Faz muitos (ou alguns) anos eu participei de dois
festivais de inverno da UFMG, em Diamantina. Em um deles coordenei uma curiosa oficina sobre cultura.
Parte de nosso trabalho de uma semana de julho foi uma atividade de exercícios
de pesquisa-breve em Diamantina e arredores, envolvendo os mais diferentes
temas, entre os mais diversos atores. Eu mesmo resolvi fazer o meu pequeno exercício de
pesquisa local. Fui recomendado a ir a um povoado “do outro lado da serra”, que
foi um antigo lugar de intensa exploração de diamantes. Seu nome: Mendanha. Foi
o único lugar em toda a minha vida em que me deparei com uma ponte sobre o rio,
com vários bancos encostados nas grades de um lado e do outro, sobre o rio
Jequitinhonha. Ela era uma espécie de pequena praça de encontros e conversas. E lá, entre outras pessoas de passagem, encontrei um
velho negro, garimpeiro de vida inteira. O tempo todo ele usou para si mesmo
este nome: João Braço.Convivemos por quatro dias. Conversei muito com ele em
sua minúscula casa. Ele mesmo sugeriu irmos juntos a um pequeno riacho próximo
(mas não tanto) à sua casa. Lembro-me de sua figura, magra, ossuda e, no
entanto, com mais de 90 anos, cheia de uma energia de vida que apenas uma gente
assim preserva ao longo de tantos anos. Lembro-me dele colocando no alto da
cabeça três peneiras de garimpeiro que ainda preservava, e apoiando sobre o
ombro direito uma enxada própria para ofícios de pequena garimpagem.Estivemos várias horas na beira do riacho, ou sobre as
areias, dentro dele. João Braço garimpou como – segundo ele – sempre fez, ao
longo de mais de 70 anos. E me ensinava os pequenos segredos do ofício. Garimpei
um pouco também, enquanto entre risos ele orientava a minha falta de jeito para
o garimpo. Claro, não conseguimos diamante algum. E ele mesmo confessou que
fazia anos não tirava das lavras sequer um pequeno
diamante. Voltei com algo de um maior valor: várias fitas de
entrevistas e mais um repertório de fotografias. Felizes tempos de “gravador de
fita” e de “máquina fotográfica de filme”. Em meu livro: A Clara Cor da Noite
Escura há algumas fotos dele e trechos de sua
fala. Elaine de Lemos participava então de um
projeto meu da UNICAMP. O nome, poético, evocava um poema de Carlos Drummond de
Andrade: O Sentimento do Mundo. Entre outros trabalhos de um tempo
pós-projeto, ela resolveu reunir as fotos, alguns trechos das entrevistas de
João Braço, alguns escritos meus e mais alguns estudos dela, e colocar tudo em
um livro. Seu nome: João Braço – ensaios, fotos e escritos sobre um homem
chamado João. Ele acaba de ser publicado e o que
acompanha esta mensagem é a anúncio de seu lançamento. Será no dia
9 de setembro em Piracicaba. Quem puder, venha. Será uma
alegria. Não sei se Elaine colocará o livro a venda em livrarias.
No entanto ela e eu teremos em mãos uma quantidade suficiente para doar a
algumas pessoas... e para vender a outras. Não combinamos ainda o seu valor. De minha parte (e
espero que dela também) penso, como sempre, em uma venda de economia solidária.
Algo em que o valor vale mais do que o preço. Assim que tivermos chegado a um acordo em uma nova
mensagem avisarei a vocês. Por agora vivamos juntas/os a alegria de mais um livro
criado a várias mãos, mentes e corações. E, mais ainda, um livro que é a imagem
e é a memória deste velho garimpeiro a quem dediquei um dos poemas de Os
Nomes – escritos sobre o outro. Um homem de quem, afora as lições pouco
aprendidas sobre o garimpo de diamantes, aprendi muito a respeito
de um tesouro bem maior: a vida. Abraço vocês com carinho, Carlos Brandão
O Planeta de Diamante está escondico!! |
PS. Escrevo esta mensagem na mesma noite em que leio na
internet que astrônomos descobriram um planeta a 4.000 anos luz da Terra formado
apenas de carbono. E imaginam que o carbono estará nele compactado de tal
maneira que talvez ele seja todo “um planeta de
diamante”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário