista periférico no Brasil. A situação de pobreza era entendida como ponto de partida de uma "lida" que, numa conjuntura de mobilização popular, favorecera a ação coletiva e a ampliação da sociedade civil de caráter popular, noutra, de descenso e de fragmentação, reconduzira ao estreito caminho por onde historicamente as pessoas comuns do povo sempre passaram: o mundo da religiosidade, da fé baseada na solidariedade e na resistência, ainda que nos limites do campo religioso.
Todo esse processo sempre foi visto em sua dimensão educativa, como um modo de ensino e de aprendizagem não-formal e, portanto, como uma forma de conhecimento social. Pois uma "lida" requer necessariamente saber, e sua aplicação e/ou revisão nas circunstâncias tem de contemplar de alguma forma uma visão sobre a sociedade e seu funcionamento, para se identificarem as possibilidades de se superar a pobreza e de se aprenderem os sentidos das tentativas bem ou malsucedidas.
Valla esclareceu que a opção de estudar o pentecostalismo era necessário defender-se das incompreensões, sobretudo de que estaria interessado, do ponto de vista acadêmico, na espiritualidade advinha do "entendimento de que é nesse movimento religioso que a centralidade da pobreza se dá de forma mais radical", de onde decorria também a importância atribuída ao termo "conversão" (Vasconcelos, Algebaile, Valla, 2008, p.331). Sua análise, baseada em Cesar e Shaull (1999), o conduziu a compreender a conversão pentecostal de pessoas, em sua maioria anteriormente católicas ou participantes de cultos afrobrasileiros, como parte do enfrentamento da questão da pobreza. A contribuição trazida pelo teólogo Richard Schaull para o equacionamento desta questão no âmbito da Educação Popular consistia na "idéia de que a conversão é um movimento de descentramento", válido principalmente para as classes médias, "habituadas a entender, sua experiência como central, e a deduzir disso, de um lado, sua autoridade e capacidade de dispor sobre os problemas do mundo, e, de outro, a permanente minoridade política e cultural das classes populares para disporem sobre as questões que afetam suas vidas" (Vasconcelos, Algebaile, Valla, 2008, p.332).
Para fortalecer seu ponto de vista, incorporou tanto a reflexão de Milton Santos (1996) "sobre o conjunto de saberes práticos e valores produzidos às margens dos padrões de vida das classes médias, pelos imensos segmentos da população submetidos à experiência da escassez" (Vasconcelos, Algebaile, Valla, 2008, p332), como a de Simone Weil, ao trazer a fadiga e, pois, o trabalho, como um tema central para se entender o comportamento das classes populares (Valla, 1995). Ficava em aberto, como um limite da teoria dada pela realidade brasileira em que ainda vivemos, o problema da politização dessa nova experiência humana para além dos limites da dominação burguesa e das tentativas de conciliação de classes.
A problematização do termo 'conversão' a partir do campo religioso não foi o último texto escrito em vida, no meio da esperançosa luta e ilusão fecunda por retomar os movimentos do corpo atingido pelo acidente vascular cerebral em 2001. Dedicava-se, inclusive, a finalizar uma coletânea de seus trabalhos com o apoio de Eveline Algebaile, quando faleceu, no dia 7 de setembro de 2009. O título provisório desta publicação póstuma define o sentido da vida de Victor Vincent Valla: "Para compreender as classes populares no Brasil".
Artigo de Eduardo Stotz- Revista SCIELO 2010

Referências
BRANDÃO, C.R. O que é método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 2006.         [ Links ]
CARR, E.H. O que é história. 6.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.         [ Links ]
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CESAR, W.; SHAULL, R. Pentecostalismo e futuro das igrejas cristãs: promessas e desafios. Petrópolis: Vozes, 1999.         [ Links ]
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COMENTÁRIOS:
Odila,
Veja o pensamento do Kleber a respeito do Valla. Achei legal, é isso mesmo meu companheiro Mr. K.  bjs aos 2. Terencio
VALHA ME VALLA 
Te,( Terencio Hill) Não sei expressar o sentimento ou sentimentos ao saber dessas coisas do Valla.Imprimi pois é um evangelho desconhecido que quero mostrar para algumas pessoas. Somos rastilhos de pólvora  prontos para nos incendiarmos. O Valla se deixou permear pela revolução  que sobrevive mesmo sem ele respirar.Há muitos Che Guevaras ocultos atrás das folhas das bananeiras ou folhas de livros. Brotam sem anunciar. Aparecem e se impoem sem pedir permissão.São obras da própria natureza... não se represa a revolução.Minha  felicidade é reconhecer que as malhas do  capital são grandes de tal forma que os pequenos escapam, sobrevivem, e quando são esmagados se multiplicam em muitos mais. Vai Zilda, vai Valla, fica Rham, continua Hill,e milhares incógnitos pelos MSTs da vida , fundos de fábricas,varandas de clínicas psiquiátricas anunciam, pela própria existência, que é possível se rebelar.Vi uma senhora simples na rua que talvez não soubesse traduzir o que estava  escrito na sua camiseta surrada: 
"Wild flowers smeels like me".
É só.Obrigado por lembrar que o Valla sempre me atingiu.beijos.k
Kleber de Albuquerque Pinheiro kapinheiro@trt15.jus.br

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O VOSSO DESENVOLVIMENTO É NOSSO MASSACRE:Delegação indígena denuncia a Transposição na Europa

Na Itália, o primeiro país do giro pela Europa, a delegação Nordestina denunciou os impactos nefastos da transposição do rio São Francisco e as violações dos direitos humanos na preparação e execução do projeto. A delegação indígena leva um grito de alarme para os governos e a sociedade civil dos países europeus: o rio São Francisco já sofreu tantas agressões, como a construção de sete barragens hidrelétricas e desmatamento, que não tem condições para suportar outro projeto de exploração intensiva das suas águas. Os danos ambientais serão irreparáveis e levarão à morte do rio que, em vez de outro projeto de engenharia, precisa na verdade de uma revitalização.
Desenvolvimento: não a todo custo
Em Roma, Itália, a delegação participou de várias atividades públicas. No dia 25 de janeiro, houve uma conferência publica na Sala da Paz da Província. No dia seguinte, a delegação participou de um encontro público no Centro Italiano pela Paz (Cipax). Pretinha Truká, Uilton Tuxá e Saulo Feitosa também foram recebidos pelo deputado nacional italiano Domenico Scilipoti, que faz parte da "Comissão Meio ambiente, Território e Obras Públicas", e que luta contra a privatização da água na Itália.
“A transposição acaba com os nossos povos e nosso estilo de vida”. Essa foi a mensagem que os membros da delegação passaram às diferentes platéias. Pretinha, liderança do povo Truká, foi enfática sobre o projeto que o governo apresenta como um grande passo de desenvolvimento: "O vosso desenvolvimento é o nosso massacre!", afirmou
Uilton dos Santos, cacique do povo Tuxá e coordenador geral da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), deixou claro que a oposição ao projeto da Transposição não é uma mera oposição dos povos indígenas ao desenvolvimento em si, mas à forma de alcançá-lo. "Desenvolvimento sim, mas não a todo custo. A economia passa por cima da vida e por cima dos direitos humanos dos povos indígenas e das comunidades tradicionais”, ressaltou.
Acesso à água para todos
Uilton salientou ainda que a transposição transformará o rio São Francisco no maior mercado hidrográfico do mundo, o que se contrapõe totalmente à concepção indígena: “Para os índios, a água é um bem comum da humanidade, não é mercadoria”.Ele também afirmou que, segundo dados do próprio governo, a água da transposição somente beneficiará o agronegócio e empresas metalúrgicas, dentre outras indústrias, sem beneficiar os povos carentes da região. Estes não terão acesso à água dos canais, contrariamente ao anúncio do governo, de que o grande lema da transposição seria ‘levar água para o povo sedento’ do semi-árido. “Ao mesmo tempo, o próprio governo elaborou um plano alternativo de gestão hídrica para o Nordeste, o famoso Atlas”, continuou Uilton “que, com a metade dos custos, pode beneficiar um número muito maior de pessoas e resolver o problema da distribuição de água no Nordeste, com impacto ambiental menor e democratização do acesso à água para os pobres da região”.
Etnocídio O terceiro membro da delegação, Saulo Feitosa, secretário adjunto do CIMI, colocou a transposição no contexto mais abrangente das ameaças que o PAC representa para os povos indígenas. "Tem 450 obras dos programas do governo Lula que afetam Terras Indígenas. Segundo nossos dados e pesquisas, por exemplo, tem pelo menos 21 projetos que afetam povos indígenas não contatados, que estão em risco de extinção. Temos experiências anteriores, esses encontros são fatais para estes povos. Nesse sentido, a gente fala de etnocídio”.
ONU: Depois dos encontros na Itália, a delegação segue para Genebra, na Suíça, a fim de encontrar-se com representantes da Organização das Nações Unidas. Os contatos confirmados são com a Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU, o relator especial sobre os Direitos Indígenas, a relatora especial sobre o direito à Água e a Ogganização Internacional do Trabalho (OIT), que emitiu observações para o Governo brasileiro sobre o descumprimento da Convenção 169 no caso do projeto da transposição do rio São Francisco. Em seguida, a delegação viajará para Bruxelas (Bélgica) e Berlim (Alemanha).
Mais informações:
Acompanhe pelo BLOG:    
http://baixosaofrancisco.blogspot.com/2010/01/campanha-opara-povos-indigenas-em.html
CIMI 55/61/2106 1666 Paul
CIMI Europa 39/3336348279 Martina
CPP / NE 55/75/8835 3113 Alzeni Tomáz
Via Campesina 55/82/9950 0227 Hélio
Povo Truká 55/87/ 9606 6065 Cacique Neguinho
Povo Tumbalalá 55/87/ 9131 0008 Cacique Cícero
NECTAS/UNEB 55/87/ 88 56 0622 Juracy Marques
Maíra Heinen
(61) 2106 - 1670 / 9979-6912www.cimi.org.br  
http://twitter.com/CimiNacional  Foto João Zinclar - 2008
1-ENQUANTO ISSO, HOJE,2 DE FEVEREIRO DE 2010:
Leilão para construir usina no Pará é autorizadoJornal Floripa- 02 Fev 2010
O projeto, marcado por desavenças entre o Ministério do Meio Ambiente e o de Minas e Energia, está previsto para ficar pronto em 2015, no Pará.
2-LER TAMBÉM :BELO MONTE BELO MONSTRO EM:
http://www.correiocidadania.com.br:80/content/view/4280/9/  
MEMÓRIAS DO BLOG : 
Manifestantes saem às ruas de Belém contra Belo Monte  
quinta-feira 10 de dezembro de 2009
O ato público acontece no momento em que o governo federal acelera o processo de licenciamento da Hidrelétrica, ignorando as falhas técnicas do projeto apontadas pelo Painel de Especialistas da UFPA
Vanessa Silva
Manifestantes saem às ruas de Belém nesta sexta, 11, para protestar contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. O protesto está previsto para começar às 9 horas, quando os manifestantes sairão em caminhada do Terminal de ônibus da UFPA em direção à Eletronorte, na Avenida Perimetral, no bairro da Terra Firme.A manifestação é uma promoção do Comitê Xingu Vivo para Sempre e do Diretório Central dos Estudantes da UFPA (DCE) e contará com a presença de indígenas, de lideranças da região da Transamazônica, do irmão da missionária Dorothy Stang - David Stang - e do bispo da Prelazia do Xingu, Dom Erwin Krautler, entre outros ativistas sociais.O ato público acontece no momento em que o governo federal acelera o processo de licenciamento da Hidrelétrica de Belo Monte, ignorando as falhas técnicas do projeto apontadas pelo Painel de Especialistas da UFPA.As pressões para que o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) conceda a licença ambiental são tantas, que na semana passada, toda a cúpula do órgão, responsável pelo setor de licenciamento, pediu exoneração dos cargos. Durante o protesto, os manifestantes pretendem dar visibilidade à luta histórica dos povos do Xingu contra a construção de barragens e denunciar os impactos ambientais que serão causados, caso a hidrelétrica seja construída. “A população precisa tomar conhecimento sobre os reais interesses por trás da construção da usina, pois as barragens vão atingir diretamente a saúde, a vida, a moradia e o sustento de comunidades ribeirinhas e indígenas, além de destruir a biodiversidade da floresta”, afirma Anderson Castro, coordenador-geral do DCE da UFPA. De acordo com as entidades que organizam a manifestação, o projeto da Usina de Belo Monte contém diversas irregularidades, pois o Estudo de Impacto Ambiental do empreendimento sequer aponta a quantidade de famílias que serão atingidas pela Hidrelétrica. “Este projeto é maléfico para a região, pois não temos necessidade de energia. A construção da Hidrelétrica vem beneficiar apenas as multinacionais e as gigantes do ramo da construção civil, como a Odebrecht e a Camargo Correa.Enquanto isso, a navegação de parte do Xingu será interrompida e a vida dos trabalhadores da região e a biodiversidade da floresta serão destruídas”, explica Anderson Castro. Segundo ele, ao final da manifestação, uma carta será entregue por uma comissão à direção da Eletronorte. No documento, as entidades exigem que o projeto de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte seja paralisado e que sejam realizadas novas audiências públicas com as comunidades envolvidas. Os manifestantes defendem, ainda, um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia, que preserve os recursos naturais e garanta uma vida digna à classe trabalhadora.