Carta dos 4 Rios
AO ENTARDECER DESTE GOVERNO,UM APELO DAS POPULAÇÕES RIBEIRINHAS
Nós, povos indígenas,
negros e quilombolas, mulheres, homens, jovens de comunidades rurais e
urbanas da Amazônia brasileira, participantes do I Encontro dos Povos e
Comunidades Atingidas e Ameaçadas por Grandes Projetos de
Infra-Estrutura, nas bacias dos rios da Amazônia: Madeira, Tapajós,
Teles Pires e Xingu, em Itaituba, oeste do Pará, entre os dias 25 e 27
de agosto de 2010, vimos através desta carta denunciar a todas as
pessoas que defendem a Vida que:
Historicamente
no Brasil todos os grandes projetos de infra-estrutura sempre trouxeram
destruição e morte aos modos de vida dos seus povos originários e
populações tradicionais em benefício de grandes grupos econômicos. A
construção de hidrelétricas como a de Tucuruí, no Pará, Samuel em
Rondônia, Estreito no Tocantins e Balbina no Amazonas são exemplos
claros dos males que esse modelo de desenvolvimento produz.
As
ameaças que vem sofrendo as populações dos rios Madeira, Tapajós, Teles
Pires e Xingu também são motivos de nossas preocupações, ocasionadas
pelos falsos discursos de progresso, desenvolvimento, geração de emprego
e melhoria da qualidade de vida, vendidos pelos governos e consórcios
das empresas em uma clara demonstração do uso da demagogia em detrimento
da informação verdadeira, negada em todo o processo de licenciamento e
implantação dos empreendimentos, a exemplo do que vem ocorrendo no rio
Madeira, onde a construção dos complexos hidrelétricos de Santo Antonio e
Jirau já expulsou mais de três mil famílias ribeirinhas de suas terras,
expondo-as a marginalidade, prostituição infanto-juvenil, tráfico e
consumo de drogas, altos índices de doenças sexualmente transmissíveis e
assassinatos de lideranças que denunciam a grilagem de terra por
grandes latifundiários, estes os “grandes frutos” desse modelo de
desenvolvimento.
Condenamos o
autoritarismo que seguidos governos militares e civis utilizaram e ainda
utilizam contra as populações vulneráveis como o uso da força, expulsão
da terra, da criminalização dos movimentos sociais, da ameaça física,
da cooptação de lideranças e a completa exclusão das suas opiniões dos
chamados processos de licenciamentos.
Condenamos
a privatização de nossos recursos naturais, que provocam insegurança e
degradação de povos, culturas e sabedorias milenares, das nossas
florestas, dos nossos rios e da nossa sociobiodiversidade.
Condenamos
também os grandes empreendimentos por significarem acúmulo de capital,
concentração de terras e de poder político sobre nossas vidas.
Defendemos:
Que
aliança dos Povos e Comunidades da Pacha Mama, da Pan-Amazônia se
fortaleça a cada passo dado rumo à construção de um novo mundo possível.
O
“bem viver” como princípio de vida em contra-ponto à lógica da
acumulação, da competição, do individualismo, da superexploração dos
trabalhadores e trabalhadoras e dos nossos recursos naturais;
Um
projeto de integração de nossos povos, com respeito à
sociobiodiversidade e aos nossos modos tradicionais de produção que
geram qualidade de vida e segurança alimentar;
Queremos
nossos Rios Vivos e Livres, por isso exigimos:
A
suspensão total e imediata da construção de barragens em nossos rios;
Que
sejam acatados os estudos de diversos especialistas que propõem a
repotenciação das UHEs mais antigas;
Investimentos
imediatos na melhoria da qualidade das linhas de transmissão de
energia;
Que o Plano Decenal de Expansão Energética aumente a percentagem
de investimentos em pesquisas e implementação de fontes de energias
verdadeiramente limpas e renováveis.
VIVA
A ALIANÇA DOS POVOS DOS RIOS E DAS FLORESTAS!
Itaituba,
PA, Pan Amazônia, 27 de agosto de 2010.
Assinam
esta Carta:
Aliança Tapajós Vivo;
Movimento Xingu Vivo para Sempre; Movimento Rio Madeira Vivo; Movimento
Teles Pires Vivo; Movimento dos Atingidos por Barragens; Coordenação
das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira; Fórum da Amazônia
Oriental; Fórum da Amazônia Ocidental; Fórum Social Pan-Amazônico;
Frente de Defesa da Amazônia; Comitê Metropolitano do Movimento Xingu
Vivo para Sempre; Prelazia do Xingu; Instituto Universidade Popular;
FASE-Amazônia; International Rivers; Associação Etno-Ambiental Kanindé;
Instituto Madeira Vivo; Coordenação da União das Nações e Povos
Indígenas de Rondônia, noroeste do Mato Grosso e sul do Amazonas; Rede
Brasileira de Justiça Ambiental; União dos Estudantes de Ensino Superior
de Santarém; Movimento em Defesa da Vida e Cultura do Rio Arapiuns;
Terra de Direitos; Fundo Mundial para a Natureza; Fundo DEMA; Instituto
Amazônia Solidária e Sustentável; Centro de Apoio Sócio Ambiental;
Comitê Dorothy; Comissão Pastoral da Terra; Conselho Indigenista
Missionário; Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns; Grupo de Defesa da
Amazônia; Federação das Associações dos Moradores e organizações
Comunitários de Santarém, Federação das Organizações Quilombolas de
Santarém;União de Entidades Comunitárias de Santarém; Sociedade Paraense
de Direitos Humanos; Vivalt Internacional Brasil; Comissão Verbita
Jupic – Justiça, Paz e Integridade da Criação; MMCC – Pará – Movimento
de Mulheres do Campo e da Cidade do Pará; Fórum dos Movimentos Sociais
da BR 163; MMTACC – Movimento de Mulheres de Altamira Campos e Cidade;
Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade Regional BR- 163 – Pará;
Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade – Regional Transamazônica
Xingu; SOCALIFRA; Nova Cartografia Social da Amazônia; Grupo de Trabalho
Amazônico Regional Transamazônico Xingu;Associação do Povo Indígena
Juruna do Xingu – Km 17; Associação de Resistência Indígena Arara do
Maia; Coordenação das Associações de Remanescentes de Quilombos do
estado do Pará – MALUNGU; Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais de Santarém; Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns; Movimento
Juruti em Ação; Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense; Grupo de
Mulheres Brasileiras; Articulação de Mulheres Brasileiras; Comissão em
Defesa do Xingú; Associação dos Produtores Rurais da Volta Grande do
Xingu; Aliança Francisclareana; Associação indígena Kerepo; Fórum dos
Movimentos Sociais; Associação Indígena Pusurú; Conselho indígena
Minduruku do Alto Tapajós; Associação Suíço-Brasileira Batista de Apoio
na Amazônia (Missão Batista); Associação Indígena Pahyhy’p; .
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