Greenpeace - 17 de maio de 2012
O estudo "Carvoaria Amazônia”, produzido pelo Greenpeace,
mostra irregularidades na cadeia de produção do ferro gusa. Siderúrgica
envolvida contesta acusações. A cada quatro horas,
ativistas do Greenpeace se revezam pendurados na corrente da âncora do navio
Clipper Hope. Nesta quarta-feira (16/05), a ação, que tem prazo indeterminado,
completa 48 horas. O cargueiro impedido de trafegar está a serviço da empresa
maranhense Viena Siderúrgica e tenta ancorar na baía de São Marcos, a 20
quilômetros de São Luís, no Maranhão, para receber um carregamento estimado de
30 mil toneladas de ferro gusa. -"Não pretendemos
sair daqui”, disse por telefone Paulo Adário, que lidera a ação pelo
Greenpeace. Ele conversou com a DW Brasil a bordo do navio Rainbow Warrior,
usado pela ONG em protestos em todo mundo.
A ação dos ativistas
quer chamar a atenção para a cadeia de produção do ferro gusa, matéria-prima do
aço, que tem deixado um rastro de destruição na Amazônia, denuncia a
organização ambientalista. Simultaneamente ao protesto, a ONG lançou o
relatório "Carvoaria Amazônia: como a indústria de aço e ferro gusa está
destruindo a floresta com a participação de governo”, que coletou informações
ao longo de dois anos sobre a atividade no Norte do Brasil.
Carvão: a raiz do problema
O estudo do Greenpeace
afirma que a cadeia de produção do ferro na região amazônica do país inclui
desmatamento, trabalho escravo e desrespeito a povos indígenas. E ainda:
gigantes como Ford, General Motors, Nissan, Mercedes, BMW e a produtora de
equipamentos agrícolas John Deere teriam participação indireta nessas
irregularidades. Cerca de 80% de todo o ferro gusa ligado à devastação da
região são exportados para os Estados Unidos para abastecer essas marcas.
A matéria-prima é
extraída em Carajás, nos territórios do Pará, Amazonas e Tocantins. A região se
tornou um polo de produção de ferro a partir da década de 1980 – de lá para cá
mais de 40 altos-fornos se instalaram no local, operados por 18 empresas
guseiras. A demanda por carvão para alimentar os altos-fornos deu origem a
inúmeras carvoarias.
"O que sobrou de
mata amazônica no Maranhão está dentro de áreas protegidas ou são terras
indígenas. E essas áreas têm sido invadidas por madeireiros que buscam madeira
para exportação e consumo interno e para produção de carvão”, acusa Adário.
Dados oficiais mostram que 75% da floresta original que cobria o estado já
foram desmatados.O uso de mão de obra
análoga à escrava em carvoarias isoladas no meio da mata é, segundo a Comissão
Pastoral da Terra, de conhecimento das autoridades: entre 2003 e 2011, foram
libertados mais de 2.700 trabalhadores em situação degradante. Muitas dessas
carvoarias, diz o relatório, usam madeira obtida de forma ilegal para produzir
o carvão. Esse combustível irá, mais tarde, aquecer os altos-fornos para
transformar o ferro gusa.No final de 2011, o
Ibama comprovou que as maiores siderúrgicas do Pará utilizam carvão ilegal na
produção do ferro-gusa. "Mais do que isso, as siderúrgicas fomentam o
desmatamento da floresta amazônica em todo o sul e sudeste paraense para obter
o carvão de que precisam, acobertando essa origem irregular com Guias
Florestais fraudadas”, afirmou Luciano da Silva, coordenador da operação que
foi batizada como Saldo Negro.O Ibama estimou, por
exemplo, que o consumo de carvão vegetal da Siderúrgica do Pará, empresa de
porte médio, correspondeu nos últimos cinco anos a 370 quilômetros quadrados de
desmatamento ilegal.
Viena Siderúrgica contesta acusações
Outra empresa
problemática, afirma Paulo Adário, é a Viena Siderúrgica. O navio Clipper Hope,
impedido de atracar pelos ativistas do Greenpeace, será carregado com ferro
gusa obtido nos altos-fornos dessa companhia e seguirá para os Estados Unidos.Questionada, a Viena
Siderúrgica disse que foi surpreendida com o teor do relatório Carvoaria
Amazônia. "Documentos em poder da empresa, tais como licença de operação e
comprovação de regularidade no sistema DOF administrado pelo Ibama, comprovam a
regularidade dos fornecedores no período em que a Viena manteve negociações com
estes”, escreveu Wanderley M. dos Santos, advogado da siderúrgica, em resposta
à DW Brasil.Ainda segundo o
advogado, "a siderúrgica repudia todas as práticas citadas pelo relatório,
reafirmando que sempre trabalhou para ser reconhecida pelas práticas socioambientais
adequadas, por projetos de transformação social nas comunidades próximas à
empresa e pela transparência de suas ações”.
Solução para o problema
Para o Greenpeace, não
basta que o governo brasileiro combata as ilegalidades sociais e ambientais.
"As montadoras, construtoras e outros consumidores de aço precisam
identificar se os fornecedores de ferro gusa processado com carvão vegetal
respeitam as leis brasileiras”, exige a ONG.Esse grandes
consumidores, adiciona Paulo Adário, precisam adotar procedimentos para
monitorar se sua cadeia de suprimento não destrói a floresta, não contém
matéria-prima proveniente de áreas protegidas ou de terras indígenas, nem
emprega mão de obra análoga à escrava.
Nádia Pontes
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