IMPOSTOS EM SÃO PAULO

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Cartas a Victor Vicent Valla

Desde ontem,estava para "falar" um pensamento. Soube da partida de um grande amigo e Professor. Além da sua grande fortaleza física, tinha uma maior . Era sua fortaleza ética no "pensar". Minha formação teve muito a ver com o contato de seu pensamento. Um poeta.Um pensador. Humilde e firme. Foi através dele que conseguia interiorizar-me, nos idos da noite da ditadura e dos medos. Estive a última vez com êle num encontro da Articulação Nacional de Educação e Práticas Populares na Saúde (ANEPS). Era o ano de 2005. Fazia um documentário sobre o processo de construção da participação popular na Saúde sob um novo olhar pós-eleição 2002 e que chamou-se " Nas águas do Rio eu Vou..." A coerência do Victor Vicent Valla,o discorrer de seu pensamento, juntava meus fragmentos "pensantes". Êle já havia sofrido seu primeiro e brutal AVC. Não tinha como não me emocionar diante deste homem tão fragilizado. Engano o meu... porque a fragilidade era a minha. Não a dele! Falou sobre o sujeito político coletivo.Sobre a luta das comunidades indígenas na Bolívia contra empresas que tomaram a região privatizatizando a água e o lugar do sagrado. Falou de sua observação sobre nós profissionais de saúde na abordagem a pacientes de diferentes fés. O autoritarismo nosso diante de nossas verdades instituidas. Victor, vi a foto que o Julio nos mandou de você ontem a tarde, já na sua última morada. Acho que vi sua alma vendo o Rio de Janeiro . Um beijo e feliz por ter conhecido e convivido com você . Fico com suas obras ,seus escritos e sua imortalidade. Odila Fonseca

Outra carta: Do Julio (o CariocaPeruano-CHINO) que percebeu Victor na fotografia
Meu querido Victor:
A gente anda tão perto e tão longe! O tempo dos encontros parece distante. Oito anos de conversas, celebrações, descobertas, invenções, viagens interiores.É tudo tão longe demais.Lembro o dia que você me mostrou um caminho meio escondido da floresta da FIOCRUZ. E aí você disse: - "este caminho é o meu caminho. Ele é fresco e gosto de pensar distraído, enquanto o percorro. E eu olhando árvores, ouvindo pássaros, cogumelos escondidos, pequenos insetos familiares" . E então eu disse - assim, meio budista: "talvez andar por aqui seja mais importante que o mestrado, porque só os amigos recriam caminhos" .E você ficou me olhando com seu sorriso sacaninha de californiano danado,dizendo, com seus óculos e sua barba: "You got it!!!" A partir dai eu fui criando meus próprios caminhos, tão distantes, tão solitários,tão bons quanto os seus - mas nunca tão altos, não.Mas nunca esqueci desse que você - aquele que nos orienta quando andamos perdidos - indicou com leveza de monge da floresta de Sherwood, o frei feliz da

sanfoninha...Volta e meia - na minha meia idade recentemente percebida - me vejo reclamando da ausência de Figueiras, do Bar Palácio, das caipirinhas quando anoitece,das conversas leves sobre budismo zen e sobre os beatniks,da celebração que era a chegada da Kita e seus projetos fotográficos,da casa sua que fiquei cuidando meses e que também virou minha, com objetos vivos, com palavras guardadas nos ângulos secretos e no meio dos seus livros que tanto amei..Assim, meu caro irmão e pai, eu abraço sua ausência - a mais presente das ausências - e descrevo em mim parte das suas piadas, das suas iluminações - satoris, nirvanas, frestas descobertas. Assim celebro sua permanência em centenas de corações-- e nas utopias dos seus donos, nós. Salve Victor. Julio.
Ps.- Qualquer homenagem da ENSP será pouca, mas por algum lugar tem que começar, não é?[Julio]
Vai, meu amigo, plana sobre a California dos monges Zen, dos surfistas, dos Doors e dos Beatniks, volta ao berço sem deixar de ser brasileiro converso, apaixonado, profundo. Vai meu caro Victor. Eu é que agradeço.


Outra carta: da Daniela
Caras/os educadores populares da Rede: Tive hoje o raro privilégio de receber um e-mail da filha mais nova do Valla, Daniela, contendo o texto que ela escreveu e leu no velório do pai, ontem em Ipanema. O papel era destinado a ficar dentro do caixão do Valla. Mas ela me explicou que as pessoas pediram para não deixar já que não havia outra cópia. Daniela digitou no computador e autorizou a divulgação. Junto com a fala dos pastores da Igreja Independente de Ipanema, a leitura emocionada da Daniela ficará na memória de todos os que estivemos lá. Ontem eu sai um pouquinho para respirar e olhar o mundo - a rua Joana Angêlica, desse bairro exótico (para mim) que é Ipanema. Então vi uma menina vindo com camisa do Botafogo. -"O nosso time, Valla; coitado dele", eu falei pensando. E ai a menina para, abre a grade e começa a chorar. Fiquei sem jeito. Ela subiu a escadaria e entrou. Era a Daniela, que eu só tinha visto uns 13 anos atrás quando, junto com o Valla fomos pegar la na escola - acho que devia ter uns 13 ou 14 anos. Hoje que ando de ressaca, meio sem jeito, meio esburacado de alma, os e-mails da menina Valla foram luz de sol. Aqui o texto dela:
Rio, 08/09/09
Ontem o Brasil, ou melhor, o mundo ficou mais triste, perdeu parte do seu colorido. Em compensação, o céu ganhou mais uma estrela e por que não mais uma estrela solitária (do Botafogo) a brilhar?!Americano, naturalizado brasileiro, professor, botafoguense, morador do tão amado catete, amigo, companheiro, marido, avô, pai... meu paizinho, meu amorzinho, nosso pai, o de seus quatro filhos, mas também o pai de tantos alunos, orientandos, brasileiros.
Com tanta garra lutou, estudou, orientou, trabalhou com tanto afinco até o fim, por uma educação mais justa, entendendo e ensinando a compreender a pobreza e a combatê-la.
Assim como eu, tantos outros o seguiram com orgulho e sem inspiram a cada dia. Eu me orgulho de mais de hoje estar onde estou e de tanto ter sido (e sei que ainda serei muito) perguntada: “Você é filha do Valla?”.
Obrigada por ter sido o nosso pai do seu jeito, que embora conturbado em alguns momentos, nos fez muito, muito felizes em inúmeros outros. Sei que ao longo dos anos aprendi a te amar e compreender do jeito que você era. Nossa e como meu amor cresceu tanto. Me orgulho por ter te dito tantas vezes que te amava e ouvido o mesmo de você. Sua busca por um Deus bondoso, um pai carinhoso foi incessante, até chegar aqui, na Igreja Cristã de Ipanema, com o Pastor Edson, onde dizia ter encontrado a verdadeira paz e onde hoje nos despedimos dele.
Você que amava tanto o seu catete nos deixou bem ali, no seu bairro do coração, com o Museu da República, o Palácio e tantos outros lugares especiais. Sei que sentiremos muito a sua falta, mas depois de tanta luta para viver, chegou sua hora de descansar e vamos buscar entender que era o melhor. Como bióloga, além de professora, sou obrigada a compreender que os ciclos se completam e se regeneram e por mais triste que seja é a lei da vida. Mas também, por acreditar em um Deus que é bom e não nos abandona, sei também que você está em algum outro lugar junto Dele esperando todos nós e com certeza lendo seus livros, que você tanto nos ensinou a amar. Hoje é dia de chorar, ficar triste, mas também rezar e pedir a Deus que abençoe a sua passagem e nos abençoe para que daqui para frente sintamos muita saudade, mas tristeza nunca.
Obrigada por ser o meu pai, o nosso pai, Vallinha, Valla, Victor, Victor Vincent Valla.
Te amamos muito e vá em Paz!

Comentários
Daniela disse...
Obrigada Odila, pela homenagem e pelo carinho! O conforto da atenção de todos que amavam o Valla tem me ajudado a seguir mesmo com essa grande dor que chegou tão cedo na minha vida!um abraço carinhoso,Daniela Valla
outra carta: de Angélica:
PARABENS MAESTRO VALLA e não me esqueça Nunca olvidaré cómo conocí a Victor Valla estaba en una escalera del Teatro San Martín de Buenos Aires esperando con una gran cantidad de gente para inscribirme en el VII Congreso de ALAMES y en el Curso precongreso de pronto hubo un revuelo murmullo general de mayor volumen-"Allí esta, allí está.".... Pregunté asombrada quién era ese modesto señor de cabello y barba entre canasque vestido de forma diferente con su gorra de marinero blanca parecía haber sido transportado directamente de Copacabana Hice el Curso pre de Educação popular y tuve la suerte de animarme a superar la barrera del idioma que en ese momento no conocía para nada y compartí con él y con Eduardo Stotz mi iniciación a la turma brasilera de educação popular em saude Segui a Valla los días del Congresoen las dos coordinaciones sobre docencia y curriculas profesionales en que estuvo.Compre el libro EDUCAÇÃO,SAÚDE Y CIDADANÍA y a causa de este pensador sincero y humildeme tienen que AGUANTAR EN LA EDPOPSAÚDE pues despues fui a la Oficina de Río en 1998 adonde se creo la primera Redpopsaude sobre las bases de la "Articulación..." que Eymard había generado AGRADEZCO A TODOS LA PACIENCIA DE SOPORTAR ESTE SATÉLITE "ENVIDIOSO" DE LOS EXITOS QUE SE VIENEN SUCEDIENDO SIN PAUSA DESDE ESOS TIEMPOS Y DE LOS QUE VALLA ES UN ABRAZO PROTECTOR pero sobre todo agradezco que el maestro siempre tenga su palabra nueva joven que orienta y respalda por favor maestro Valla não me esqueça eu sinto saudade del beso "pinchudo" de seu barba.Angélica

3 comentários:

Daniela disse...

Obrigada Odila, pela homenagem e pelo carinho!
O conforto da atenção de todos que amavam o Valla tem me ajudado a seguir mesmo com essa grande dor que chegou tão cedo na minha vida!
um abraço carinhoso,
Daniela Valla

Educomunicação Ambiental disse...

Querida Daniela.Estive tentada desde ontem a ir ao Rio estar com vocês.Ia com Terencio Hill,esse irmão de seu pai por escolha dos caminhos da vida.Receba meu carinho e quem sabe até um dia.Odila Fonseca

Daniela disse...

Na correria acabaram não encontrando o telefone do Terêncio e o avisaram muito em cima da hora!Minha mãe q perguntou por ele tb...assim como nós ele deve ter sentido como alguém da família mesmo. Mas sei q ele está bem onde está e isso me conforta!
Dani