Espécie considerada
extinta por cientistas foi avistada no interior de Minas Gerais
Foto: Rafael Bessa / BBCBrasil.com
Há 75 anos, a ave não era avistada na natureza. Desde 1941, a Columbina cyanopis , ou rolinha-do-planalto, como é chamada no Brasil, só podia ser apreciada por meio de espécimes preservadas em museus. Isso começou a mudar depois de um lance de sorte vivido pelo ornitólogo Rafael Bessa, que, em julho de 2015, estava em uma região do interior mineiro (que está sendo mantida em segredo por razões explicadas mais abaixo) para fazer um levantamento. O pesquisador havia decidido pegar um atalho no caminho entre seu hotel e o local onde realizaria seu trabalho. Na rota, decidiu parar em um certo ponto para apreciar e fotografar a vista. Foi quando ouviu sons de um animal que não reconheceu. Bessa voltou ao local no dia seguinte para registrar o canto do animal e, ao reproduzir a gravação, atraiu em sua direção um pássaro, que pousou em um arbusto a alguns metros de distância. "Olhei pelo binóculo, e minhas pernas começaram a tremer. Sabia que tinha um verdadeiro fantasma na minha frente. Foi um momento de muita emoção, indescritível. Estava muito feliz e nervoso ao mesmo tempo", diz Bessa. "Só pensava em documentar e aproveitar o momento. Até então, não sabíamos absolutamente nada sobre a espécie, e aqueles poucos minutos de observação poderiam significar muito para a conservação da rolinha."
Raridade
Pesquisadores já identificaram 12
rolinhas-do-planalto
Foto: Rafael Bessa / BBCBrasil.com
Bessa explica que a
rolinha-do-planalto sempre foi considerada uma espécie rara e dificilmente era
avistada mesmo quando seu habitat, o cerrado brasileiro, ainda era bastante
preservado, até meados da década de 1950. "Até então, não se entendia o
por quê dessa raridade, e o pouco que sabemos hoje não nos permite ter certeza
do motivo, mas acreditamos que a espécie ocorre em uma fisionomia de cerrado
muito específica e também rara", diz o ornitólogo. "Soma-se a isto o
fato do cerrado ser um dos ecossistemas brasileiros que mais perdeu área para a
agricultura e pecuária nas últimas décadas, fato que certamente contribuiu para
sua atual raridade."
Cientistas estão
criando um plano de conservação da espécie e proteger seu habitat
Foto: Rafael Bessa / BBCBrasil.com
Desde que o primeiro exemplar foi
identificado por Bessa, 12 rolinhas-do-planalto foram ao todo avistadas por
pesquisadores, com o apoio da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil
(SAVE Brasil), o Observatório de Aves do Instituto Butantan e a ONG Rainforest
Trust. A ave possui uma plumagem de coloração predominantemente
castanho-avermelhada e é bem menor do que outras rolinhas. A espécie ainda
chama atenção por seus olhos azulados e manchas da mesma cor nas asas.
Agora, cientistas
trabalham para traçar planos de conservação da espécie, o que implica em
proteger a área onde foi encontrada, além de compreender suas características e
o que necessita para sobreviver. Até que o plano seja concluído, o
local onde os espécimes foram achados e seu canto não serão divulgados, para
evitar um grande fluxo de observadores de pássaros para a região, o que poderia
afugentar o animal. "No momento, sabemos da existência de 12 exemplares, o que é um
número muito baixo para garantir a conservação de qualquer espécie. Já
realizamos expedições em busca de novas populações, mas até o momento não
obtivemos êxito", afirma Bessa.
Ave tem plumas castanhas com manchas
azuis nas asas e olhos também azulados
O ornitólogo diz
que a redescoberta da Columbina cyanopis em uma área remota
do Brasil, em meio a um ambiente frágil e raro, serve como um "exemplo de
como conhecemos pouco sobre nossa biodiversidade". "Existem ainda
pelo menos uma dezena de espécies que estão desaparecidas há mais de dez anos e
que correm o risco de serem extintas em um curto espaço de tempo", afirma
Bessa. Ele faz críticas ao que considera uma tentativa de fragilizar a
legislação ambiental do país para favorecer a criação de empreendimentos
comerciais. "Um empreendimento de pequeno porte na área onde vive a
rolinha seria suficiente para destruir o ambiente onde encontram-se os únicos
12 indivíduos que temos notícia dessa espécie nos últimos 75 anos", afirma
Bessa. "Garantir a conservação da Columbina nessa área especial
ajudará não só a rolinha-do-planalto, mas também muitas outras espécies de
animais ameaçadas de extinção que ocorrem em seu ambiente."
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