IMPOSTOS EM SÃO PAULO

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Rio Guandú ameaçado por MEGA_DEPÒSITO de LIXO QUÍMICO

URGENTE - RIO GUANDU QUE ABASTECE NOVE MILHÕES DE PESSOAS AMEAÇADO POR MEGA-DEPÓSITO DE LIXO QUÍMICO
No próximo dia 30 de outubro, quinta-feira, será realizada Audiência Pública sobre a implantação de mega-depósito de lixo químico e industrial de propriedade da empresa Essencis a ser instalado no Município de Paracambi que colocará em risco e vulnerável o Rio Guandu que abastece 9 milhões de pessoas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e a Capital.

A mega-lixeira industrial está projetada em plena área de influência da APA-Área
de Proteção Ambiental do RIO GUANDU, sendo portanto ilegal e inapropriado tecnicamente a instalação de uma central de tratamento de RESÍDUOS INDUSTRIAIS, compreendendo unidade de blendagem de resíduos para destinação em co-processamento, aterro industrial classes IIa e IIb, unidade de tratamento de efluentes líquidos, unidade de biopilha e galpão de estocagem de resíduos industriais. A audiência publica será realizada as 19 hs, no Cine Imperial - Rua Dominique Level nº 30, Centro, Paracambi.
O município de Paracambi tem população de aproximadamente 40 mil habitantes e encontra-se em uma área de várzea incrustada na Serra do Mar, contribuindo em sua rede de drenagem com o Rio dos Macacos um dos mais importantes rios tributários do Ribeirão das Lages, que vem a ser o principal rio tributário da Bacia do Rio Guandu, responsável pelo abastecimento de 9 milhões de habitantes da região metropolitana do Rio de Janeiro. Além disso, o município de Paracambi está inserido na área de abrangência da recém criada APA do Rio Guandu, no limite das regiões da Baixada Fluminense com a Região do Centro Sul Fluminense. Paracambi mantêm grande parte de seu território com vocação Rural e principalmente com áreas de grande importância para o Ecoturismo Regional, principalmente no que tange ao desenvolvimento de atividades de esporte de aventura. Próximo à área do Parque Industrial de Paracambi, no Município de Seropédica, encontra-se a Unidade de Conservação FLORESTA NACIONAL MÁRIO XAVIER, na antiga estrada RIO/SÃO PAULO - Km 51- SEROPÉDICA-R.J
De acordo com o ecologista Sérgio Ricardo, fundador e ex-membro do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Guandu, "há risco real ao abastecimento público da Região Metropolitana e da Capital (Rio de Janeiro) com a possível instalação de um mega depósito de lixo químico nas proximidades do Rio Guandu. Caso ocorra algum acidente os impactos seriam irreversíveis, com ameaças ao abastecimento de água potável e, portanto, à vida de milhões de pessoas. É uma irresponsabilidade os órgãos ambientais do estado (FEEMA e Secretaria Estadual de Meio Ambiente) sequer cogitarem a hipótese de autorizar a construção desta lixeira industrial numa região considerada Área de Proteção Ambiental (APA do RIO GUANDU). A cidade de Paracambi não tem parque industrial significativo, pelo contrário é uma região de perfil essencialmente rural. Considero um ato de Racismo Ambiental em que os governantes e as grandes empresas poluidoras -em conjunto e de forma articulada- escolhem deliberadamente municípios mais pobres, de organização social frágil e distantes do local onde se realiza a produção industrial de maior potencial poluidor, condenando estas cidades pequenas a serem vistas eternamente como um grande cemitério de lixo químico,altamente perigoso e danoso à saúde pública. Paracambi não pode ser transformada na lixeira industrial da Região Metropolitana, não queremos uma
nova de Cubatão em nosso estado!", alerta.
Já o Prof. Felipe da Costa Brasil, Agrônomo e Coordenador de cursos na área ambiental em Vassouras, destaca "a vulnerabilidade ambiental da região em especial dos corpos hídricos, como os rios do Macaco e o guandu, bem como o Sistema Ribeirão das Lages. A vocação das cidades da região é para o Ecoturismo,o turismo rural, a agricultura agrecológica e a produção de alimentos para os centros urbanos. É um grande equívoco instalar um grande depósito de lixo químico numa cidade que nunca teve característica de área industrial. Há graves riscos à saúde e aos corpos hídricos, afirma.

EMPREENDIMENTO TEM HISTÓRICO DE ILEGALIDADES:
A Resolução CONAMA 01/86 determina que qualquer licenciamento de IMPACTO REGIONAL
que exija EIA/RIMA deverá ser amplamente debatido com a população das áreas de influência direta e indireta do empreendimento, quantas vezes for necessário. Só após o convencimento da sociedade é que o órgão ambiental poderá autorizar a liberação da LP.O que ocorre, é que existem algumas questões importantes que devem ser esclarecidas e questionadas sobre este pedido de Licença, como por exemplo, a grande insistência dos gestores públicos municipais em aparelhar o município de Paracambi com empresas de natureza suja e poluidora há mais de
5 anos. Inclusive tendo revogado uma Lei municipal que até os 2 últimos anos não
permitia a entrada deste tipo de empreendimento no município. Lei esta que foi referência Nacional para outros municípios ameaçados por depósitos de lixo químico e industrial. Sabe-se que existe uma histórica luta no Brasil entre os moradores de Curitiba e Magé contra esta mesma empresa, e que a mesma já tentou por inúmeras vezes se instalar em Seropédica e Paracambi, não obtendo êxito, sendo amplamente combatida por representações importantes da Sociedade Civil organizada. Até hoje não foi aprovado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente o Plano de Manejo desta APA, que com certeza não irá permitir este tipo de empreendimento:
o Conselho Gestor da APA, que obrigatoriamente deve ter participação dos moradores e movimentos sociais, nunca saiu do papel!.
Outra questão importante, é que esta Audiência Pública está causando um grande transtorno na cidade, com um grande clamor público contrário ao Licenciamento no Município, uma vez que os impactos positivos propostos estão baseados em promessas de empregos (o que sabemos não ser o ideal, uma vez que a mão-de-obra absorvida de Paracambi seria irrisória) e o recebimento de parte do Lixo da cidade por um período de 4 anos, o que é um absurdo! Onde está o Aterro Sanitário Prometido desde 2003, e o encerramento do LIXÂO da Cidade, que dobrou de volume nos últimos 5 anos. A população está revoltada porque a menos de 2 anos, estivemos todos
reunidos em uma Audiência Pública para o licenciamento do Aterro Sanitário de Paracambi (Que tem a LP concedida pela CECA/FEEMA), onde foram prometidos mundos e fundos, e nada saiu do papel. Sabe-se inclusive que foi ventilada a vinda de um aterro coletivo (4 municípios) para a cidade. Devemos lembrar também, que a dois anos o Deputado Dionísio Lins - PP , solicitou uma Audiência Pública ao Deputado André do PV (Presidente da Comissão de Meio Ambiente da ALERJ), para discutir a intenção da empresa Essencis em se instalar em Paracambi. Na audiência pública, ficou constatada a indignação de vários moradores da cidade e por diferentes autoridades do setor ambiental sobre a escolha da empresa por Paracambi. O deputado André do PV, inclusive se comprometeu a realizar uma vistoria na sede da empresa em Magé, e uma Audiência Pública em Magé e outra em Paracambi, que não foram realizadas. Desta maneira, os trabalhos da Comissão de Defesa do Meio Ambiente ainda não foram concluídos, o que poderá ser visto na ATA da Audiência pública publicada nos ANAIS da ALERJ.
VAMOS NOS MOBILIZAR PARA IMPEDIR MAIS ESTE CRIME ECOLÓGICO E CONTRA A SAÚDE PÚBLICA!
Maiores informações:
Ambientalista Sérgio Ricardo - Tel. (21) 3366-1898, 9734-8088
Prof. Felipe Brasil - Tel. (21) 9359-0051
Leiam a ATA da Audiência que ocorreu após a da Essencis, onde o Dr. Walter Plácido,
uma das maiores autoridades em Resíduos do País, afirma que o Aterro
de Paracambi Esseencis, será Classe I (Perigoso).

http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/compcom.nsf/e36c0566701326d503256810007413ca/b15689903432084e832574210055d0d3?OpenDocument
Nos próximos dias vamos ter mais uma audiência sobre a implantação de
insdústria de disposição final de lixo tóxico em Paracambi. Apenas para
contribuir com a questão da vinda da ESSENCIS para nossa cidade, resolvi
fazer uma busca no "google". Quem tiver a curiosidade, dá uma lida nos
"links" abaixo para saber o que nosso Prefeito e nossos vereadores estão
querendo trazer de presente de final de mandato para Paracambi.

[Educação ambiental] Denuncia: Moradores de Magé -
http://www.mail-archive.com/ambiental@grupos.com.br/msg01433.html

IAP multa Essencis em R$ 20 mil -
http://www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news/98574/

Audiência Pública na Alerj sobre a Essencis -
http://www.andredopv.com.br/detalheNoticia.php?id=146

'Cheiro do lixo' do aterro sanitário da Essencis em Caieiras tem medidor na
internet - http://www.mafiadolixo.com.br/default.asp?SECAO=26
&SUBSECAO=0&EDITORIA=3942
Caieiras Receberá Mais Lixo? -
http://www.caieiraspress.com.br/historia.php?acao=verMateria
&id=807
Lixão da cavo: Terra do Rio Tietê vem para Caieiras -
http://www.caieiraspress.com.br/historia.php?acao=verMateria
&id=673
perigosos da empresa ESSENCIS, na cidade de Curitiba, Paraná. "molécula da morte -
http://www.acpo.org.br/biblioteca/08_residuos/residuos_sp_sc.pdf


REVEJA A MATÉRIA PUBLICADA EM 20 DE DEZEMBRO DE 2007 SOBRE ESTA QUESTÃO E A TRANSPOSIÇÃO DE RIOS:S.FRANCISCO,PARAÍBA DO SUL E O GUANDÚ
Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2007
Resposta de André Trigueiro a Postagem do Blog Educambiental sobre a TRANSPOSIÇÃO do R.Paraíba do Sul

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Olmpíada de Saúde-Fiocruz


Olimpíada de Saúde entrega prêmios

Luana Furtado
A 3ª Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (OBSM) premia seus vencedores nesta sexta-feira (25/05), em evento integrado às comemorações do aniversário de 107 anos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que promove a competição junto com a Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva (Abrasco). A cerimônia será realizada às 14h, na Tenda do Ciência em Cena, no campus de Manguinhos, no Rio de Janeiro, e contará com a presença do ministro da Saúde, José Temporão.

A avaliação dos trabalhos da Etapa Nacional, em cada modalidade e categoria, ocorre nesta quinta-feira (24/05) – um dia antes da solenidade de premiação. Nesta terceira edição foram avaliados 93 trabalhos em Arte e Ciência, 100 em Produção de Texto e 107 em Projeto de Ciência. “Nós nos sentimos mobilizados por esses alunos que querem entender melhor a origem dos problemas de saúde pública do Brasil”, diz a coordenadora nacional do projeto, Cristina Araripe. Desses 300 projetos selecionados, 28 haviam sido classificados na etapa regional – realizada entre 5 e 9 de março nas regionais distribuídas por todo o país.
Os trabalhos foram produzidos por professores e alunos dos Ensinos Fundamental (5ª à 8ª séries) e Médio, de escolas públicas e privadas do Brasil. O prazo para a inscrição na terceira edição se encerrou em dezembro do ano passado, dando início às fases regional e nacional de seleção. A Olimpíada tem como objetivos estimular a reflexão sobre temas ligados à saúde e ao meio ambiente e, também, tornar o conhecimento científico mais próximo do cotidiano escolar.
Todos os vencedores da primeira fase virão ao Rio de Janeiro para a cerimônia de premiação nacional. Os alunos receberão medalhas e os professores e as escolas prêmios de qualidade do trabalho pedagógico. Além disso, serão entregues outros prêmios especiais aos participantes que se destacaram. A OBSM tem o apoio da Coordenação Geral de Vigilância Ambiental em Saúde (CGVAM) do Ministério da Saúde e do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Clique nos links abaixo e conheça alguns trabalhos classificados para a etapa final das Olimpíadas, nas categorias Arte e Ciência, Produção de Texto e Projeto de Ciência.
A flor do mangue
A importância da biodiversidade para a nossa sociedade
Estrada bucal
Jornal SC Repórter
Nossa casa, nosso bioma: o Cerrado
O pesadelo
Reciclar é transformar
Projeto Tabagismo
Notícias

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AMAZÔNIA

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AMAZÔNIA
Carlos A Nobre ,Gilvan Sampaio e Luis Salazar


As influências do homem no equilíbrio natural do planeta atingiram magnitude sem precedentes. As mudanças climáticas antropogênicas estão associadas às atividades humanas com o aumento da emissão de gases de efeito estufa, de queimadas, com o desmatamento, a formação de ilhas urbanas de calor, etc. A Amazônia desempenha um papel importante no ciclo de carbono planetário, e pode ser considerada como uma região de grande risco do ponto de vista das influências das mudanças climáticas. Segundo Salati (2001), o atual equilíbrio dinâmico da atmosfera amazônica está sujeito a forças de transformação que levam às variações climáticas e podem ser estudadas sob três diferentes aspectos:
1. Variações climáticas na região podem ser devidas às variações climáticas globais, decorrentes de causas naturais. Essas mudanças estão relacionadas com variação da intensidade solar, variações da inclinação do eixo de rotação da Terra, variações da excentricidade da órbita terrestre, variações das atividades vulcânicas e variações da composição química da atmosfera, entre outras. Existem registros bem documentados sobre as oscilações climáticas na Amazônia ocorridas durante as glaciações e também de variações mais recentes da temperatura local. Os efeitos do El Niño, que é um fenômeno natural, podem estar incluídos dentro dessa categoria. O tempo de resposta às forças modificadoras pode ser em um período anual, de décadas e milênios. Não há muita coisa que a sociedade possa fazer contra essas tendências a não ser se preparar para minimizar seus efeitos quando houver possibilidade de previsões científicas, como é o caso específico das variações climáticas decorrentes do El Niño e La Niña.
2. Mudanças climáticas de origem antrópicas, decorrentes de alterações do uso da terra dentro da própria região amazônica. Tais alterações estão ligadas diretamente ao desmatamento de sistemas florestais para transformação em sistemas agrícolas e/ou pastagem, o que implica em transferência de carbono (na forma de dióxido de carbono) da biosfera para a atmosfera, contribuindo para o aquecimento global, o qual por sua vez acaba atuando sobre a região amazônica. Evidências de estudos observacionais e estudos de modelagem (como por exemplo: Nobre et al., 1991; Betts et al., 1997, 2000; Chase et al., 2000; Zhao et al., 2001) demonstraram que mudanças na cobertura superficial podem ter um impacto significativo no clima regional e global. Evidências de trabalhos paleoclimáticos e de modelagem indicam que essas mudanças na vegetação, em alguns casos, podem ser equivalentes àquelas devidas ao aumento do CO2 na atmosfera (Pitman and Zhao, 2000).
3. Variações climáticas decorrentes das mudanças climáticas globais provocadas por ações antrópicas. Se as tendências de crescimento das emissões se mantiverem, os modelos climáticos indicam que poderá ocorrer aquecimento até acima de 6ºC em algumas regiões do globo até o final do século XXI. É provável que a temperatura média global durante o século XXI aumente entre 2,0ºC a 4,5ºC, com uma melhor estimativa de cerca de 3,0ºC, e é muito improvável que seja inferior a 1,5ºC. Valores substancialmente mais altos que 4,5ºC não podem ser desconsiderados, mas a concordância dos modelos com as observações não é tão boa para esses valores (IPCC, 2007). Conclui-se que, mesmo no cenário de baixas emissões de gases do efeito estufa (cenário B1), as projeções dos diversos modelos do IPCC indicam aumento da temperatura, sobretudo no Hemisfério Norte.
Recentemente Ambrizzi et al. (2007), utilizando três modelos regionais que foram integrados numericamente para a América do Sul, a partir de dados iniciais obtidos do modelo climático global do Hadley Centre, concluíram que para o período 2071-2100, em relação ao período 1961-1990, o maior aquecimento ocorrerá na Amazônia com aquecimento entre 4-8ºC para o cenário A2 de emissões de gases de efeito estufa e de 3-5ºC para o cenário B2. Em relação à precipitação, o cenário B2 apresenta diminuição da precipitação no norte e em parte do leste da Amazônia, enquanto que o cenário A2 apresenta diminuição da precipitação no norte, leste e região central da Amazônia.
A partir do Relatório da Quarta Avaliação do IPCC (IPCC 2007), há maior certeza nas projeções dos padrões de aquecimento e de outras características de escala regional, inclusive das mudanças nos padrões do vento, precipitação e alguns aspectos dos eventos extremos e do gelo. A associação entre eventos extremos de tempo e clima observados e as mudanças do clima é recente. As projeções do IPCC (2007) indicam um maior número de dias quentes e ondas de calor em todas as regiões continentais, principalmente em regiões nas quais a umidade do solo vêm diminuindo. Há ainda projeções de aumento da temperatura mínima diária em todas as regiões continentais, principalmente onde houve retração de neve e de gelo. Além disso, dias com geadas e ondas de frio estão se tornando menos freqüentes.
De acordo com o IPCC (2007), o aquecimento global pode levar a mudanças nos padrões de variabilidade de grande escala oceânica e atmosférica. Por exemplo, as projeções de diversos modelos indicam eventos El Niño-Oscilação Sul (Enso) mais intensos e há evidências observacionais que suportam essa projeção (Boer et al., 2004). O Enso está associado com algumas das mais pronunciadas variabilidades interanuais dos padrões climáticos em muitas partes do mundo.
AQUECIMENTO GLOBAL, VARIABILIDADE NATURAL E EL NIÑO As análises de diversos modelos climáticos globais indicam que com o aumento da temperatura global, devido ao aumento dos gases do efeito estufa, o clima do Pacífico tenderá a ficar parecido com uma situação de El Niño (Knutson and Manabe, 1995; Mitchell et al., 1995; Meehl and Washington, 1996; Timmermann et al., 1999; Boer et al., 2000). Entretanto, as razões para tal semelhança são variadas, e dependem da representação de processos físicos e parametrizações nos modelos (IPCC, 2007).
Para a Amazônia, estudos como Ropelewski and Halpert (1987, 1989), Marengo (1992, 2004), Uvo et al. (1998), Ronchail et al. (2002) e muitos outros identificaram que anomalias negativas de precipitação no centro, norte e leste da Amazônia são em geral associadas com eventos de El Niño-Oscilação Sul (Enso) e anomalias de TSM no Atlântico tropical. Esses estudos ressaltaram que algumas das maiores secas na Amazônia foram devidas a: 1. a ocorrência de intensos eventos de El Niño; 2. forte aquecimento das águas superficiais do Atlântico tropical norte durante o verão-outubro no Hemisfério Norte; ou 3. ambos (Marengo et al., 2007). A variabilidade das anomalias de TSM no Pacífico tropical é responsável por menos de 40% da variabilidade da precipitação na bacia amazônica (Marengo, 1992; Uvo et al., 1998; Marengo et al., 2007), o que sugere que os efeitos de outras fontes de variabilidade, tais como o gradiente meridional de TSM no Atlântico intertropical (que afeta principalmente a região norte e central da Amazônia), ou processos de superfície e grande freqüência de transientes do Atlântico Sul (importante para o sul da Amazônia) podem ser também importantes na variabilidade inter-anual da precipitação na região (Marengo et al., 2003; Ronchail et al., 2002; Marengo et al., 2007).
MUDANÇAS DOS USOS DA TERRA E CLIMA Com respeito às modificações de temperatura para a Amazônia, segundo Nobre (2001), nota-se que a projeção de aumento de temperatura global segue a mesma tendência de aumento de temperatura à superfície devido ao desmatamento. As várias simulações dos efeitos climáticos da substituição da floresta por pastagens na Amazônia (por exemplo: Dickinson e Henderson-Sellers, 1988; Shukla et al., 1990; Lean e Warrilow, 1989; Nobre et al., 1991; Henderson-Sellers et al., 1993; Manzi e Planton, 1996; Hahmann e Dickinson, 1997; Costa e Foley, 2000; Rocha, 2001; Werth e Avissar, 2002; Voldoire e Royer, 2004; Correia, 2005 e Sampaio et al., 2007) e as observações dos projetos Abracos (Gash et al., 1996; Gash and Nobre, 1997) e LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia) indicam que há um aumento da temperatura entre 0,3ºC e 3ºC, redução da evapotranspiração entre 15% e 30% e os estudos numéricos indicam redução da precipitação entre 5% e 20% devido à mudança de vegetação de floresta para pastagem. Este aumento de temperatura é comparável àquele projetado para o cenário B1, mas bem inferior àquele previsto para o cenário A2 para o final do século XXI. Provavelmente os efeitos de aumento de temperatura induzidos pelas mudanças globais e aqueles advindos dos desmatamentos se somariam, aumentando o risco de incêndios florestais porque o secamento da vegetação na estação seca e sua flamabilidade são maiores com temperaturas mais altas. (Nepstad et al., 1999). Adicionalmente, Schneider et al. (2006) encontraram que o desflorestamento da Amazônia levaria a um aumento da variabilidade do Enso e um aquecimento médio anual no Pacífico equatorial leste. Esse aumento da variabilidade do Enso estaria relacionado com um aumento da temperatura da superfície na região desflorestada que levaria a mudanças no padrão de vento próximo à superfície, que se estenderiam até o Pacífico e Atlântico e afetariam o vento superficial sobre o oceano, com anomalias de oeste no Pacífico leste. Em resumo, para a Amazônia os aumentos projetados de temperatura atuariam como feedback positivo e aumentariam a suscetibilidade dos ecossistemas amazônicos às mudanças climáticas globais devido ao aumento do efeito estufa, e regionais devido ao desmatamento.
MUDANÇAS DOS USOS DA TERRA E HIDROLOGIA O efeito do desmatamento e das mudanças climáticas afeta o ciclo hidrológico em todas as escalas de tempo: em escalas de tempo de dias a meses, levam a mudanças na incidência de inundações; em escalas de tempo sazonais a interanual, mudanças nas características da seca é a principal manifestação hidrológica; e em escalas de anos a décadas, as teleconexões nos padrões de circulação global atmosférica, ocasionadas pela interação oceano-atmosfera, afetam a hidrologia de algumas regiões, especialmente nos trópicos, por diferentes eventos, entre eles o El Niño (Nijssen et al., 2001). A mudança climática representa um risco para o ciclo hidrológico na Amazônia, uma vez que o aumento de temperatura provocará uma maior evaporação e maior transpiração das plantas, o que levará a uma aceleração do ciclo hidrológico (Case, 2006). Se, além disso, a precipitação diminuir durante a estação seca, o impacto das mudanças climáticas no regime hidrológico na Amazônia será ainda mais agravado (Nijssen et al., 2001). A intensa seca ocorrida, no sudoeste da Amazônia em 2005, teve fortes impactos na navegação, agricultura, geração de hidroeletricidade, e afetou de forma direta e indireta a população ribeirinha de grande parte da Amazônia (Marengo et al., 2006).
AQUECIMENTO GLOBAL E AMAZÔNIA Desde a publicação do Terceiro Relatório de Avaliação do IPCC e particularmente para o Quarto Relatório (IPCC 2007), há uma compreensão cada vez melhor dos padrões projetados de precipitação. É muito provável que ocorra aumento da quantidade de precipitação nas altas latitudes, enquanto que reduções são prováveis na maior parte das regiões continentais subtropicais (em até cerca de 20% no cenário A1B em 2100), continuando os padrões observados nas tendências recentes. Entretanto, há ainda muita incerteza em relação às possíveis mudanças na precipitação pluviométrica em escala regional. De acordo com Li et al. (2006), os modelos climáticos globais do Intergovernmental Panel on Climate Change Fourth Assessment Report (IPPC AR4) prevêem diferentes padrões da precipitação na Amazônia sob a influência do cenário SRES A1B para a mudança climática global. Cinco de onze modelos estudados prevêem um aumento da precipitação anual, três modelos prevêem um decréscimo na precipitação e os outros três não indicam padrão significativo de mudança da precipitação na Amazônia. Incertezas nos padrões previstos de mudanças na TSM no Pacífico e Atlântico tropicais, representação de nuvens e feedbacks da superfície na Amazônia são as principais fontes das incertezas na previsão de mudanças na precipitação da Amazônia. Por outro lado, as projeções do IPCC (2007) indicam que é muito provável que haja um aumento da intensidade da precipitação em diversas regiões, sobretudo na região tropical. Além disso, há projeções de secas generalizadas em regiões continentais durante o verão.
Na Amazônia, a precipitação é sensível às variações sazonal, interanual e decadal da TSM (Fu et al., 2001; Liebmann and Marengo, 2001; Marengo, 2004). O aquecimento do Pacífico tropical leste durante eventos El Niño suprime a precipitação da estação chuvosa através da modificação da circulação de Walker (leste-oeste) e via os extratrópicos no Hemisfério Norte (Nobre and Shukla, 1996). Variações na precipitação da Amazônia são também conhecidas por estarem relacionadas às TSMs no Atlântico tropical (Liebmann and Marengo, 2001). Um aquecimento do Atlântico tropical norte relativo ao sul leva a uma mudança para o norte e oeste da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e subsidência compensatória sobre a Amazônia (Fu et al., 2001). As TSMs no Atlântico também exercem uma grande influência na precipitação da estação seca (julho-outubro) no oeste da Amazônia pelo atraso no início da Monção da América do Sul (Marengo et al., 2001; Harris et al., 2006).
Eventos extremos, como a seca de 2005 no oeste e sudoeste da Amazônia, num cenário futuro de aumento de CO2 e diminuição de aerossóis, podem se tornar mais freqüentes. É provável que um aumento na temperatura da superfície do mar no Atlântico norte tropical tenha sido a causa da seca de 2005 na Amazônia, já que havia a ausência de episódio El Niño. Isso implicou numa diminuição da intensidade dos ventos alísios de nordeste e do transporte de umidade do Atlântico tropical em direção a região amazônica. Segundo Marengo et al. (2007) as causas da seca ocorrida na Amazônia em 2005 não estão relacionadas ao El Niño, mas a três possíveis fatores: (1) o Atlântico norte tropical anomalamente mais quente do que o normal, (2) a redução na intensidade do transporte de umidade pelos alísios de nordeste em direção ao sul da Amazônia durante o pico da estação de verão, e (3) a diminuição do movimento vertical sobre esta parte da Amazônia, resultando num reduzido desenvolvimento convectivo e reduzida precipitação. Esses três fatores são dinamicamente consistentes na medida que águas mais quentes no oceano Atlântico tropical norte induziriam movimentos ascendentes atmosféricos sobre essa região, com abaixamento da pressão atmosférica, e movimentos descendentes compensatórios sobre a região da seca no oeste-sudoeste da Amazônia, e conseqüente aumento da pressão atmosférica. Esse padrão de anomalias de pressão reduziria a intensidade dos ventos alísios transportando umidade do oceano para a Amazônia.
VARIABILIDADE CLIMÁTICA E INCÊNDIOS FLORESTAIS Quando a floresta é sujeita a períodos anomalamente secos, aumenta a probabilidade de ocorrência de queimadas que podem destruir centenas de milhares de hectares de floresta e injetar na atmosfera grandes quantidades de fumaça e aerossóis que poluem o ar em extensas áreas, afetando a população e com potencial de afetar o início da estação chuvosa e a quantidade de chuva na região (Andreae et al. 2004). Considerando os cenários de mudança climática do modelo do HadCM3 para o IPCC/AR4, a duração da estação seca poderia aumentar em até dois meses ou mais na maior parte da Amazônia, o que levaria ao aumento da estação seca dos atuais 3-4 meses para 5-6 meses na Amazônia central e oriental. Esse aumento da estação seca implicaria num aumento do risco da ocorrência de queimadas e mudança na climatologia da chuva o que favoreceria a substituição da floresta por savana (Li et al., 2006). Esses impactos ecológicos afetam a possibilidade de manejo sustentável da floresta na região, o que é uma premissa básica para a economia regional (Brown et al., 2006).
O risco dos impactos das mudanças climáticas na Amazônia aumenta ainda mais quando somamos ao aquecimento global as alterações de vegetação resultantes das mudanças dos usos da terra, notadamente os desmatamentos das florestas tropicais e dos cerrados. Um outro fator importante é o fogo, pois a floresta densa amazônica era praticamente impenetrável ao fogo, mas devido à combinação da fragmentação florestal, desmatamentos e aquecimento em razão dos próprios desmatamentos e devido ao aquecimento global, aliada a prática agrícola predominante que utiliza fogo intensamente, esse quadro está rapidamente mudando e a freqüência de incêndios florestais vem crescendo a cada ano. Com isso, é quase certo que acontecerão rearranjos importantes nos ecossistemas e mesmo redistribuição de biomas. A assombrosa velocidade com que tais alterações estão ocorrendo, em comparação àquelas dos processos naturais em ecossistemas, introduz séria ameaça à mega-diversidade de espécies da flora e da fauna dos ecossistemas, em especial da Amazônia, com o provável resultado de sensível empobrecimento biológico (Nobre et al, 2005).
MUDANÇAS CLIMÁTICAS, BIOMAS E BIODIVERSIDADE Segundo Nobre (2001), para a Amazônia, se houver redução de precipitações induzidas pelas mudanças climáticas globais, estas se somam às reduções previstas como resposta ao desmatamento (Nobre et al., 1991), aumentando sobremaneira a suscetibilidade dos ecossistemas amazônicos ao fogo e causando a redução das espécies menos tolerantes à seca, podendo até induzir uma "savanização" de partes da Amazônia. Para a América do Sul tropical, tomando-se uma média dessas projeções de aumento de temperatura, constata-se a projeção do aumento da área de savanas e uma diminuição da área de caatinga no semi-árido do Nordeste do Brasil. Salazar et al. (2007) calcularam, utilizando cenários climáticos de 15 modelos climáticos globais do IPCC-AR4, as áreas onde o consenso dos modelos (> 11 modelos) indicam mudanças nos biomas na América do Sul tropical nos cenários A2 e B1 de emissões de gases de efeito estufa. Para o período 2020-2029, 3.1% da floresta tropical seria substituída por savana, e para finais do século (2090-2099) a área que será substituída aumenta para 18% no cenário A2. Esta mudança nos biomas, devido ao aquecimento global, ocorre principalmente no sudeste da Amazônia, região esta que coincide com uma zona que teoricamente apresenta dois estados de equilíbrio vegetação-clima: 1. o primeiro que corresponde ao padrão de vegetação atual com a maior parte da Amazônia recoberta por floresta tropical e 2. um segundo estado de equilíbrio, onde a parte leste da Amazônia é substituída por savanas (Oyama e Nobre, 2003). Isso tem repercussões muito importantes, já que a mudança climática pode ser um dois fatores que poderiam levar o sistema de um estado de equilíbrio para outro no leste da Amazônia. Outros estudos também apontam para redução das áreas de floresta (White et al., 1999; Cramer et al., 2001; Scholze et al., 2006; Cook and Vizy, 2007) ou seu completo colapso (Jones et al., 2003; Cox et al., 2004)
Em Scholze et al. (2006), o risco de perda da floresta em algumas partes da Amazônia é de mais de 40% para os cenários que apresentam uma anomalia de temperatura maior que 3ºC. Por outro lado, se houver tendência ao aumento das precipitações, estes atuariam para contrabalançar a redução das chuvas devido ao desmatamento e o resultado final seria mais favorável à manutenção dos ecossistemas e espécies.
Adicionalmente, alguns estudos têm mostrado que o estômato da planta abre menos com altas concentrações de CO2 (Field et al., 1995), o que reduz diretamente o fluxo de umidade da superfície para a atmosfera (Sellers et al., 1996). Isto pode aumentar a temperatura do ar próximo da superfície pelo aumento da razão entre o fluxo de calor sensível e fluxo de calor latente. Numa região como a Amazônia, onde muito da umidade para a precipitação advém da evaporação à superfície, a redução da abertura estomatal pode também contribuir para um decréscimo na precipitação (Betts et al., 2004).
Se grandes áreas da Amazônia forem substituídas por savana, a aridez poderá aumentar já que a vegetação adaptada ao fogo tem uma menor transpiração. Em Scholze et al. (2006) conclui-se que é provável uma maior freqüência de fogo (risco > 60% para temperatura > 3ºC) em muitas zonas da América do Sul. Em Hutyra et al. (2005) é mostrado que as florestas presentes em áreas com alta freqüência de secas (> 45% de probabilidade de seca) podem mudar para savana, se a aridez aumentar como previsto pelos cenários de mudança climática (Cox et al., 2004; Friedlingstein et al., 2003). Portanto cerca de 600.000 km2 de floresta estarão em potencial risco de desaparecer (> 11% da área total vegetada).
A floresta amazônica contém uma grande parte da biodiversidade do mundo, pois mais de 12% de todas as plantas com flores são encontradas na Amazônia (Gentry, 1982). Sendo assim, ameaças à existência da floresta amazônica indicam sérias ameaças à biodiversidade. Entretanto, existem poucos estudos sobre os efeitos das mudanças climáticas na distribuição de espécies. Em nível global, Thomas et al. (2004) avaliaram o risco de extinção de espécies para áreas que cobrem cerca de 20% da superfície terrestre, e encontraram que entre 15% e 37% das espécies estariam comprometidas com risco de extinção até o ano de 2050. Em nível regional, as simulações de Miles et al. (2004), baseando-se nos cenários futuros do HADCM2Gsa1 (que assume um aumento anual de 1% na concentração de CO2), mostraram que 43% do conjunto de espécies arbóreas analisadas na Amazônia seriam não-viáveis para o ano de 2095. Para que as espécies afetadas possam atingir novas zonas bioclimáticas, a dispersão e migração deverão ser feitas em centenas de quilômetros (Hare, 2003). Muitos desses experimentos de modelagem não têm considerado as influências não-climáticas como as mudanças do uso da terra, o desmatamento, a disponibilidade de água, as pestes e doenças, queimadas, e todas as outras que possam limitar a migração e dispersão de espécies (Case, 2006). No trabalho de Sala et al. (2000), estudou-se a mudança na biodiversidade para o ano 2100, considerando alguns desses aspectos e identificou-se que, para os biomas tropicais, os principais agentes que afetam a biodiversidade são o uso da terra e as mudanças climáticas.
CONCLUSÃO A Amazônia vem sendo submetida a pressões ambientais de origem antrópica crescentes nas últimas décadas, tanto pressões diretas advindas dos desmatamentos e dos incêndios florestais, como pressões resultantes do aquecimento global. A estabilidade climática, ecológica e ambiental das florestas tropicais amazônicas está ameaçada por essas crescentes perturbações, que, ao que tudo indica, poderão tornar-se ainda maiores no futuro. A ciência ainda não consegue precisar quão próximos estamos de um possível ponto de ruptura do equilíbrio dos ecossistemas e mesmo de grande parte do bioma Amazônico, mas o princípio da precaução nos aconselha a levar em consideração que tal ponto de ruptura pode não estar distante no futuro. Um colapso de partes da floresta tropical trará conseqüências adversas permanentes para o planeta Terra.

Carlos A.Nobre, Gilvan Sampaio, Luis Salazar são pesquisadores do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
NOBRE, Carlos A; SAMPAIO, Gilvan; SALAZAR, Luis. Mudanças climáticas e Amazônia. Cienc. Cult. , São Paulo, v. 59, n. 3, 2007 . Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252007000300012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19 Oct 2008.

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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Quilombolas do Guaporé-Mato Grosso

cerrado de Belvedere_MT - foto Prof.Jose Leite
Apresentação

O Projeto Guyagrofor resulta de uma cooperação internacional estabelecida entre universidades e grupos de pesquisas com vistas a desenvolver estudos sobre o desenvolvimento de Sistemas Agroflorestais Sustentáveis baseados nos conhecimentos de povos indígenas e quilombolas na Região do Escudo das Guianas.

Essas experiências vêm ocorrendo no Suriname, na Venezuela e no Brasil (Roraima e Mato Grosso).

Em Mato Grosso, o projeto foi denominado Quilombolas do Guaporé, que além do estudo busca dar suporte às experiências em sistemas agroflorestais junto aos agricultores das comunidades de Retiro (rio Guaporé) e Boqueirão (rio Alegre), município de Vila Bela da Santíssima Trindade, ao Sudoeste do Estado, no Vale do Alto Guaporé.

O IV Workshop Internacional do Projeto Guyagrofor tem como objetivo apresentar os resultados dessas experiências entre as equipes do projeto, discutir as metodologias utilizadas, bem como o seu impacto social junto às comunidades envolvidas nas atividades.

Data: 03 a 07/11/2008
Local: Auditório da Câmara dos Vereadores de Vila Bela da Santíssima Trindade.

Coordenação do evento
Arie van Kekem (Alterra/Holanda)
José Carlos Leite (UFMT/BR)
Verone Cristina da Silva (UFMT/BR)

Equipe de apoio
Lionês Araújo dos Santos (UFMT/ BR)
Claudinei Caetano dos Santos (UFMT / BR)
Célia Bento (ESAC/Portugal)
Leen Gilles (Instituto da Língua Inglesa-BR)

Organizações Parceiras na Cooperação

ADEK - Anton de Kom University of Suriname
ALTERRA, Research Institute for the Green Living Environment (Holanda)
CELOS - Center for Agricultural Research Suriname
ESAC -Escola Superior Agrária de Coimbra (Portugal)
GIMEFOR Grupo de Investigación Manejo Múltiple de Ecosistemas Forestales Universidad de los Andes (Venezuela)
INPA - Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Brazil)
KUL - Catholic University of Leuven (Bélgica)
MARN - Ministerio el Ambiente y de los Recursos Naturales/Dirección General del Recurso Forestal (Venezuela)
TBI - Tropenbos International (Holanda)
UFMT- Universidade Federal de Mato Grosso (Brasil)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Diálogos sobre Educação Ambiental e a nova legislação em curso no Congresso


EA em FOCO - Michèle SATO , Projeto de Lei 3681/08, CONAMA- regulamentação Lei 9.795/99. Seguem nossos considerandos e links para ciência e ações. Att. Pedagoga Léa C. Pinto- CEA ITEREI e Centro de Referência do Movimento da Cidadania pelas Águas Florestas e Montanhas Iguassu Iterei
Prezados Senhores, Considerando que o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) realizará de 3 a 5 de dezembro 2008, em Salvador (BA), o seminário "Desafios e Perspectivas da Educação Ambiental no Setor Empresarial e Sindical", visando uma proposta normativa de regulamentação do artigo 3º da Lei 9.795/99, que dispõe sobre a educação ambiental;Considerando a discussão iniciada na Lista CNMASP, fomentada pelo Projeto de Lei 3681/08, do deputado José Linhares (PP-CE), que inclui a disciplina de Educação Ambiental na grade curricular de todos os cursos de licenciatura, em discussão na Câmara dos Deputados;Encaminho para enriquecer o debate , dois artigos dos notórios especialistas na área, Prof. Dra. Michèle Sato , Pablo Meira e Luiz Passos: · http://www.ufmt.br/gpea/pub_artig.htm MEIRA, Pablo; SATO, Michèle. Só os peixes mortos não conseguem nadar contra a correnteza. Revista de Educação Pública, v.14, n.25, 17-31p., 2005. Um texto que evidencia algumas contradições do desenvolvimento sustentável e defende a construção de sociedades sustentáveis, pelas mãos da EA. PC: desenvolvimento sustentável - sociedades sustentáveis - identidades· http://www.ufmt.br/gpea/pub_artig.htm
PASSOS, Luiz A & SATO, Michèle. EA nos currículos fenomenológicos, no marco do projeto EDAMAZ Educação Ambiental: o currículo nas sendas da fenomenologia Merleu-pontyana. (Palavras-chave: fenomenologia, currículo, estratégias da EA).
Destaco a afirmativa de Michèle Sato “De maneira nenhuma defendo a criação de disciplina específica de educação ambiental na educação básica ou média, ainda que tenha dúvidas na universidade. " , oriunda, da seguinte argumentação oferecida por esta professora doutora em Educação Ambiental na Lista da REBEA: Em relação à temática em debate, ela vem e volta de tempos em tempos. Uma coisa é a lei ou o engessamento das pessoas. A outra é a práxis cotidiana no chão da escola, que se esvazia em políticas pedagógicas e se transborda de problemas.
Porém mais do que isso, o que eu absolutamente defendo é um currículo desenhado na democracia, na autonomia, no poder de escolhas que uma escola possa realizar entre os seus membros (currículo escolarizado) e os membros da comunidade (currículo da vida). Merleau-Ponty diria que não existiria nenhum eu constituído que não fosse simultaneamente constituinte. A natureza de nossa percepção nos leva a viver uma condição humana universal, irredutível à privaticidade. E das malhas destas relações resultaria conseqüências imediatamente ético-políticas, das quais, como sujeitos irremediavelmente livres, somos responsáveis. A responsabilidade em criar (ou não) uma disciplina específica deve ter autonomia ao que chamo de currículo fenomenológico (O Mauro Grun chama de currículo biorregional). Um currículo projetado no chão cotidiano, nos vãos, labirintos, fugas e dores ao abrir um jornal. Mas que, sobremaneira, tem coragem de sacudir as mesmices, indignar-se, rebelar contra esta maré forte que nos cristaliza e nos deixa impassíveis com as dores do mundo. As possibilidades, que nos são abertas, ao livre arbítrio como roteiro, são infinitas. Um currículo concebido como trajetória, convida ao exercício arrojado do livre arbítrio, e de transformar em atos de liberdade, de reverberações pessoais. Chamados a engajamentos que não nos isentam de responsabilidade, pelas escolhas entre tramas de infinitas possibilidades, configuramos uma concreção histórica, uma via ainda não vivida antes.E por tudo isso, creio que não cabe uma avaliação tão dura contra aqueles que possuem um olhar diferenciado do nosso. Segundo o antropólogo Geertz, não se invade santuários alheios com botas sujas! “

domingo, 12 de outubro de 2008

Jornada Mundial pela Paz e Soberania Alimentar

JORNADA MUNDIAL DE JEJUM E ORAÇÃO PELA PAZ E SOBERANIA ALIMENTAR “Águas para a Paz” - MANIFESTO
Por 24 dias, ao final de 2007, em Sobradinho-BA, Brasil, o bispo franciscano D. Fr. Luiz Cappio fez jejum e oração contra o Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco para a região setentrional do Nordeste brasileiro, em favor de um programa de convivência com o Semi-árido e pela revitalização verdadeira e integral da Bacia do Rio São Francisco. A Pax Christi Internacional está outorgando o seu Prêmio da Paz 2008 (2008 Pax Christi International Peace Award) ao bispo e aos que com ele lutaram ou foram solidários. A entrega se dará durante a 5ª Romaria das Águas em Sobradinho, em 18 e 19 de outubro de 2008, com o tema “Águas para a Paz”, e a participação de milhares de pessoas e entidades.Em torno a Dom Luiz Cappio, expressou-se um movimento que foi muito além daquele gesto, momento e lugar e dos que o acompanharam de perto. Mundo afora cresceu o que se chamou informalmente Movimento Jejum Solidário. Centenas de pessoas em todo o mundo, por um ou mais dias, anônima ou publicamente, jejuaram solidariamente. De maneira inovadora, ganhou novos contornos, energias e visibilidades a luta por um outro mundo, outro desenvolvimento, ou melhor, outros modelos de vida e produção, outras relações entre as pessoas, as comunidades, os povos e com o planeta, marcadas pela paz que é fruto da justiça, inclusive a ambiental.Agora, quando as atenções se voltam de novo para Sobradinho e a causa que ali se defendeu e se viveu, num momento em que se esfacela a economia mundial refém da especulação financeira, prisioneira do falido neoliberalismo, os movimentos sociais e organizações populares do São Francisco e do Nordeste, a Pax Christi e a Via Campesina Brasil propõem uma Jornada Mundial de Jejum pela Paz e Soberania Alimentar, entre os dias 16 e 18 de outubro de 2008, integrada também à JORNADA MUNDIAL DE JEJUM E ORAÇÃO PELA PAZ E SOBERANIA ALIMENTAR “Águas para a Paz” - MANIFESTO Por 24 dias, ao final de 2007, em Sobradinho-BA, Brasil, o bispo franciscano D. Fr. Luiz Cappio fez jejum e oração contra o Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco para a região setentrional do Nordeste brasileiro, em favor de um programa de convivência com o Semi-árido e pela revitalização verdadeira e integral da Bacia do Rio São Francisco. A Pax Christi Internacional está outorgando o seu Prêmio da Paz 2008 (2008 Pax Christi International Peace Award) ao bispo e aos que com ele lutaram ou foram solidários. A entrega se dará durante a 5ª Romaria das Águas em Sobradinho, em 18 e 19 de outubro de 2008, com o tema “Águas para a Paz”, e a participação de milhares de pessoas e entidades.Em torno a Dom Luiz Cappio, expressou-se um movimento que foi muito além daquele gesto, momento e lugar e dos que o acompanharam de perto. Mundo afora cresceu o que se chamou informalmente Movimento Jejum Solidário. Centenas de pessoas em todo o mundo, por um ou mais dias, anônima ou publicamente, jejuaram solidariamente. De maneira inovadora, ganhou novos contornos, energias e visibilidades a luta por um outro mundo, outro desenvolvimento, ou melhor, outros modelos de vida e produção, outras relações entre as pessoas, as comunidades, os povos e com o planeta, marcadas pela paz que é fruto da justiça, inclusive a ambiental.Agora, quando as atenções se voltam de novo para Sobradinho e a causa que ali se defendeu e se viveu, num momento em que se esfacela a economia mundial refém da especulação financeira, prisioneira do falido neoliberalismo, os movimentos sociais e organizações populares do São Francisco e do Nordeste, a Pax Christi e a Via Campesina Brasil propõem uma Jornada Mundial de Jejum pela Paz e Soberania Alimentar, entre os dias 16 e 18 de outubro de 2008, integrada também à Jornada da Via Campesina Brasil contra os transgênicos, na Semana Mundial da Alimentação. Queremos com este gesto chamar atenção para as questões gravíssimas da degradação, do desperdício e dos conflitos crescentes pelas águas no Planeta e do gradativo controle do território, da produção e do acesso à comida por algumas poucas empresas multinacionais que visam o oligopólio do capital na agricultura e na agroindústria, dominando territórios, terras e águas, tecnologias, insumos e sementes. Este Movimento une Política e Espiritualidade. A greve de fome de D. Luiz Cappio nos recorda a tradição da Não Violência e Firmeza Permanente, de Gandhi, Luther King e tantos outros, e que remonta ao próprio Jesus Cristo. É um gesto físico de recusar comida por uma causa de valor mais alto. Mas é também um ato de força espiritual, pois mobiliza energias imateriais que alimentam a causa e contagiam outras pessoas. Resulta disso uma sinergia que tem poder agregador e transformador.Em meio à abundância e desperdício dos ricos, alimentos contaminados, má comida nos fast food, aumento da fome, esse gesto afirma a necessidade urgente da reforma agrário-agrícola, da água como direito humano à alimentação e da soberania alimentar. Cada povo e região têm o direito de produzir e comer sua própria comida em quantidades e qualidades suficientes sem imposições do mercado controlado por corporações globais.Ao confrontar um projeto como o da Transposição que destina 70% das águas transpostas de um rio moribundo à produção de frutas nobres e agrocombustíveis, camarão e aço, para exportação, evidencia-se a insanidade de empreendimentos econômicos hoje expandidos em escala global. Por trás a implantação do mercado da água bruta, como já acontece em vários países, em benefício de empresas como Vivendi, Suez Lionnaise des Eaux, Nestlé, Coca-Cola, etc. Multinacionais da agricultura, tais como a Syngenta, Monsato, Bunge, ADM, Cargill, Dupont, Bayer e BASF, querem o gradativo controle dos mananciais hídricos, das terras agricultáveis, da biodiversidade e da agrobiodiversidade, das bio e agrotecnologias e do mercado mundial de alimentos. As variedades de sementes transgênicas são seu principal instrumento e a eles os governos vêm cedendo, em desprezo ao princípio da preocupação, promovendo a bio-insegurança, ao invés de preveni-la. Povos e comunidades tradicionais e seus territórios atuais e pleiteados são erigidos em inimigos principais destes processos tidos como “modernizadores”. A reforma agrária passa a ser esvaziada e até combatida. Os impactos das mudanças climáticas na natureza e nas relações comerciais, a crise econômica global, deverão agravar ainda mais esse quadro. É urgente que a sociedade organizada em todo o mundo se levante e proponha limites e alternativas viáveis.No Brasil, é preciso rever os grandes projetos do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento - à luz de outros modelos de desenvolvimento. Qual a real necessidade de empreendimentos como o da Transposição do Rio São Francisco e do Rio Tocantins, as Hidrelétricas do Rio Madeira, as Usinas Nucleares e Hidrelétricas, as ferrovias, hidrovias, gasodutos, alcooldutos, minerodutos etc? A quem servem, quais os custos e danos sociais e ambientais? Que alternativas sustentáveis existem, quais é preciso criar?Por exemplo, o que existe de melhor que a transposição? A sociedade civil organizada do Nordeste Semi-árido há décadas vem criando e comprovando diversas tecnologias de captação, armazenamento e uso de água, de resultados tão mais excelentes quanto mais exercitam a soberania hídrica e alimentar como dimensões da soberania popular sobre seu próprio território e seu desenvolvimento. Ao revés, as adutoras propostas pelo Atlas Nordeste da ANA – Agência Nacional de Águas -, que potencializariam iniciativas como estas, continuam no papel.Os outros modelos de vida e produção que propomos são mais de “envolvimento” do que “desenvolvimento”. Vêm de baixo para cima, envolventes das pessoas, famílias e comunidades, a partir de suas necessidades reais e através das suas organizações autônomas. Modelos que nasçam delas, que dinamizem seus potenciais humanos e naturais, que respeitem a soberania das comunidades sobre seus territórios e sobre os recursos essenciais para a produção e a reprodução da vida: alimentos, águas, terra, ar, florestas e biodiversidade, e até mesmo sobre o dinheiro gerado pelo seu trabalho! Modelos democráticos e participativos, que resultem de uma integração solidária com os de outras comunidades, e de um diálogo criativo com os governos nos diversos níveis. Modelos planejados e geridos pelas próprias comunidades, em articulação com os outros níveis de governança, em construção de uma contra-hegemonia, local e global.São razões suficientes que apelam à nossa sensibilidade e solidariedade humanas, às quais é possível agregar outras de importância local específica. Toda pessoa de boa vontade, individualmente ou em grupo, sinta-se interpelada a se integrar à Jornada Mundial de Jejum pela Paz e Soberania Alimentar, entre 16 e 18 de outubro de 2008, e se manifestar em defesa das águas, do direito humano à água, dos alimentos sadios e da agricultura camponesa, pelo fim da fome, pela ecologia e pela paz.

Assinam: Pax Christi International, Via Campesina Brasil (MST, MPA, MAB, MMC, FEAB e CPT), CESE, CARITAS
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Comunique sua adesão à CPT Bahia (e-mail cptba@cpta.org.br ou tel. 0055 - 71.8714-5724 - Andréa) ou à Via Campesina / Brasil (e-mail ou tel. ), informando o número de pessoas em jejum e sua organização. O conhecimento e divulgação posterior destes dados são importantes!. Queremos com este gesto chamar atenção para as questões gravíssimas da degradação, do desperdício e dos conflitos crescentes pelas águas no Planeta e do gradativo controle do território, da produção e do acesso à comida por algumas poucas empresas multinacionais que visam o oligopólio do capital na agricultura e na agroindústria, dominando territórios, terras e águas, tecnologias, insumos e sementes. Este Movimento une Política e Espiritualidade. A greve de fome de D. Luiz Cappio nos recorda a tradição da Não Violência e Firmeza Permanente, de Gandhi, Luther King e tantos outros, e que remonta ao próprio Jesus Cristo. É um gesto físico de recusar comida por uma causa de valor mais alto. Mas é também um ato de força espiritual, pois mobiliza energias imateriais que alimentam a causa e contagiam outras pessoas. Resulta disso uma sinergia que tem poder agregador e transformador.Em meio à abundância e desperdício dos ricos, alimentos contaminados, má comida nos fast food, aumento da fome, esse gesto afirma a necessidade urgente da reforma agrário-agrícola, da água como direito humano à alimentação e da soberania alimentar. Cada povo e região têm o direito de produzir e comer sua própria comida em quantidades e qualidades suficientes sem imposições do mercado controlado por corporações globais.Ao confrontar um projeto como o da Transposição que destina 70% das águas transpostas de um rio moribundo à produção de frutas nobres e agrocombustíveis, camarão e aço, para exportação, evidencia-se a insanidade de empreendimentos econômicos hoje expandidos em escala global. Por trás a implantação do mercado da água bruta, como já acontece em vários países, em benefício de empresas como Vivendi, Suez Lionnaise des Eaux, Nestlé, Coca-Cola, etc. Multinacionais da agricultura, tais como a Syngenta, Monsato, Bunge, ADM, Cargill, Dupont, Bayer e BASF, querem o gradativo controle dos mananciais hídricos, das terras agricultáveis, da biodiversidade e da agrobiodiversidade, das bio e agrotecnologias e do mercado mundial de alimentos. As variedades de sementes transgênicas são seu principal instrumento e a eles os governos vêm cedendo, em desprezo ao princípio da preocupação, promovendo a bio-insegurança, ao invés de preveni-la. Povos e comunidades tradicionais e seus territórios atuais e pleiteados são erigidos em inimigos principais destes processos tidos como “modernizadores”. A reforma agrária passa a ser esvaziada e até combatida. Os impactos das mudanças climáticas na natureza e nas relações comerciais, a crise econômica global, deverão agravar ainda mais esse quadro. É urgente que a sociedade organizada em todo o mundo se levante e proponha limites e alternativas viáveis.No Brasil, é preciso rever os grandes projetos do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento - à luz de outros modelos de desenvolvimento. Qual a real necessidade de empreendimentos como o da Transposição do Rio São Francisco e do Rio Tocantins, as Hidrelétricas do Rio Madeira, as Usinas Nucleares e Hidrelétricas, as ferrovias, hidrovias, gasodutos, alcooldutos, minerodutos etc? A quem servem, quais os custos e danos sociais e ambientais? Que alternativas sustentáveis existem, quais é preciso criar?Por exemplo, o que existe de melhor que a transposição? A sociedade civil organizada do Nordeste Semi-árido há décadas vem criando e comprovando diversas tecnologias de captação, armazenamento e uso de água, de resultados tão mais excelentes quanto mais exercitam a soberania hídrica e alimentar como dimensões da soberania popular sobre seu próprio território e seu desenvolvimento. Ao revés, as adutoras propostas pelo Atlas Nordeste da ANA – Agência Nacional de Águas -, que potencializariam iniciativas como estas, continuam no papel.Os outros modelos de vida e produção que propomos são mais de “envolvimento” do que “desenvolvimento”. Vêm de baixo para cima, envolventes das pessoas, famílias e comunidades, a partir de suas necessidades reais e através das suas organizações autônomas. Modelos que nasçam delas, que dinamizem seus potenciais humanos e naturais, que respeitem a soberania das comunidades sobre seus territórios e sobre os recursos essenciais para a produção e a reprodução da vida: alimentos, águas, terra, ar, florestas e biodiversidade, e até mesmo sobre o dinheiro gerado pelo seu trabalho! Modelos democráticos e participativos, que resultem de uma integração solidária com os de outras comunidades, e de um diálogo criativo com os governos nos diversos níveis. Modelos planejados e geridos pelas próprias comunidades, em articulação com os outros níveis de governança, em construção de uma contra-hegemonia, local e global.São razões suficientes que apelam à nossa sensibilidade e solidariedade humanas, às quais é possível agregar outras de importância local específica. Toda pessoa de boa vontade, individualmente ou em grupo, sinta-se interpelada a se integrar à Jornada Mundial de Jejum pela Paz e Soberania Alimentar, entre 16 e 18 de outubro de 2008, e se manifestar em defesa das águas, do direito humano à água, dos alimentos sadios e da agricultura camponesa, pelo fim da fome, pela ecologia e pela paz.

Assinam: Pax Christi International, Via Campesina Brasil (MST, MPA, MAB, MMC, FEAB e CPT), CESE, CARITAS
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Comunique sua adesão à CPT Bahia (e-mail cptba@cpta.org.br ou tel. 0055 - 71.8714-5724 - Andréa) ou à Via Campesina / Brasil (e-mail ou tel. ), informando o número de pessoas em jejum e sua organização. O conhecimento e divulgação posterior destes dados são importantes!

domingo, 5 de outubro de 2008

O resgate da memória é sempre uma condição sine qua non para se projetar o futuro.

Marilza de Melo Foucher (1)

O encontro recente da FAO - Organismo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - reuniu a maioria dos governos e presidentes de varias nações para debater sobre a fome e a pobreza no mundo. Ao dizer em suas premissas que o encontro de Roma oferecia uma ocasião histórica de retomar a luta contra a fome e a pobreza, se poderia supor que o governo brasileiro iria aproveitar desta Cimeira para relembrar o centenário de um brasileiro nordestino, conterrâneo do Presidente Lula da Silva. Nascido no Estado de Pernambuco, o médico, geógrafo e sociólogo Josué de Castro (1908-1973) foi o pioneiro no combate à fome no mundo. Ele foi o representante do Brasil na conferencia da FAO em Genebra em 1947, tornando-se presidente deste organismo internacional no período de 1952 a 1956. Autor de dois livros conhecidos mundialmente, traduzidos em 24 línguas, o primeiro intitulado a Geografia da Fome e outro Geopolítica da Fome.
O conterrâneo de Lula, Josué de Castro, viveu seu exílio em Paris, ficando conhecido por sua incansável luta contra a fome e a miséria. Dizia que não adiantava somente produzir os alimentos, era necessário também que esses alimentos pudessem ser comprados e consumidos por grupos humanos necessitados. Josué de Castro aproveitou do otimismo reinante do pós-guerra para chamar atenção das grandes potências de que já era tempo de sair da economia colonial para a economia baseada na reciprocidade da cooperação, levando em conta os interesses comuns. Ele salientava que essa reciprocidade não ia provocar a falência das metrópoles colonizadoras, bastava vontade política para libertar o homem da miséria. Entretanto, até hoje os paises ricos não aplicam a reciprocidade na cooperação, principalmente na área da agricultura. Os países pobres não têm condições de competir com uma agricultura altamente protecionista e subvencionada. Em 2007, cerca de 320 bilhões de dólares por ano foram concedidos aos agricultores dos paises ricos. Enquanto isto, os preços dos alimentos básicos subiram entre 20 a 70% em 2007 e se continuar este ritmo, assistiremos a um verdadeiro “tsunami” silencioso da fome como alguns evocaram durante na Cimeira da FAO em Roma.
O humanista Josué de Castro, desde a década de 50, detinha uma visão sistêmica do desenvolvimento. Segundo ele, a questão da Fome não seria resolvida somente com o aumento de produtividade agrícola e distribuição de alimentos; era necessário pensar também nos que trabalhavam a terra nos paises pobres. Dizia sim à produtividade, mas com uma melhor repartição do fruto do progresso. Dizia sim à produtividade, mas chamava atenção para degradação dos solos. Não escondia sua admiração pelo sábio inglês Albert Howard (1873-1947), um dos fundadores da agricultura biológica, que desde 1943 contesta o uso de fertilizantes químicos para uma boa conservação do solo. Dai que a leitura ou releitura, hoje, da Geopolítica da Fome pelos organizadores do encontro da FAO seria uma bela homenagem ao grande humanista que dirigiu os destinos da instituição nos anos 50. O resgate da memória é sempre uma condição sine qua non para se projetar o futuro.
Que balanço temos hoje do papel da FAO e de outras Instituiçoes que integram o sistema das Nações Unidas no combate a fome e a pobreza? Tivemos no século XX, e atualmente, uma proliferação de encontros internacionais, fóruns, cimeiras etc. Muitos discursos, relatórios e inúmeras convenções internacionais. As conferências internacionais da ONU passaram a ser excelentes tribunas para os atores globais demonstrarem aos canais de televisões internacionais, que eles estão comovidos com a Fome que continua a se alastrar, perplexos com a degradação sócio-ambiental do planeta!
Segundo os protagonistas do poder político em escala mundial, chegou a hora de fazer proposições inovadoras, concretas e realistas e definir novos paradigmas de desenvolvimento! Bla-bla-bla e pouca vontade política para agir de forma conseqüente. Até quando os países mais pobres do planeta esperarão que a contribuição pública ao desenvolvimento cumpra a meta prevista de 0.7% do PNB dos paises ricos? Nos últimos dez anos a ajuda pública ao desenvolvimento caiu em 30%. Segundo a OCDE, a ajuda pública ao desenvolvimento em 2007 recuou de 8.4% com relação a 2006, representando apenas 0.28% do produto bruto nacional. A proteção ambiental compromete hoje menos de 1% do orçamento total da ONU!

Os países ricos impuseram, ao longo do século passado, estratégias de desenvolvimento que pilharam e degradaram o meio ambiente e destruíram relações sociais sem levar em conta a especificidade cultural e dinâmica locais. As desigualdades sociais, o aumento da pobreza, as diferenças de renda entre os países, a degradação dos ecossistemas rurais e urbanos são indicadores do fracasso das políticas de desenvolvimento e do modelo atual da governança global. Esse modelo difunde imagem de uma sociedade reunificada em torno de valores comuns da ideologia neoliberal, onde prima a competitividade, o livre comércio, o individualismo, produzindo um modo de ser e de pensar consensual em torno do capitalismo. Hoje esse modelo tornou-se prisioneiro de suas próprias contradições, os governos soberanos das grandes potências delegaram os poderes a uma governança mundial que governa sem governo, que constrói legitimidade sem democracia representativa e resolve os conflitos internacionais sem necessidade de dispor de maioria. E ainda deixa de fora dos processos de decisões os governos dos chamados paises do Sul. Basta ver as inúmeras tentativas feitas para mudar as regras de funcionamento da OMC. A realidade só emerge como consciência, como problema, quando apresenta uma reação para a qual não achamos resposta.

O crescimento econômico há séculos vem se movendo entre dois infinitos: o infinito dos recursos naturais da Terra e o infinito do desenvolvimento econômico. Chega a seus limites a afirmação de que poderíamos crescer indefinidamente, produzir o máximo possível, explorar sem barreiras os recursos dos solos, ter acesso cada vez mais à tecnologia, ter e ter mais. A questão do desenvolvimento como sinônimo de progresso econômico, de conforto material, de consumo perdulário desencadeou, ao longo dos tempos, um processo de degradação socio-ambiental em larga escala, comprometendo a vida de muitas espécies, inclusive a espécie humana. E esta é a mais ameaçada, sobretudo quando ela é pobre.

Para os dirigentes da FAO e chefes dos governos presentes no encontro de Roma bastava buscar resposta concreta para esta questão: como salvar a vida do ser humano pobre, explorado, preservando o equilíbrio da natureza? Estamos diante de uma crise de civilização que exige uma reformulação do nosso modo de viver e de pensar. Trata-se de alcançar não apenas um melhor nível de vida, mas também uma melhor qualidade de vida em todos os sentidos. Este é o momento para se redefinir valores, comportamentos e idéias à luz de uma nova ética que defenda o equilíbrio entre natureza e intervenção humana - um desenvolvimento harmônico e não predatório que assegure condições dignas de existência às gerações futuras.

Dra.em Economia
Especializada em Desenvolvimento Territorial Integrado e Sustentável
Paris -junho 2008-06-08
COMENTÁRIOS: Avelar Xavier deixou um novo comentário sobre a sua postagem
"De OLHO no PLANETA": Tenho acompanhado como filho de Uruçui(embora vivendo longe), o pseudo desenvolvimento da região, pseudo porque os filhos de Uruçui, continuam deixando a cidade em busca de trabalho em outras regiões, pois a nossa cidade com todo o "seu desenvolvimento" não oferece trabalho para a sua gente. Posso imaginar quando o bonde ""desenvolvimentista"" chegar ao fim, como ficará o homem simples, que ocupou apenas os sub-empregos oferecidos por tal crescimento. Que a luta por um desenvolvimento sustentável, onde as gerações futuras usem os recursos naturais de hoje continue. Postado por Avelar Xavier no blog educomambiental em 23 de Setembro de 2008 18:19