IMPOSTOS EM SÃO PAULO

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A RESPEITO DA PRESENÇA DE MINERADORAS NO MUNICÍPIO DE CALDAS-MG


 

PEDRA BRANCA-POCINHOS DO RIO VERDE
 depoimento pessoal 

nota liminar: este é um depoimento estritamente pessoal. Embora algumas idéias básicas escritas aqui venham sendo, de longa data, dialogadas com pessoas na Rosa dos Ventos e em outros locais de Caldas, este documento envolve o meu nome e as minhas opiniões pessoais e minhas propostas a respeito da presença, da atividade e da expansão de empresas mineradoras em Caldas.
Divido este depoimento em alguns argumentos e algumas propostas. Devo lembrar que sou um antropólogo e um educador. Muito embora tenha participado de atividades ambientalistas (inclusive aqui em Caldas) e tenha escrito livros sobre educação ambiental, não sou um especialista no assunto e, menos ainda, em legislação ambiental.

1º argumento: A LEI E O ALÉM DA LEI
Creio que a discussão entre os lados envolvidos na questão que nos toca aqui, tenderá a ser conduzida dentro de marcos "da lei" e, de maneira específica, dentro de marcos da "legislação ambiental". Concordo com este ponto de vista. Mas penso que, tal como em tantas outras questões, existem dilemas humanos, sociais, ambientais, planetários mesmo, ainda não inteiramente estabelecidos como legislação.
Isto vale para o Planeta Terra. Basta ver a imensa dificuldade em se aplicar mínima e universalmente o Protocolo de Kiotto, mesmo sabendo-se que nada menos do que a Vida na Terra e a Vida Humana estão ameaçadas em médio prazo, se em "nome de um pretenso  desenvolvimento econômico", as nações e as grandes empresas perseverarem no modelo de insustentabilidade vigente. Isto vale para o Brasil, onde apesar de todo o Código Florestal, segundo dados oficiais as empresas de "agro e hidro negócio" devastaram entre o Mato Grosso e o Pará cerca do equivalente a "três Estados de São Paulo" em 10 anos.
E isto vale igualmente para Minas Gerais. Estamos em um Estado onde as mineradoras devastam em nome de seu lucro e de um  PIB (ainda mínimo) do País inúmeras regiões de grande valor humano e ambiental.
E isto vale ainda para esta região do Sul de Minas onde estamos e, finalmente, para o Município de Caldas.
Uma questão básica é: "o que as empresas mineradoras estão explorando em Caldas está dentro ou fora da lei (da Constituição da República Federativa do Brasil, da Legislação ambiental do Brasil, da Legislação Ambiental do Estado de Minas Gerais, do Código de Posturas do Município de Caldas, etc.)?"
O plano estrito da jurisprudência envolve  uma dimensão essencial e, quase sempre, decisiva,  em toda esta questão. No entanto em nome do bom senso, creio que ela não deve ser a única. A dimensão político-jurídica deve deixar-se envolver por outras dimensões, por perguntas e por outros pontos cruciais de  discussão.
Por exemplo:
a) Mesmo estando "estritamente dentro da lei", a exploração de granito e outros minerais em Caldas aporta de fato benefícios para as pessoas de agora e do futuro; para as comunidades sociais de Caldas; para o seu patrimônio natural e cultural; para o meio ambiente, de tal forma  que justifique, no presente e no futuro a presença e a expansão de empresas interessadas em tal atividade?
b) Mesmo estando "estritamente dentro da lei', a exploração de granito e outros minerais em Caldas colabora para a realização de uma verdadeira "vocação de Caldas", sobretudo se lembramos que Caldas há 200 anos é reconhecida como uma região privilegiada, sobretudo no que toca a sua natureza e a qualidade de suas águas minerais?
c) Mesmo estando "estritamente dentro da lei", a exploração de granito e outros minerais em Caldas aporta efetivamente algo para o "bem comum" (uma nova e essencial dimensão que tenderá a provocar revisões profundas em todas as legislações em todas as suas esferas e fronteiras), ou será que ela responde apenas a interesses econômicos de grupos empresariais e de empresários individuais?
Creio que um debate fecundo e inteligente deveria partir da "lógica da lei", e deveria ir até além dela, para, então, retornar de forma mais densa e enriquecida a ela.

2º argumento:  QUEM SÃO ELES E QUEM SOMOS NÓS
Há uma outra questão que deve ser colocada em aberto e discutida com critérios muito ao mesmo tempo humanos e socioeconomicamente objetivos e realistas.
Podemos nos equivocar, imaginando que em toda esta discussão entre as empresas mineradores de um lado, e pessoas, comunidades, instituições da sociedade civil e poderes (executivo, legislativo e judiciário) em e de Caldas, e, do outro lado, as empresas mineradoras (organizadas ou não em algum tipo de instituição civil) estamos diante de dois lados  com valores e interesses diversos, mas ética, legal e politicamente equivalentes.
Isto é inteiramente falso.
Isto seria inteiramente verdadeiro, se estivéssemos discutindo a introdução em Caldas de uma instituição civil sem fins lucrativos, com propósitos de instaurar aqui um projeto de otimização de nossos recursos naturais voltados, por exemplo, à saúde.
Isto seria parcialmente verdadeiro se estivéssemos discutindo o interesse de uma empresa em responder pelo "Balneário de Caldas", ampliando os seus espaços e otimizando os seus serviços, com direitos à concessão de uma exploração empresarial durante 50 anos.
Mas isto é discutivelmente verdadeiro, ou é mesmo inteiramente falso no nosso caso em questão.
Penso que na verdade temos de um lado, pessoas, comunidades, instituições sociais, representantes de agências de poderes públicos voltados ao BEM COMUM de Caldas e de toda s região em que nosso município se insere.
Penso que temos, de um outro lado, empresas mineradoras interessadas apenas e inteiramente na exploração rápida e predatória de recursos naturais de Caldas, em benefício único e exclusivo de seus interesses. De seus interesses prioritariamente econômicos. Em suma: de seus ganhos; de seu lucro. Pois até que me provem o contrário, este é o único ou o essencial propósito de empresas capitalistas como as que aqui estão, ou que aqui pretendem "se instalar".
Esta é a realidade conjuntural dos "dois lados da questão das mineradoras em Caldas". Não temos "empresários pecuaristas" ou "do agronegócio" defendendo os seus interesses de um lado e, do outro, empresários de "mineradoras". Isto aconteceu em outros países e em outras eras, como nos Estados Unidos da América do Norte, quando da descoberta do petróleo no seu solo. Isto pode estar acontecendo agora mesmo em outras regiões do Brasil.
Mas não aqui, repito.
Aqui em Caldas temos, de um lado: pessoas, famílias, comunidades de pequenos produtores rurais de agricultura e pecuária (aqueles bem mais do que os do agronegócio, são os que de fato "colocam a comida nas nossas mesas"  - inclusive nas dos donos ou sócios das empresas mineradoras). Temos do mesmo lado, pessoas que vieram de outros lugares viver em Caldas; pessoas que não vivendo aqui, aqui construíram espaços de vida e de preservação da natureza; pessoas que mesmo não sendo de Caldas, não vivendo aqui e sequer possuindo propriedades urbanas ou rurais em nosso município, em nome de sua afeição por Caldas e, sobretudo, em nome de seus empenhos em defesa da qualidade de vida e da preservação do ambiente natural, colocam-se a favor de uma defesa justa e inadiável da natureza e da vida na região de Caldas. De Caldas e de todo o Sul de Minas, de toda Minas Gerais, de todo o Brasil, de todo o Planeta Terra, enfim.  Temos, do mesmo lado, creio, pessoas, instituições gremiais e partidárias, assim como instituições do poder público constituído em Caldas, com uma igual vocação de salvaguarda de diretos humanos, do bem comum e da natureza e, nela, do meio ambiente que conforma nosso território geográfico.
E este poderia bem ser o momento para nos lembramos que, desde suas origens na Grécia Antiga, "público" não quer dizer "do poder" e nem "do governo". Quer dizer: "do povo". Isto é das  e em nome das pessoas que constituem a sociedade civil à qual deve se subordinar qualquer esfera ou modalidade de poder político ou de outras esferas, em uma democracia. "Público" significa também "da polis"; ou seja, da cidade, no sentido grego e depois romano de "a comunidade civil que habita e gere em seu nome um lugar social".
Quem tenha dúvidas, por favor, abra a página 1 da Constituição da República Federativa do Brasil" e veja logo entre as primeiras linhas em nome de quem... "todo o poder será exercido".
Não é  em nome de meus interesses pessoais que estou escrevendo isto. Não é em nome de meus interesses pessoais que há anos venho defendendo, junto a tantas outras pessoas de Caldas, em Caldas e amigas de Caldas, a integridade do valor humano, da qualidade de vida e do meio ambiente em Caldas. E para além de Caldas. Creio que esta é a mesma intenção de uma imensa maioria das pessoas que aqui estão ou que para aqui vieram. Assim, defendo que individual e coletivamente somos aquelas mulheres e aqueles homens empenhados na justa "defesa do Bem Comum".
Esta é uma diferença fundamental que também precisa ser considerada "dentro da lei" e "para além da letra da lei".
Como acontece em todo este País, e em todo o Mundo, na verdade, temos de um lado pessoas, comunidades, entidades e associações civis e governamentais (da Câmara Municipal de Caldas à Organização das Nações Unidas) empenhadas em salvaguardar a vida e a natureza, condição mínima da salvaguarda da Espécie Humana na Terra e de sua solidária e sustentável prosperidade. O que é algo muito diferente de "desenvolvimento econômico", calcado no lucro, na ganância e na destruição do ambiente.
Creio que  visivelmente temos, do outro lado,  emissários do interesse do "bem individual", realizado através do lucro financeiro obtido graças à destruição geométrica de patrimônios naturais (estabelecidos claramente em lei) e do bem comum de e em Caldas.
O que pode parecer a um olhar apressado um repertório de pequenas diferenças ajustáveis e conciliáveis entre "dois lados diversos, mas não antagônicos", é, a um olhar um tanto mais crítico, a oposição entre dois pólos com visões de mundo, com compreensões de sentido do bem comum e com vocações opostas. Estamos convivendo a posição entre um lado dos que defendem o bem comum frente ao interesse individual, versus o lado dos que defendem interesses econômicos individuais ou corporativos, empresariais, frente aos valores do bem comum.
3º ARGUMENTO:  SE ELE FOSSEM AO MENOS... MENOS PREDATÓRIOS E MAIS PRESENTES

Para além das classificações de modalidades com que se apresentam perante a sociedade, a lei o "mundo dos negócios", um simples olhar atento ao que se passa em uma cidade como Caldas ou, com maior diversidade, em Poços de Caldas, revelaria que as empresas podem ser divididas em três categorias, do ponto de vista do que aqui nos interessa: a) aquelas que vão além das obrigações estritamente legais; b) aquelas que permanecem na pura e simples observância do "estritamente legal"; c) aquelas que sequer cumprem o "estritamente legal".
Entre as primeiras, estão aquelas que além de cumprirem as diversas legislações que incidem sobre seus negócios, aportam a diferentes dimensões das sociedades em que se inserem, uma parte de seus ganhos e lucros, sob a forma de compensações e retribuições oriundas dos ganhos do capital.
Esta é uma tradição quase obrigatória em nações democraticamente mais consolidadas. Sabemos que boa parte dos recursos destinados a instituições de ação social, a universidades e a outras agências de ciências, artes, cultura e educação, provém de fundações criadas por empresas. Aqui mesmo no Brasil esta tradição aos poucos e a custo se difunde.
Aqui mesmo ao lado, a ALCOA (uma empresa internacional), apregoa haver criado um espaço de preservação da natureza e de educação ambiental. ela insiste em estar continuamente apoiando iniciativas sociais e culturais. E há alguns anos atrás espalhou outdoors por toda Poços de Caldas, anunciando haver plantado um milhão de árvores. Espero que não sido Eucaliptos e Pinus.
Entre as segundas estão aquelas que, em muito maior número, "cumprem com a lei" estritamente, e apenas realizam algum benefício eventual e rasteiro, em favor do local onde se instalam, sobretudo quando esta ação é imposta pela própria legislação. Este é o caso das "áreas de compensação" estabelecidas em nossa legislação ambiental.
Entre as terceiras estão aquela que além de nada contribuírem,  ou apenas irrisoriamente aportarem algum benefício às comunidades onde se instalam, sequer cumprem de forma completa e devida os requisitos e as exigências mínimas da legislação.
Este, acredito até prova em contrário, é o exato caso das empresas de mineração em Caldas.
A quem duvide, sugiro que Chegue até na Pedra Branca e procurem pela floresta de regeneração com árvores naturais impostas pelo Código Florestal a toda a empresa, tão logo ela conclua e exploração de frações do local onde opera. Quem olhe (e fotografe) com atenção os espaços residuais das mineradoras de Caldas verá cemitérios estéreis de restolhos de pedras. As pedras que aportam milhões de reais (ou de dólares) às empresas mineradoras, todos os dias nós as assistimos serem furtivamente levadas para longe, dentro dos imensos caminhões que esburacam as nossas estradas. As pedras que não sevem, elas as abandonam, para que porções preciosas de nossos santuários naturais se transformem no amontoado de resíduos que, por milênios, depois de esgotadas as nossas riquezas e as fontes de seus ganhos despropositados, as empresas se forem embora, em busca de outros lugares a "explorar".
 
4º ARGUMENTO: Á PAULÍNIA A RIQUEZA, A CALDAS A INDIGÊNCIA
Quem esteja acompanhando uma recente polêmica de âmbito nacional haverá de ver como a nossa própria legislação econômica e empresarial trabalha com dois pesos e duas medidas.
Dou um exemplo de comparação bem próximo a nós. A menos de 150 kms. de Caldas, já no Estado de São Paulo, a pequena cidade de Paulinia, inserida em um município cujo território é menor do que o de alguns bairros rurais de Caldas, é considerada a cidade proporcionalmente mais rica do Brasil.
Neste município foi instalada uma REPLAN, uma refinaria de petróleo da Petrobrás. Em troca dos danos ambientais, esta refinaria que ocupa mais mão-de-obra local do que todas as mineradoras de Caldas multiplicadas por 10, paga anualmente "roialtes" milionários.
De igual maneira, assistimos uma polêmica aberta entre Estados litorâneos da Federação, onde existe já ou será iniciada a exploração de petróleo extraído de sub-solo marinho, e os outros Estados, como Minas Gerais, rica em minérios, pobre em petróleo.
A polêmica é aguerrida e não-resolvida até hoje, simplesmente porque o aporte financeiro a estados e municípios onde há ou haverá exploração de petróleo é realmente imenso.
E os impostos e dividendos devidos á mineração?
Qual a razão pela qual Paulínia recebe por mês mais do que Caldas em vários anos, em recursos financeiros vindos afinal de uma atividade de maior valor social (o combustível de seu carro) e de um menor impacto ambiental do que as nossas mineradoras. As mesmas empresas que nos deixam uma natureza degradada, pagando um mínimo de impostos municipais, se é que pagam algum, enquanto levam daqui para o exterior riquezas que são um bem comum nosso, e que, exportadas, transformam-se em uma riqueza individual ou empresarial apenas "deles"?
Até onde posso compreender, temos em Caldas, através da exploração de nossos recursos minerais, uma das formas mais perversamente devastadoras  do meio ambiente, somada a um mínimo de aporte compensatório, previsto ou não em lei.
Em nome do quê? De quem? De que direitos humanos, ambientais e sociais? Em proveito de quem?
Podemos perguntar: desde a implantação de empresas de mineração aqui, em que grau as nossas precárias estradas rurais melhoram nos últimos anos? Devo lembrar que agora mesmo, uma comunidade de moradores e proprietários ao longo da estrada entre a da Pedra Branca e a do bom Retiro está se cotizando para, por conta própria, calçar um trecho de estrada cujo trânsito é inviável em tempos de chuva.
Que escola as empresas mineradoras, juntas, construíram para Caldas com uma pequena "sobra" do que ganham aqui? Que praça de esportes para jovens? Que espaço público de preservação ambiental junto à Pedra Branca? Que leito de hospital? Que efetivo aporte a um mínimo de melhora das condições de vida em Caldas. Sobretudo nas áreas próximas ao seus locais de degradante exploração que efetivos benefícios compensatórios foram  realizados de fato até hoje?
Antecipo que é muito provável que em próxima reunião para reivindicarem os seus "direitos a explorarem novas lavras", as mineradoras anunciem para, "daqui em diante", alguns aportes e compensações "em troca" do que levam sem deixar aqui nada além de áreas degradadas e restos de pedras inúteis.
Nunca aportaram de fato nada significativo. Duvido que venham a cumprir promessas no futuro.

5º. ARGUMENTO: O LUGAR ONDE ESTAMOS NÓS, AQUI EM CALDAS
Seguidas vezes viajo de avião. Com freqüência vôo saindo de Campinas em direção a Belo Horizonte ou a alguma cidade de Nordeste. Algumas rotas passam exatamente por cima de nossa região. Ora elas sobrevoam terras entre Caldas e Santa Rita de Caldas, ora passam mais em direção a Poços de Caldas. Faz alguns meses, uma nova rota passa exatamente por cima da Rosa do Ventos, cortando boa parte do Município de Caldas.
Quem preste atenção verá lá do alto uma paisagem completamente diversa de quase todas as outras em solo brasileiro.
É que estamos em uma das três únicas grandes crateras vulcânicas no Brasil!
As duas outras estão, uma em Araxá e, a outra, em Caldas Novas. As duas cidades trocaram a mineração predatória pelo turismo ecológico. E em Caldas Novas um único grande hotel de turistas  emprega mais mão-de-obra e aporta mais recursos para o município do que provavelmente o farão todas as mineradoras de Caldas juntas.
Quem consulte um mapa geológico (no Google tem) verá que estamos dentro de uma rara e preciosa porção de território denominada: "Vulcão de Poços de Caldas". Apenas por isto e pela extrema raridade de tal ocorrência no Brasil, defendo que atividade predatória alguma deveria ser autorizada a se instalar em todo o território deste "vulcão", que além de Caldas e de Poços de Caldas, envolve outros municípios da região.
Com um pouco mais de atenção, será possível ver um belo e inesperado acidente geológico que datará de muitos milhões de anos. Ao invés de assumir a forma redonda de uma cratera (ou uma "caieira") vulcânica, caprichosamente o nosso "Vulcão de Poços de Caldas", justo no território que vai de Pocinhos do Rio Verde até a Pedra Branca, forma um alongamento. O círculo se alonga em um quase cone de terras e serras (a Serra de Caldas é uma de suas bordas, junto com a Pedra Branca) e configura ali a porção mais bela e preciosa de toda a geologia, a geografia e a geopoética do "Vulcão de Poços de Caldas". Acrescentemos a isto, que ao lado desta região nascem os nossos dois rios: o Verde e o Soberbo.
Faz tempo tenho comentado que não apenas a "Região da Pedra Branca", mas toda a área imensa do "Vulcão de Poços de Caldas" deveriam ser oficialmente declaradas: "Patrimônio Natural do Brasil", como um território de estrito e raro perfil geológico, ecológico e ambiental. Portanto, toda esta deveria ser uma região regida pela mais rigorosa legislação de defesa da natureza e de extrema preservação ambiental.
Acrescentemos a isto, ainda,  a presença aqui de raras águas minerais que deveriam estar sendo bastante mais propaladas e utilizadas, como um eficaz recurso de saúde, do que estão sendo no presente momento.
Acrescentemos finalmente que Caldas é, em todo o Sul de Minas, em toda Minas Gerais e em todo o Brasil, um município de uma rara região de um inestimável valor humano, paisagístico e natural. Caldas deveria possuir uma "vocação de santuário natural", tal como raros outros territórios no Brasil e na América Latina.

6º ARGUMENTO:  AS VOCAÇÕES DE CALDAS SÃO OUTRAS
Vocês já visitaram outras regiões e municípios de Minas Gerais onde aos poucos empresas de mineração se instalaram e, depois, literalmente "tomaram conta"? Já foram ao menos até ali, em São Tomé das Letras? Ou, mais próximo ainda, já foram ver como ficaram as áreas de Caldas e de Santa Rita de Caldas, onde empresas mineradoras extraem o granito?
Quem tenha ido e tenha alguma sensibilidade, haverá de perguntar como eu e tantas outras pessoas: em nome de quem  e em proveito do que tudo isto está acontecendo aqui?
Se Caldas fosse um município situado em um território sem outros recursos que não os de seus minerais. Um lugar  sem outras alternativas a não ser a mineração, ainda aí a presença de empresas mineradoras deveria ser submetida a um criterioso exame.
Mesmo que Caldas estivesse situada em uma caatinga seca e árida, ainda aí seria preciso realizarmos a mesma pergunta: vale a pena tanta degradação ambiental em nome de tão pouco?
Mas Caldas e toda a vasta região do "Vulcão de Poços de Caldas", é o exato oposto de "uma caatinga seca e árida". Caldas é - e sempre será preciso repetir - um raro e precioso "Santuário natural".
E, então, mais aqui do quem em tantos e tantos municípios do Brasil, devemos fazer a pergunta (a ser feita em nome da lei, dentro dela, e para além da lei): vale a pena tanta degradação ambiental em nome de tão pouco?
Caldas tem vocações! E as suas vocações foram e podem seguir sendo outras.
Caldas foi por vários anos o município com a maior produção de uva e vinho no Brasil.
Caldas pode voltar a ser uma fecunda região de agricultura e pecuária realizada por uma hoje retomada e re-incentivada agricultura familiar, desde o governo federal.
A EPAMIG, aqui situada, está realizando com sucesso experiências com a produção de Oliveiras. Caldas pode, no correr dos anos, vir a ser a terra de olivais e de um azeite de qualidade. Maria da Fé já está produzindo e comercializando azeite de qualidade.
Caldas tende a ser tornar uma cidade e um município conhecido naturalmente pela qualidade de seus queijos e seus doces. Parece pouco. Pode ser muito.
Pelo lado de Andradas, com muito menor impacto ambiental, Caldas  começa a ser povoada por grandes canteiros cobertos de produção de flores.
Em tempos em que fala tanto em saúde e em cuidados naturais com a saúde, Caldas poderia assumir-se (mais até do que Poços de Caldas e Campos do Jordão), como uma "estância hidromineral de saúde".
Lembro que em nome de sua identidade como "estância hidromineral Águas da Prata oficialmente baniu de seu território as tentativas de empresas mineradoras ali se instalarem.
Caldas poderia ampliar muito uma vocação destinada ao "turismo ecológico". Estamos perdendo o terreno neste campo para cidades próximas como Andradas, e para cidades até pouco tempo desconhecidas, como Gonçalves e Paraisópolis.
Um programa inteligente poderia associar saúde-ecologia-cultura-culinária típica e, sobretudo, a rara beleza natural do município,  como um conjunto de motivos e de recursos para a consolidação de uma real, fecunda e sustentável vocação do Município de Caldas.
Podemos nos unir para consolidar a APA DA PEDRA BRANCA. Podemos ir além. Podemos nos unir para, junto a instancias de outros municípios da região, de Minas Gerais e do Brasil, implantarmos finalmente aqui a APA DO VULCÃO DE POÇOS DE CALDAS. Lembro que a APA DA SERRA DA MANTIQUEIRA envolve 27 municípios de e Estados da Federação.
Não nos iludamos. Tal como irreversivelmente já aconteceu em outros lugares do mundo e do Brasil - a começar por Minas Gerais - empresas capitalistas de interesses centrados no "lucro individual', por oposição ao "bem comum", chegam de início aos poucos, silenciosa e mansamente (apesar do estrondo de seus dinamites). Depois se associam,  e para a sociedade e os poderes públicos que iludem, prometem "um absoluto e estrito respeito á lei"; um "desenvolvimento local'; "um pleno emprego de mão de obra e uma série de benefícios adicionais proporcionais aos seus ganhos.
Visitem os locais onde algumas delas estão instaladas. Relembrem como ele era e vejam como ele ficou. Perguntem aos vizinhos das pedreiras em que a sua qualidade de vida melhorou depois da chegada delas. Consultem dados confiáveis na Prefeitura de Caldas e tomem conhecimento do real aporte das mineradoras ao município e à sociedade que, afinal, somos todas e todos nós.
Depois, façam aos seus donos e sócios a mesma pergunta que fiz aqui mais de uma vez:
Vale a pena um tal dano à natureza e à vida de todas e todos nós, em troca de tão pouco?
Eis os meus argumentos e o meu rascunho de lembranças e de propostas.
Repito que escrevo como um não-especialista, sobretudo em legislação ambiental. Escrevo o que vivo, penso e sinto, como uma pessoa que escolheu Caldas como um lugar de vida. Uma pessoa que descobriu aqui  as belezas e os recursos de uma natureza quase única, ao lado da hospitalidade de seu povo.
Uma natureza que não deve ser "intocada", porque Caldas não está num Parque Nacional, tal como boa parte de Itatiaia ou de Itamonte. Mas uma natureza que seria mais do que apenas um "crime ambiental" tratar de forma tão brutal e irresponsavelmente predatória, como diante de nosso olhos está sendo crescentemente levado a efeito pelas empresas mineradoras que aqui se implantaram.
Dada a minha idade e às minhas atuais condições de saúde, não poderei estar participando com a presença e a intensidade desejadas de todo o processo de debates, confrontos e diálogos ao redor da questão da presença da mineradoras em Caldas e no Vulcão de Poços de Caldas.
Vindo do Rio de Janeiro onde nasci, e de Campinas onde moro, convivo com a gente e o mundo de Caldas desde o começo dos anos 80. Construí aqui, não para o meu uso pessoal, o de minha família e o de meus amigos próximos, um lugar onde porteiras e portas nunca estão trancadas. Um lugar solidário onde quem seja que venha pode chegar, entrar e conviver conosco a vida de partilhas que aqui se tenta viver.
Desde sempre, desde os tempos já distantes do Águas Claras - associação ambientalista das bacias do Rio Verde e do Rio Soberbo, estive sempre envolvido em nossas frentes de luta em nome da natureza e, sobretudo, dos valores humanos e da qualidade de vida das pessoas daqui. Estivemos por anos enfrentando a INB e as mineradoras. Ganhamos batalhas. Ganharemos mais esta!
Sigo apoiando com entusiasmo todas as iniciativas em favor dos valores e direitos que sempre defendi. Mesmo sem a energia física e o "poder de presença" de outros tempos, quero me sentir presente, ainda e sempre.
Em minha vida de professor e de militante de direitos humanos e naturais, tenho sido alvo de algumas homenagens e de alguns reconhecimentos. Dentre todas e todos, ao lado de ser um professor há 46 anos, há um reconhecimento que estimo acima de todos os outros: haver sido escolhido dentro os que um dia vieram para aqui, para ser um Cidadão Caldense.
E que a conhecida dupla frase de um velho índio nos ajude a encerrar este depoimento.
Nós não herdamos a Terra de nossos antepassados.
Nós apenas a pedimos emprestada aos nossos filhos.


ESTIVEMOS JUNTAS E JUNTOS ATÉ AGORA!

ESTEJAMOS JUNTOS E JUNTAS AGORA!

3 comentários:

RÉGIS OTTONI disse...

SALVE O SANTUÁRIO ECOLÓGICO DA PEDRA BRANCA EM CALDAS - M.G.(https://secure.avaaz.org/po/petition/retirada_imediata_das_mineradoras_do_santuário_ecologico_da_pedra_branca_em_caldasMG/).
Assinem a Petição, a Pedra Branca pede Socorro!!!!

Anônimo disse...

Texto mais socialista impossível hein?
Então que o governo municipal comece a investir mais na cidade.
Vamos ver como a prefeitura iria ficar sem os impostos das mineradoras.
Vamos ver onde a população iria trabalhar. Fabricas de doces? São tantas..
Caldas é uma cidade miserável. Se as mineradoras fecharem as portas, será um problema muito maior pra comunidade.
Fora que todo esse povo que fica falando mal das mineradoras, são hipócritas! Duvido que na casa deles não tenha uma pia, se quer, de granito ou mármore. Pia, chão...
Gente ignorante demais... fala sério...

Educomunicação Ambiental disse...

No final do mes de Janeiro um ANONIMO escreveu TEXTO MAIS SOCIALISTA IMPOSSIVEL...HEIN? Achei que a postagem sobre as questões ambientais e as mineradoras estivessem sendo absorvidas... para quem não sabe Caldas tem um depósito de LIXO RADIATIVO - depositado pelas MINERADORAS. Num movimento social conseguiu-se que fosse retirado de lá... A CHINA deverá levar,pois eles trabalham com tecnologias de transformação. Pena que o ANONIMO não permite que sua mente se transforme e consiga uma visão mais PLANETÁRIA... Vou contiuar estas reflexões em outro momento... só não queria deixar passar.