OFICINA DE LITERATURA III - novembro de 2015
Para contar esta experiência trouxe Lewis Carrol e Alice no País das Maravilha
Odila Fonseca
Januário “O Caipira do
Cafézinho
“ Alice começava a enfadar-se de estar sentada no barranco junto à irmã e
não ter nada o que fazer: uma ou duas vezes espiara furtivamente o livro que
ela estava lendo, mas não tinha figuras nem diálogos, - e de que serve um livro
- pensou Alice - sem figura nem diálogos?” Lewis Carrol em Alice no Pais das Maravilhas
Foi
mais ou menos assim que me senti quando entrei “na toca do coelho” lá no Centro Cultural Louis Braille, como
Alice no Pais das Maravilhas e vendo livros com páginas em branco ,sem figura e
nem diálogos. Isso foi em junho durante a preparação do trabalho com artistas
para oferecer “figuras e diálogos” no livro da vida deles. Eram entre mulheres,
homens e um adolescente dez pessoas que, viriam conviver conosco, durante os
próximos cinco meses.
Minha primeira necessidade, por estar coordenando o
projeto, foi trabalhar o campo simbólico. Criar um
símbolo que representasse valores e virtudes. Eu havia escrito aqui no Blog, o
medo que se avizinhava por estar em contato com o desconhecido.
Na
ocasião eu escrevi: - “Shopenhauer na sua
especulação do seu pensamento em O MUNDO COMO VONTADE E REPRESENTAÇÃO",
fala das escolhas que podem permitir a
nós a liberdade sob a inexorabilidade da vontade.
... E ainda o próprio Shopenhauer, numa fábula do
dilema dos Porcos Espinhos, - de que durante o inverno se aconchegavam, mas
diante da dor e do incomodo dos espinhos, afastavam -se para maior conforto (com certeza). Mas ao
desconforto do frio tornavam a se aproximar e a experiência é a da dor,
novamente. - A estas tentativas de achar um meio termo de distância levou Freud
usar esta parábola para escrever Psicologia das Massas e a Análise do Eu e
Outros Textos relacionando o dilema do porco-espinho com a nossa sedimentação
de sentimentos de aversão e hostilidas nos momentos de intimidade - uma das
mais comuns necessidades do ser humano. Por isso , nestas oficinas , tentaremos
equilibrar durante estes meses de convivência
a experiência e a possiblidade entre as relações dolorosas e sair de
qualquer isolamento desprovido de amorosidade.
Por tanto “Não é de Girassóis que
estamos falando” mas do circulo
virtuoso, quando apresentamos o tema AUTORRETRATO para pensar trabalhando o
conceito de AUTOR RETRATO. Num design de um pensamento de Rubem Alves o artista
criou este autorretrato uma vez que os ipês amarelos transformaram-se no seu
símbolo. O artista não copiou o ipê amarelo como o vemos na natureza... mas viu
com o que o “pensamento do feio”, ressecado sem vida aparente,no inverno faz
com o ipê. Transformar as dores da alma e do coração e da mente em flores ...
porque este pode ser o desenho que cada um faz de seu autorretrato. O ipê
amarelo enche nossos olhos no inverno quando passeamos pelas matas e caatingas,
beira de rios e reascendem o sol de forma intensa... e internamente.
“...E é daí que que na sua
sonolência , Alice viu o coelho branco de olhos rosaseos passar apressado, naquele calor insuportável,
mrmurando :
-Aí meu Deus, Aí meu Deus
vou chegar muito atrasado! Para ela era natural o coelho estar apressado... mas
quando tirou o relógio do bolso do colete e olhou saindo apressado, Alice
percebeu que nunca tinha visto um coelho de colete com um relógio no bolso. A
curiosidade levou Alice a correr atras
do coelho ,pelos campos, até ve-lo entrar numa grande toca sob a cerca.” Trecho
de Odila inspirado em Lewis Carrol.
Entrando na “toca do coelho”, encontrei pessoas
interessantes... tinha a sambista, tinha o escultor, tinha o fotógrafo cego mas
tinha o fotógrafo vidente também. Tinha
um senhor sério que dava palestra, e conhecia muitas histórias. Foram eles que
ilustraram estas histórias enquanto comiam sementes de girassóis e passavam
creme de semente de girassóis nas torradas ... e foi lá que conheci:
Uma senhora que parecia rainha,lia um livro sem letras e sem figuras... só
com pontinhos . Encontrei um ilustre conhecedor de cinema e cultura também. Ele
sentia pelo cheiro o material que eu
tinha levado para uma das oficinas. Foi nesta época que conheci um
Gatinho, chamado Dr.Seghatin, que se apressou em saber porque eu via tudo
escuro. Todos ali na Toca do Coelho o
chamavam de Leandro. Foi quando Alice perguntou para ele:
-“ Gatinho Seghatin
(...) Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?
- Isso depende muito de para onde quer ir - respondeu o Gato.
- Para mim, acho que tanto faz... - disse Alice
- Isso depende muito de para onde quer ir - respondeu o Gato.
- Para mim, acho que tanto faz... - disse Alice
- Nesse caso,
qualquer caminho serve - afirmou o Gato.
- ... contanto que eu chegue a algum lugar - completou Alice, para se explicar melhor.”
- ... contanto que eu chegue a algum lugar - completou Alice, para se explicar melhor.”
Depois que Alice se
foi, aproveitamos os conselhos do Gato Leandro e começamos a nos perguntar onde
queríamos chegar. Neste momento foi possível começar a pensar o trabalho. E foi
aí que começamos a colocar metas.
1-
Participar das oficinas oferecidas no Centro Cultural Brailler
2-
Todos os trabalhos deveriam apresentar seus resultados no final de ano, numa exposição de arte.
3-
Mini - Meta: conseguir um público de no mínimo 100 pessoas incluindo
familiares
4-
Participar de um concurso literário na Fundação Blumenau, no dia nacional
do Braille
Todas as metas estavam fora da Toca do Coelho, por isso
tinhamos que despertar e começar a trabalhar.
E assim no dia 14 de dezembro de 2015 conseguimos expor
nossas metas alcançadas, com seus resultados
Conceitos e Valores:
Um entendimento do que é um AUTORRETRATO para si
“Nós só
nos reconhecemos como indivíduos, quando nos vemos no espelho ou numa
fotografia A possibilidade de uma pessoa cega fazer seu próprio auto retrato é,
acima de tudo recuperar a consciência de auto pertencimento, de ser um
Indivíduo Daí, quando volto a ser somente eu, posso decidir qual História devo,
quero ou posso contar A autoria do Retrato, traz a autoria da própria vida” Emmanuelle Garrido Alkmin dezembro de 2015
Paço Municipal-Campinas
Bibliografia:
BÖRÖCZ,
Bálaz; Selfportraits; Portfólio dez anos de construção; 2003/2013 http://www.balazsborocz.com/en/works/1/selfportraits
Local de publicação: Hungria
MACHADO, Isabel Pitta. LEITURA COMENTADA DA CARTA SOBRE OS CEGOS- Diderot. Disponível em http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais15/Sem10/isabelmachado.htm
Programa
Educativo Públicos Especiais;Pinacoteca do Estado de São Paulo. Esculturas
selecionadas e Obras selecionadas do acervo, 2006; Volume 1 e 2;em Braille
VILELA, Ivan. Cantando a Própria História –Editora USP;2015.
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