IMPOSTOS EM SÃO PAULO

sábado, 30 de novembro de 2013

SOBRE O DESAPEGO COMO CAMINHO PARA O AMOR PLENO (**)


MESTRE ECKHART(*):
 No sermão “O Amor é forte como a morte” (cf. Cântico dos Cânticos), Mestre Eckhart faz propostas de grande sabedoria espiritual. Tomemos o amor como a capacidade de acolhimento do Outro enquanto autêntico Outro, e não como projeção das minhas fantasias, desejos e expectativas. É o acolhimento do Outro na gratuidade, sem espera de retorno ou resultado. É escolher e praticar o bem do Outro, o serviço ao Outro pelo Outro, e não pelo que o Outro pode me dar em troca. Este é o Amor Incondicional, este é o Amor Pleno. Este é o amor Ágape, o amor que Jesus veio testemunhar, o amor que Aurobindo, Teilhard de Chardin e outros místicos proclamaram e praticaram ao longo de suas vidas e seus escritos. O centro da atenção de Eckhart neste sermão é a ideia de que o amor a Deus nos chama ao desapego de tudo aquilo que temos nesta existência, e de que a Morte vem nos privar. As três principais coisas que os humanos deixam quando fazem a Grande Passagem desta vida para outra são também aquelas das quais Eckhart nos convida ao desapego:
1* O que é passageiro – Eckhart nos convida a listar tudo que temos e tudo que somos durante esta travessia pela existência terrena: amigos, bens, honras, todas as criaturas... até mesmo o próprio corpo! Quem faz a Passagem já não pode praticar virtudes nem acumular méritos, já não pode realizar o amor carnal, já não pode cuidar da sua saúde física. Já não possui nada que só tome em consideração ele próprio, já não se movimenta com intenção utilitária, visando só o seu próprio bem ou o dos outros.
 2* Os bens e as consolações espirituais – são os bens que dão alegria à alma: beleza, ética, estética, comunicação, meditação, alegria ou tristeza, devoção, oração, virtude, êxtase, sede do Divino. Tudo isto sai do nosso alcance quando fazemos a Passagem. Sendo a morte um fato que separa a alma do corpo físico, o amor pelo Divino também mata o homo no sentido espiritual. Isto porque para chegar ao amor o homo tem que se desapegar do seu Eu, de certa forma separar-se de si mesmo pela força sublime do amor “que sabe matar com tal suavidade.” É quando o homo abandona todo egocentrismo, já não vive esta vida para proveito próprio.
 3* A radicalidade de Eckhart é incômoda para quem não se coloca como missão de vida o amor incondicional. Ele diz que é preciso desapegar-nos de toda expectativa de recompensa e todo mérito que ainda possamos ganhar como resultado do amor e do serviço ao próprio Ser Divino, até mesmo o tesouro da ‘vida eterna’. Desapegar-se do Divino, para que o Divino possa acolhe-nos em plena liberdade, e na plena liberdade nós possamos escolher o Divino, acolher o Divino, amar o Divino. “Ah, Deus! Quem poderia jamais levar a cabo esta tarefa se não constrangido pelo próprio amor a Te abandonar e a se desvencilhar de Ti por Ti. Quem poderia sacrificar a Deus o que tem de melhor e mais precioso – Ele próprio – por amor a Ele?!”
Resta examinarmos se a Encarnação não foi a linguagem divina para nos mostrar que devemos viver na plenitude de nós próprios – Corpo e Alma, Matéria e Espírito, como Jesus Cristo nos mostrou na Sua existência terrena. Se não somos chamados a cultuar a Matéria e a Mãe Terra como origens matriciais da vida, instrumentos sagrados da Criação e da Encarnação, da Morte e da Ressurreição, manifestações diversas do Uno que dá origem, sustenta, anima e faz convergir para Si todas as formas de vida.
(*) Eckhart de Hochheim, O.P. (Tambach, Turíngia, 1260Colonia, 1328), mais conhecido como Mestre Eckhart, em reconhecimento aos títulos acadêmicos obtidos durante sua estadia na Universidade de Paris, foi um frade dominicano, reconhecido por sua obra como teólogo e filósofo e por seu misticismo. Ele é considerado como um dos grandes símbolos do espírito intelectual da idade média.
 (**) NOTA: Este artigo foi uma colaboração enviada para nosso Blog pelo Professor e Economista Marcos Arruda

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