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PEDRA BRANCA-POCINHOS DO RIO VERDE |
nota liminar: este é um depoimento estritamente pessoal.
Embora algumas idéias básicas escritas aqui venham sendo, de longa data,
dialogadas com pessoas na Rosa dos Ventos e em outros locais de Caldas, este
documento envolve o meu nome e as minhas opiniões pessoais e minhas propostas a
respeito da presença, da atividade e da expansão de empresas mineradoras em
Caldas.
Divido este depoimento em alguns argumentos e algumas propostas. Devo
lembrar que sou um antropólogo e um educador. Muito embora tenha participado de
atividades ambientalistas (inclusive aqui em Caldas) e tenha escrito livros
sobre educação ambiental, não sou um especialista no assunto e, menos ainda, em
legislação ambiental.
1º argumento: A LEI E O ALÉM DA
LEI
Creio que a discussão entre os
lados envolvidos na questão que nos toca aqui, tenderá a ser conduzida dentro
de marcos "da lei" e, de maneira específica, dentro de marcos da
"legislação ambiental". Concordo com este ponto de vista. Mas penso
que, tal como em tantas outras questões, existem dilemas humanos, sociais,
ambientais, planetários mesmo, ainda não inteiramente estabelecidos como
legislação.
Isto vale para o Planeta Terra.
Basta ver a imensa dificuldade em se aplicar mínima e universalmente o Protocolo de Kiotto, mesmo sabendo-se
que nada menos do que a Vida na Terra e a Vida Humana estão ameaçadas em médio
prazo, se em "nome de um pretenso desenvolvimento econômico", as nações e
as grandes empresas perseverarem no modelo de insustentabilidade vigente. Isto
vale para o Brasil, onde apesar de todo o Código Florestal, segundo dados
oficiais as empresas de "agro e hidro negócio" devastaram entre o
Mato Grosso e o Pará cerca do equivalente a "três Estados de São
Paulo" em 10 anos.
E isto vale igualmente para Minas
Gerais. Estamos em um Estado
onde as mineradoras devastam em nome de seu lucro e de um PIB (ainda mínimo) do País inúmeras regiões
de grande valor humano e ambiental.
E isto vale ainda para esta
região do Sul de Minas onde estamos e, finalmente, para o Município de Caldas.
Uma questão básica é: "o que
as empresas mineradoras estão explorando em Caldas está dentro ou fora da lei
(da Constituição da República Federativa do Brasil, da Legislação ambiental do
Brasil, da Legislação Ambiental do Estado de Minas Gerais, do Código de
Posturas do Município de Caldas, etc.)?"
O plano estrito da jurisprudência
envolve uma dimensão essencial e, quase
sempre, decisiva, em toda esta questão. No
entanto em nome do bom senso, creio que ela não deve ser a única. A dimensão
político-jurídica deve deixar-se envolver por outras dimensões, por perguntas e
por outros pontos cruciais de discussão.
Por exemplo:
a) Mesmo estando
"estritamente dentro da lei", a exploração de granito e outros
minerais em Caldas aporta de fato benefícios para as pessoas de agora e do
futuro; para as comunidades sociais de Caldas; para o seu patrimônio natural e
cultural; para o meio ambiente, de tal forma que justifique, no presente e no futuro a presença
e a expansão de empresas interessadas em tal atividade?
b) Mesmo estando
"estritamente dentro da lei', a exploração de granito e outros minerais em
Caldas colabora para a realização de uma verdadeira "vocação de
Caldas", sobretudo se lembramos que Caldas há 200 anos é reconhecida como
uma região privilegiada, sobretudo no que toca a sua natureza e a qualidade de
suas águas minerais?
c) Mesmo estando
"estritamente dentro da lei", a exploração de granito e outros
minerais em Caldas aporta efetivamente algo para o "bem comum" (uma
nova e essencial dimensão que tenderá a provocar revisões profundas em todas as
legislações em todas as suas esferas e fronteiras), ou será que ela responde
apenas a interesses econômicos de grupos empresariais e de empresários
individuais?
Creio que um debate fecundo e
inteligente deveria partir da "lógica da lei", e deveria ir até além
dela, para, então, retornar de forma mais densa e enriquecida a ela.
2º argumento: QUEM SÃO ELES E QUEM SOMOS NÓS
Há uma outra questão que deve ser
colocada em aberto e discutida com critérios muito ao mesmo tempo humanos e
socioeconomicamente objetivos e realistas.
Podemos nos equivocar, imaginando
que em toda esta discussão entre as empresas mineradores de um lado, e pessoas,
comunidades, instituições da sociedade civil e poderes (executivo, legislativo
e judiciário) em e de Caldas, e, do outro lado, as empresas
mineradoras (organizadas ou não em algum tipo de instituição civil) estamos
diante de dois lados com valores e interesses
diversos, mas ética, legal e politicamente equivalentes.
Isto é inteiramente falso.
Isto seria inteiramente
verdadeiro, se estivéssemos discutindo a introdução em Caldas de uma
instituição civil sem fins lucrativos, com propósitos de instaurar aqui um
projeto de otimização de nossos recursos naturais voltados, por exemplo, à
saúde.
Isto seria parcialmente
verdadeiro se estivéssemos discutindo o interesse de uma empresa em responder
pelo "Balneário de Caldas", ampliando os seus espaços e otimizando os
seus serviços, com direitos à concessão de uma exploração empresarial durante
50 anos.
Mas isto é discutivelmente
verdadeiro, ou é mesmo inteiramente falso no nosso caso em questão.
Penso que na verdade temos de um
lado, pessoas, comunidades, instituições sociais, representantes de agências de
poderes públicos voltados ao BEM COMUM de Caldas e de toda s região em que
nosso município se insere.
Penso que temos, de um outro
lado, empresas mineradoras interessadas apenas e inteiramente na exploração rápida
e predatória de recursos naturais de Caldas, em benefício único e exclusivo de
seus interesses. De seus interesses prioritariamente econômicos. Em suma: de
seus ganhos; de seu lucro. Pois até que me provem o contrário, este é o único
ou o essencial propósito de empresas capitalistas como as que aqui estão, ou
que aqui pretendem "se instalar".
Esta é a realidade conjuntural
dos "dois lados da questão das mineradoras em Caldas". Não temos
"empresários pecuaristas" ou "do agronegócio" defendendo os
seus interesses de um lado e, do outro, empresários de "mineradoras".
Isto aconteceu em outros países e em outras eras, como nos Estados Unidos da
América do Norte, quando da descoberta do petróleo no seu solo. Isto pode estar
acontecendo agora mesmo em outras regiões do Brasil.
Mas não aqui, repito.
Aqui em Caldas temos, de um lado:
pessoas, famílias, comunidades de pequenos produtores rurais de agricultura e
pecuária (aqueles bem mais do que os do agronegócio, são os que de fato
"colocam a comida nas nossas mesas"
- inclusive nas dos donos ou sócios das empresas mineradoras). Temos do
mesmo lado, pessoas que vieram de outros lugares viver em Caldas; pessoas que
não vivendo aqui, aqui construíram espaços de vida e de preservação da
natureza; pessoas que mesmo não sendo de Caldas, não vivendo aqui e sequer
possuindo propriedades urbanas ou rurais em nosso município, em nome de sua
afeição por Caldas e, sobretudo, em nome de seus empenhos em defesa da
qualidade de vida e da preservação do ambiente natural, colocam-se a favor de
uma defesa justa e inadiável da natureza e da vida na região de Caldas. De
Caldas e de todo o Sul de Minas, de toda Minas Gerais, de todo o Brasil, de
todo o Planeta Terra, enfim. Temos, do
mesmo lado, creio, pessoas, instituições gremiais e partidárias, assim como
instituições do poder público constituído em Caldas, com uma igual vocação de
salvaguarda de diretos humanos, do bem comum e da natureza e, nela, do meio
ambiente que conforma nosso território geográfico.
E este poderia bem ser o momento
para nos lembramos que, desde suas origens na Grécia Antiga,
"público" não quer dizer "do poder" e nem "do
governo". Quer dizer: "do povo". Isto é das e em nome das pessoas que constituem a
sociedade civil à qual deve se subordinar qualquer esfera ou modalidade de
poder político ou de outras esferas, em uma democracia. "Público"
significa também "da polis"; ou seja, da cidade, no sentido grego e
depois romano de "a comunidade civil que habita e gere em seu nome um
lugar social".
Quem tenha dúvidas, por favor,
abra a página 1 da Constituição da República Federativa do Brasil" e veja
logo entre as primeiras linhas em nome de quem... "todo o poder será
exercido".
Não é em nome de meus interesses pessoais que estou
escrevendo isto. Não é em nome de meus interesses pessoais que há anos venho
defendendo, junto a tantas outras pessoas de Caldas, em Caldas e amigas de
Caldas, a integridade do valor humano,
da qualidade de vida e do meio ambiente em Caldas. E para além de
Caldas. Creio que esta é a mesma intenção de uma imensa maioria das pessoas que
aqui estão ou que para aqui vieram. Assim, defendo que individual e
coletivamente somos aquelas mulheres e aqueles homens empenhados na justa
"defesa do Bem Comum".
Esta é uma diferença fundamental
que também precisa ser considerada "dentro da lei" e "para além
da letra da lei".
Como acontece em todo este País,
e em todo o Mundo, na verdade, temos de um lado pessoas, comunidades, entidades
e associações civis e governamentais (da Câmara Municipal de Caldas à
Organização das Nações Unidas) empenhadas em salvaguardar a vida e a natureza,
condição mínima da salvaguarda da Espécie Humana na Terra e de sua solidária e
sustentável prosperidade. O que é algo muito diferente de "desenvolvimento
econômico", calcado no lucro, na ganância e na destruição do ambiente.
Creio que visivelmente temos, do outro lado, emissários do interesse do "bem individual",
realizado através do lucro financeiro obtido graças à destruição geométrica de
patrimônios naturais (estabelecidos claramente em lei) e do bem comum de e em
Caldas.
O que pode parecer a um olhar
apressado um repertório de pequenas diferenças ajustáveis e conciliáveis entre
"dois lados diversos, mas não antagônicos", é, a um olhar um tanto
mais crítico, a oposição entre dois pólos com visões de mundo, com compreensões
de sentido do bem comum e com vocações opostas. Estamos convivendo a posição
entre um lado dos que defendem o bem comum frente ao interesse individual, versus o lado dos que defendem
interesses econômicos individuais ou corporativos, empresariais, frente aos
valores do bem comum.
3º ARGUMENTO: SE ELE FOSSEM AO MENOS... MENOS PREDATÓRIOS E
MAIS PRESENTES
Para além das classificações de
modalidades com que se apresentam perante a sociedade, a lei o "mundo dos
negócios", um simples olhar atento ao que se passa em uma cidade como
Caldas ou, com maior diversidade, em Poços de Caldas, revelaria que as empresas
podem ser divididas em três categorias, do ponto de vista do que aqui nos
interessa: a) aquelas que vão além das obrigações estritamente legais; b)
aquelas que permanecem na pura e simples observância do "estritamente
legal"; c) aquelas que sequer cumprem o "estritamente legal".
Entre as primeiras, estão aquelas
que além de cumprirem as diversas legislações que incidem sobre seus negócios,
aportam a diferentes dimensões das sociedades em que se inserem, uma parte de
seus ganhos e lucros, sob a forma de compensações e retribuições oriundas dos
ganhos do capital.
Esta é uma tradição quase
obrigatória em nações democraticamente mais consolidadas. Sabemos que boa parte
dos recursos destinados a instituições de ação social, a universidades e a
outras agências de ciências, artes, cultura e educação, provém de fundações
criadas por empresas. Aqui mesmo no Brasil esta tradição aos poucos e a custo
se difunde.
Aqui mesmo ao lado, a ALCOA (uma
empresa internacional), apregoa haver criado um espaço de preservação da natureza
e de educação ambiental. ela insiste em estar continuamente apoiando
iniciativas sociais e culturais. E há alguns anos atrás espalhou outdoors por
toda Poços de Caldas, anunciando haver plantado um milhão de árvores. Espero
que não sido Eucaliptos e Pinus.
Entre as segundas estão aquelas
que, em muito maior número, "cumprem com a lei" estritamente, e
apenas realizam algum benefício eventual e rasteiro, em favor do local onde se
instalam, sobretudo quando esta ação é imposta pela própria legislação. Este é
o caso das "áreas de compensação" estabelecidas em nossa legislação
ambiental.
Entre as terceiras estão aquela
que além de nada contribuírem, ou apenas
irrisoriamente aportarem algum benefício às comunidades onde se instalam,
sequer cumprem de forma completa e devida os requisitos e as exigências mínimas
da legislação.
Este, acredito até prova em contrário,
é o exato caso das empresas de mineração em Caldas.
A quem duvide, sugiro que Chegue
até na Pedra Branca e procurem pela floresta de regeneração com árvores
naturais impostas pelo Código Florestal a toda a empresa, tão logo ela conclua
e exploração de frações do local onde opera. Quem olhe (e fotografe) com
atenção os espaços residuais das mineradoras de Caldas verá cemitérios estéreis
de restolhos de pedras. As pedras que aportam milhões de reais (ou de dólares)
às empresas mineradoras, todos os dias nós as assistimos serem furtivamente
levadas para longe, dentro dos imensos caminhões que esburacam as nossas
estradas. As pedras que não sevem, elas as abandonam, para que porções
preciosas de nossos santuários naturais se transformem no amontoado de resíduos
que, por milênios, depois de esgotadas as nossas riquezas e as fontes de seus
ganhos despropositados, as empresas se forem embora, em busca de outros lugares
a "explorar".
4º ARGUMENTO: Á PAULÍNIA A
RIQUEZA, A CALDAS A INDIGÊNCIA
Quem esteja acompanhando uma
recente polêmica de âmbito nacional haverá de ver como a nossa própria
legislação econômica e empresarial trabalha com dois pesos e duas medidas.
Dou um exemplo de comparação bem
próximo a nós. A menos de 150 kms. de Caldas, já no Estado de São Paulo, a
pequena cidade de Paulinia, inserida em um município cujo território é menor do
que o de alguns bairros rurais de Caldas, é considerada a cidade
proporcionalmente mais rica do Brasil.
Neste município foi instalada uma
REPLAN, uma refinaria de petróleo da Petrobrás. Em troca dos danos ambientais,
esta refinaria que ocupa mais mão-de-obra local do que todas as mineradoras de
Caldas multiplicadas por 10, paga anualmente "roialtes" milionários.
De igual maneira, assistimos uma
polêmica aberta entre Estados litorâneos da Federação, onde existe já ou será
iniciada a exploração de petróleo extraído de sub-solo marinho, e os outros
Estados, como Minas Gerais, rica em minérios, pobre em petróleo.
A polêmica é aguerrida e
não-resolvida até hoje, simplesmente porque o aporte financeiro a estados e
municípios onde há ou haverá exploração de petróleo é realmente imenso.
E os impostos e dividendos devidos
á mineração?
Qual a razão pela qual Paulínia
recebe por mês mais do que Caldas em vários anos, em recursos financeiros
vindos afinal de uma atividade de maior valor social (o combustível de seu
carro) e de um menor impacto ambiental do que as nossas mineradoras. As mesmas
empresas que nos deixam uma natureza degradada, pagando um mínimo de impostos
municipais, se é que pagam algum, enquanto levam daqui para o exterior riquezas
que são um bem comum nosso, e que, exportadas, transformam-se em uma riqueza
individual ou empresarial apenas "deles"?
Até onde posso compreender, temos
em Caldas, através da exploração de nossos recursos minerais, uma das formas
mais perversamente devastadoras do meio
ambiente, somada a um mínimo de aporte compensatório, previsto ou não em lei.
Em nome do quê? De quem? De que
direitos humanos, ambientais e sociais? Em proveito de quem?
Podemos perguntar: desde a
implantação de empresas de mineração aqui, em que grau as nossas precárias
estradas rurais melhoram nos últimos anos? Devo lembrar que agora mesmo, uma
comunidade de moradores e proprietários ao longo da estrada entre a da Pedra
Branca e a do bom Retiro está se cotizando para, por conta própria, calçar um
trecho de estrada cujo trânsito é inviável em tempos de chuva.
Que escola as empresas mineradoras,
juntas, construíram para Caldas com uma pequena "sobra" do que ganham
aqui? Que praça de esportes para jovens? Que espaço público de preservação
ambiental junto à Pedra Branca? Que leito de hospital? Que efetivo aporte a um
mínimo de melhora das condições de vida em Caldas. Sobretudo
nas áreas próximas ao seus locais de degradante exploração que efetivos
benefícios compensatórios foram realizados de fato até hoje?
Antecipo que é muito provável que
em próxima reunião para reivindicarem os seus "direitos a explorarem novas
lavras", as mineradoras anunciem para, "daqui em diante", alguns
aportes e compensações "em troca" do que levam sem deixar aqui nada
além de áreas degradadas e restos de pedras inúteis.
Nunca aportaram de fato nada
significativo. Duvido que venham a cumprir promessas no futuro.
5º. ARGUMENTO: O LUGAR ONDE ESTAMOS
NÓS, AQUI EM CALDAS
Seguidas vezes viajo de avião.
Com freqüência vôo saindo de Campinas em direção a Belo Horizonte ou a alguma
cidade de Nordeste. Algumas rotas passam exatamente por cima de nossa região.
Ora elas sobrevoam terras entre Caldas e Santa Rita de Caldas, ora passam mais
em direção a Poços de Caldas. Faz alguns meses, uma nova rota passa exatamente
por cima da Rosa do Ventos, cortando boa parte do Município de Caldas.
Quem preste atenção verá lá do
alto uma paisagem completamente diversa de quase todas as outras em solo
brasileiro.
É que estamos em uma das três
únicas grandes crateras vulcânicas no Brasil!
As duas outras estão, uma em
Araxá e, a outra, em Caldas Novas. As
duas cidades trocaram a mineração predatória pelo turismo ecológico. E em Caldas Novas um único
grande hotel de turistas emprega mais
mão-de-obra e aporta mais recursos para o município do que provavelmente o
farão todas as mineradoras de Caldas juntas.
Quem consulte um mapa geológico
(no Google tem) verá que estamos dentro de uma rara e preciosa porção de
território denominada: "Vulcão de Poços de Caldas". Apenas por isto e
pela extrema raridade de tal ocorrência no Brasil, defendo que atividade
predatória alguma deveria ser autorizada a se instalar em todo o território
deste "vulcão", que além de Caldas e de Poços de Caldas, envolve
outros municípios da região.
Com um pouco mais de atenção,
será possível ver um belo e inesperado acidente geológico que datará de muitos
milhões de anos. Ao invés de assumir a forma redonda de uma cratera (ou uma "caieira")
vulcânica, caprichosamente o nosso "Vulcão de Poços de Caldas", justo
no território que vai de Pocinhos do Rio Verde até a Pedra Branca, forma um
alongamento. O círculo se alonga em um quase cone de terras e serras (a Serra
de Caldas é uma de suas bordas, junto com a Pedra Branca) e configura ali a
porção mais bela e preciosa de toda a geologia, a geografia e a geopoética do
"Vulcão de Poços de Caldas". Acrescentemos a isto, que ao lado desta
região nascem os nossos dois rios: o Verde e o Soberbo.
Faz tempo tenho comentado que não
apenas a "Região da Pedra Branca", mas toda a área imensa do
"Vulcão de Poços de Caldas" deveriam ser oficialmente declaradas:
"Patrimônio Natural do Brasil", como um território de estrito e raro
perfil geológico, ecológico e ambiental. Portanto, toda esta deveria ser uma
região regida pela mais rigorosa legislação de defesa da natureza e de extrema
preservação ambiental.
Acrescentemos a isto, ainda, a presença aqui de raras águas minerais que
deveriam estar sendo bastante mais propaladas e utilizadas, como um eficaz
recurso de saúde, do que estão sendo no presente momento.
Acrescentemos finalmente que
Caldas é, em todo o Sul de Minas, em toda Minas Gerais
e em todo o Brasil, um município de uma rara região de um inestimável valor
humano, paisagístico e natural. Caldas deveria possuir uma "vocação de
santuário natural", tal como raros outros territórios no Brasil e na
América Latina.
6º ARGUMENTO: AS VOCAÇÕES DE CALDAS SÃO OUTRAS
Vocês já visitaram outras regiões
e municípios de Minas Gerais onde aos poucos empresas de mineração se
instalaram e, depois, literalmente "tomaram conta"? Já foram ao menos
até ali, em São Tomé
das Letras? Ou, mais próximo ainda, já foram ver como ficaram as áreas de
Caldas e de Santa Rita de Caldas, onde empresas mineradoras extraem o granito?
Quem tenha ido e tenha alguma
sensibilidade, haverá de perguntar como eu e tantas outras pessoas: em nome de quem e em proveito do que tudo isto está
acontecendo aqui?
Se Caldas fosse um município
situado em um território sem outros recursos que não os de seus minerais. Um
lugar sem outras alternativas a não ser
a mineração, ainda aí a presença de empresas mineradoras deveria ser submetida
a um criterioso exame.
Mesmo que Caldas estivesse
situada em uma caatinga seca e árida, ainda aí seria preciso realizarmos a
mesma pergunta: vale a pena tanta degradação
ambiental em nome de tão pouco?
Mas Caldas e toda a vasta região
do "Vulcão de Poços de Caldas", é o exato oposto de "uma caatinga
seca e árida". Caldas é - e sempre será preciso repetir - um raro e precioso
"Santuário natural".
E, então, mais aqui do quem em
tantos e tantos municípios do Brasil, devemos fazer a pergunta (a ser feita em
nome da lei, dentro dela, e para além da lei): vale a pena tanta degradação ambiental em nome de tão pouco?
Caldas
tem vocações! E as suas vocações foram e podem seguir sendo outras.
Caldas foi por vários anos o
município com a maior produção de uva e vinho no Brasil.
Caldas pode voltar a ser uma
fecunda região de agricultura e pecuária realizada por uma hoje retomada e
re-incentivada agricultura familiar, desde o governo federal.
A EPAMIG, aqui situada, está
realizando com sucesso experiências com a produção de Oliveiras. Caldas pode,
no correr dos anos, vir a ser a terra de olivais e de um azeite de qualidade.
Maria da Fé já está produzindo e comercializando azeite de qualidade.
Caldas tende a ser tornar uma
cidade e um município conhecido naturalmente pela qualidade de seus queijos e
seus doces. Parece pouco. Pode ser muito.
Pelo lado de Andradas, com muito
menor impacto ambiental, Caldas começa a
ser povoada por grandes canteiros cobertos de produção de flores.
Em tempos em que fala tanto em
saúde e em cuidados naturais com a saúde, Caldas poderia assumir-se (mais até
do que Poços de Caldas e Campos do Jordão), como uma "estância hidromineral
de saúde".
Lembro que em nome de sua
identidade como "estância hidromineral Águas da Prata oficialmente baniu
de seu território as tentativas de empresas mineradoras ali se instalarem.
Caldas poderia ampliar muito uma
vocação destinada ao "turismo ecológico". Estamos perdendo o terreno neste
campo para cidades próximas como Andradas, e para cidades até pouco tempo
desconhecidas, como Gonçalves e Paraisópolis.
Um programa inteligente poderia
associar saúde-ecologia-cultura-culinária típica e, sobretudo, a rara beleza
natural do município, como um conjunto
de motivos e de recursos para a consolidação de uma real, fecunda e sustentável
vocação do Município de Caldas.
Podemos nos unir para consolidar
a APA DA PEDRA BRANCA. Podemos ir além. Podemos nos unir para, junto a
instancias de outros municípios da região, de Minas Gerais e do Brasil,
implantarmos finalmente aqui a APA DO VULCÃO DE POÇOS DE CALDAS. Lembro que a
APA DA SERRA DA MANTIQUEIRA envolve 27 municípios de e Estados da Federação.
Não nos iludamos. Tal como
irreversivelmente já aconteceu em outros lugares do mundo e do Brasil - a
começar por Minas Gerais - empresas capitalistas de interesses centrados no
"lucro individual', por oposição ao "bem comum", chegam de
início aos poucos, silenciosa e mansamente (apesar do estrondo de seus
dinamites). Depois se associam, e para a
sociedade e os poderes públicos que iludem, prometem "um absoluto e estrito
respeito á lei"; um "desenvolvimento local'; "um pleno emprego
de mão de obra e uma série de benefícios adicionais proporcionais aos seus
ganhos.
Visitem os locais onde algumas
delas estão instaladas. Relembrem como ele era e vejam como ele ficou. Perguntem
aos vizinhos das pedreiras em que a sua qualidade de vida melhorou depois da
chegada delas. Consultem dados confiáveis na Prefeitura de Caldas e tomem
conhecimento do real aporte das mineradoras ao município e à sociedade que,
afinal, somos todas e todos nós.
Depois, façam aos seus donos e
sócios a mesma pergunta que fiz aqui mais de uma vez:
Vale a pena um tal dano à natureza e à vida de todas e todos nós, em
troca de tão pouco?
Eis os meus argumentos e o meu
rascunho de lembranças e de propostas.
Repito que escrevo como um
não-especialista, sobretudo em legislação ambiental. Escrevo o que vivo, penso
e sinto, como uma pessoa que escolheu Caldas como um lugar de vida. Uma pessoa
que descobriu aqui as belezas e os recursos
de uma natureza quase única, ao lado da hospitalidade de seu povo.
Uma natureza que não deve ser
"intocada", porque Caldas não está num Parque Nacional, tal como boa
parte de Itatiaia ou de Itamonte. Mas uma natureza que seria mais do que apenas
um "crime ambiental" tratar de forma tão brutal e irresponsavelmente
predatória, como diante de nosso olhos está sendo crescentemente levado a
efeito pelas empresas mineradoras que aqui se implantaram.
Dada a minha idade e às minhas
atuais condições de saúde, não poderei estar participando com a presença e a
intensidade desejadas de todo o processo de debates, confrontos e diálogos ao
redor da questão da presença da mineradoras em Caldas e no Vulcão de Poços de
Caldas.
Vindo do Rio de Janeiro onde
nasci, e de Campinas onde moro, convivo com a gente e o mundo de Caldas desde o
começo dos anos 80. Construí aqui, não para o meu uso pessoal, o de minha
família e o de meus amigos próximos, um lugar onde porteiras e portas nunca
estão trancadas. Um lugar solidário onde quem seja que venha pode chegar,
entrar e conviver conosco a vida de partilhas que aqui se tenta viver.
Desde sempre, desde os tempos já
distantes do Águas Claras - associação
ambientalista das bacias do Rio Verde e do Rio Soberbo, estive sempre
envolvido em nossas frentes de luta em nome da natureza e, sobretudo, dos
valores humanos e da qualidade de vida das pessoas daqui. Estivemos por anos
enfrentando a INB e as mineradoras. Ganhamos batalhas. Ganharemos mais esta!
Sigo apoiando com entusiasmo
todas as iniciativas em favor dos valores e direitos que sempre defendi. Mesmo
sem a energia física e o "poder de presença" de outros tempos, quero
me sentir presente, ainda e sempre.
Em minha vida de professor e de
militante de direitos humanos e naturais, tenho sido alvo de algumas homenagens
e de alguns reconhecimentos. Dentre todas e todos, ao lado de ser um professor
há 46 anos, há um reconhecimento que estimo acima de todos os outros: haver
sido escolhido dentro os que um dia vieram para aqui, para ser um Cidadão Caldense.
E que a conhecida dupla frase de
um velho índio nos ajude a encerrar este depoimento.
Nós não herdamos a Terra de nossos antepassados.
Nós apenas a pedimos emprestada aos nossos filhos.
ESTIVEMOS JUNTAS E JUNTOS ATÉ
AGORA!
ESTEJAMOS JUNTOS E JUNTAS AGORA!
3 comentários:
SALVE O SANTUÁRIO ECOLÓGICO DA PEDRA BRANCA EM CALDAS - M.G.(https://secure.avaaz.org/po/petition/retirada_imediata_das_mineradoras_do_santuário_ecologico_da_pedra_branca_em_caldasMG/).
Assinem a Petição, a Pedra Branca pede Socorro!!!!
Texto mais socialista impossível hein?
Então que o governo municipal comece a investir mais na cidade.
Vamos ver como a prefeitura iria ficar sem os impostos das mineradoras.
Vamos ver onde a população iria trabalhar. Fabricas de doces? São tantas..
Caldas é uma cidade miserável. Se as mineradoras fecharem as portas, será um problema muito maior pra comunidade.
Fora que todo esse povo que fica falando mal das mineradoras, são hipócritas! Duvido que na casa deles não tenha uma pia, se quer, de granito ou mármore. Pia, chão...
Gente ignorante demais... fala sério...
No final do mes de Janeiro um ANONIMO escreveu TEXTO MAIS SOCIALISTA IMPOSSIVEL...HEIN? Achei que a postagem sobre as questões ambientais e as mineradoras estivessem sendo absorvidas... para quem não sabe Caldas tem um depósito de LIXO RADIATIVO - depositado pelas MINERADORAS. Num movimento social conseguiu-se que fosse retirado de lá... A CHINA deverá levar,pois eles trabalham com tecnologias de transformação. Pena que o ANONIMO não permite que sua mente se transforme e consiga uma visão mais PLANETÁRIA... Vou contiuar estas reflexões em outro momento... só não queria deixar passar.
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