Alessandra Zacarias dos SantosSolma Lucia Souto Maior Araujo Baltar
Resumo: A Educação Ambiental surgiu como uma necessidade de se conhecer melhor o meio ambiente e tudo o que o envolve. Os parques ecológicos têm contribuído para manter a paisagem e arquitetura natural de alguns espaços-verdes em grandes cidades, servindo também como área de recreação e lazer. Com o objetivo de identificar e discutir formas de representação visual da natureza e avaliar a conceituação dos elementos naturais através da percepção infantil, foi desenvolvido um trabalho com 10 crianças de 10 a 12 anos, que freqüentavam o Parque do Ingá, em Maringá, no dia 22/11/99, e o Parque Ecológico Paulo Gorski, em Cascavel, no dia 29/11/99. As crianças comentaram sua preocupação com o lixo e os animais no cativeiro. Percebeu-se uma prática naturalista das crianças nestes ambientes, em contraste com o que ocorre em muitas escolas.
A educação ambiental surge, hoje, como uma necessidade quaseinquestionável pelo simples fato de que não existe ambiente na educação moderna. Tudo se passa como se fôssemos educados e educássemosfora de um ambiente. As áreas de silêncio do currículo caracterizam-se por uma ausência, às vezes completa, de referência ao meio ambiente. A natureza é esquecida. Recalcada e reprimida. Ela é silenciosa (Grun, 1996).
1 - Introdução
Muito se tem discutido sobre o meio ambiente, como manter e preservar as condições ambientais naturais. Em um meio ambiente, sempre que predominam os fatores ambientais originais, o observador se sente propenso a apreciação de uma ecologia primária com freqüente “ranso” de determinismo (George, 1973).
De acordo com os cientistas do século XVII, estudava-se o mundo natural com o intuito de conhecer a natureza, dominá-la e utilizá-la a serviço da vida humana. Assim, a civilização humana foi, como disse Thomas (1989), uma expressão virtualmente sinonímia de conquista da natureza.
Quando se trata de um meio criado onde os processos naturais parecem artificiais, sem deixar de condicionar as conseqüências, as aplicações das ações e intervenções humanas, as responsabilidades dos homens, de suas técnicas e sistema, assume um lugar decisivo.
Contudo, em ambos os casos, são as leis físicas e biológicas da natureza que presidem ao futuro. Isto não nos causará nenhum espanto se nos tornarmos simplesmente conscientes do que vem a ser essência mesma do homem assim como a do meio terrestre que ele tem de viver (George, 1973).
O que é Meio Ambiente?
Segundo George (1973), meio ambiente é uma realidade científica, um tema para controvérsia, o objeto de algum imenso receio, uma diversão, uma especulação.
Nosso companheiro de caminhada o Índio Setle, mais uma vez, retrata um pouco de sua realidade e desabafa sua tristeza:
O Homem branco trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que podem ser comparadas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Não há um lugar na cidade do homem branco (George, 1973).
Esta observação traz-nos à memória a morte da natureza e a frenesi da cidade do homem na visão do Filme “Koyaanisqatsi” e seu contraponto, o “Horizonte Perdido” (Coimbra, 1995).
As ciências na escola não transmitem o calor e a admiração de um mundo em que folhas, os insetos, a água, as nuvens se movimentam descrevendo quem sabe, fórmulas, desenhos, ativando a imaginação. Essas crianças representam o que Carl Seagan chamou de mortes precoces de futuros cientistas. Em uma breve previsão, poderemos sim, no futuro construir “analfabetos funcionais” dotados de leitura, mas que poderão ser definitivamente privados da arte de pensar, de descobrir e conhecer e, principalmente, de “simplesmente SER”.
Não concordamos com o raciocínio praticado até o momento por isso, buscamos um entendimento perceptivo através do mundo infantil, sem abandonar no entanto, as transformações valorativas já adquiridas por elas, através da educação, formal ou informalmente.
Nosso problema para elaborar a pesquisa apresentada consistiu em saber: Quais são as imagens construídas pelas crianças sobre o meio ambiente?
Ambientes Verdes: Parques e Bosques, uma Primária Definição
Numa primeira definição, parques urbanos são jardins públicos arborizados. Olmsted, arquiteto, paisagista responsável pela concepção do Central Park de Nova York, se refere aos parques como:
[...] lugares com amplidão e espaço suficiente e com todas as qualidades necessárias que justifiquem a aplicação a eles, daquilo que pode ser encontrado na palavra cenário ou na palavra paisagem.
Do século XIX ao nosso século, cenário ou paisagem são os termos que permaneceriam vinculados à idéia de parques urbanos, resgatando o sentido dos jardins ingleses em oposição aos geométricos e barrocos jardins franceses. Com base nesta herança, tratou-se, sempre, de recuperar nos ambientes urbanos aqueles espaços naturais e remodelá-los mantendo tanto quanto possível o que a natureza havia realizado e o que a cidade havia naturalmente preservado. Pequenos bosques, fundos de vale, várzeas e longos trechos de rios seriam, assim, os tradicionais espaços que foram transformados em parques, em cidades como Londres, Chicago, Filadélfia, entre outros (Oliveira, 1996).
As cidades-jardim ou os bairros-jardim seguiram tanto quanto possível a idéia de preservação da cobertura vegetal e dos espaços naturais no interior dos espaços urbanizados. Enfim, após o advento das preocupações ambientalistas, os parques tornaram-se uma realidade incontornável quando se pensa em proteção à natureza e preservação de áreas verdes em espaços urbanos.
Verificamos assim, que a função deste tipo de área verde era inevitavelmente um,isto de lazer e preservação da educação ambiental.
Percebe-se, no entanto, que direta ou indiretamente, sempre houve um reconhecimento, um destaque permanentemente vivo das áreas verdes, sendo esta aliada, muitas vezes, ao conhecimento intelecto dos paisagistas botânicos e arquitetos ou mesmo daqueles, que por mera intuição ou percepção natural do ambiente, consegue diagnosticar suas possíveis “feridas” e cuidar com carinho das suas “cicatrizes”.
Nossa Pesquisa
A concepção e interpretação da natureza pelas crianças são referenciais para representarmos a educação ambiental em nossa comunidade. Apresentamos, neste artigo, uma pesquisa realizada com crianças que freqüentavam os parques urbanos das cidades de Maringá e Cascavel, acompanhadas de seus familiares, com o objetivo de identificar e discutir formas de representação visual da natureza e avaliar a conceituação de elementos naturais.
A investigação sobre os dados referenciados ocorreu informalmente. Para melhor compreensão da percepção na área da ecologia, as crianças foram selecionadas aleatoriamente. Durante o passeio no parque as crianças foram orientadas a investigar o meio ambiente distinguindo dois aspectos de fundamental importância: verificar se havia diferenças nos locais à medida que íamos caminhando. Todas as observações foram registradas. Foram escolhidas cinco crianças em cada parque, com faixa etária entre 10 e 12 anos.
Grupo I - Parque do Ingá, em Maringá (22/1101999): Amanda (10 anos), Katarina (12 anos), João (11 anos), Ricardo (12 anos) e Clarice (10 anos).
Grupo II - Parque Ecológico Paulo Gorski, em Cascavel (29/11/1999): Gustavo (12 anos), Fábio (10 anos), Alice (11 anos), Henrique (10 anos) e Vitória (11 anos).
A cada uma delas, sugeriu-se que observasse dois aspectos distintos do parque: uma área preservada, onde havia cobertura vegetal exuberante e bem diversificada, e outra modificada pela ação do homem.
Os dados foram coletados de acordo com a percepção e análise pessoal de cada criança. O tipo de amostragem (não probabilística) e seu tamanho (dez crianças), não recomenda nenhuma tratamento estatístico.
Interpretação das Crianças sobre o Meio Ambiente
Observando as crianças, verificamos três momentos distintos:
1. A expressão de um mundo natural, harmonioso, onde a fauna e a flora foram comentadas pelos ambientes naturais do parque principalmente a lagoa, sempre sintonizados e relacionando todos os aspectos que compõem o ambiente natural.
2. A expressão de um mundo mais urbano onde o parque ainda é uma fonte de lazer e de “curtição da natureza”, podendo-se respirar livremente, correr, brincar, etc.
3. A preocupação com a devastação, com o lixo, o desamor com alguns animais, desolados em cativeiro e com algumas plantas derrubadas, outras totalmente abandonadas, esperando pela chuva para serem regadas.
Na maioria das interpretações para as crianças, as pessoas têm sempre um papel de destaque na natureza como também de questionamento, tais como:
Como o homem pode deixar os bichinhos sem comida? Sem a sua mãe?
Por que eles não podem viver soltos no parque?
Para algumas crianças (Katarina, Vitória, João e Alice), o significado de seus sonhos era verbalizado espontaneamente e, muitas vezes, expressa o desejo de morar em uma casa com um jardim semelhante ao parque.
Katarina (12 anos), encantada com as flores coloridas que encontrou no caminho, expressou o desejo de tê-las no jardim de sua casa e logo tentou apanhá-la. Quando Ricardo (12 anos) percebeu, mandou que ela deixasse as flores no lugar para não morrerem. Aborrecida, Katarina respondeu que iria levá-las para plantar em seu jardim e, assim, elas não morreriam.
Entre as manifestações sobre a importância de se conhecer a natureza surgiram entre outras, a necessidade de se conhecer as árvores: como elas respiram, porque umas são mais verdes que outras, porque umas crescem bastante e outras ficam pequeninas.
Gustavo (12 anos) e Alice (11 anos) disseram que algumas plantas crescem mais que outras porque têm mais comida para elas no lugar em que estão plantadas. Já Amanda (10 anos) e Clarice (10 anos) disseram que algumas plantas são pequenas mesmo e não são para crescer.
Algumas crianças compararam os dois ambientes com clareza e muito questionamento. Com relação à área degradada, se preocuparem se as plantas voltarão a crescer naquele mesmo lugar novamente e fizeram questionamentos como: Por que o homem maltrata tanto a natureza? Será que eles não sabem que os animais e as plantas precisam viver?
João (11 anos) comentou com Clarice (10 anos) a tristeza do macaco e perguntou: “Será que ele está com frio? Quem dá comida pra ele?”. Clarice, então, respondeu: “Acho que ninguém cuida deles, acho que nem tomam banho”.
Com relação aos animais, as crianças relacionaram com a flora e criticaram o local sujo e pequeno onde eles se encontravam.
De um modo geral, o objetivo foi atingido nos dois grupos, sendo que, no primeiro, percebemos uma maior clareza de expressão e sentimentos, enquanto que no segundo, apresentavam-se mais dispersos.
Fato interessante, e que desviou por alguns instantes a atenção das crianças foi a presença de alguns quatis. Eles passeavam livremente pelo parque em busca de comida, invadindo as lixeiras que se encontravam distribuídas ao longo do parque. Como não encontraram alimento, chegaram a seguir algumas crianças que comiam pipoca. Como era de se esperar, foi motivo para muita alegria e risos.
De um modo geral, percebemos que o comportamento individual de cada criança está intimamente relacionado com a sua educação, grau de liberdade e sociabilidade familiar.
Comentando Alguns Dados da Pesquisa
Nos ambientes de parques, as crianças têm a liberdade de observar e descobrir o ambiente a sua volta, sem barreiras nem restrições. Essa liberdade associada à sua percepção, gera questionamento e respostas sobre a natureza. Percebe-se uma prática muito mais naturalista das crianças nestes ambientes, onde encontram uma identificação com seu mundo de forma mais descontraída, do que nas escolas, onde a prática da educação ambiental é muito mais formal.
Atualmente, qualquer pessoa torna-se um educador ambiental seja pelo fato de falar de biologia, de gostar da natureza, de tentar manter vivo o planeta terra, proteger o meio ambiente, sempre com o mesmo objetivo de tentar fazer alguma coisa para “salvar” o meio ambiente das catástrofes ambientais na maioria das vezes encadeadas por ações antropocêntricas. Discussões em torno da educação ambiental, de como cuidar e preservar o meio ambiente ainda não chegaram à criação de princípios ou critérios claros, capazes de oferecer base segura a partir da qual poderíamos pensar em projetos de implementação de uma respectiva prática de ensino, pois as diversas disciplinas como: educação, pedagogia, ecologia, biologia, entre outras, envolvidas nas questões ambientais, demonstram sua impotência para tratar a complexidade do meio ambiente (Flickinger, 1994).
O fato de não haver linhas teóricas claramente definidas que possam subsidiar a reflexão necessária sobre a educação ambiental capaz de buscar elementos para pensar a dimensão ética da educação ambiental, demonstra as impossibilidades que o pensamento científico moderno impõe a educação ambiental. Na tentativa de superar esse quadro já desenvolvido e estabelecido em várias partes do mundo, Grun (1996), reafirma a sua preocupação.
Essa concepção, vigora sobretudo dentro das escolas na formação das crianças e dos adolescentes. O mundo está em constante mutação e estas mudanças por meio da educação ambiental está fortemente condicionada à elaboração de princípios, objetivos de comportamento do ser humano em relação à natureza, à vida, seguidos por “receituários” de diversas áreas de formação e praticados através da educação, de treinamentos adestrados de pessoas ou através de livros e manuais pré-induzidos com fórmulas prontas. Todos esses aspectos nos levaram a algumas reflexões:
Como as crianças vêem e sentem o mundo? O que elas entendem sobre o meio ambiente e qual a sua percepção sobre a preservação e/ou a destruição do planeta terra?
Discordamos da prática hegemônica nas escolas e buscamos juntos a um grupo de crianças, conhecer e entender um pouco mais sobre o seu mundo, sobre as transformações ambientais, sem contudo, desvincular as mudanças valorativas naqueles que se educam formal ou informalmente.
Desta forma, nunca mais será possível exagerar a importância da educação ambiental (Rohde, 1992). Comparável ao correto conhecimento sobre a natureza e o ambiente é a reciclagem do nosso próprio conhecimento a respeito da realidade.
Referências Bibliográficas
COIMBRA, J. A. A. O outro lado do meio ambiente. São Paulo: CETESB, 1985.
FLICKINGER, H. G. O. O ambiente epistemológico da educação ambiental. Educação & Realidade, Porto Alegre, v.19, n.2, p.197-207, 1994.
GRUN, M. Ética e educação ambiental: a conexão necessária. Campinas: Papirus, 1996
OLIVEIRA, H. Meio Ambiente e cidade: áreas verdes públicas de Curitiba. Caderno de Desenvolvimento e Meio Ambiente. Editora da UFPR, n.3, 1996.
THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.
RHODGE, G. M. A aventura irreversível do planeta Terra. Porto Alegre: FEPLAN, 1992.
Resumo: A Educação Ambiental surgiu como uma necessidade de se conhecer melhor o meio ambiente e tudo o que o envolve. Os parques ecológicos têm contribuído para manter a paisagem e arquitetura natural de alguns espaços-verdes em grandes cidades, servindo também como área de recreação e lazer. Com o objetivo de identificar e discutir formas de representação visual da natureza e avaliar a conceituação dos elementos naturais através da percepção infantil, foi desenvolvido um trabalho com 10 crianças de 10 a 12 anos, que freqüentavam o Parque do Ingá, em Maringá, no dia 22/11/99, e o Parque Ecológico Paulo Gorski, em Cascavel, no dia 29/11/99. As crianças comentaram sua preocupação com o lixo e os animais no cativeiro. Percebeu-se uma prática naturalista das crianças nestes ambientes, em contraste com o que ocorre em muitas escolas.
A educação ambiental surge, hoje, como uma necessidade quaseinquestionável pelo simples fato de que não existe ambiente na educação moderna. Tudo se passa como se fôssemos educados e educássemosfora de um ambiente. As áreas de silêncio do currículo caracterizam-se por uma ausência, às vezes completa, de referência ao meio ambiente. A natureza é esquecida. Recalcada e reprimida. Ela é silenciosa (Grun, 1996).
1 - Introdução
Muito se tem discutido sobre o meio ambiente, como manter e preservar as condições ambientais naturais. Em um meio ambiente, sempre que predominam os fatores ambientais originais, o observador se sente propenso a apreciação de uma ecologia primária com freqüente “ranso” de determinismo (George, 1973).
De acordo com os cientistas do século XVII, estudava-se o mundo natural com o intuito de conhecer a natureza, dominá-la e utilizá-la a serviço da vida humana. Assim, a civilização humana foi, como disse Thomas (1989), uma expressão virtualmente sinonímia de conquista da natureza.
Quando se trata de um meio criado onde os processos naturais parecem artificiais, sem deixar de condicionar as conseqüências, as aplicações das ações e intervenções humanas, as responsabilidades dos homens, de suas técnicas e sistema, assume um lugar decisivo.
Contudo, em ambos os casos, são as leis físicas e biológicas da natureza que presidem ao futuro. Isto não nos causará nenhum espanto se nos tornarmos simplesmente conscientes do que vem a ser essência mesma do homem assim como a do meio terrestre que ele tem de viver (George, 1973).
O que é Meio Ambiente?
Segundo George (1973), meio ambiente é uma realidade científica, um tema para controvérsia, o objeto de algum imenso receio, uma diversão, uma especulação.
Nosso companheiro de caminhada o Índio Setle, mais uma vez, retrata um pouco de sua realidade e desabafa sua tristeza:
O Homem branco trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que podem ser comparadas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Não há um lugar na cidade do homem branco (George, 1973).
Esta observação traz-nos à memória a morte da natureza e a frenesi da cidade do homem na visão do Filme “Koyaanisqatsi” e seu contraponto, o “Horizonte Perdido” (Coimbra, 1995).
As ciências na escola não transmitem o calor e a admiração de um mundo em que folhas, os insetos, a água, as nuvens se movimentam descrevendo quem sabe, fórmulas, desenhos, ativando a imaginação. Essas crianças representam o que Carl Seagan chamou de mortes precoces de futuros cientistas. Em uma breve previsão, poderemos sim, no futuro construir “analfabetos funcionais” dotados de leitura, mas que poderão ser definitivamente privados da arte de pensar, de descobrir e conhecer e, principalmente, de “simplesmente SER”.
Não concordamos com o raciocínio praticado até o momento por isso, buscamos um entendimento perceptivo através do mundo infantil, sem abandonar no entanto, as transformações valorativas já adquiridas por elas, através da educação, formal ou informalmente.
Nosso problema para elaborar a pesquisa apresentada consistiu em saber: Quais são as imagens construídas pelas crianças sobre o meio ambiente?
Ambientes Verdes: Parques e Bosques, uma Primária Definição
Numa primeira definição, parques urbanos são jardins públicos arborizados. Olmsted, arquiteto, paisagista responsável pela concepção do Central Park de Nova York, se refere aos parques como:
[...] lugares com amplidão e espaço suficiente e com todas as qualidades necessárias que justifiquem a aplicação a eles, daquilo que pode ser encontrado na palavra cenário ou na palavra paisagem.
Do século XIX ao nosso século, cenário ou paisagem são os termos que permaneceriam vinculados à idéia de parques urbanos, resgatando o sentido dos jardins ingleses em oposição aos geométricos e barrocos jardins franceses. Com base nesta herança, tratou-se, sempre, de recuperar nos ambientes urbanos aqueles espaços naturais e remodelá-los mantendo tanto quanto possível o que a natureza havia realizado e o que a cidade havia naturalmente preservado. Pequenos bosques, fundos de vale, várzeas e longos trechos de rios seriam, assim, os tradicionais espaços que foram transformados em parques, em cidades como Londres, Chicago, Filadélfia, entre outros (Oliveira, 1996).
As cidades-jardim ou os bairros-jardim seguiram tanto quanto possível a idéia de preservação da cobertura vegetal e dos espaços naturais no interior dos espaços urbanizados. Enfim, após o advento das preocupações ambientalistas, os parques tornaram-se uma realidade incontornável quando se pensa em proteção à natureza e preservação de áreas verdes em espaços urbanos.
Verificamos assim, que a função deste tipo de área verde era inevitavelmente um,isto de lazer e preservação da educação ambiental.
Percebe-se, no entanto, que direta ou indiretamente, sempre houve um reconhecimento, um destaque permanentemente vivo das áreas verdes, sendo esta aliada, muitas vezes, ao conhecimento intelecto dos paisagistas botânicos e arquitetos ou mesmo daqueles, que por mera intuição ou percepção natural do ambiente, consegue diagnosticar suas possíveis “feridas” e cuidar com carinho das suas “cicatrizes”.
Nossa Pesquisa
A concepção e interpretação da natureza pelas crianças são referenciais para representarmos a educação ambiental em nossa comunidade. Apresentamos, neste artigo, uma pesquisa realizada com crianças que freqüentavam os parques urbanos das cidades de Maringá e Cascavel, acompanhadas de seus familiares, com o objetivo de identificar e discutir formas de representação visual da natureza e avaliar a conceituação de elementos naturais.
A investigação sobre os dados referenciados ocorreu informalmente. Para melhor compreensão da percepção na área da ecologia, as crianças foram selecionadas aleatoriamente. Durante o passeio no parque as crianças foram orientadas a investigar o meio ambiente distinguindo dois aspectos de fundamental importância: verificar se havia diferenças nos locais à medida que íamos caminhando. Todas as observações foram registradas. Foram escolhidas cinco crianças em cada parque, com faixa etária entre 10 e 12 anos.
Grupo I - Parque do Ingá, em Maringá (22/1101999): Amanda (10 anos), Katarina (12 anos), João (11 anos), Ricardo (12 anos) e Clarice (10 anos).
Grupo II - Parque Ecológico Paulo Gorski, em Cascavel (29/11/1999): Gustavo (12 anos), Fábio (10 anos), Alice (11 anos), Henrique (10 anos) e Vitória (11 anos).
A cada uma delas, sugeriu-se que observasse dois aspectos distintos do parque: uma área preservada, onde havia cobertura vegetal exuberante e bem diversificada, e outra modificada pela ação do homem.
Os dados foram coletados de acordo com a percepção e análise pessoal de cada criança. O tipo de amostragem (não probabilística) e seu tamanho (dez crianças), não recomenda nenhuma tratamento estatístico.
Interpretação das Crianças sobre o Meio Ambiente
Observando as crianças, verificamos três momentos distintos:
1. A expressão de um mundo natural, harmonioso, onde a fauna e a flora foram comentadas pelos ambientes naturais do parque principalmente a lagoa, sempre sintonizados e relacionando todos os aspectos que compõem o ambiente natural.
2. A expressão de um mundo mais urbano onde o parque ainda é uma fonte de lazer e de “curtição da natureza”, podendo-se respirar livremente, correr, brincar, etc.
3. A preocupação com a devastação, com o lixo, o desamor com alguns animais, desolados em cativeiro e com algumas plantas derrubadas, outras totalmente abandonadas, esperando pela chuva para serem regadas.
Na maioria das interpretações para as crianças, as pessoas têm sempre um papel de destaque na natureza como também de questionamento, tais como:
Como o homem pode deixar os bichinhos sem comida? Sem a sua mãe?
Por que eles não podem viver soltos no parque?
Para algumas crianças (Katarina, Vitória, João e Alice), o significado de seus sonhos era verbalizado espontaneamente e, muitas vezes, expressa o desejo de morar em uma casa com um jardim semelhante ao parque.
Katarina (12 anos), encantada com as flores coloridas que encontrou no caminho, expressou o desejo de tê-las no jardim de sua casa e logo tentou apanhá-la. Quando Ricardo (12 anos) percebeu, mandou que ela deixasse as flores no lugar para não morrerem. Aborrecida, Katarina respondeu que iria levá-las para plantar em seu jardim e, assim, elas não morreriam.
Entre as manifestações sobre a importância de se conhecer a natureza surgiram entre outras, a necessidade de se conhecer as árvores: como elas respiram, porque umas são mais verdes que outras, porque umas crescem bastante e outras ficam pequeninas.
Gustavo (12 anos) e Alice (11 anos) disseram que algumas plantas crescem mais que outras porque têm mais comida para elas no lugar em que estão plantadas. Já Amanda (10 anos) e Clarice (10 anos) disseram que algumas plantas são pequenas mesmo e não são para crescer.
Algumas crianças compararam os dois ambientes com clareza e muito questionamento. Com relação à área degradada, se preocuparem se as plantas voltarão a crescer naquele mesmo lugar novamente e fizeram questionamentos como: Por que o homem maltrata tanto a natureza? Será que eles não sabem que os animais e as plantas precisam viver?
João (11 anos) comentou com Clarice (10 anos) a tristeza do macaco e perguntou: “Será que ele está com frio? Quem dá comida pra ele?”. Clarice, então, respondeu: “Acho que ninguém cuida deles, acho que nem tomam banho”.
Com relação aos animais, as crianças relacionaram com a flora e criticaram o local sujo e pequeno onde eles se encontravam.
De um modo geral, o objetivo foi atingido nos dois grupos, sendo que, no primeiro, percebemos uma maior clareza de expressão e sentimentos, enquanto que no segundo, apresentavam-se mais dispersos.
Fato interessante, e que desviou por alguns instantes a atenção das crianças foi a presença de alguns quatis. Eles passeavam livremente pelo parque em busca de comida, invadindo as lixeiras que se encontravam distribuídas ao longo do parque. Como não encontraram alimento, chegaram a seguir algumas crianças que comiam pipoca. Como era de se esperar, foi motivo para muita alegria e risos.
De um modo geral, percebemos que o comportamento individual de cada criança está intimamente relacionado com a sua educação, grau de liberdade e sociabilidade familiar.
Comentando Alguns Dados da Pesquisa
Nos ambientes de parques, as crianças têm a liberdade de observar e descobrir o ambiente a sua volta, sem barreiras nem restrições. Essa liberdade associada à sua percepção, gera questionamento e respostas sobre a natureza. Percebe-se uma prática muito mais naturalista das crianças nestes ambientes, onde encontram uma identificação com seu mundo de forma mais descontraída, do que nas escolas, onde a prática da educação ambiental é muito mais formal.
Atualmente, qualquer pessoa torna-se um educador ambiental seja pelo fato de falar de biologia, de gostar da natureza, de tentar manter vivo o planeta terra, proteger o meio ambiente, sempre com o mesmo objetivo de tentar fazer alguma coisa para “salvar” o meio ambiente das catástrofes ambientais na maioria das vezes encadeadas por ações antropocêntricas. Discussões em torno da educação ambiental, de como cuidar e preservar o meio ambiente ainda não chegaram à criação de princípios ou critérios claros, capazes de oferecer base segura a partir da qual poderíamos pensar em projetos de implementação de uma respectiva prática de ensino, pois as diversas disciplinas como: educação, pedagogia, ecologia, biologia, entre outras, envolvidas nas questões ambientais, demonstram sua impotência para tratar a complexidade do meio ambiente (Flickinger, 1994).
O fato de não haver linhas teóricas claramente definidas que possam subsidiar a reflexão necessária sobre a educação ambiental capaz de buscar elementos para pensar a dimensão ética da educação ambiental, demonstra as impossibilidades que o pensamento científico moderno impõe a educação ambiental. Na tentativa de superar esse quadro já desenvolvido e estabelecido em várias partes do mundo, Grun (1996), reafirma a sua preocupação.
Essa concepção, vigora sobretudo dentro das escolas na formação das crianças e dos adolescentes. O mundo está em constante mutação e estas mudanças por meio da educação ambiental está fortemente condicionada à elaboração de princípios, objetivos de comportamento do ser humano em relação à natureza, à vida, seguidos por “receituários” de diversas áreas de formação e praticados através da educação, de treinamentos adestrados de pessoas ou através de livros e manuais pré-induzidos com fórmulas prontas. Todos esses aspectos nos levaram a algumas reflexões:
Como as crianças vêem e sentem o mundo? O que elas entendem sobre o meio ambiente e qual a sua percepção sobre a preservação e/ou a destruição do planeta terra?
Discordamos da prática hegemônica nas escolas e buscamos juntos a um grupo de crianças, conhecer e entender um pouco mais sobre o seu mundo, sobre as transformações ambientais, sem contudo, desvincular as mudanças valorativas naqueles que se educam formal ou informalmente.
Desta forma, nunca mais será possível exagerar a importância da educação ambiental (Rohde, 1992). Comparável ao correto conhecimento sobre a natureza e o ambiente é a reciclagem do nosso próprio conhecimento a respeito da realidade.
Referências Bibliográficas
COIMBRA, J. A. A. O outro lado do meio ambiente. São Paulo: CETESB, 1985.
FLICKINGER, H. G. O. O ambiente epistemológico da educação ambiental. Educação & Realidade, Porto Alegre, v.19, n.2, p.197-207, 1994.
GRUN, M. Ética e educação ambiental: a conexão necessária. Campinas: Papirus, 1996
OLIVEIRA, H. Meio Ambiente e cidade: áreas verdes públicas de Curitiba. Caderno de Desenvolvimento e Meio Ambiente. Editora da UFPR, n.3, 1996.
THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.
RHODGE, G. M. A aventura irreversível do planeta Terra. Porto Alegre: FEPLAN, 1992.
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